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quinta-feira, 19 de abril de 2012

De preparador físico a técnico da seleção, Tarallo sonha com ciclo longo

O caminho não foi convencional. Ele não jogou basquete na infância e nem sonhou ser a voz de comando de uma equipe quando crescesse. Na verdade, preferia o gramado à quadra. Mas foi nela que a oportunidade de trabalho apareceu. Luiz Cláudio Tarallo virou preparador físico das divisões de base do Jundiaí numa grande época do basquete feminino da cidade, como faz questão de frisar. Só não podia esperar que com o fim do projeto competitivo do Divino, no início da década de 90, fosse ser chamado para ser técnico. O gosto pelo desafio o fez aceitar a nova função, mas impôs uma condição: ficaria no cargo até um treinador de ofício ser contratado. Não conseguiu mais largar.

Aos 45 anos, a vida mudou de novo. No fim do ano passado, resolveu aceitar o convite da CBB para deixar as seleções da categoria de base e assumir a principal. A missão não é simples, o tempo é curto e a pressão por resultados nos Jogos de Londres é grande. Mas ele se diz tranquilo. Quer logo iniciar a preparação e sonha que seu ciclo dure bastante.

Tarallo está casado com Patrícia há 20 anos e tem dois filhos. Leonardo joga futsal no colégio, e Letícia faz dança. Basquete para eles, só nas conversas em casa. Lugar onde a partir de 1º de maio passarão a ver bem menos o pai. Neste dia, o primeiro grupo de atletas convocadas dará início à preparação olímpica. O segundo, formado por aquelas que disputaram a final da LBF e pelas que estão jogando na Europa, ainda não tem data definida para se apresentar em Jundiaí. A lista com os nomes escolhidos pelo técnico será divulgada quinta-feira.

Em entrevista, Tarallo diz que deve lançar jovens jogadoras em algumas posições. Lembra que o trabalho também visa à Olimpíada do Rio, em 2016. Conhece a nova geração como a palma de sua mão, já que à frente dela conquistou o inédito bronze no Mundial sub-19 em 2011. Para Londres, evita criar expectativas com relação a resultados. Segundo ele, o objetivo da equipe será pensar em vencer cada jogo e lutar o tempo todo. Está feliz por contar com Éríka e Iziane no processo. Acredita que, mesmo sendo marinheiro de primeira viagem, assim como toda a sua comissão técnica, poderá voltar de lá com uma boa colocação se o grupo mostrar comprometimento.

GLOBOESPORTE.COM: Como o basquete entrou na sua vida?
Tarallo: Eu trabalhava como preparador físico das equipes de base de Jundiaí, numa grande época. Em 1992, quando acabou todo o projeto competitivo da cidade, a Prefeitura me falou para ser técnico. Eu disse que não. E falaram: "Foi todo mundo embora e só ficou você dos que tinham contato com o time principal". Eu ficava vendo como era a função do treinador e, na ausência dele, era eu que estava sempre lá. Como gosto de desafios, disse que tudo bem. Mas que ficaria até que outro técnico chegasse. Só que senti o gosto e acabei ficando. Fiz um caminho diferente do da maioria. Eu nem fui jogador. Na verdade, gostava de jogar futebol. De vez em quando ainda faço isso. Toda semana uns grupos também se reuniam para jogar basquete. Como jogador estou indo muito bem como técnico (risos).

Naquele período como preparador físico trabalhou com algum talento que brilharia mais tarde na seleção adulta?
A Alessandra (pivô campeã mundial em 1994 e medalhista olímpica). Ela nos procurou quando estava com 17 anos. Não tinha todos os fundamentos, mas trabalhou muito e, pela altura, se destacava.

Para alguém que iniciou a trajetória como preparador físico o Carlos Alberto Parreira (técnico do tetra na Copa do Mundo) é uma boa referência?
(Risos). Parreira é uma referência boa, sim. Espero, quem sabe, conseguir os resultados que ele conseguiu com a seleção. Foi um treinador competente e também com ética. Deixou exemplos e resultados também.

Você sempre trabalhou com basquete feminino? Nunca pensou ou teve vontade de estar à frente de uma equipe masculina?
Na realidade, sim. Sempre trabalhei com meninas. Tenho uma afinidade grande, mas é preciso ter um feeling para compreender o comportamento e a postura de uma mulher. Ser treinador é também administrar pessoas. Sempre procurei estudar a atleta do ponto de vista fisiológico e psicológico. Todo técnico que trabalha com mulheres tem sempre que se atualizar. Não é porque eu não gosto ou tenha algo contra o masculino, mas acho difícil mudar. As coisas foram acontecendo naturalmente para mim e dando certo. Passei pela seleção paulista e desde 2005 estava na seleção brasileira de base.

E como foi fazer parte da equipe que conquistou o inédito bronze no Mundial sub-19 no ano passado? O que se pode esperar desta geração para as Olimpíadas do Rio?
Elas mereceram aquela conquista. Tudo foi feito com muito empenho. Compraram a ideia de vencer, venceram obstáculos, o que facilitou muito o trabalho. Conseguimos treinar por um período longo. Tivemos tempo, dedicação e um grupo altamente comprometido. Meninas promissoras apareceram, como a Damiris que foi MVP do campeonato. Algumas delas foram aproveitadas na seleção adulta e outras fizeram parte dos treinos, como a Ramona. Já temos um planejamento para promover o maior número possível de vivência e oportunidade de jogar contra vários países antes dos Jogos, como China, EUA, Argentina, Chile, Argentina, Japão... É preciso chegar com experiência internacional, vivenciando situações contra as melhores e também diversas escolas de basquete.

Você recebeu uma missão importante e complicada. Pode ser uma coisa muito boa, mas nem tanto assim caso o resultado não saia...
Eu já tinha sido sondado uma vez, mas, com problemas pessoais e de contrato, não tinha como eu entrar. Também já tinha trabalhado como assistente da adulta nos Sul-Americanos de 2005 e de 2006 (o técnico era Antonio Carlos Barbosa). No fim do ano passado, recebi um convite oficial. Primeiro fiquei contente porque era um reconhecimento, estava sendo elevado a uma seleção adulta. E o convite veio com as Olimpíadas junto. Muitos treinadores chegaram à adulta e não foram aos Jogos. Sei a importância deste momento do basquete, que está preocupado em crescer. Além disso, fiquei animado porque é um cargo visando 2016. Agora vamos para Londres com força máxima. Dependendo da carência de alguma posição ou outra, vamos lançar atletas mais novas. Eu fui acompanhar jogos do Europeu. Foi bom para estudar pontos fracos e fortes de possíveis adversários. Saber como jogam e gostam de jogar. O sorteio olímpico será este mês. Eu já queria logo poder estar treinando o grupo, saber com quem vou poder contar. É uma ansiedade gostosa, estou curtindo. Sei que o resultado pode não vir. Falei que vou fazer o máximo que posso porque o trabalho é feito em um ciclo olímpico e eu estou assumindo no final dele. E a CBB me disse que é o início de um ciclo. Isso me deixou tranquilo.

Esse ciclo olímpico contou com outros três técnicos antes de você (Paulo Bassul, Carlos Colinas e Ênio Vecchi). Como via essas constantes mudanças?
Eu não tinha uma posição com relação a isso. Sempre foi uma tentativa de acerto e de aproximação das ideias do treinador e da CBB. Ninguém fica eternamente numa seleção. Uns têm períodos curtos e outros maiores. A gente sabe como funciona. Hoje a CBB está fazendo um realinhamento e entendeu que eu seria ideal para o trabalho. Vou ter uma fase, mas espero que meu ciclo dure bastante (risos). Estou curtindo, tranquilo, ciente e contando com o respaldo dos meus outros dois empregadores. Estou licenciado na Prefeitura de Jundiaí e no colégio de irmãs vicentinas, onde sou coordenador da área de Educação Física.

Então tem muita gente rezando por você.
As irmãs do colégio, né? Não tinha pensado nisso! (risos). Tenho compreensão de todos os lados. Deixei muitas portas abertas.

A comissão técnica do Brasil é formada por debutantes olímpicos. Como acha que vai ser controlar a ansiedade de vocês e das jogadoras também?
Essa é uma comissão que eu conheço e acredito. São pessoas gabaritadas. Temos que pensar que todos os grandes técnicos e jogadores já foram aos Jogos Olímpicos pela primeira vez. Temos exemplos de resultados de treinadores e comissões novas que foram bem. O contrário também já aconteceu. Não acredito que isso faço a diferença. A força está nos momentos dos jogos, no saber o que quer e no foco. Temos uma base de atletas experientes. Mas nada impede que uma menina nova, que não está com pressão sobre os ombros, possa ir para cima. Todas sabem jogar basquete e também sabem a dificuldade de chegar até uma Olimpíada. Têm que aproveitar, estar tranquilas para curtirem o momento sem uma pressão exagerada. É uma competição de tiro curto, o grupo tem que estar comprometido, ciente das coisas que vão acontecer e ser persistente. Não poderá se acomodar diante das dificuldades.

A modalidade conta hoje com um campeão olímpico treinando a seleção masculina. Já teve alguma oportunidade de conversar com Rubén Magnano?
Sempre acompanhei o trabalho dele. Não tive a oportunidade ainda porque cheguei agora e por conta de compromissos. Mas quero ter a chance de trocar ideias, sim. Não sou do tipo que tem orgulho e não pergunta as coisas. Lá no Europeu eu conversei com técnicos e jogadoras. Acho que é com essa troca que se cresce. Isso tem que ser feito não só com o Magnano, mas também com técnicos de outras modalidades. Dá para se tirar muitas coisas.

Há algum treinador, time ou atleta que serve de referência para você?
Eu seria injusto se escolhesse só uma pessoa. Não estou sendo demagogo. Hoje o trabalho no basquete feminino deve-se a um grande número de pessoas e, principalmente aos treinadores. Temos excelentes profissionais. Fora do basquete também não tenho um específico.

Quando será iniciada a preparação para Londres e com que número de jogadoras?
A convocação será feita depois da final da LBF porque tenho algumas dúvidas e precisava respeitar os clubes que estavam competindo. Como houve mudanças, alterações de datas no calendário e o Sul-Americano passou para junho, vamos ter que estudar essas trocas. Por isso é que não posso falar com quantas jogadoras vou iniciar o trabalho. Eu queria participar do Sul-Americano com os nomes da lista, mas vamos estudar isso. Algumas atletas vão precisar de dias de folga, como Érika e Adrianinha, que vão estar em fim de temporada na Europa. Pensamos em tê-las o mais rápido possível, para podermos fazer uma programação adequada a cada situação.

Além do amistoso com os EUA, já foi fechada a lista de países que você quer enfrentar?
Pedi para jogar com o maior número possível de equipes fortíssimas, mesmo que no início não seja promissor. Vamos jogar com os EUA, três partidas lá na Austrália, um torneio na França na véspera dos Jogos que vai ter China e Austrália também. E convidamos algumas seleções para virem ao Brasil. Estamos esperando para ver quais se interessam. Precisamos preparar uma equipe muito forte na defesa e com boas opções ofensivas. O contra-ataque é uma arma que gosto muito de explorar nas minhas equipes, mas quando o jogo precisar ser cadenciado, exploraremos a individualidade de cada atleta, mas sempre cuidando dos fundamentos.

