terça-feira, 6 de janeiro de 2009

ENTREVISTA: Alessandra Oliveira

A pivô Alessandra Oliveira recebeu sua primeira convocação para a seleção adulta, em 1993, aos 19 anos. Vinda da seleção juvenil, era uma das apostas do técnico (também estreante) Miguel Ângelo da Luz para os próximos anos. Durante a disputa da Copa América, a novata já chamava atenção. Mas era difícil prever que tivesse uma ascensão tão meteórica como a que trilhou. No ano seguinte, já assumiu a posição de titular na seleção que ganhou o Campeonato Mundial. Por doze anos, reinou absoluta na posição. Aos 24 anos, a pivô deixou o Brasil para disputar a fase final da Liga Italiana. Encerrado o torneio, disputou três jogos pelo time da Uniban/São Bernardo do Campo no I Campeonato Nacional (1998). Desde então, a brasileira ganhou o mundo. Passou pelas maiores e mais tradicionais equipes européias, jogou na WNBA e até na lucrativa temporada de verão coreana. A história com a seleção se encerrou em 2006, quando se contundiu durante a disputa do Mundial e foi surpreendida com a descoberta de que a Confederação não havia pago o seguro das jogadoras. Recuperada, retornou às quadras na Rússia. Voltou à Espanha, em 2007, mas encerrou uma boa temporada novamente contundida. Contratada pelo Bourges, da França em 2008, a pivô (aos 35 anos) é um dos maiores destaques da Euroliga. Da Itália, onde passava o Reveillon, Alessandra reservou um tempo para responder, por e-mail, algumas perguntas para o blog.

1) Alessandra: aos 35 anos, você tem feito uma temporada de muito destaque na Euroliga, com médias de 13,4 pontos e 7,9 rebotes. Você ainda tem o melhor aproveitamento de arremessos de dois pontos da competição (73%). Você esperava esse bom momento? A que você atribui esses números e como você enxerga esse momento dentro da sua carreira?

Realmente eu não esperava esse momento. Agradeço à confiança que o Borges depositou em mim. Na minha idade, já não esperava poder jogar a Euroliga por um time tão competitivo.

Isso também é resultado de muito trabalho, de sacrifícios e da minha dedicação durante anos. Estou me divertindo muito jogando esse ano e isto é muito importante. Quando um atleta se encontra bem fisica e mentalmente depois dos 30 anos, é muito fácil jogar.

2) No ano passado, você teve uma contusão no final da temporada espanhola e declarou na ocasião que se a lesão fosse grave, encerraria a carreira. Você vem pensando em parar? Tem algum plano em mente para quando esse momento chegar?

Há três anos venho pensando em parar de jogar. Não porque me encontro mal, mas sim em função do que eu vou fazer na minha vida após o basquete. Espero jogar mais duas temporadas se estiver bem fisicamente.

Mas nesse momento, quero terminar essa incrível temporada que estou vivendo. Com certeza, darei o melhor de mim, para que o meu time chegue ao Final Four da Euroliga e também para que vença o Campeonato Francês. Só depois irei analisar o que fazer.

3) Provavelmente você deve ser a jogadora brasileira que atuou em maior número de países. Na Europa, você esteve nos principais mercados: Itália, Espanha (e agora) França, e ainda na Rússia, que voltou a investir pesado na modalidade. Em termos de organização, qual desses países agradou mais? E em nível técnico?

São onze anos na Europa e tive sorte de jogar nos principais mercados do basquete feminino mundial. Em termos de organização, depende muito do time. Se o clube tem um bom general manager e um staff técnico que saiba organizar tudo ao redor do jogador, o rendimento será muito melhor.

É evidente que as federações são importantes também, não só na elaboração do calendário, mas também para fiscalizar os clubes quanto aos direitos e deveres sobre o jogador e vice-versa.

A França me surpreendeu, pois aqui as jogadoras são profissionais. Pagamos impostos ao governo e temos todos os direitos trabalhistas.

Também gostei muito da minha experiência na Coréia do Sul, onde joguei duas temporadas de verão. Tudo foi perfeito.


4) Você ainda teve bons momentos na WNBA. Hoje longe da liga americana, que comparação você estabelece entre a WNBA e a Euroliga, em relação à qualidade, organização, calendário e retorno para o atleta?

Bom, os americanos são ótimos na publicidade do esporte e oferecem uma organização perfeita. Na Europa, isso depende mais de cada time. Mas, para mim, com certeza a Euroliga é a competição mais forte do mundo, quando se considera a qualidade técnica.

5) Se não estou enganado, sua primeira experiência no exterior aconteceu no final de 1997, na Itália, aos 24 anos. Você já tinha conquistado a medalha de ouro do Mundial-94 e a prata olímpica de Atlanta-96. Hoje, a maioria das jogadoras tem saído do país muito mais novas. Às vezes, mesmo antes de se estabelecerem aqui dentro ou na seleção. Como você analisa essa situação e que conselho você daria se alguma dessas meninas jovens te consultasse? Que cuidados deve ter uma atleta antes de assinar um contrato com uma equipe estrangeira?

Realmente eu saí do Brasil aos 24 anos. Tive propostas para sair antes, mas achei que não estava preparada mentalmente. Tinha pouca experiência e não sabia o que ia encontrar do outro lado do mundo. Além disso, não queria deixar meu irmão, de quem era tutora, sozinho.

