quarta-feira, 13 de março de 2002

ENTREVISTA

O aniversário é dela, mas o presente é nosso!

Iziane



Um super-papo com uma das maiores revelações do nosso basquete!



(1) Primeiro, Iziane: Em que cidade, dia, mês e ano você nasceu?



Em São Luís do Maranhão, no dia 13 de março de 1982.

(2) Gostaria que você falasse um pouco de onde, quando, como e através de quem você descobriu o basquete.

Comecei no Colégio Batista, onde estudava em São Luís, no ano de 1994,através do meu professor de educação física, o Quirino.

Ele disse que eu devia fazer basquete, porque levava jeito, então de tanto ele insistir eu resolvi entrar no esporte.


(3) O basquete foi uma paixão à primeira vista?

Não, eu nem gostava de basquete. Devido à insistência do meu professor é que comecei a jogar.

Mas devo confessar que logo que comecei a competir me encantei.


(4) Se não estou enganado, parece que no Maranhão, você jogou em uma equipe chamada Beto Sports, não foi? Queria saber mais sobre esse trabalho no seu Estado.

Foi. Era a mesma equipe do colégio, mas para competições da federação precisávamos de patrocínio.

Então o Betinho, meu técnico do Maranhão, fundou uma escolinha de basquete com recursos próprios para que pudéssemos disputar as competições locais sem precisar pedir patrocínio o tempo todo.

Ele custeava as despesas da federação, uniformes de jogo e jogávamos com o nome da sua escola de basquete.

Foi a primeira escola privada de basquete da cidade, e hoje ele segue com ela.


(5) Com que idade você veio para São Paulo? Você foi direto para o BCN? Queria que você contasse, com detalhes, como foi essa sua transição.



Fui com 15 anos para o BCN/OSASCO a convite das técnicas Maria Helena e Heleninha, após a Copa Brasil de Clubes, da qual participei pela equipe do Beto Sports (Maranhão).

Na primeira partida da competição jogamos contra a equipe do BCN e fui junto com a Claudinha a cestinha do jogo. Nessa equipe jogavam Cíntia Tuiú e a Ruth. Perdemos de quase cem pontos.


(6) Você já falou, em outras entrevistas, da sua admiração pela Hortência. Sobre a Rainha, queria saber algumas coisas:

a) se você lembra qual foi a primeira vez que você viu a Hortência jogar, quando foi, que jogo era?

Bom era novinha na época e não entendia muito de basquete então se estou errada me desculpem.



Lembro,acho que foi no Pan-Americano de Cuba. A final contra o time da casa que Fidel Castro entregou a medalha a elas, a Paula e a Hortencia.


Qual a característica em quadra te chamava mais atenção no basquete dela?

É a facilidade de agir no ataque. Ela sabia o que fazer a cada movimento de sua defensora

Há algum jogo em especial da Hortência que você goste mais, ou se lembre com freqüência?

Não pude ver muitos, pois quando me atualizei no basquete nacional, ela já havia parado. Mas me lembro desse jogo do Pan em especial pela emoção que foi e de uma cesta que bateu no aro, subiu até o alto da tabela e caiu. Acho que era decisiva nos segundos finais e de três pontos.

Você chegou a ver a Hortência jogar ao vivo?

Graças a Deus, na preparação para as Olimpíadas de Atlanta, a seleção ficou treinando quase um mês em São Luiz e fizeram amistosos. Eu estava lá todos os dias nos treinamentos e, como não, nos jogos também.

(7) Dentro do BCN, quais foram as pessoas mais importantes na sua formação como atleta e pessoa?

Bom, o BCN teve um papel importantíssimo na minha formação como atleta, pelos profissionais que ali estavam e pela filosofia de trabalho que ali existe .Então dizer nomes é difícil pois foram muitas pessoas.

Mas não posso deixar de citar minha querida técnica Macau, meu preparador físico Paulo e nossa psicologa Marisa e a nossa governanta Marlene, pois estes foram os quais passei mais tempo enquanto ali estava.

Mas outras pessoas, incluindo minhas companheiras de quadra me ajudaram e muito e não posso citar todos. Mas deixo claro que todos tiveram sua importância.


(8) Gostaria que você falasse um pouco dos títulos que você conquistou nas categorias de base do clube e com a seleção.

Pelo Clube:
Campeã Infanto Paulista -99, Campeã Juvenil Paulista, dos Jogos Abertos sub-21, dos Jogos da Juventude Paulista, e da Série A2 do Paulista -2000 e ainda Bi-campeã dos Jogos Abertos sub-21- 2001

Pela Seleção Paulista:
Campeã Infanto Brasileira 98, Campeã Juvenil Brasileira 99 e Bi-campeã Juvenil Brasileira 2000
Seleção Brasileira:
Campeã sul-americana juvenil -99 e Campeã da Copa América Adulto -2001


(9) Uma parcela maior de pessoas pode prestar atenção ao seu jogo com a participação da seleção juvenil no Nacional de 2001. Qual foi a importância daquele torneio pra você? E como foi a emoção de jogar em casa?