Havia a dúvida se Iziane iria ou não a Londres. Desde o episódio com Bassul, a imagem dela ficou arranhada. Como é seu relacionamento com ela?
Fui técnico dela no juvenil no Osasco. Era uma menina na época e hoje é uma excelente jogadora, que amadureceu muito. Iziane tem um alto nível de basquete e é importante para o nosso esquema de trabalho. Não tenho problemas de relacionamento com ela. A encontrei durante a LBF. Talvez tenha tido alguns problemas antes, mas não era com o meu trabalho. É uma coisa que ficou para trás. Estou zerado com ela. Pelas vezes que conversamos, percebi que está querendo muito trabalhar. A prova disso foi que ficou conosco, não foi para a WNBA.

Hortência falou após o nono lugar no Mundial de 2010 que queria contar com Iziane e Érika desde o início da preparação olímpica. Já há uma posição da Érika a respeito disso?
Estive lá na Espanha conversando com ela. Desta vez, não vai chegar às vésperas da disputa de uma competição. Não deverá estar no treino na primeira semana porque daremos um tempo para que descanse. A ideia é evitar lesões mesmo. A decisão das duas, de dar prioridade à seleção, me deixou feliz. Elas são exemplos para as mais novas.

A lista deve ter nomes muito diferentes daquela do Mundial?
Aquela é uma base, mas em algumas posições vai haver trocas sim. Contaremos com algumas jogadoras novas, que vêm pela primeira vez. Estou estudando com carinho e analisando muito.

Em Pequim-2008, o Brasil ficou em 11º lugar. O que seria um bom resultado em Londres?
Trabalho pelo melhor possível. Temos que pensar nas vitórias. O grupo tem que ter uma das mãos no sonho e outra na realidade. Temos que pensar jogo a jogo. Lá estarão os 12 melhores países do mundo. Não gosto de falar em colocação porque, se não atingirmos, pode ser frustrante. Temos, sim, que ter como objetivo vencer cada jogo, lutar o tempo todo.

Você costuma usar em seu trabalho vídeos, livros, frases para motivar o grupo?
Gosto muito de trabalhar esse lado. Converso muito nos treinos e nos jogos. Gosto de trabalhar com exemplos de atletas, grupos, filmes, histórias de vida. Se você me perguntar se eu tenho alguma música ou filme predileto para me motivar também, eu vou dizer que não. Sou uma pessoa prática, o que me motiva é a quadra.

Fonte: Globo Esporte

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Branca – A difícil missão de substituir Magic Paula (Estadão – 1995)

imagembrancaricat Em março de1995, na ressaca da conquista do título Mundial, o técnico Miguel Ângelo da Luz convocou a seleção brasileira para a disputa do Pan-Americano de Mar del Plata. Os nomes eram os seguintes:

Armadoras – Branca (Unimep) Helen e Silvinha Luz (Ponte Preta)

Alas – Janeth, Nádia e Leila ( Santo André), Roseli (Ponte Preta) e Adriana Santos (Unimep)

Pivôs – Ruth (Ponte Preta), Alessandra Oliveira (Unimep), Lígia, Cláudia Pastor e Dalila (Guaru), Patrícia Silva e Simone Pontello (Santo André).

O time acima nem chegou a treinar. A competição de basquete feminino dos jogos acabou suspensa em função de ter apenas três outros países inscritos (EUA, Cuba e Argentina).

Antes disso, a armadora Branca (que voltava à seleção depois de um longo hiato) deu uma entrevista de página inteira ao Estado de São Paulo.

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segunda-feira, 10 de outubro de 2011

“Karina: destino colocou o Brasil no caminho da pivô” (Estadão 28/01/1996)

imagemkarina6No twitter, muita gente andou se divertindo com os comentários da hoje vereadora Karina Rodrigues no perfil @karinabasquete durante os Pré-Olímpicos Masculino e Feminino.

Muitos desses provavelmente não acompanharam a ex-pivô em quadra, numa carreira meteórica, marcada pela impossibilidade de defender a seleção brasileira.

Encontrei uma entrevista da pivô há 15 anos que registra bem sua trajetória.

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quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Érika e a seleção

A pivô Érika concedeu uma entrevista ao Fábio Balassiano e se mostra bem disposta a jogar o Pré-Olímpico e garantir uma vaga em Londres.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Entrevista – Arilza Coraça & Lais Elena Aranha (Portal Cidade de Itapira)

Na quinta-feira, dia 4 de março, às 17h, a itapirense Assistente Arilza Coraça e a técnica Lais Elena Aranha concederam uma entrevista, na sede do portal Cidade de Itapira. Pelo portal participaram Renato  Silva e Nino Marcati, do jornal Tribuna de Itapira, Tobias Valdissera, do A Cidade, Beto Coloço, e Aline Canto do Gazeta Itapirense.

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PERGUNTA: Como tem sido conviver com a mídia depois da conquista do campeonato da Liga de Basquete Feminino pelo Santo André?

ARILZA: O assédio da imprensa esportiva foi tão grande que acabou sendo muito desgastante para nós podermos atender a todos.

PERGUNTA: Nos outros campeonatos não eram assim?

ARILZA: Não. No campeonato paulista nós fomos finalistas. No jogo final, em Santo André, com o ginásio lotado e com a presença do nosso prefeito Aidan, acabamos perdendo, e não houve esse retorno de mídia que deu o campeonato nacional.

LAIS: Foi por causa do Brunoro, com a entrada da BSB, ele, praticamente, está cuidando do marketing da Liga. Finalmente, o basquete começa a se estruturar, ganhar espaço na mídia e atrair patrocinadores. Passamos por momentos difíceis. Hoje, superados.

PERGUNTA: Dá para imaginar o basquete num novo caminho. Podemos esperar bons frutos para os próximos dois anos?

ARILZA: Sim estamos no bom caminho. O basquete masculino está mais fortalecido, hoje já conta com muitos patrocinadores. O basquete feminino começou a caminhar para isso, agora. Mas a vantagem que Liga deu, Brunoro arrumou os patrocinadores para a Liga, então os clubes participaram do campeonato sem ter nenhuma despesa, nada. Nem passagem de avião, ônibus, estadia em hotel, alimentação, tudo...

LAIS: Até a arbitragem.

PERGUNTA: São quantas equipes?

LAIS: São oito. Estão pensando em chegar a doze. Eu, particularmente, prefiro dez.

PERGUNTA: O basquete continua concentrado em São Paulo. É possível atingir outros estados como está acontecendo com o masculino, como Londrina que está indo bem, Rio também?

LAIS: Não existem tantas equipes femininas nos outros estados como existem no masculino, mas a idéia é pegar um centro como o Paraná, por exemplo, a cidade São José dos Pinhais que tem uma estrutura, tem um projeto interessante, tem muitas escolhinhas, então você pode levar um time pronto de São Paulo pra lá para ser um espelho para aquelas crianças, participar da Liga, ser mais um Estado, porque eu acho que Santa Catarina já tem uma estrutura boa já, Joinville e Blumenau, enfim.

ARILZA: Mas alguns Estados fazem, como Pernambuco faz o basquete feminino há muito tempo, lá eles têm dificuldade de manter o feminino adulto. Maranhão tem o Betinho que faz. O que acontece assim, é que as crianças vão se sobressaindo e vindo para São Paulo. A Iziane, que está na WNBA, é do Maranhão, começou com o trabalho do Betinho.

PERGUNTA: É fato que o basquete não consegue seguir a mesma sequencia do vôlei, com altos e baixos. Por que isso acontece?

LAIS e ARILZA: Aí já é uma outra história. É um outro patamar. É questão de gestão, de massificação. O vôlei tem atrás dele o Banco do Brasil, e hoje você sabe que o BB, a potência que é, aí você pega a Globo e os principais programas de TV da Globo e o BB patrocinando a maioria dos programas, a Globo dá todo apoio ao esporte que o banco patrocina. Isso faz a diferença.

PERGUNTA: Mas o basquete também já teve grandes patrocinadores, não teve?

ARILZA e LAIS: Sim, nós tivemos da Arcor, Lacta, Vaporeto, Pirelli, enfim, patrocinadores fortíssimos, mas era um vai e vem danado. Na década de 90 o basquete feminino era muito forte. Nós tínhamos o campeonato regional nosso, era um dos melhores do mundo, muitas estrangeiras e tudo. E o que aconteceu? De repente a Europa começou a pagar muito e nós tivemos um êxodo mais de dezoito jogadoras de nível A foram embora... Aí os patrocinadores começaram a sair. Houve a Inversão da moeda, lembra que era um para um? Nós trazíamos jogadoras. Depois, foi o contrário, o dólar subiu...

PERGUNTA: O basquete, antigamente, era pouco conhecido, pouco praticado. Hoje, ele está na maioria das escolas, pelo menos nas particulares. Toda cidade que tem uma quadra, tem o basquete sendo praticado, ou seja, está bem difundido. Talentos também existem, estão por aí e fora do país. Vocês acreditam que a consolidação do basquete, chegou o momento?

ARILZA: Eu trabalhei vinte e sete anos numa escola pública, por opção, uma missão, eu sempre gostei de trabalhar com a criança. A maioria das crianças que praticam basquetebol são carentes, moram na periferia, lá eu descobria mais talentos. Só que a Educação Física era masculina e feminina. Hoje, é dentro do período e turma mista, então a criança, pela falta de segurança, é difícil sair sozinha... Enfim, há alguns fatores que na Educação Física escolar foram modificados e isso está dificultando a massificação. Eu creio que muitos talentos estão sendo perdidos, principalmente nos grandes centros, onde a criança não consegue chegar nos locais que oferecem a iniciação esportiva.

PERGUNTA: Você não considera que a falta de ídolos também compromete o desenvolvimento do interesse das crianças para o basquetebol feminino? Depois de Hortência, Paula, mais recentemente, Karina, o basquete viveu um vácuo.

ARILZA: Então, mas quando a gente começa a exportar talentos a gente precisa detectar que alguma coisa de errado está acontecendo. Se você pegar no voleibol masculino, hoje a Superliga me faz acompanhá-los, eu que nunca tive paciência de assistir jogos pela televisão, habitualmente. A Superliga está maravilhosa. Os nossos talentos que estavam na Itália e pelo resto da Europa, com a crise, foram repatriados.

PERGUNTA: Você está dizendo que a chance do basquete voltar aos bons tempos seria o retorno das nossas grandes estrelas?

LAIS: Os que estão nos EUA, nem pensar. Lá a coisa é de milhões de dólares. Não temos a menor chance.

PERGUNTA: Mas não dá para se fazer alguma coisa, mesmo eles jogando fora?

LAIS: Sim, a CBB tem feito algumas ações nesse sentido. Quando eles vem de férias ou quando estão servindo a seleção, alguns deles, são levados nas favelas do Rio, mas isso a cada dois anos. É alguma coisa, mas é muito pouco. Nós temos que crescer. Mas como a Arilza falou, o problema maior é a falta de Educação Física como era antes, masculino, feminino, fora do período, quando não tínhamos a massificação, mas tínhamos condição de levar o esporte até a criança e não esperar que a criança vá onde tem o esporte, porque a condução é cara, a dificuldade dos pais...