Sei que muitas jogadoras saem cada vez mais jovens e isso é reflexo do nível do campeonato que temos no Brasil. Devemos considerar ainda que muitas famílias dependem do salário das meninas para sobreviver; e os salários no Brasil são baixos. Muitas vezes, essas jogadoras não têm outra saída, pois são praticamente chefes das próprias famílias, desde muito cedo.

Meu conselho não é só para elas e sim para a Confederação: que deve analisar por que está acontecendo este êxodo e tentar achar uma solução.

Para as jogadoras, diria que não devem ter a ilusão de que a Europa é um mar de rosas. Aqui também acontecem os altos e baixos. Muitas vezes, é melhor amadurecer, treinar e adquirir mais experiência para depois enfrentar o basquete europeu.


6) Em que pé está o processo que você move contra a CBB?

O processo está esperando o recesso de janeiro para o perito confirmar o laudo. Mas pelo que eu sei do meu advogado, João Guilherme Maffia, a perícia foi favorável a mim, demonstrando lesão temporária do ombro esquerdo.

7) Teremos eleições na CBB esse ano. Caso a atual gestão fosse derrotada e o novo presidente te abordasse. Você estaria disposta a conversar ou seu ciclo na seleção está definitivamente embirrado?

Penso que o meu ciclo acabou. Foi lindo e maravilhoso. Amei representar a seleção o tempo em que estive nela. Mas hoje tenho que descansar pelo menos dois meses por ano. E o único momento em que eu posso é na época em que a seleção está treinando ou competindo.

8) Bate-bola, para encerrar:

Um jogo inesquecível: Brasil e China final do Mundial de 1994.

A bola que eu chutei e caiu: Brasil e Rússia, nas Olimpíadas de Sydney (2000). Fiz a bola que definiu o jogo [vitória brasileira, nas quartas-de-final, por 68 a 67].

A bola que eu chutei e não caiu: na final da Euroliga de 1998 [o italiano Como, de Alessandra, perdeu o jogo para o Ruzomberok, da Eslováquia].

Uma quadra: o Madison Square Garden. É verdadeiramente mítico.

Um técnico: Vou citar três. O Miguel Ângelo da Luz, que apostou em mim no Mundial de 1994. O Barbosa, pois passamos momentos felizes e tristes na seleção. E na Europa, a Natalia Hejkova (técnica eslovaca assistente técnica da seleção russa, hoje em ação no Dynamo de Moscou, que treinou Alessandra no Ruzomberok, da Eslováquia).

Um título: o Mundial de 1994, com certeza.

Um jogador: Oscar.

Uma jogadora: Paula e Hortência. Elas são únicas.

Uma adversária: Lauren Jackson.

Um filme: Olga.

Uma música: Por enquanto (Renato Russo), na voz da Cássia Eller.

Um arrependimento: às vezes de não conseguir compreender o próximo.

Um sonho: ser feliz.

10 comentários:

Anônimo disse...

Perfeita a entrevista.

deu saudade

Anônimo disse...

Uma da melhores Pivôs que o Brasil já teve!!!

Anônimo disse...

A melhor!

Anônimo disse...

junto com marta e karina-argentina,é realmente um da melhores do mundo...

Anônimo disse...

Alessandra, sempre fui sua fã de carteirinha!!!! Vc sempre honrou as competições que participou, tanto pela seleção como pelos clubes!!!! E foi a melhor pivo que o Brasil já teve, e uma as melhores do mundo!!!!! Parabéns e um beijo!!!!

Paulista.

Anônimo disse...

Saudades de um tempo em q tínhamos um timaço...e q as jogadoras tinham raça,respeito pela camisa....além de excelente qualidade técnica....

Anônimo disse...

wow.. oi Bert, oi pessoal..
arrepiei qdo li:
- Uma adversaria? - Lauren Jackson!
Uhuhu, da-lhe Alessandra.. A Lauren Jackson chegou a ir atras da Alessandra depois do jogo no Mundial do Brasil pra tirar foto com ela!
A diferenca da Alessandra com as outras: realmente Alta, 5 nata, tecnica que a fez matadora no garrafao...
Realmente, saudade....
QUem sabe Michele Spliter e Nadia Colado possam fazer a mesma dupla que Alessandra e Cintia fizeram por anos....

Anônimo disse...

Eu AMO essa menina!!!

A melhor pivô brasileira de todos os tempos e a melhor reboteira que já vi atuando. Ela literalmente faz chover rebotes defensivos e ofensivos...

Da geração que surgiu no início da década de 1990, ela sem dúvida foi o grande destaque. Que saudades dela na seleção.

Beijão Alessandra!!!

@lisangelo disse...

Pena que a gente trate tão mal nossos atletas que suam a camisa para nos representar. Essa historia do seguro é um retrato da incompetência que tomou de assalto o cenário nacional do esporte mais bacana que existe, e que nos priva de ver nossos talentos vestindo a amarelinha.

Anônimo disse...

UMA DAS MELHORES DO MUNDO EM SUA POSIÇÃO, UM EXEMPLO DE SER HUMANO CARATER DE SOBRA DESSA BRILHANTE ATLETA DENTRO E FORA DAS QUADRAS..