sábado, 2 de fevereiro de 2002

Entrevista

Fico feliz de em uma mesma semana ter conseguido duas entrevistas tão legais!

O papo agora é com o técnico do time de Campos, Marcus Gama.

Marcus Gama




Painel do Basquete Feminino (PBF): Marcus, como você se envolveu com o basquete? Onde e quando você começou sua carreira? Jogou antes de ser técnico?

Marcus Gama (MG): Sempre fui um esportista e jogava basquete na escola onde estudava, em Nova Friburgo - RJ. Até era um armador razoável mas minha altura não me ajudava muito. Por volta de 1994, Sérgio Macarrão (medalista Olímpico e Mundial) começou um trabalho de escolinha e me convidou para participar como auxiliar. Trabalhei um ano com Macarrão aprendendo muito e comecei a estudar e fazer diversos cursos sobre basquete. Quando Macarrão mudou de cidade essa equipe já jogava campeonatos de base no Rio. Antes de eu assumir como técnico principal passou por essa equipe três outros técnicos (95-96) e no Campeonato Estadual de 96 na minha estréia a equipe que já disputava o Adulto se tornou campeão Estadual pela primeira vez e tudo ocorreu daí por diante. Em 2001 e 2002 também fui o técnico da Seleção Carioca Infanto em Campeonatos Brasileiros.

PBF: Por alguns anos, você foi o responsável por um dos pólos de maior tradição do basquete no Rio de Janeiro, dirigindo o time de Nova Friburgo. Gostaria que você fizesse um resumo desse período, dos títulos e da importância deste trabalho em sua carreira e para o basquetebol do seu estado.

MG: Trabalhei em equipes competitivas em Nova Friburgo de 1996 a 1999. Nesse tempo fomos Tricampeões Estaduais (96-97-99), tricampeões dos JAI´s – RJ (97-98-99), Bi-Campeão Taça Eugênia Bohrer (99 – 2000) e diversas vezes campeão Regional em São Paulo disputando por cidades como Bauru, Mogi das Cruzes, São José Rio Preto...Assim nosso trabalho que já era conhecido no Rio começou a ser respeitado em outros Estados. Cheguei a ser convidado para acompanhar a Seleção Brasileira com o Barbosa, na fase de treinamento 99-2000.


PBF: Mesmo sua equipe se sagrando campeã regional, ela não disputou o nacional em nenhuma das suas quatro edições, sendo sempre o representante estadual um projeto mais marqueteiro que basqueteiro, como o Fluminense (98), o Botafogo (99) e o América (00). Como você enxerga isso?

MG: Só é uma pena que nenhuma dessas equipes deixou plantada nenhuma raiz para que o basquete do Rio crescesse mais. Talvez nessa época Friburgo realmente não tivesse estrutura e grana para disputarmos uma competição desse nível, mas de nada valeu a montagem dessas equipes meteóricas que se dizimavam em seguida.


PBF: Os investimentos do Vasco no basquete feminino, a partir de 2000 significam o quê para o basquete carioca, na sua opinião? E como você enxerga as dificuldades que este projeto tem enfrentado pra se manter?

MG: Foi excelente não só para o basquete Carioca, como também para atletas e técnicos que ampliaram seus mercados de trabalho. Só que foi uma coisa irreal com valores que não poderiam ser mantidos. Isso hoje traz uma desconfiança não só ao Vasco que passa por dificuldades até hoje, mas ao basquete do Rio. Campos vem pagando seus compromissos em dia (em todas as modalidades) há seis meses, e sempre que vamos negociar com atletas temos que provar ao atleta que o Projeto é sério e não é passageiro.



PBF: Em 2000, você conseguiu o terceiro lugar para o time de Nova Friburgo no Carioca, que teve a final disputada pro Vasco e Mangueira. Como foi este torneio?

MG: Quando nós montamos o elenco de 2000, nós não sabíamos que o Campeonato seria de altíssimo nível. Como não teríamos dinheiro para mais contratações, começamos a trabalhar com a cabeça das atletas de que essa seria a nossa grande oportunidade. De fato a final obviamente seria entre Mangueira e Vasco, que também fizeram a final na Liga Nacional que veio em seguida, mostrando não só que eram os melhores times do Rio, mas também do Brasil. O que não foi bem aproveitado pela TV foram os jogos mostrados ao vivo. Tiveram 3 grandes jogos Friburgo x Botafogo que não foram mostrado na TV, que preferiam mostrar um massacre da Mangueira em Belford Roxo. Eu acho que os jogos é que foram escolhidos erradamente já que um outro campeonato a parte estava sendo disputado com jogos de bom nível, só que eram no interior onde a TV não ia. Vale lembrar que Vasco e Mangueira eram mais fortes no Estadual do que na Liga devida a qualidade das estrangeiras.

PBF: Ao fim da temporada, você foi contratado pela Prefeitura de Campos para comandar a equipe de basquete feminino da cidade dentro de um projeto que conta com outras modalidades. Como você encarou e está encarando esse desafio?



MG: Eu fiquei muito satisfeito porque foi esse trabalho de 2000 que foi acompanhado de perto pelos dirigentes Campistas que nos trouxeram aqui. Nos outros esportes da cidade eles escolheram treinadores já consagrados como Zé Boquinha e Luizomar Moura. No nosso caso o Presidente da Fundação de Esportes de Campos, Sr. Lulu Beda já conhecia nosso trabalho a longo tempo e nos trouxe para dar prosseguimento ao que ele chama de renovação dos técnicos de basquete feminino, que ainda hoje fica na mão de poucas pessoas.