PERGUNTA: Nós tempos uma Liga Regional que pega Itapira, Iracemápolis... Outras regiões a gente quase não vê isso. Falta um pouco disso? Ter alguma entidade que promova algum tipo de competição?

ARILZA: Eu acredito que sim, e o que é importante também você trazer a competição, várias vezes nós fomos fazer jogos de exibição em cidades do interior levando duas equipes, mais ou menos do mesmo nível, colocando as crianças para assistirem. Agora na final em São José dos Campos, Santo André mandou seis ônibus de torcida, sendo três ou quatro com torcedores, mas o resto eram crianças que já praticam e assistem o treinamento do adulto. Só deles verem a final, um novo formato, os olhos delas brilhavam.

PERGUNTA: Com a olimpíada de 2016, existem projetos de preparação?

LAIS: Para chegarmos às olimpíadas de 2016 não podemos pular etapas. Aliás eu tenho uma grande preocupação com que a Hortência está fazendo agora. Por exemplo: nós temos o pré-olímpico classificatório para 2012. Ela quer levar as novas. E eu já falei. Corremos o risco de ficar fora de Londres e a modalidade ao invés de ter aquele impulso para 2016, ela vai cair. Então a proposta nossa é de que se leve o melhor time agora, as melhores jogadoras que estão em atuação e ela tem muito tempo, de 2012 a 2016, para trabalhar a nova geração. A nossa sugestão é que se pegue o talento da sub 14, deve ter umas duas ou três, o talento da sub 15, duas no máximo, pega todas as gerações e as coloquem, juntas, treinando até 2016. Jogando, treinando, aqui, na Europa, nos EUA. Do que adianta pegar uma seleção da sub 19, onde não faríamos nada e gastaríamos uma fortuna fazendo um pré-mundial, com doze jogadoras, onde nove são medianas. Penso que o ideal é juntar os talentos pensando em 2016. Tem cabimento deixar Micaela, Ega, tudo de fora dessa seleção para ficar levando sei lá quem?

ARILZA: Nós conhecemos o Barbosa e sabemos que ele é uma pessoa muito inteligente, eu acho que tudo o que ele fez e continua fazendo, mostrou agora, em Ourinhos, ele assumiu e a levou à final, é uma experiência que não pode ser desrespeitada e simplesmente ignorada, a mesma coisa é quando você cuida de atleta. A Hortência, com 36 anos, foi resgatada, foi para a competição depois de ter sido mãe e de ter parado de jogar. E quando perguntaram ao Barbosa o que ele achava se a Micaela deveria voltar para a seleção brasileira, ele foi enfático – ela nunca deveria ter saído, pois foi afastada por uma pessoa que desconhece a cultura brasileira, que não fala o nosso idioma, não se sabe se ele se fez entender pelas atletas, ela tem 31 anos e se mostrou na Liga, na nossa equipe, uma das principais jogadoras.

PERGUNTA: Com esse, quantos títulos nacionais?

ARILZA: Nacional, o segundo. Nós fomos campeãs do Sul-americano. Só se adquire o direito de disputar o Sul-americano sendo campeã nacional. Depois da perda do patrocínio, a partir de 2001, a equipe foi mantida com mais dificuldade, com apoio da Prefeitura  de Santo André. Bolsas de estudos em  algumas escolas e  universidade para as atletas, mas sempre estivemos entre as quatro melhores equipes. Um ano só é que ficamos em quinto. Fomos campeãs dos Jogos Abertos do Interior, Jogos Regionais, mas o nacional veio depois de onze anos.

PERGUNTA: Como você vê o basquete de Itapira hoje? Você tem acompanhado?

ARILZA: Eu quero dizer que a parceria de escolas com o esporte é muito importante. Eu gostaria que todas as escolas dessem a importância que o Anglo de Itapira dá ao basquetebol feminino da cidade. O marketing esportivo une as duas coisas: esporte e educação. Com relação ao time feminino de Itapira, antes eu acompanhava mais porque eu tinha as minhas sobrinhas que jogavam e até sobrinhas netas. Houve um hiato. Agora eu tenho a Mariane Paschoalim Reatti, que tem oito anos, estuda no Colégio Anglo de Itapira e joga na equipe. Ela me telefonou e já vai para a primeira competição. Eu brinco com ela. Eu vou com você para a Itália. Você vai ser uma excelente pivô, ela tem estatura, ama o esporte. Eu não acompanho o time. Eu tenho a certeza de que o Flávio plantou a sementinha, boas sementes que estão frutificando, as meninas que jogavam com ele fizeram faculdade e hoje já estão trabalhando o basquete. Essa sementinha foi plantada lá atrás pela Antonia Coraça. E antes da Antonia, que era a Coraçona e eu a Coracinha, a Dona Cida. Foi a professora Cida que me apresentou o basquetebol, aqui em Itapira, aos onze anos. Muitas vezes ela ia até o sítio me buscar e me levar. Hoje eu tenho uma lembrança maravilhosa, lembro até a cor do esmalte que ela usava, ela tinha a pele muito morena. Eu tenho um grande respeito e uma enorme gratidão por ela e pelo Seu Silas que era casado com ela e que felizmente, ele, continua conosco. Daquela sementinha, eu frutifiquei, fui fazer faculdade, me tornei jogadora, professora de Educação Física e plantei outras sementinhas que estão trabalhando. E aqui é assim, Dona Cida plantou, veio a Coraçona, Coracinha, o Flávio chegou e assim está indo. Eu creio que o basquete feminino de Itapira está bem.arilzasemasa

PERGUNTA: Fale um pouco sobre o projeto Bola Laranja e o de vida, de voltar para Itapira.

ARILZA: O Bola Laranja foi aprovado com a Lei do Incentivo, mas, infelizmente, os dois anos reservados para a captação de um milhão e sessenta e dois mil reais, tinha que ser uma grande empresa, o projeto era ambicioso e nós não conseguimos, mas nem por isso deixamos de trabalhar com as crianças de Santo Andre e de outras regiões. Agora, mesmo, estamos com três meninas de Miracema. Atendemos cerca de 120 crianças, além do trabalho que é feito pela Prefeitura de Santo André, nessa área. Nós temos uma seleção sub19 que vai disputar o mundial, estão em Jundiaí, estudando e recebendo todo apoio do Ministério do Esporte, das 15 selecionadas no Brasil, três são nossas atletas. Agora houve a convocação da sub 17, onde temos uma. O meu projeto futuro é voltar para Itapira e implantar um projeto dedicado às crianças que querem praticar o basquetebol, incorporando, evidentemente, o que já existe na cidade.

PERGUNTA: Esse projeto para Itapira tem data?

ARILZA: Não. Não tem data ainda. Eu preciso primeiro encontrar um parceiro para me trazer de volta, é difícil a gente sair de um lugar onde está consolidado é complicado. Por isso que eu falo sempre do prefeito Aidan Ravin por ele ter acreditado no nosso projeto. Ele conseguiu o retorno desejado.

PERGUNTA: Quando será o Sul-americano?

LAIS: Ainda não está definido. Essa é uma briga da CBB para se colocar um calendário fixo. Devem definir para junho.

PERGUNTA: Arilza, fale um pouco da sua carreira, de Itapira até hoje.

ARILZA: Você sabe que eu comecei a minha carreira como professora, eu fiz 18 anos – aliás estava tudo preparado para uma grande festa de aniversário, dia 18 de fevereiro, pois tenho uma família maravilhosa e uma legião de amigos conquistados, mas por conta da Liga eu adiei essa comemoração para o próximo ano, pedi para as meninas o título como presente de aniversário – então algumas coisas eu fui apagando, principalmente as negativas, só fiquei com as alegrias, fui para São Paulo para fazer a faculdade e comecei a trabalhar, pois naquela época tinha falta de professor de Educação Física. Comecei em Osasco. No ano seguinte eu fui para Carapicuiba. Veja o que eu fazia diariamente: eu morava em São Paulo, no Butantã, ia até Carapicuiba para dar aula, ia para Santo André para treinar e voltava para São Paulo. Eu tinha um fusca, gastava um tanque de combustível com a maior facilidade, praticamente, o apoio financeiro não mantinha nem o combustível que eu gastava. Mas o meu trabalho como professora e como a faculdade era pública, eu fiz USP, e assim foi. O início foi no ESO com a Dona Cida, minha irmã já estava em São Paulo,na faculdade. Ela resolveu montar uma equipe da cidade para disputar os jogos abertos, eu fui com ela. . Fui campeã por Itapira, no jogos de 1968. Na faculdade, em 1971, teve o mundial de basquete, quando o Brasil foi medalha de bronze e a Lais era a jogadora. Lembro-me do jogo com o Japão, eu trabalhava na estatística, e faltando um segundo a Nilza fez uma cesta da lateral e nós ganhamos o jogo por um ponto. Disso veio a motivação para eu procurar um clube. Eu estava com 19 anos. Escolhi Santo André. Disputei a Universíade como jogadora e como técnica. Fui para a seleção paulista. Seleção universitária. Seleção brasileira. Como jogadora fui campeão sul-americana, logo depois disso lesionei o joelho. Fiquei só no clube. Tenho uma admiração, hoje, pelo Fenômeno e lá atrás pelo Reinaldo, não sei se vocês lembram, pois vivemos uma dificuldade parecida. Joguei até os 33 e foi difícil parar. Se não fosse a lesão chegaria mais adiante. No esporte o envelhecimento é cruel.

PERGUNTA: No Santo André a única função que falta é ser técnica?

ARILZA: Do adulto. Eu já fui técnica até da seleção brasileira sub 17 e sub 19 e voltamos campeã. Hoje, sou assistente técnica do adulto.

LAIS: Ontem, eu fui fazer uma matéria no jornal e fui perguntada sobre os meus planos. Na hora eu falei, eu estou pensando – até falei, em primeira mão, posso até levar uma bronca do meu diretor e até do prefeito – estou pensando seriamente em dirigir a equipe este ano, até segunda Liga e depois eu quero passar o bastão para a Arilza, eu quero continuar a minha carreira como dirigente, mais no sentido de estar ajudando, fora da quadra, dando muito respaldo para o basquete feminino de Santo André e talvez, sei lá, se a Hortência mudar um pouco de cabeça, de achar que os técnicos brasileiros tem condições, os mais experientes de estar passando alguma coisa aos novatos, a gente está aí à disposição, já falei isso para o Brunoro. A primeira coisa é a Arilza assumir primeiro.

PERGUNTA: O Santo André estará entregue em boas mãos?

LAIS: Com certeza! Ela está preparada.