Foi muito importante, pois estávamos em preparação para o Mundial e tivemos a oportunidade de jogar contra as melhores jogadoras brasileiras, como treinamento.

A emoção de voltar à minha terra, com a seleção foi algo formidável. As pessoas puderam ter o orgulho de ter uma filha da terra na seleção,foi algo inesquecível.


(10) O técnico Paulo Bassul improvisou você na posição de armadora para o Mundial Juvenil, do ano passado. Como foi essa experiência? Foi difícil? Você se sente mais à vontade na lateral?



Um jogador tem que ser polivalente e acho que quanto mais funções ele exerce, mais tempo ficará em quadra.
Então foi mais uma posição que ganhei. Mas por eu nunca ter feito, foi difícil sim.
Mas tive toda a ajuda necessária e isso facilitou e depois até fiquei à vontade.
Com certeza prefiro a lateral, mas se quiserem viro um pivô sem problemas.


(11) Gostaria que você falasse do Mundial Juvenil de 2001. Como foi a experiência? Qual o saldo daquela sétima posição? O que você pode observar em relação às outras equipes? E ainda o que falta ao Brasil para estar no topo também nas categorias menores?

A experiência pra mim foi muito boa ,pois me fez ver que podemos mais e me fez querer buscar o que falta.

Acho que o saldo foi a experiência que obtivemos e a sabedoria de que podemos mais e melhor.

Em relação às equipes de melhor classificação, acho que o que contou foi o amadurecimento que elas possuem, por terem mais intercâmbio internacional e é isso que nos falta.



Acho que temos plenas condições de continuar com a trajetória vitoriosa do Basquete Feminino Brasileiro.


(12) Voltando do Mundial, você recebeu sua primeira convocação para a seleção adulta: a Copa América, de novo no Maranhão. Como foi esse torneio para você e qual a sensação de estrear na seleção adulta em casa e com vitória?



Foi o começo de um sonho, pois desde que comecei a jogar almejava chegar a seleção principal.

Ter conseguido com 19 anos, jogando em casa e sendo campeã foi algo que nunca podia imaginar.

Foi inesquecível e tentei aprender o máximo
.

(13) Após a Copa, você fez sua primeira temporada na divisão A1 pelo BCN-Osasco e, de cara, foi a cestinha da competição. Você ficou assustada com sua própria performance?

Fiquei.

Esperava aprender muito com essa oportunidade de jogar um campeonato acima de nossa idade, mas sem maiores propósitos.

Acho que foi o resultado de toda a experiência adquirida no ano com Mundial, a Copa América....


(14) O que significou esse Paulista para você? O que você pode aprender nessa estréia no Adulto?

Foi a minha despedida do BCN. Tentei ao máximo aproveitar a oportunidade de aprender com as experiências passadas e de mostrar o trabalho de todo um ano de aprendizado, de mostrar o que aprendi e amadureci no basquete e de mostrar que estava no ultimo ano de juvenil, mas que podia ter um lugar numa equipe adulta no próximo ano.

Aprendi dentre todos as experiências de jogo, que chegar ao adulto é o passo seguinte. Todas chegam ,afinal os anos passam. Mas ser uma jogadora adulto é para aqueles que realmente buscaram e tiveram a sorte de ser encontrados.


Não tem apenas que ser bom, tem que ser bom e ter os bons ao lado.

(15) Não posso deixar de fazer essa pergunta: Qual a emoção de receber o milionário certificado do site Painel do Basquete como a Revelação do Ano? (Risos)



Um choque!!!

Afinal é um certificado do Painel do Basquete Feminino, o melhor site de basquete da Net.

(Risos)

Obrigada!!


(16) Logo após o fim do Paulista, você assinou um contrato com um clube espanhol, o Yayá Maria, apesar do assédio de algumas equipes daqui do Brasil. Você já vinha pensando em jogar fora? Como surgiu esse convite, através de quem, quando? Você assinou um contrato de quanto tempo?



Primeiro: Jogar fora já havia passado pela minha cabeça. Mas não tão cedo.

Segundo: O convite surgiu através do agente, o Nicolas, que sempre dizia que ia me levar para fora do país, logo após o término do meu contrato com o BCN.

Terceiro: Assinei até o final da temporada: entre o final de abril e o início de maio.


(17) Você já estreou com uma surpreendente tranqüilidade e no jogo seguinte era titular. Você esperava essa facilidade na adaptação?