PBF: Quais são as suas ambições para sua equipe em nível regional e nacional?

MG: A nível Estadual o Projeto é de chegar em todas as finais com reais possibilidades de disputar títulos. A nível Nacional estamos tentando adquirir credibilidade com atletas de nível de Seleção que sentem ainda receio de trocar de Estado e de até trabalhar com uma comissão técnica jovem em uma Cidade desconhecida. Mas, aos poucos, nós vamos mostrando nosso trabalho e pretendemos fazer um time que brigue para classificar para os play-offs na Liga Nacional e ver até onde mais podemos ir.
Em curto prazo os resultados já apareceram, essa equipe é Campeã do JAI – RJ, Campeã dos JAB´s (em Brusque – SC) e vice-campeã da Taça Eugênia Bohrer.


PBF: Gostaria que você apresentasse o quinteto titular da sua equipe, falando sobre cada uma delas.



MG: Tenho duas armadoras que posso considerar titulares. Uma é a Keite que tem 19 anos e jogava em Americana, ele pegou todas as Seleções Catarinenses de base; a outra é a Ednéia que jogou em Friburgo ano passado e já foi Seleção Brasileira Universitária. Nas laterais tenho a Ana de Friburgo, a Íris que vem de Blumenau e tem sido um dos destaques. Nos pivôs a Marta, Ângela e a Mariel de Nova Friburgo se revezam também. Compõe o elenco a Isa que vem de uma temporada Universitária Americana, a Gleise e a Márcia de Nova Friburgo e mais duas juvenis Kamilla e Tatiane. Vale lembrar que o trabalho aqui também está sendo desenvolvido nas categorias de base e depois do Carnaval deveremos fazer peneiras.


PBF: A primeira contratação de peso da equipe foi a Marta Sobral. Por que a opção pela Marta?

MG: No começo, procurávamos uma atleta de renome Nacional que além de ajudar dentro de quadra, também nos ajudasse a divulgar a seriedade do projeto. Então o nome da Marta foi um consenso e em seis meses passados posso te garantir que a aposta foi correta. A Marta hoje é a nossa melhor garota propaganda. Para quem quiser saber se o trabalho aqui é sério e com idéia de longo prazo é só ligar para ela. Ela tem jogado uma média de trinta minutos e tem feito em média vinte e cinco pontos por jogo, mesmo em competições Nacionais como o JAB´s. Atuações que ele não vinha tendo em outros times ha muito tempo. Acho que o clima de Campos lhe fez bem.

PBF: Estão previstas novas contratações?

MG: Sim. A idéia é trazer para esse ano pelo menos mais duas jogadoras com passagem por Seleção. Verba nós possuímos,apesar de ninguém aqui fazer loucuras e contratos milionários... precisamos de jogadoras que não tenham medo de mudanças e desafios, pois, Campos hoje tem uma das melhores estruturas do País para pratica do esporte.

PBF: Gostaria que você falasse da sensação de ver uma ex-atleta sua, a Néia, passando a ocupar o posto de assistente técnica do time. Como foi essa transição?



MG: A Néia, quando jogava, já era uma líder dentro de quadra, então essa transição ocorreu naturalmente.


PBF: Provavelmente, sua equipe fará a final do carioca com o Vasco. Você está preparado para esses confrontos? Sua equipe pode vencer Micaela, Érica & Cia?

MG: Nós respeitamos muito a equipe do Vasco e suas jogadoras, mas no jogo do turno chegamos a abrir 14 pontos de diferença lá em São Januário e não nos deixaram vencer. O difícil é vencer o Vasco nos bastidores.


PBF: Você acredita que o basquete feminino possa finalmente criar raízes no Rio de Janeiro?

MG: Ainda vai ser um processo um pouco lento já que se destacam apenas duas forças. Hoje Belford Roxo e Caxias já estão muito mais estruturados do que no ano passado. Eu acho que a solução para o basquete brasileiro seria os Torneio Regionais pois nem São Paulo anda com essa bola toda. A CBB já está dando o primeiro passo lançando uma Taça Brasil que iria de março a abril, abrindo novos pólos no Sul, Nordeste e etc.. podendo esses Estados investir o ano todo, não apenas para a liga. Se for um Torneio bem organizado pode ser a luz no fim do túnel do basquete feminino que tantas glórias traz ao Brasil.


PBF: Gostaria que você falasse um pouco das suas expectativas para o desempenho da seleção brasileira no Mundial deste Ano.

MG: Fazer uma previsão agora é quase dar um tiro no escuro.Quase todas nossas selecionáveis estão fora do país e não sei se estão conseguindo se firmarem, depois vem a WNBA ...vamos esperar que essa experiência internacional traga ainda mais qualidades para nossas atletas e que consigamos jogar de igual para igual contra EUA, Austrália, Rússia, França...

Bate-Bola:

Um título: Seleção Brasileira Campeã Mundial.
Um sonho: Ter algum dia meu trabalho reconhecido Nacionalmente
Uma atleta: atualmente Silvinha
Um time: atualmente Unimed Americana
Um técnico: Hélio Rubens
Uma quadra: Ginásio Municipal de São José Rio Preto
Uma revelação: Iziane
Um ídolo: Phil Jackson

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