ARILZA: Eu e a Laís trabalhamos juntas. Eu não me vejo trabalhando sem a presença dela. Ela e o Barbosa são grandes estrategistas ofensivos. O meu olhar é defensivo. Porque a vida me ensinou assim. Sou uma guerreira. Eu tive que conquistar as minhas coisas com garra. Isso a minha mãe me ensinou desde pequenininha. Até para estudar, eu morava no sítio, ela que me acompanhava. A Laís estará sempre por perto. É uma pena, aproveito o momento, para dizer que as pessoas não devem ser afastadas por que estão velhas ou novas, mas pela troca do incompetente pelo competente, você usa a experiência das pessoas que estão lúcidas. O Barbosa fez uma queixa para mim, na final, estou muito feliz por que esse jogo será entre amigos, entre pessoas que se respeitam. A maior vitória da nossa equipe foi a vitória do amor, a vitória da fé, a vitória do respeito ao próximo, dos tementes a Deus, um grupo de fé; além de muito treinamento. Valores que eu como professora de Educação Física prezo demais, é a parte educacional. Infelizmente, a Hortência que para mim foi a melhor jogadora do mundo, eu a vi crescer, eu fui uma defensora ferrenha dela. Eu dificultava as ações dela na quadra, porque nem duas defensoras conseguiam pará-la. A Lais sempre mandava marcar BOX ONE a Hortência. Talvez ela tenha até uma mágoa. Muitas vezes o ex atleta leva a mágoa do passado para outras atividades. Me disse o Barbosa que ela se referiu a ele, como se ele estivesse “gagá”. O Barbosa é um jovem senhor de sessenta e poucos anos, lúcido,perfeitamente consciente, maduro e mostrou na quadra o que sabe. Eu costumo dizer que a gente prova as coisas com atitudes e não com palavras, com resultados. Como disse o Barbosa quando ele foi arguido: os resultados estão aí.

PERGUNTA: O Airton Sena dizia que na vitória ele se encontrava com Deus. Lais e Arilza o que vocês sentiram?

LAIS: Eu me encontro com Deus todos os dias, mas senti a sua presença maior a partir da semifinal. Senti a presença Dele nos treinamentos, no dia a dia, a cada jogo, posso até dar um depoimento: na última partida contra o Catanduva eu sabia que seria muito difícil, pois já estávamos sem a Tayara e eu não tinha troca e o adversário tinha muitas opções. Naquela hora, eu tenho certeza que foi o Espírito Santo que iluminou, eu não podia, em sã consciência, eu jamais colocaria a Cacá, essa menina de juvenil, para marcar a Palmira que estava acabando com o jogo, tirei a Ariadna, que tinha feito 34 pontos, no jogo anterior e coloquei a Cacá e ela deu conta do recado. Acabou com a Palmira. No final do jogo ela veio me abraçar e falou: eu não disse que estava pronta? Aí eu brinquei: falar não adianta, tem que mostrar. E você mostrou. Agora eu acredito que você está pronta. Eu senti. O grupo sentiu a presença de Deus. O nosso grupo, todas as jogadoras, elas tem muita fé. Elas estão sempre procurando muito Deus.

ARILZA: Esse foi o nosso sexto jogador.

PERGUNTA: Você poderia citar um talento de Itapira, que você levou para Santo André, que chegou à seleção?

ARILZA: Eu sempre cuidei da base. Um dia eu estava numa reunião na federação e eu estava procurando uma armadora. Aí o “Borracha” estava do meu lado e disse: eu conheço uma menina de Itapira – eu, naquela época não tinha contato com o Flávio, hoje ele faz parte da família, é casado com a minha sobrinha – e o “Borracha” talvez não soubesse que eu era de Itapira, é uma armadora de uma família Gattei. Eu disse, eu sou de Itapira, e Gattei deve ser parente. Fui me informar, era a Vanessa Gattei. Ela era infanto, levamos para Santo André. Lá ela terminou a formação de categoria de base, era um momento de vacas magras, para fazer dinheiro juntávamos jornais, amassávamos latas etc. E por isso os emails que recebi, os abraços que recebemos, sempre assim: vocês merecem, vocês não desistiram, vocês tem um trabalho maravilhoso, por conta das dificuldades que superamos. Então a Vanessa, de lá foi para Ourinhos, onde foi campeã, foi para a seleção brasileira, hoje está em Catanduva, é também uma itapirense que disputa a Liga. Brilhando, com certeza.

Pergunta: A Liga de Basquete Feminino esteve bem organizada, por ser a sua primeira edição?
Lais e Arilza: Nós gostariamos de parabenizar e agradecer ao Marcio Cataruzzi (Presidente), ao seu fiel escudeiro Celso Diniz ,pelo comprometimento e incansável trabalho sempre procurando atender a todos com muita atenção. A Liga foi um sucesso, algumas falhas aconteceram, mas com certeza serão superadas com mudanças que devem ocorrer no regulamento nas próximas reuniões com todos os filiados. Agradecer também a Brunoro Sport Business.
Pergunta: Algum agradecimento?

Lais e Arilza: Agradecimento a todos as atletas que confiaram em nosso trabalho, a Preparadora Física Adriana Amado Bazani,Prefeito Aidan Ravin, Departamento de esportes de Santo André, Academia Biorítimo, Academia Gersom Dória, Agência 3 MB, ao Patrocínio do Semasa, nossos amigos e familiares, torcedores e amantes do Basquete feminino. 

Fonte: Portal Cidade de Itapira

segunda-feira, 14 de março de 2011

'Auto-exilada', Ariadna lembra encontro com Fidel Castro e discorda de Iziane (Gazeta Esportiva)

Bruno Ceccon

Ariadna Capiró nasceu em Havana, mas é cada vez mais brasileira. No País desde 2006, a ala do Santo André, melhor jogadora e cestinha da primeira edição da Liga de Basquete Feminino (LBF), já tem dificuldade para falar espanhol, cursa uma faculdade no ABC e lamenta a impossibilidade de defender a seleção. Com medo de retornar a Cuba e ser impedida de sair novamente, a jogadora vive uma espécie de 'auto-exílio' enquanto espera pelo visto de residência no Brasil.

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Por Cuba, ela foi campeã pan-americana em Santo Domingo-2003, mas está afastada da equipe desde que resolveu se profissionalizar. Em 2008, Paulo Bassul, então técnico do Brasil, chegou a sondá-la, mas o regulamento da Federação Internacional de Basquete (Fiba) impede uma atleta de defender dois países. Aos 28 anos, no auge da carreira, a jogadora sofre por não poder defender uma seleção em torneios como Mundiais e Jogos Olímpicos. A ala tomou cuidado ao falar sobre Iziane, do Atlanta Dream, que se recusou a atuar pelo Brasil sob o comando de Bassul, mas não escondeu sua discordância.

"Com certeza eu, no lugar dela, aceitaria com o maior orgulho uma convocação para a seleção, até porque é o meu sonho. Mas cada um tem os seus motivos para aceitar ou rejeitar", disse a cubana. Ela ainda condenou a decisão de contratar Ênio Vecchi para comandar a seleção feminina no lugar do espanhol Carlos Colinas após o fracasso no Mundial da República Tcheca-2010 e sugeriu a experiente Laís Elena, premiada como melhor treinadora do LBF pelo Santo André.

Filha de Armando Capiró, um dos melhores jogadores de beisebol da história de Cuba, Ariadna percorreu os poucos quarteirões que separam sua casa do Ginásio Pedro Dell'Antônia para conceder entrevista exclusiva à GE.Net. Com as arquibancadas vazias, a autora de 354 pontos em 20 partidas do LBF contou como deixou a casa dos pais com 11 anos para iniciar a carreira, lembrou o encontro que teve com Fidel Castro, defendeu a Revolução de 1959 e manifestou esperança no futuro da Ilha que não visita desde 2005.

193_14.22.2011_8483_ef_20110227 GE.Net - Em que lugar você gostaria de estar neste exato momento?
Ariadna -
Com certeza, agora eu gostaria muito de estar em Cuba. Depois que acabou a final, o que eu mais queria era estar com as malas prontas e dizer: "vou para Cuba". É o que todas as meninas da equipe estão fazendo, elas estão em suas casas, de férias e desfrutando com a família. Eu, não. Estou aqui sozinha... Sozinha, não. Tem muita gente perto de mim, que me dá um carinho e um apoio muito grande. Mas com certeza eu gostaria, neste momento, de estar em Cuba com a minha família.

GE.Net - Você não volta a Cuba desde 2005. Do que mais sente saudade?
Ariadna -
Cuba é uma ilha linda. Sempre que vou à praia aqui, eu lembro e digo: "em Cuba, a praia era bonita, a areia era linda, a água era quente". Tem coisas que só nós temos como cubanos. São nossos costumes, que com certeza nunca esqueço e sinto muita falta. A saudade está sempre presente. Com o título da LBF e os prêmios individuais que ganhei, mais do que nunca, senti uma saudade super grande. É um momento especial, que você quer dividir com sua família e com as pessoas que realmente gosta. Eu daria tudo para ter estado com a minha mãe no dia da final. Seria perfeito. A saudade é uma coisa que ninguém consegue suprir, a não ser a própria família.

GE.Net - Você saiu legalmente de Cuba para jogar basquete de forma profissional. O que acontece se você retornar ao país para visitar sua família agora?
Ariadna-
Tem grande chance de eu não voltar. Como ainda não tenho uma residência permanente no exterior, Cuba pode me negar a permissão para sair. Preciso do visto de residência permanente no Brasil, o que só vou conseguir dentro de dois anos, se eu continuar em Santo André. Tenho que passar quatro anos exercendo a mesma profissão e no mesmo lugar de trabalho para conseguir o visto. Meu plano é convidar minha mãe de novo para me visitar. Ela já esteve uma vez aqui no Brasil e quero que ela volte, passe pelo menos três meses comigo, até para desfrutar essa fase boa que estou vivendo hoje em dia.

GE.Net - Desde que você resolveu sair de Cuba, não pode mais jogar pela seleção. Você lembra da sensação de representar o seu país em quadra?
Ariadna -
Foi uma das minhas maiores alegrias, um orgulho total. Como eu sempre digo, saí de Cuba por problemas econômicos, e não políticos. Agradeço muito ao governo cubano por tudo, graças a eles sou a atleta que sou hoje. Não posso esquecer disso nunca. Mas eu queria uma vida econômica melhor para a minha família e acabei saindo. Essa alegria de jogar pela seleção de Cuba... Morro de saudades de poder jogar pela seleção. Se eles me chamarem hoje e disserem "vem jogar", eu jogaria de graça. Eu escolhi jogar profissionalmente, mas com certeza jogaria de graça sem problema nenhum e sem pensar duas vezes com uma camiseta de Cuba.

GE.Net - Como o governo cubano te ajudou?
Ariadna -
Eu comecei a jogar basquete com 11 anos no colégio e depois fui selecionada para um Centro Esportivo de crianças até 15 anos. Desde pequena, sempre estive concentrada. Eu encontrava meus pais só nos finais de semana e os treinamentos sempre foram bem intensos. Eu nem pensava em jogar profissionalmente, pensava mais em jogar pela seleção, que é o sonho de todos os atletas cubanos. Depois, passei para um Centro Juvenil e, em seguida, para um Centro Adulto. Conheci muitos atletas que hoje em dia são grandes campeões, como o Dayron Robles [atual campeão olímpico e recordista mundial nos 110m com barreiras]. Nesses lugares, você convive com os melhores atletas de Cuba no vôlei, no beisebol, no boxe, no atletismo. Tudo que aprendi de fundamento foi em Cuba nesse trabalho que fiz quando pequena. Na época, a gente achava que era meio pesado e chato, mas hoje consigo perceber que aquele trabalho criou uma base para eu conseguir treinar melhor.

