segunda-feira, 17 de agosto de 2009

ENTREVISTA – Adriana Santos

399b  A ala Adriana Santos é a única remanescente da seleção campeã do mundo em 1994 que permanece em atividade no Brasil. Aos 38 anos, atua na Unimed/Americana, treinada pela ex-companheira Branca.

Sempre acompanhei a carreira de Adriana com atenção. Talvez a admiração venha de uma característica que a própria jogadora descreve na entrevista e é grande responsável pela sua ascensão no basquete: a capacidade de entrega.

Nesses muitos anos, a disposição e o profissionalismo de Adriana foram sempre exaltados por onde quer que ela andasse (clubes e seleções brasileiras, Espanha, França...) e muitas vezes acabaram por camuflar algumas de suas deficiências técnicas, como a pouca inspiração defensiva _que ela confessa no papo.

Da menina de 21 anos que era armadora titular do super-time do Leite Moça Sorocaba (de Hortência, Janeth, Marta, Cathy Boswell, Ana Motta, Vânia, Vanira e Lioudmilla Nazarenko), à fantástica sexta jogadora da Cesp/Unimep/Piracicaba (de Paula, Branca, Cathy Boswell, Jack Nero e Marta), à dupla com Janeth em Santo André chegando à bela atuação nas quartas-de-final contra Rússia, nas Olimpíadas de Sydney, a carreira de Adriana é rica em  momentos intensos.

Na entrevista abaixo, a jogadora relembra alguns desses momentos, fala de uma aposentadoria em que nem o próprio marido acredita  e de “animados” jogos de cartas com Hortência na madrugada de Launceston.

Dri, a temporada paulista foi encerrada recentemente, com o seu time ficando na segunda colocação. Que avaliação você faz da participação no torneio? A impressão era que o time engrenasse na fase final, depois de um bom returno, mas acabou não jogando bem nas semifinais e finais. O que aconteceu? Há explicação para a queda de produção?

Acho que a equipe fez um bom turno e returno. Ainda mais considerando que estávamos em fase de adaptação, com a chegada de novas jogadoras. Mas infelizmente a partir da semifinal, não jogamos bem. Não houve um jogo onde a equipe jogasse bem, apenas destaques individuais isolados. 183b

É difícil explicar essa queda de produção. Ainda mais porque perdemos a final por 3 a 0 para Ourinhos. Elas foram melhores e mereceram o título.

Você atuou ao lado da Branca em clubes e na seleção. Como foi reencontrá-la e passar a ser treinada por ela? Foi estranho no começo? Que avaliação você faz do trabalho dela, já que você própria fez um curso na área, quando estava na França?

Realmente conheci a Branca como jogadora. Ganhamos alguns títulos juntas, inclusive a medalha de prata em Atlanta (1996). Ela era uma armadora de personalidade forte e fazia a equipe jogar bem.

Confesso que quando ela chegou em Americana, fiquei surpresa, porque não sabia que ela seria a técnica. Mas a adaptação foi a melhor possível.

Sempre que me proponho a fazer algo, quero dar o melhor de mim, procurando respeitar a todos.

Cada técnico tem seu modo de trabalhar e, na minha opinião, quando existe respeito e dedicação, não pode dar errado.

Com certeza quando eu for técnica, também terei meus princípios e minha maneira de comandar. Na França, trabalhei com adolescentes em um centro de formação de atletas e foi muito proveitoso.

Você tem contrato com Americana para o próximo Nacional. Você pensa em encerrar a carreira após? Se sim, a intenção é ficar no Brasil ou voltar para a França? E em que pé está o projeto de formação que você idealizava?

104b Olha, Bert, a cada início de campeonato eu falo para o meu marido: “Esse será o último!”. Ele dá risada e fala que não acredita mais. Então vamos deixar quieto... [Risos].

Devo ficar no Brasil enquanto minha filha Luiza não estiver sendo alfabetizada, porque prefiro que ela estude lá na França. Vamos ver... Ela fez dois aninhos, tenho tempo!

Quanto ao meu projeto de formação, ainda tenho esperança que saia. Sigo tentando.

Comentei aqui no blog sobre as alterações no seu jogo. Muitas vezes percebi você “preocupada em fazer o time jogar” e não em obrigatoriamente em definir, como antigamente. Esse foi um recurso que você passou a focar mais recentemente? Uma conseqüência da “maturidade”? Pois só me lembrava de você como armadora em Sorocaba...