Não, eu também me surpreendi.
No primeiro jogo parecia que conhecia a equipe há uma temporada inteira. Estava super à vontade e até esqueci que era a primeira vez que jogava com aquela equipe e naquele país.


(18) Gostaria que você falasse um pouco sobre seu time: suas colegas em quadra, o técnico, a relação com a torcida/imprensa, a cidade em que você vive e o nível do campeonato.

A equipe é composta por nove jogadoras e isso facilita a convivência, pois com menos pessoas, é mais fácil de entender a todos. Daí, já podemos dizer que nos damos muito bem em quadra.

Com o meu técnico também, sempre me deixa à vontade para jogar e isso é o essencial. Ele é muito exigente e isto é importante para nos mantermos entre as líderes.

Com a torcida e a imprensa está bom para todos, enquanto jogo bem (Risos). Me acolheram muito bem, a cidade é pequena e se encanta o basquete. Estão sempre falando e vendo os jogos.

O nível do campeonato é altíssimo, com muitas estrangeiras; o que deixa todas as equipes muito competitivas.


(19) Como é a fórmula de disputa do Campeonato? Onde o Ya-yá pode chegar (hoje é o terceiro colocado) e quais são seus principais adversários? Quando acaba a temporada?

Classificam-se oito equipes para os plays offs. Os quatro primeiro com vantagem de mando de jogo. Estamos em terceiro; e é improvável que possamos subir mais devido a distância das duas outras equipes, mas podemos cair. Então estamos tentando nos manter na terceira posição.
Nossos principais adversários são: o Barcelona e Valência,primeiro e segundo colocados; e depois o Vigo, empatados conosco e o Zaragoza,de Elena Tornikidou e Katião e Canarias.
A temporada acaba no final de abril.


(20) Sei que no momento, você deve estar com os olhos focados na Espanha, mas já se comenta que você estaria creditada a uma passagem na WNBA ou ao draft deste ano. O que você pensa disso? Te interessa? Já comentaram algo contigo?

Bom, não sei de nada de WNBA ainda. Pelo menos não falaram nada comigo. Penso que pra esse ano seria um pouco cedo, por eu estar só ha alguns meses jogando internacionalmente; e pelo nível de competição que é a WNBA.

Mas com certeza me interesso pois é talvez a liga de basquete feminino mais forte do mundo e sendo assim quero estar participando dela.

(21) Voltando a Espanha, quais as principais diferenças em relação ao treinamento no Brasil?

A qualidade de treinamento. Treinamos menos, mas com muita intensidade. Na parte física, musculação e aeróbia, são parecidos.
É o modo de conduzir o treino que difere de treinador para treinador.


(22) Qual a sensação de jogar num campeonato uma vez por semana, quando aqui no Brasil, você jogava no mínimo duas vezes? Isso melhora seu rendimento?

Para mim está sendo muito bom. Temos tempo de descansar da partida anterior e depois nos preparar para a próxima.

Acho que melhora o rendimento sim, pois um corpo descansado rende muito mais.


(23) 2002 é ano de Mundial de Basquete. Quais são sua expectativas para a participação da seleção brasileira? E da sua participação, já que você pode ser um dos nomes em quadra?

Pretendo ter o nome lembrado sim na lista de convocadas. E uma vez estando lá, buscar o meu espaço, uma vaga para permanecer na equipe que vai ao Mundial.

E depois ,se permanecer na equipe te respondo a segunda pergunta.

(24) Bate-Bola:
A bola que eu chutei e caiu:4 segundos, perdendo de 2 pontos - lateral nosso e bola na minha mão.3..,2...finto o arremesso, driblo e chuto dos três. 1...a bola cai de tabela e somos Vice-Campeãs do Juvenil;

A bola que eu chutei e não caiu: contra Cuba na Copa América;

A minha maior virtude em quadra: Determinação. Não desisto nunca!;

O meu pior defeito em quadra: Autoconfiança. Às vezes extrapolo!;

Uma quadra: Pazo dos desportes, em Lugo;

Uma colega: a Pequena;

Uma estrangeira: a Elena;

Uma marcadora: a Aide;

Um(a) técnico(a):a Macau;

Um time: o BCN/OSASCO;

Um título: O Infanto paulista de 99;

O jogo que eu não esqueço: a Final da Copa América, em Sao Luís;

O jogo que eu tento esquecer: o Primeiro jogo da final Infanto de 99;

Um sonho: Jogar na seleção principal e disputar um Mundial e uma Olimpíada.



(25) Pra terminar: o próximo presidente do Brasil vai ser sua conterrânea? (Hehehe)



Com certeza e com o meu voto.

Acho que precisamos mudar o país através da mudança dos nossos representantes.

Está mais que na hora de uma mulher assumir o comando.

Vamos ver se com o sentimento que brota das mulheres podemos sentir as verdadeiras necessidades desta nação e deste povo Brasileiro.

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