GE.Net - Em Cuba, você passava a temporada inteira treinando com o grupo da seleção e não participava de torneios entre clubes. Como era essa rotina?
Ariadna -
Em Cuba, você praticamente só joga pela seleção. Dificilmente você joga um campeonato nacional e eles são super curtos, de um mês quase. O resto do ano, é sempre concentrado e treinando com a seleção. Muita gente deve se perguntar por que o rendimento dos atletas cubanos caiu. É que hoje em dia a parte econômica pesa muito e Cuba não tem recursos suficientes para proporcionar que todas as equipes saiam para jogar no exterior. Atualmente, quanto mais você compete, mais competitivo fica. No caso de Cuba, essa parte econômica está afetando muito e cada vez os cubanos participam de menos torneios. O investimento no esporte está sendo menor, porque tem um bloqueio econômico que lamentavelmente acaba prejudicando os esportistas.

GE.Net - Pela seleção cubana, você participou dos Jogos Pan-Americanos de Santo Domingo-2003. Na final, vocês venceram os Estados Unidos. Tem um sabor especial ganhar a medalha de ouro contra as norte-americanas?
Ariadna -
Eu era uma atleta jovem, praticamente nem entrava em quadra. Mas foi um dos grandes momentos da minha vida, porque foi a primeira medalha de ouro em um campeonato importante que tive com a camisa de Cuba. Com certeza, tem um sabor especial vencê-las. Sem dúvida nenhuma, as americanas têm a melhor equipe do mundo, têm uma hegemonia de muitos anos e devemos reconhecer isso. Independente do nível da equipe, seja segundo ou terceiro time, são jogadoras da WNBA. Ter conseguido essa vitoria com certeza foi muito importante. Quando voltamos para Cuba, encontramos o Fidel Castro.

GE.Net - O Fidel é um personagem muito idealizado pela trajetória de vida que teve. Como foi encontrá-lo pessoalmente?
Ariadna -
Ele me deixou uma impressão de muito respeito. Ele é alto, grande e até carismático. Fez até umas brincadeiras conosco. É um momento que marca na vida você conhecer uma pessoa que é admirada no mundo inteiro. Daqui a 100 anos, todo mundo vai lembrar e saber quem foi Fidel, com certeza. Foi super emocionante, um momento que vai estar para sempre na minha cabeça. Foi uma oportunidade de, pelo menos, apertar a mão do presidente do meu país. Para o Fidel, o fato de você regressar a Cuba já é uma vitória. Esse bloqueio econômico não é nem tanto culpa do governo. São os Estados Unidos que exercem essa pressão sobre Cuba.

GE.Net - Você conhece bem a história de Cuba? O período antes de 1959, o Movimento 26 de Julho, a Revolução de 1959? Ou é um assunto que não te interessa tanto?
Ariadna -
Em Cuba, no colégio dão muita ênfase na parte de história. Acho que é importante para qualquer pessoa conhecer a historia de seu país. Nós temos um conhecimento bem sólido sobre a história de Cuba: como se formou, como fomos colônia espanhola e depois dos Estados Unidos, como foi a Revolução. Temos conhecimento de tudo isso, porque é algo fundamental.

GE.Net - Apesar de ser uma ilha com cerca de 11 milhões de habitantes, Cuba se transformou em uma potência olímpica durante o governo de Fidel Castro, chegando a rivalizar com os Estados Unidos e a União Soviética. Você acha que, para os atletas, o governo dele foi benéfico?
Ariadna -
Tudo que Cuba é hoje com certeza é graças ao governo do Fidel. Essa potência no esporte é pelo investimento que o Fidel fez. Cuba, como tudo na vida, tem suas coisas boas e ruins. Assim como o Brasil. Cuba não é uma exceção. Tem coisas ruins, mas também tem muitas coisas boas, com certeza.

GE.Net - Conseguir um bom desempenho em competições como Mundiais e Jogos Olímpicos também tem uma importância política para o governo cubano...
Ariadna -
Nós, atletas, somos um meio de as pessoas conhecerem como é a educação em Cuba, como são os cubanos na verdade. A imagem que muitos atletas passam é a imagem de como Cuba é na realidade, que investe no esporte, que investe em medicina. Os atletas são exemplos. Por isso, Cuba se preocupa tanto em formar não apenas bons atletas, mas também boas pessoas.

GE.Net - Na década de 1990, Cuba enfrentou uma situação sócio-econômica difícil após o final da União Soviética e muitos habitantes tentaram deixar o país de qualquer maneira para tentar entrar nos Estados Unidos pelo litoral. Alguém da sua família chegou a fazer a travessia?
Ariadna -
Não, não. Sou de origem humilde, mas minha família sempre se esforçou muito para que eu e meu irmão tivéssemos as coisas necessárias. Minha família nunca precisou se arriscar tanto pegando uma lancha e indo para os Estados Unidos. Depois que eu cresci e saí do país, meu irmão tomou a decisão de fazer o mesmo. Ele já queria um futuro para ele [vive nos Estados Unidos].

GE.Net - Desde 2008, Raúl Castro, irmão do Fidel, comanda Cuba oficialmente. O Fidel completa 85 anos em 2011 e está com a saúde debilitada. Você acha que tem uma perspectiva de mudança com a saída de cena do Fidel?
Ariadna-
Eu acho que não muda muita coisa, porque o irmão do Fidel tem mais ou menos o mesmo pensamento. Ele tem uma mente um pouco mais aberta, porque o mundo está mudando. Cuba já esta muito atrás em muita coisa, então seria bom ir se desenvolvendo junto com o resto do mundo. Já houve varias mudanças significativas com o Raúl no comando, mas espero que aos poucos possam acontecer outras mudanças para benefício dos cubanos.

GE.Net - No período em que você jogava pela seleção de Cuba, costumava viajar para atuar no exterior. Como era deixar a realidade cubana para atuar em países europeus?
Ariadna -
Foi o que me fez abrir os olhos: conhecer pessoas diferentes, uma forma de levar a vida diferente, um basquete diferente. Cada país era uma experiência nova e sempre se aprendia alguma coisa, até conhecendo as pessoas que não tinham nada a ver com o basquete. Por curiosidade, muitas pessoas se aproximavam querendo saber como era a vida em Cuba. Tem muitas coisas que falam e são mentiras. As pessoas querem realmente ouvir da boca de um cubano como se vive, se realmente a Revolução é tudo o que dizem, o que tem de bom e de ruim de viver em Cuba, se você conhece o Fidel. Apesar de sermos uma ilha pequena, todo mundo conhece a Cuba de Fidel. Dá orgulho ser de um país que as pessoas têm interesse em conhecer.

GE.Net - Ou seja, essas viagens para o exterior com a seleção te motivaram a deixar Cuba para jogar profissionalmente?
Ariadna -
Sim. Você joga por um clube e escolhe em que lugar quer jogar. Se não gostar, pega e muda. Em Cuba, não temos esse sistema. Eu saí porque ainda era jovem, pela motivação de jogar profissionalmente e de poder ajudar minha família economicamente. Como já disse e repito 1 milhão de vezes, não saí por problemas políticos. Não tenho nada contra o meu governo, pelo contrário. Tenho muito a agradecer, mas, economicamente, se quisermos ajudar a família, temos que sair do país e trabalhar aqui fora.

GE.Net - Havia algum tipo de remuneração na época em que você jogava pela seleção de Cuba?
Ariadna -
Não tinha um salário fixo. Em Cuba, os atletas jogam por amor ao esporte. Conforme a competição que você disputa, quando volta o governo te dá uma pequena premiação. Além disso, sempre que você sai do país, dependendo de quantos dias fica no exterior, o governo dá uma certa quantia de dinheiro que é como se fosse uma ajuda se você quiser comprar alguma coisa, mas não é nada significativo. Depois da medalha de ouro no Pan-Americano de 2003, acho que ganhamos entre US$ 300,00 e US$ 400,00. Não sei como estão as coisas em Cuba agora, mas na minha época era mais ou menos isso. Nas Olimpíadas, o prêmio já era maior.

GE.Net - Como os dirigentes, as jogadoras e a comunidade do basquete em geral receberam sua decisão de deixar Cuba para jogar profissionalmente?
Ariadna -
No começo, eles fizeram um pouco de resistência, tanto que fiquei um ano inteiro parada em Cuba esperando a liberação que eu precisava para sair. Eles falavam que eu era uma jogadora nova, que tinha todo um futuro pela frente, perguntavam como eu tomaria uma decisão dessas de abandonar a seleção... Eu deixei claro minha decisão de sair para jogar profissionalmente, até para conhecer coisas diferentes, porque tinha vivido 22 anos em Cuba. Eu sempre tive uma mente aberta, de querer conhecer e ter novas experiências.

GE.Net - O seu pai foi um dos maiores jogadores de beisebol da história de Cuba. O que ele te disse sobre a decisão de sair do país?
Ariadna -
Meus pais sempre respeitaram muito minhas decisões. No começo, com certeza ele não ficou muito feliz, até porque eu ficaria longe da família. Mas no final das contas, lembro até hoje da frase dos meus pais: "se vai ser bom para você, se essa é a maneira de você ir atrás da sua felicidade, vai adiante, que nós te apoiamos".

GE.Net - Como o fato de ser filha de Armando Capiró influenciou a sua carreira?
Ariadna -
Ele é famoso por ter sido um grande atleta, mas eu mesmo consegui fazer o meu caminho e acho que fiz jus ao meu sobrenome, tanto que saí de Cuba e tive um reconhecimento internacional. Todo mundo me chamava pelo sobrenome dele. Com certeza, eu herdei dele um pouco do talento e esse amor ao esporte. A fama que ele dá por ter sido um grande atleta pesa, mas acho que nunca me atrapalhou.

GE.Net - Seu pai chegou a ser convidado para atuar no exterior, mas recusou...
Ariadna -
Ele disputou um torneio nos Estados Unidos e jogou muito bem. Teve a oportunidade, fizeram uma proposta milionária perguntando quanto ele queria ganhar para jogar a liga profissional americana, mas ele decidiu voltar a Cuba e continuar defendendo a seleção. De prêmio, ganhou do governo a casa em que vive até hoje e um carro.

GE.Net - Você disse que deixou Cuba para tentar ajudar a sua família economicamente. Ou seja, mesmo sendo um dos melhores jogadores de beisebol da história, seu pai não conseguiu garantir uma situação financeira confortável...
Ariadna -
Em Cuba, não há pessoas ricas, o nível econômico é mais igual. As pessoas são humildes, mas têm tudo que é necessário para viver. Elas levam uma vida simples, mas ninguém morre de fome. Minha família sempre foi humilde e a situação financeira deles não mudou muito. O dinheiro que eu mando [40% do salário] é para a compra de medicamentos para uma doença que minha mãe tem e para comida extra, além da que o governo oferece. Não é para luxo nenhum, até porque o que eu ganho não é muito e não faz diferença na situação econômica da minha família.