Isso é verdade. Mas ainda tenho mesmas características de antes. Continuo chutando mais de três pontos do que de dois. E sempre gostei de dar assistências. A defesa nunca foi meu forte, mas como tenho braços longos, sempre acabo roubando umas bolinhas.

Mas agora não penso somente em fazer pontos. Acho que tenho muito mais que isso a passar para as mais novas. Tenho que ter equilíbrio emocional, estar sempre à disposição para ajudá-las.

É preciso aceitar que eu já não tenho vinte anos e que essa transição é normal. Mas tenho que ser inteligente para lidar com ela.

Realmente joguei sim de armadora na época do Leite Moça. E, até hoje, quando é preciso, não me importo: vou e faço! Foi uma experiência muito legal na época, porque de um lado eu tinha a Hortência e, de outro a Janeth. Aí ficava fácil né? [Risos]

Você passou boa parte da carreira no exterior (Espanha e França). Sabemos das diferenças de condições de trabalho entre lá e aqui. Mas eu queria que você desse sugestões do que precisa mudar mais urgentemente nos campeonatos aqui. E ainda fizesse um balanço da nossa involução desde que você deixou o Brasil pela primeira vez (Santo André, 2001), quando retornou à sua cidade natal São Bernardo (Paulista 2006) e agora em Americana.

Bom, eu acho que sugestões são  sempre bem vindas. Mas creio que agora estamos no caminho certo, pois contamos com pessoas competentes para comandar o carro chefe, que é a CBB.

Todos nós sabemos que muita coisa deve ser mudada, mas o primeiro passo está sendo dado.360b

Na França e na Espanha, há muitas ex-jogadoras trabalhando na confederação do seu país ou nos próprios clubes. Acho muito importante contar com gente que já vivenciou o basquete de dentro da quadra.

Agora fazer um campeonato na correria não dá, né? Essa maratona de jogos é complicada para o físico das atletas.

Quando eu saí do Brasil em 2001 e voltei cinco anos depois, infelizmente nada havia mudado. Os campeonatos continuavam com poucos times, sem público, os clubes sem verbas se formando e fechando as portas no final do campeonato.

Quando voltei novamente em 2008, tive a sorte de estar numa equipe que nós dá toda a estrutura que é necessária para se praticar o basquete. Mas sei que existem outras que se viram como podem  para poder participar dos campeonatos. Espero que nesse segundo semestre, as coisas possam mudar para melhor. Nosso esporte e nossas jogadoras  merecem isso.

Você tem uma trajetória profissional respeitadíssima por todos os clubes que passou, e também na seleção, onde você chegou a atuar com a Iziane. Então, é impossível não te perguntar isso. Como você vê toda essa polêmica em relação a ela? Qual a sua opinião sobre a melhor conduta para o caso?

084b Quanto ao caso Iziane, que agora _creio eu_ já foi solucionado, penso que ela foi infeliz na atitude tomada naquele jogo. É inadmissível se recusar a entrar em  quadra.

A Iziane é uma menina doce. Quando jogava em Montpellier, ela fez uma temporada no Aix e tive a oportunidade de conhecê-la melhor, porque as cidades ficavam a 50 minutos de distância.

Eu acho que a atitude da Hortência foi correta. Ela a convocou, porque todo mundo tem direito de errar e se redimir. Mas como isso não  aconteceu, agora acho que é caso encerrado, e acredito que o ciclo dela na seleção também.

Já chegamos a nos falar em junho passado sobre as lembranças da conquista do Mundial, que completava 15 anos, e você me confidenciou que não se lembrava mais de muita coisa. (risos). E aí? Já se lembrou de alguma coisa, passagem de bastidores ou de jogo mesmo que você possa nos contar? Ou o momento mais especial da trajetória, na sua opinião?

Olha: a véia aqui ta com a memória curta! [Risos]. Mas me lembro de dois fatos curiosos dos bastidores.

A minha companheira de quarto era a Hortência. Na primeira fase, em Lauceston, tivemos uma derrota. Acho que foi para a Eslováquia. Nesse dia, a Hortência ficou muito nervosa, agitada e não conseguia dormir. Aí a mané aqui tinha que ficar acordada também, jogando baralho com ela até eu cair de sono em cima das cartas. [Risos].

