Vítor de Moraes e Luiz Roberto Magalhães - Correio Braziliense
No dia 24 de novembro, a temporada 2012/2013 do Novo Basquete Brasil (NBB) terá início, com nove confrontos, entre eles o que envolve Franca e o UniCeub/BRB. A expectativa é de que a quinta edição torneio seja a mais disputada de todas e o crescimento da competição só reforça que todo o investimento feito no basquete masculino desde que a Liga Nacional de Basquete (LNB) foi fundada, em 2008, rendeu frutos, entre eles, o quinto lugar do Brasil nas Olimpíadas de Londres-2012.
Entretanto, a euforia pelo crescimento da modalidade masculina não se reflete entre as mulheres, cuja principal competição no país, a Liga de Basquete Feminino (LFB), ainda está longe do patamar do NBB em termos de nível técnico, de organização e, principalmente, de apelo junto ao público.
Os fatores que justificam esse abismo entre homens e mulheres no basquete nacional são resumidos, na opinião do brasiliense Paulo Bassul, principalmente por uma questão: a dominância dos times São Paulo no cenário feminino nacional.
Embora ocupe hoje o cargo de gerente técnico da LNB, Bassul fez praticamente toda sua carreira entre as mulheres. São 26 anos de experiência como treinador e três Olimpíadas no currículo: foi assistente técnico nos Jogos de Sydney-2000 e Atenas-2004 e comandou a Seleção Brasileira feminina nas Olimpíadas de Pequim-2008.
“A liga masculina já conseguiu massificar o basquete”, afirma Bassul. “Mas o feminino ainda é muito dependente e restrito a um único estado. No Brasil, os times são, praticamente, todos de São Paulo”, prossegue o brasiliense. “Com isso, a concentração das jogadoras é maciça em São Paulo e isso é muito ruim. O grande desafio do basquete feminino, hoje, é expandir as equipes para outros estados. Temos, agora, times do Maranhão e de Recife na liga feminina. Mas isso tem que permanecer. Essa é a grande diferença entre o feminino e o masculino no Brasil e as meninas vão ter que encontrar uma solução para esse problema”, alertou.
Paulo Bassul lembrou todos os campeões do NBB para ilustrar sua tese. “Para se ter uma ideia de como a diferença entre o NBB e a LNB é grande, nunca houve um time paulista campeão entre os homens até aqui. E olha que São Paulo tem grandes times no masculino. Falta investimento no feminino para expandir o basquete para outros centros no Brasil.”
A armadora Adrianinha, medalha de bronze nas Olimpíadas de Sydney-2000 e contratada pelo Sport para atuar no basquete pernambucano, concorda com Bassul. “É complicado depender de um trabalho feito só na região sudeste. Agora, o Sport está investindo no Nordeste. O país é muito grande e precisamos de mais iniciativas como essa”.
Sem dinheiro o futuro é nebuloso
A ala brasiliense Karla Cristina Martins da Costa, 34 anos, já disputou três Olimpíadas. Esteve presente nas Seleções que atuaram em Atenas-2004, Pequim-2008 e Londres-2012. Na última Liga de Basquete Feminino, Karla sagrou-se campeã com o time de Americana e, apesar de todo o sucesso pessoal, ela está muito preocupada com o futuro da modalidade no Brasil.
Para a jogadora, a disparidade de recursos no país entre o basquete masculino e o feminino é abissal e isso prejudica o esporte entre as mulheres em todos os níveis. “Precisamos de mais investimento. Em relação ao masculino somos praticamente uma classe operária”, ressaltou. “Os valores investidos no masculino e no feminino são opostos. Mas os custos de moradia, de viagem, de alimentação acabam sendo o mesmo e isso dificulta o crescimento do basquete feminino”, continuou.
Mesmo entre os times de São Paulo, Karla diz que a realidade não é tão boa quanto muitos imaginam. “No Campeonato Paulista nós tivemos oito times. Eles foram divididos em duas chaves, uma com três equipes e outra com cinco. Tudo porque muitos times não queriam viajar. Isso só demonstra as nossas dificuldades”, revelou. “A maioria dos times de São Paulo conta com o apoio das prefeituras. Mas só isso não basta. Precisamos de mais apoiadores, senão fica complicado.”
Para Karla, se algo não for feito rápido para reverter esse quadro, em última instância o basquete feminino no Brasil ficará seriamente comprometido. “Espero que as coisas melhores no próximo ciclo olímpico por causa dos Jogos no Rio de Janeiro. Precisamos de atletas de base. Hoje em dia, é difícil que as crianças (meninas) se interessem por jogar basquete. Tem um monte de esportes que chamam mais a atenção delas. Se não for feito uma transformação como houve no basquete masculino, a tendência é o basquete feminino afundar cada vez mais”.
Fonte: Superesportes