GE.Net - Se o seu pai tivesse aceitado a oferta dos Estados Unidos, acha que teria sido benéfico para você e para a sua carreira no basquete?
Ariadna -
Quem entende de basquete sabe que os Estados Unidos têm grandes jogadoras e faz um trabalho muito bom no esporte. Tenho certeza que teria influenciado se ele tivesse ficado nos Estados Unidos e se eu tivesse nascido lá. Não sei, é o destino... A vida é imprevisível, mas acho que teria me ajudado muito, até porque eu gosto de basquete desde pequena, tenho o esporte no sangue. Se tivesse nascido nos Estados Unidos, talvez a história hoje fosse bem diferente.

GE.Net - Antes de jogar no Brasil, você passou pelo Equador e pela França. Não conseguiu se adaptar bem a esses países?
Ariadna -
No Equador, o nível do basquete é muito baixo. Eu fazia 40 pontos por jogo. Como queria continuar crescendo na minha vida profissional, não foi interessante. Na França, por outro lado, o nível era mais alto. Eu jogava pela Universidade de Toulouse. Tentei entrar na liga profissional, mas por burocracia e falta de recomendação, não consegui. A Europa é diferente, o clima, as pessoas são super frias. Então, não consegui me adaptar e acabei vindo para o Brasil, acho que foi a melhor escolha.

GE.Net - Você chegou aqui em 2006, no ano do Mundial Feminino. Acompanhou os jogos de Cuba no torneio?
Ariadna -
Eu cheguei na mesma semana do Mundial-2006. Na época, tentei falar com as jogadoras da seleção de Cuba, porque eram minhas amigas, todas que estavam lá jogaram comigo. Eu não tinha a intenção de influenciá-las em nada, de dizer para ficar no Brasil ou nada desse tipo. Cada uma faz com a sua vida o que quiser. Queria só cumprimentar e matar um pouco a saudade, mas não foi possível na frente de todo mundo. Os técnicos diziam para as meninas não falarem comigo. Tive que entrar escondida no hotel e no final consegui falar com elas. Todas me receberam bem. Assisti aos jogos do Mundial e depois comecei a pensar em que clube seria possível jogar.

GE.Net - É frequente os atletas cubanos aproveitarem as competições no exterior para desertar, como fizeram os boxeadores Guillermo Rigondeaux e Erislandy Lara no Pan do Rio de Janeiro-2007. Você, que saiu do país legalmente, o que pensa desse expediente?
Ariadna -
Eu defendo muito que o ser humano precisa de liberdade. Se o desejo for sair de Cuba, eu apoio. Da mesma forma que apoio a decisão de muitos que ficam em Cuba para jogar na seleção. Cada pessoa tem que saber o que é bom para a sua vida. Não sou contra as decisões das pessoas, pelo contrário. Eu defendo que cada pessoa faça o que quiser na vida e vá atrás do seu sonho, desde que não prejudique ninguém.

GE.Net - Como você saiu em 2005, não teve chance de participar dos Mundiais de 2006 e 2010, dos Jogos Pan-Americanos de 2007 e das Olimpíadas de 2008. Ficar de fora da seleção e não ter a oportunidade de disputar esses torneios maiores é algo que te entristece ou você não liga mais para isso?
Ariadna -
Com certeza. É realmente uma frustração, uma coisa que me deixa triste. Mas às vezes na vida temos que abrir mão de muitas coisas. Para conseguir uma, você precisa abrir mão de outra. Lamentavelmente, tive que abrir mão de jogar na seleção de Cuba, mas não me arrependo de forma alguma. Jogando profissionalmente, consigo realizar meu sonho de fazer o que gosto, que é jogar basquete.

GE.Net - Aqui no Brasil, existem atletas cubanos em diferentes modalidades. Tem o ciclista Michel Fernandez, a Yakelyn Plutin, de Ourinhos, a Daimi Ramirez, que defende o Praia Clube na Superliga de Vôlei. Os cubanos dos diferentes esportes mantêm algum contato entre si?
Ariadna -
Por Cuba ser uma ilha bem pequena, é muito difícil não se conhecer. Além disso, todo mundo se concentra nos Centros de Treinamento. Não é como aqui que o vôlei nunca vai treinar junto com o basquete. Em Cuba, todo mundo treina no mesmo lugar, almoça no mesmo lugar, convive no mesmo lugar. Muitos dos atletas que estão saindo do país são da minha geração, então eu conheço a maioria. A gente se reúne, nos encontramos onde quer que estejamos. Quando chega alguém, entramos em contato e conversamos: "chegou fulano, está em tal cidade". Dentro do possível, com certeza tentamos nos encontrar.

GE.Net - Em 2008, você foi campeã nacional por Ourinhos, adversário do Santo André na decisão do LBF. Como foi a passagem pela equipe?
Ariadna -
Minha passagem por Ourinhos não foi tão exitosa como está sendo aqui por Santo André. A grande diferença é que em Ourinhos não tive tanta oportunidade e nem o treinador depositou tanta confiança em mim como a Laís. O Urubatan Paccini substituiu o Paulo Bassul e não sei se ele não gostava do meu estilo de jogo, mas realmente minhas chances em Ourinhos foram bem poucas e eu tomei a decisão de jogar por Santo André, porque a Laís sempre mostrou interesse em mim. Ela costumava elogiar o meu estilo de jogo e dizia: "as portas aqui estão abertas e comigo tenho certeza que você vai crescer muito profissionalmente". Foi o que acabou acontecendo.

GE.Net - Depois do título com o Santo André, você disse que foi a primeira vez que se sentiu parte da conquista. Por quê?
Ariadna -
Eu me senti parte porque tive a oportunidade de ajudar minha equipe. Senti que coloquei um grão de areia no castelo que foi o título, o que não aconteceu em Ourinhos. Lá, eu jogava cinco, sete minutos. Essa era a opção do treinador, eu não tinha alternativa. Então, não me sentia uma peça fundamental para o time, como acontece aqui em Santo André. Não tenho nada contra o time de Ourinhos e nem contra a torcida. Algumas pessoas que se sentiram ofendidas com essa minha declaração, mas é a verdade e tenho que ser sincera. Disse que me senti parte em Santo André porque já estou há dois anos aqui e porque a Laís me deu a chance de poder ajudar a equipe.

GE.Net - Você marcou 354 pontos em 20 jogos, média de 17,7 por partida. Assim, foi cestinha e MVP do LBF. Esse foi o melhor campeonato da sua carreira?
Ariadna -
Eu não comecei tão bem a liga, porque estava lesionada. Nos primeiros jogos, tive algumas contusões que me atrapalharam bastante e a Laís ficou preocupada em saber se eu conseguiria me recuperar para o segundo turno, porque no primeiro eu não estava jogando nem com 50% da minha capacidade. No intervalo entre o Natal e Ano Novo, fiz um trabalho extra de preparação física para recuperar a forma e voltei a 110%. Para mim, a final começou no primeiro jogo do segundo turno. Graças a Deus, consegui esses prêmios individuais, que com certeza têm muito a ver com o grupo formidável que a Laís conseguiu formar. O time era tão unido, que as jogadoras nunca se incomodavam em passar uma bola a mais para mim, em trabalhar algumas jogadas para a bola sobrar para mim.

GE.Net - No quinto e decisivo jogo da semifinal contra Catanduva, você marcou só dois pontos, já que acertou um de 11 arremessos. Na final em jogo único contra Ourinhos, marcou 14 pontos (abaixo da média de 17,7). O que aconteceu nesses dois jogos?
Ariadna -
Na semifinal, o Catanduva se preparou melhor defensivamente, até porque eu já tinha feito mais de 30 pontos contra elas. Estava com uma média muito boa e o técnico (Édson) Ferreto já me conhecia um pouco. Eu até já tinha falado que, se elas viessem com uma marcação mais forte em cima de mim, seria melhor para o nosso time, porque sobraria mais espaço para as outras jogadoras. Foi o que acabou acontecendo no caso da Micaela [marcou 28 pontos] e da Êga [marcou 15 pontos]. O cansaço também contou muito. Eu senti que já estava cansada, mas estava na reta final e não podia pensar nisso. Como a Tayara se machucou, eu e a Micaela tivemos que ficar mais tempo na quadra. Eu acabei me matando muito ofensivamente e não consegui jogar tanto como queria na final.

GE.Net - Sei que você foi bem recebida no Brasil, mas alguma vez já foi provocada em quadra pelo fato de ser estrangeira? Alguma jogadora já te disse "você tem que voltar para Cuba" ou algo do tipo?
Ariadna -
Não, pelo contrario. Acho que me adaptei tão bem aqui no Brasil porque em todos os clubes as jogadoras sempre me respeitaram muito. Nunca tive problema com nenhuma jogadora. Acho que elas nem pensam que sou cubana e não brasileira durante o jogo. Isso não existe. As torcidas xingam e gritam as mesmas coisas que gritam para as brasileiras. Nunca teve uma represália por ser cubana. Tem muitos brasileiros que me admiram e estão sempre oferecendo apoio. "Você está sem a sua família. Se precisar de uma família, nós, brasileiros, te apoiamos, abrimos as portas da nossa casa". Muitas das pessoas que tenho amizade hoje foram solidárias comigo. Isso me ajudou a sentir bem no Brasil.

GE.Net - As pessoas costumam te pedir autógrafos nas ruas aqui em Santo André ou o reconhecimento não é tão grande?
Ariadna -
Santo André é uma cidade bem grande e está retomando o espírito do basquete recentemente. Daqui para frente, acho que vai aumentar esse reconhecimento nas ruas, porque as pessoas estão se identificando mais com o basquete. Mas uma ou outra vez, quando você anda mais perto do ginásio, tem pessoas que reconhecem.

GE.Net - Você acha que em Cuba as pessoas sabem do seu sucesso no Brasil?
Ariadna -
Não sei, porque meu contato em Cuba é mais com a minha mãe e ela não convive com as pessoas que estão relacionadas ao esporte. Eu imagino que talvez saibam. Eu gostaria muito que eles tomassem conhecimento para que se sentissem orgulhosos de saber que a formação que me deram como pessoa e como atleta está dando resultado internacionalmente. Eu, dentro do possível, estou tentando colocar o nome de Cuba e a formação dos atletas num lugar bem alto.

GE.Net - Você está com 28 anos. Acha que alcançou o auge de sua carreira como atleta?
Ariadna -
Com certeza. Posso dizer que neste momento estou juntando duas coisas. Estou numa idade em que já tenho um pouco mais de experiência e ainda conservo um pouco de juventude. Antes, eu era muito nova. Tinha toda aquela juventude, mas sem experiência. Agora, estou entrando numa etapa de mais experiência e acho que essa fusão das duas coisas leva ao sucesso.

GE.Net - Você está no auge, mas não pode defender Cuba e nem a seleção brasileira. Ainda tem esperança que algo mude nessa situação?
Ariadna -
A esperança é a ultima coisa que você perde na vida. Todos os dias eu penso nisso e espero que seja possível algum dia, nem que seja um torneio. A minha realização profissional seria no dia em que eu pudesse jogar pela seleção de Cuba ou pela do Brasil. Eu defenderia qualquer uma das duas seleções com o mesmo amor. Uma foi a terra em que nasci e a outra, é agora a minha casa.

GE.Net - Mesmo sem poder jogar pela seleção brasileira, você pretende se naturalizar?
Ariadna -
Estou tentando conseguir residência permanente e o interesse é grande. Independente de poder ou não jogar pela seleção brasileira, meu coração já é metade cubano e metade brasileiro. Para complementar isso, estou tentando conseguir essa nacionalidade brasileira.

GE.Net - Você falou em jogar pela seleção brasileira. O que achou do desempenho da equipe no Mundial da República Theca-2010 sob o comando do espanhol Carlos Colinas?
Ariadna -
São declarações que vão gerar polemica, porque cada um tem uma opinião diferente. Eu gostaria muito que a seleção tivesse ido melhor, mas não aconteceu. Acho que o Brasil tem que investir muito na base, mas sem esquecer que ainda tem jogadoras experientes e que podem ajudar muito a seleção. Eu acho que ninguém conhece seu próprio produto como um nativo. Acho que tem treinador de sobra para assumir a seleção, como é o caso da Laís. Ela acabou de provar agora levando o titulo de melhor treinadora. A Laís é super experiente, muito inteligente e com certeza poderia ajudar bastante a seleção brasileira.

GE.Net - Mas a Hortência resolveu trazer o Ênio Vecchi, um técnico do masculino... Ariadna - Eu, como atleta, acho que tem treinador do feminino aqui que consegue dirigir uma seleção feminina. Sinceramente, espero que essa chance seja dada para a Laís [a técnica planeja se aposentar no final deste ano]. Acho que ela merece muito, tem condições totais de assumir a seleção brasileira. Pelo menos para ajudar na parte de assistência técnica, de supervisão. Ela tem muito conhecimento que poderia passar para as jogadoras e seria bem útil.

GE.Net - No Mundial da República Tcheca, o Brasil ficou em nono e teve a pior participação desde a edição de 1990 do torneio. Pelo que você conhece do basquete feminino nacional, acha que a seleção poderia ter ido melhor?
Ariadna -
Tenho certeza que as próprias jogadoras que foram não devem ter ficado felizes com o rendimento. Mas também foi um trabalho super curto, com um técnico novo, que não conhecia a história e o estilo de jogo de cada uma. Por isso, não conseguiu tirar o melhor delas. Além disso, a Iziane e a Érika, que eram as principais jogadoras, se juntaram à equipe quase uma semana antes do Mundial. Acho que isso também atrapalhou muito. As jogadoras não tiveram descanso e foram para um Mundial sem ter treinado nem um mês.

GE.Net - Você sofre por não poder jogar nem por Cuba e nem pelo Brasil. Já a Iziane se recusou a jogar pela seleção sob o comando do técnico Paulo Bassul. O que você acha da atitude dela?
Ariadna -
Eu respeito muito a decisão de cada um. Ninguém melhor do que a Iziane para saber o que é bom ou ruim para ela. Eu com certeza senti pena, porque se fosse eu, não hesitaria em jogar pela seleção. Isso é o bom de Cuba: eles te ensinam, desde pequena, a jogar por amor ao esporte. No caso da Iziane, ela teve uma discussão com o treinador. Com certeza, ela tinha muita vontade de jogar pela seleção, mas não estava se dando bem com o técnico e preferiu ficar fora. É uma decisão dela e não gosto de opinar sobre a decisão de outras pessoas. Mas com certeza eu, no lugar dela, aceitaria com o maior orgulho uma convocação para a seleção, até porque é o meu sonho. Mas cada um tem os seus motivos para aceitar ou rejeitar um chamado.

GE.Net - Você está falando bem o português. Já começou a esquecer um pouco o espanhol?
Ariadna -
Para falar a verdade, agora está sendo mais difícil falar espanhol do que português. Não falo espanhol com ninguém aqui. Só falo por telefone com a minha mãe nos finais de semana. Estou começando a sentir essa dificuldade de poder falar um espanhol nítido e com aquele sotaque de cubana. Cheguei no Brasil há cinco anos e tenho mais sotaque brasileiro do que de Cuba.

GE.Net - Além de jogar pelo Santo André, você está cursando Engenharia da Computação. Os alunos e professores da universidade sabem que você é jogadora de conhecem a sua trajetória?
Ariadna -
Já estou no terceiro semestre. Isso é outra vantagem de morar aqui, estou fazendo o que gosto. Jogo basquete porque gosto e estou estudando o que gosto: programação, cálculo e toda a parte de tecnologia. É um curso que gosto muito e espero poder exercer no futuro. As faltas atrapalham, mas os professores sabem da minha situação e, dentro do possível, tentam ajudar. Muitas vezes, eu preciso de ajuda fora do horário de aula pela própria dificuldade do curso. Se você falta em duas aulas seguidas, fica um pouco perdida na terceira.
GE.Net - No futuro, depois de encerrar a carreira, você pretende retornar a Cuba?
Ariadna
- Realmente, gostei muito do Brasil. Estou estudando aqui, espero me formar em Engenharia da Computação e poder exercer essa profissão aqui. Eu passaria para uma segunda fase na vida e continuaria a fazer uma coisa que gosto.

GE.Net - O que você gosta de fazer nas horas vagas aqui em Santo André?
Ariadna -
Eu sou muito caseira. Gosto de estar em casa, ver TV, filmes, passo bastante tempo na Internet e brinco com meu cachorro, meu companheiro eterno, o Giba, um labrador. Ele é meu companheiro dos bons e maus momentos, sempre está comigo. Eu divido o apartamento, pago pelo time, com a Tayara, a outra lateral.

GE.Net - Quero terminar com duas perguntas. A primeira: valeu a pena deixar Cuba para jogar profissionalmente no exterior?
Ariadna -
Valeu a pena, com certeza.

GE.Net - A segunda: a Revolução de 1959 valeu a pena para Cuba?
Ariadna -
Valeu a pena. Eu já disse e repito: a Revolução tem muitas coisas boas também. Eu me formei, estudei em Cuba grátis, sempre fui atendida no hospital. Cuba tem coisas boas e coisas ruins, como qualquer lugar do mundo. Tem coisas muito boas, como a saúde e a educação, e coisas ruins, como o bloqueio econômico e a falta de liberdade.

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BASSUL SONDOU ARIADNA EM 2008

O técnico Paulo Bassul conciliou Ourinhos e a seleção no ano de 2008. No clube, o treinador chegou a sondar a ala cubana Ariadna Capiró, sua então comandada, sobre a possibilidade de defender o Brasil como naturalizada.

"Ela vinha muito bem nos treinos, se destacando mesmo. Então, eu perguntei se ela já tinha jogado pela seleção cubana e a Ariadna disse que sim. Mas ela ficou feliz e deu uma risadinha, porque fiz um elogio ao nível técnico dela", lembrou Bassul.

Ariadna não pode mais defender Cuba por ter se profissionalizado e tampouco tem condições de atuar pelo Brasil. Ainda assim, sonha com uma reviravolta. "Ela já está adaptada e poderia realmente ajudar, mas infelizmente é inviável", disse o ex-técnico da seleção.

BIG BROTHER CUBA

A ala Ariadna passou a conviver com piadas desde o início da última edição do reality show Big Brother Brasil, que contou com a participação de uma transexual homônima, contratada pela Revista Playboy para uma edição especial. "O povo realmente pega pesado. Eu não tinha conhecido ninguém aqui no Brasil com o mesmo nome que eu. Aí essa menina entrou no Big Brother e virou piada. Mas acho que daqui a pouco o povo esquece e para de tirar sarro disso", disse a jogadora cubana, sorrindo. Em espanhol, a letra "d" de Ariadna é pronunciada de forma mais discreta e o som é quase de "Ariana".

 

Fonte: Gazeta Esportiva

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

A gravidez e o telefone

- No segundo semestre, o Brasil vai disputar o Pré-Olímpico. Se o seu telefone tocar, e do outro lado estiver o Ênio Vecchi, te chamando para voltar… não tem nenhuma chance?
- Não. Eu espero estar grávida quando me ligarem [risos].

Essa é a pergunta final de uma excelente entrevista do Rodrigo Alves (Rebote) com a recém-aposentada Helen Luz.

Vale a pena conferir na íntegra: aqui!

domingo, 9 de janeiro de 2011

Pela primeira vez no comando de garotas, Ênio Vecchi pode pedir "subsídios" a Zé Roberto e Bernardinho

Aspectos físico e técnico-tático também são bem diferentes, diz o técnico de basquete

Denise Mirás, do R7

Ênio Vecchi ficou surpreso com o convite para dirigir a seleção feminina de basquete, mas se sente pronto para encarar o desafio. Com mais de três décadas no esporte e acostumado a comandar equipes masculinas, o técnico de 51 anos nunca esteve à frente de um time feminino e se prepara para conseguir “subsídios” com técnicos que já viveram a experiência e conhecem as diferenças das duas categorias – caso de José Roberto Guimarães e Bernardo Resende, o Bernardinho, do vôlei.

A seleção feminina vem apenas do nono lugar no Mundial da República Tcheca, entre setembro/outubro do ano passado. O título conquistado pelos Estados Unidos, que valeu vaga para a Olimpíada de Londres-2012, ajudará o Brasil na luta pela única vaga em jogo no Pré-Olímpico das Américas, marcado para setembro, em Neiva, Colômbia.

Sem as norte-americanas na disputa, as principais adversárias deverão ser as seleções do Canadá, da Argentina e de Cuba.

Nesta entrevista exclusiva ao R7, Ênio Vecchi fala de seus planos como novo técnico da seleção brasileira feminina de basquete.

R7 – Já que será uma experiência nova, qual sua expectativa quanto a dirigir um time de garotas?

Ênio Vecchi – Tive uma pequena experiência com a seleção que foi campeã no Mundial da Austrália-1994, dando uma assessoria, vamos dizer, ao Miguel Ângelo da Luz. Dirigia a seleção masculina que foi ao Mundial do Canadá e ao mesmo tempo coordenava a feminina. Antes do Mundial Feminino, falava um pouco com o Miguel sobre a parte tática. Mas nunca tive o contato direto, o trabalho do dia a dia.

R7 – Outros técnicos estiveram na mesma situação.

Ênio Vichi - Então, vou procurar subsídios. Pode ser mesmo com o Zé Roberto, o Bernardinho, por que não? Tudo o que tiver de informação será bom, para iniciar esse relacionamento com as meninas. Já tenho o apoio da Janeth [Janeth Arcain, ex-jogadora e técnica da seleção sub-19], da Hortência (Hortência Marcari, ex-jogadora e diretora de Seleções Femininas da CBB, a Confederação Brasileira de Basquete].

R7 – Além do relacionamento, também é imensa a diferença com relação à parte física e, por consequência, à técnico-tática, não?

Ênio Vecchi – Sim, o relacionamento é fundamental, mas acredito que, mesmo sendo diferente, não terei dificuldades. Agora, quanto ao aspecto técnico-tático, estive com os olhos voltados para o masculino, que tem um jogo mais físico, mais forte, mais corrido, com deslocamentos mais bruscos, onde os saltos aparecem muito.

R7 – A diferença de um time masculino é enorme, para o feminino.

Ênio Vecchi – Sim, a diferença é muito grande. Tenho de me acostumar a uma nova visão, com paciência. O feminino exalta detalhes técnicos. Os detalhes técnicos aparecem mais e penso que temos de aprimorar essa parte técnica, refinar fundamentos. O jogo é mais técnico, de habilidades.

R7 – Qual é o planejamento da seleção feminina para 2011? Você segue dirigindo o Vitória Basquete/Crece na Liga Nacional de Basquete – então quando começa o trabalho com as meninas? E onde serão os treinos?

Ênio Vecchi – Todo o planejamento está sendo feito pela Hortência. Acredito que em fim de maio, começo de junho estaremos reunindo o grupo para o Pré-Olímpico em setembro, em Neiva, na Colômbia. Vamos treinar em Jundiaí, provavelmente a partir de maio.

Marcação agressiva e velocidade

R7 – Que “cara” você imagina que terá sua seleção nesse Pré-Olímpico?

Ênio Vecchi – Deveremos levar algo do masculino, no aprimoramento da velocidade, da defesa mais agressiva. O basquete feminino caminha para isso, marcação e velocidade, como já vimos no Mundial da República Tcheca. Vamos implantar isso e potencializar o que já temos de bom.

R7 – E com quem será a briga pela vaga?

Ênio Vecchi - Acredito que com Canadá, Argentina e Cuba, já que os Estados Unidos já estão classificados, pelo título do Mundial. Temos condições de competir pela vaga.

R7 – O momento também será de renovação?

Ênio Vecchi – É um dos objetivos, mas faremos toda essa avaliação com o corpo técnico da CBB, com a Janeth, que já tem atividades agora em janeiro com a seleção sub-19, e também acompanhando os campeonatos internacionais com as jogadoras que atuam fora do Brasil. Antes, eu estava de “espectador”. Agora terei um olhar técnico, geral, observando as mais novas com potencial que aparecerem, promovendo para a seleção adulta.

R7 – Mesmo porque também já é preciso pensar na Olimpíada do Rio de Janeiro-2016...

Ênio Vecchi – Exatamente. Temos de pensar também. Resultados agora são importantes, mas o legado é muito importante. Precisamos tirar essa defasagem da seleção feminina e a Hortência está planejando tudo isso, pensando na frente. Porque as garotas do basquete brasileiro são heroínas. O número de jogadoras no país ainda é muito restrito – e elas conseguiram grandes resultados -, ao contrário de lá fora, onde há massificação.

R7 – Você terá função parecida com a do argentino Rubén Magnano, que além de dirigir a seleção masculina também trabalha para implantar uma filosofia em todas as categorias, da base à seleção adulta?

Ênio Vecchi – Estarei acompanhando, mas ainda não entramos em detalhes quanto a um planejamento mais globalizado. Ainda vamos fazer uma primeira avaliação, mas também acredito que possa contribuir, com minha experiência, na capacitação de técnicos novos.

R7 – Você ficou surpreso pelo convite?

Ênio Vecchi – Fiquei. Não esperava. E fiquei também muito feliz pela lembrança, pela confiança. Eles queriam um técnico com perfil internacional e tive algumas “horas” para pensar... Mas não tinha motivo para declinar do convite, do qual a gente tem de se orgulhar, pela importância do cargo. Só se declina de um convite desses se há um motivo muito sério. Eu não tinha.

Fonte: R7 Esportes

sábado, 11 de dezembro de 2010

Janeth é a aposta de Hortência (Folha de Pernambuco)

Terni Castro

Entrevista - Hortência (ex-jogadora de basquete)

A rainha das quadras está de volta. Mas, dessa vez, uma das principais jogadoras de basquete do Brasil, Hortência Marcari, assumiu um posto diferente para continuar contribuindo com a modalidade. Desde o ano passado, a ex-atleta atua fora das quadras como dirigente de seleções femininas da Confederação Brasileira de Basquete (CBB). Em passagem pelo Recife, na última segunda-feira, Hortência conversou com a Folha de Pernambuco sobre o desafio de reestruturar o basquetebol nacional. E de uma coisa ela tem certeza: o futuro da modalidade está no investimento e  descoberta de novos talentos e no fortalecimento das categorias de base do País.


Você recebeu o convite e assumiu a Diretoria de Seleções da Confederação Brasileira de Basquete. Qual é o trabalho desenvolvido agora como diretora?

É um trabalho também da Confederação Brasileira de Basquete (CBB). Eu recebo todo um planejamento e o repasso, logicamente dando minha opinião e meus retoques. Mas gosto de ressaltar que não faço nada sozinha, pois é um trabalho em conjunto. Estamos indo em busca do investimento forte nos novos talentos - categorias de base - e no nosso time adulto. A prioridade é mesmo as categorias de base e também a capacitação de no­vos professores de basquete. Por exemplo,  já temos todo o planejamento para 2011 feito, no qual já se tem onde cada seleção de base vai jogar, quando e contra quem.


O povo brasileiro conheceu aquela Hortência rainha das quadras e guerreira dentro do basquete. Como é agora se colocar fora das quatro linhas e trabalhar na área de gerência, dando esse apoio externo?

É muito difícil. Principalmente quando você desenvolve um trabalho e é criticada por pessoas que não sabem o que estão vendo. Você é criticada pela Imprensa, pelos torcedores... Tudo bem, até porque eles estão de perto vendo os resultados, mas, por exemplo, ser criticada pela comunidade do basquete que não está acompanhando o trabalho é complicado. O desconhecimento das pessoas faz que, às vezes, elas critiquem sem saber e isso é difícil de lidar.


Qual é a importância que você dá para o processo de renovação de jogadores do basquete nacional?

Temos um sério problema, por exemplo, com a questão das armadoras para os Jogos Pan-Americanos do próximo ano. Só temos a Adrianinha e uma garota de 17 anos que está começando agora a jogar na principal. Se Adrianinha desistir de jogar na seleção, pois ela não vem demonstrando satisfação com o desempenho dentro de quadra, principalmente depois do último Mundial, não temos quem a substitua direito. Não se fabrica uma armadora de uma hora para outra. Por isso, ressalto a importância de se investir nas categorias de base para que, desde cedo, essas meninas estejam jogando e adquirindo experiência. Dessa forma, poderemos revelar novas jogadoras.


O basquete nacional se concentra muito no eixo Rio-São Paulo, que realmente tem as melhores estruturas e oferece melhores con­dições aos atletas. Entretanto, o processo de descoberta de novos talentos fica restrito a es­ses Estados. Você acredita que essa renovação deveria ser aprofundada para outras regiões, co­mo por exemplo o Nordeste? De que forma isso poderia ser feito?

Já está sendo aprofundada para essas áreas. Temos campeonatos brasileiros em todas as regiões. Mando os técnicos das seleções para esses campeonatos para eles verem e trazerem jogadoras. Analiso se elas realmente têm condições para serem trazidas, porque é importante ressaltar que essas meninas têm de vir para realizar intercâmbios. Não é somente ir para São Paulo e vestir a camisa da seleção, até porque elas podem se frustrar e se desmotivar se não forem aproveitadas. Essas garotas têm de vir para realizarem treinamentos de preparação para poderem, assim, adentrar na seleção. Queria que as federações estaduais enviassem pedidos à CBB para realizarem mais intercâmbios com essas jogadoras, mas não mandam nenhum requerimento nem nada.


Você acredita que deveria ter mais iniciativa das confederações, então?

Faltam ideias nas federações para promoverem esse tipo de intercâmbio. Não adianta chegar para mim e pedir para jogar uma menina na seleção. Ela tem de estar preparada para isso. O que falta é a iniciativa, pois as federações têm de mandar o projeto para incentivar essas práticas e não o fazem.


É importante a reestruturação do basquete no Nordeste? De que forma?

No Brasil inteiro. Não só no Nordeste, mas a reestruturação tem que ser em todos os cantos do País. Estamos promovendo isso com as categorias de base, investindo na descoberta de novos talentos e isso inclui o Nordeste. Quanto a jogadoras de Pernambuco, temos o exemplo de Ingrid Vasconcelos, que é filha da Ceça (ex-jogadora da seleção). Essa menina é muito boa jogadora e já está disputando campeonatos em São Paulo e também nas seleções de base, é uma revelação pernambucana. Estamos buscando a renovação, mas para isso tem que ter preparo.


Enquanto dirigente, quais são os conselhos que você traz da sua experiência nas quadras e passa para a nova geração de atletas?

Passo os conselhos através dos técnicos. Não tenho a técnica de chegar e conversar com as meninas, mas, logicamente, que sempre que tem apresentação eu estou lá dando as boas vindas e conversando um pouco com as atletas. Temos o nosso próprio código na Confederação e eu sou bastante rigorosa, por exemplo, com questão de cortes da seleção quando é necessário. Mas sempre procuro dar a melhor estrutura possível e o apoio necessário para as jogadoras dentro de quadra.


O Brasil estava cotado para realizar um bom Mundial Feminino este ano, mas acabou decepcionando e terminando na nona colocação, com atuações em alguns jogos, inclusive, abaixo do esperado. O que você acha que deu errado nesta seleção?

A nossa seleção adulta estava praticamente com as mesmas jogadoras que disputaram quatro anos atrás o último Mundial. Tome o exemplo de Alessandra (pivô), que está na principal há bastante tempo. O que faltou para a seleção deste ano foi justamente a descoberta de novas meninas das categorias de base para integrar a seleção. Faltou esse investimento nos novos talentos.


Falando em seleção principal, você já pensou em ser técnica? O que traria de novo para o comando da seleção adulta?

Não, nunca pensei, nem quero isso para mim. Não tenho o dom para estar ali comandando a seleção, prefiro continuar onde estou e contribuir com o meu trabalho na diretoria. O “se” não existe comigo, por isso não teria o que dizer o que faria ou deixaria de fazer assumindo a seleção adulta, porque nunca me imaginei lá.


Sua ex-companheira de quadra, Janeth Arcain, também ocupa um cargo de diretoria na CBB e foi assistente técnica da seleção no Mundial deste ano, inclusive sendo cotada, logo após a competição, em assumir o comando técnico da principal. Você acredita que Janeth está preparada para ser técnica da seleção? Quais os pontos positivos?

Com certeza. Ela tem potencial e já está demonstrando isso como técnica das categorias de base. Inclusive, ela acabou de se tornar campeã sul-americana com a sub-15 e já vai se preparar para disputar a Copa América sub-16 no próximo ano. Janeth é estudiosa e gosta do que faz. Se ela confirmar o potencial que tem e for pouco a pouco evoluindo, vai ser a técnica da seleção principal. Já estamos preparando para ela assumir a seleção principal em 2012, e ela com certeza será a técnica do Brasil em 2016.


Para terminar, quais são os projetos e aspirações de Hortência e da CBB para o basquete nacional?

Tanto eu como a CBB queremos elevar o nome do basquete brasileiro. Quero trazer as pessoas novamente para assistirem ao basquete nacional, por na televisão e ter o devido destaque. Dessa forma estaríamos trabalhando para colocá-lo no posto de onde ele nunca deveria ter saído.

Fonte: Folha de Pernambuco