Não me esqueci também que havia uma orientação da organização do campeonato para que as seleções jogassem com tênis da mesma cor. Como a maioria de nós tinha tênis brancos, o Zé Pedro e o Valdir Pagan dediram pintar os tênis de preto. Sei lá com que tinta... O resultado foi que quando entramos em quadra e olhamos para os pés das adversárias, cada uma estava com um tênis de cor diferente. Pelo menos, fomos disciplinadas [Gargalhadas].

Para encerrar, um “túnel do tempo” com Adriana Santos:

PAULA 02 ADRIANA 01 ADRIANA 02 ADRIANA 03 ADRIANA E HELEN HORTÊNCIA 02 JANETE 01 JANETE 02 JANETE 04

16 comentários:

Anônimo disse...

Linda matéria Bert.
A Adriana foi uma atleta muito útil e de personalidade, porque não é para qualquer uma armar um time de estrelas formado por Hortência, Vania Hernandez, Janete e Marta. Ela se superou!!! E não tem nada disso que é fácil armar, é mas difícil ainda.
Parabéns Adriana pelo seu trabalho e pelo muito que você representou e representa para o nosso basquete.
Sorte para você!!!

Louco por Basquete disse...

Adoro e sempre acompanhei a Adriana Santos.
Mais é pessimo pensar que ela não tem memoria.
Não posso acreditar que uma Atleta deste nivel, não tem a emoção de lembrar das coisas boas que ela viveu neste linda vida.
Mesmo assim, sempre irei torcer positivamente pra vc.
Grande beijo e que seu projeto se realize o mais breve possivel e de preferencia no BRASIL.

Felipe Elias disse...

Ela não disse que não tem emoção de lembrar as coisas!

Leia direito, Louco por Basquete!

Anônimo disse...

Aprendi a gostar e respeitar a Adriana. Acho que não existe quem tenha convivido com ela e não tenha gostado. A melhor fase dela, na minha opinião, foi na UNimep ao lado da Paula, quando ela passou a jogar na 3. Naquela temporada ela estava impossível.
Fora a simpatia ...
não é a toa que a Paula e a Hortencia sempre gostaram dela.

Anônimo disse...

ta na hora de se aposentar!!
ocupando o lugar de novas atletas.... ja é..

Anônimo disse...

ótima entrevista.
e eu fico indignado com o anônimo aqui de cima, que pede para ela se aposentar.
é inacreditável que essas atitudes perdurem no brasil. ídolos, campeões, merecem escolher a hora de parar, e não o público que decide.

é absolutamente lamentável ler este tipo de coisa, bert.

o que você acha?

ricardo conceição

Bert disse...

Concordo com você, Ricardo!

O comentário é absolutamente lamentável e simplista.

Um abraço.

Anônimo disse...

OBSERVADOR

Concordo,com o anonimo das 18,21 ela foi sensacional nos anos que jogou na Unimep,naquele time que ganhou vários campeonatos,e que,até a Paula em uma entrevista fala como a melhor equipe que ela já jogou,e discordo do outro anonimo quando diz que ela esta na idade de se aposentar,discordo,as novas tem de provar que são melhores.Faltou a foto da seleção que ela foi medalha de bronze,e que teve uma participação importante,diferente das outras que jogou pouco.Parabéns Adriana,fique tranquila que aqui em Pira,Sorocaba, voce deixou sempre saudades!!!

Anônimo disse...

oie 18:19 tenho dó é de sua familia , mãe .a não ser q ela ainda faz mamadeira troca sua fralda, pq senão é capaz de MANDAR ELA JA SE APOSENTAR pq ACHA Q NÃO PRECISA MAIS.

Anônimo disse...

RICIDULO O COMENTÁRIO SIM.
1º QUEM É ELE PRA ACHAR QUEM DEVE OU NÃO SE APOSENTAR,
2º PQ NINGUEM PEGA O LUGAR DE NINGUEM
QUEM NÃO PODE NÃO SE ESTABELECE
E TEM MUITA GENTE QUE NÃO SE REALIZA NO QUE FAZ ENTÃO FICA PICHANDO O DOS OUTROS

Anônimo disse...

a pessoa tem que se tocar ne,ja esta no hora de se aposentar sim...

Anônimo disse...

uns podiam se tocar antes de comentar. isso sim.

Anônimo disse...

meu deus a adriana foi sim uma grande jogadora mas ja passou,nao adianta vcs serem gentis e falarem que ela nao deve se aposentar porque ja esta na hora sim tem que falar a real.

Anônimo disse...

Genteee!
só vendo ela jogar ao vivo pra falar:
parece que ela esqueceu o que ela fazia de bom antes e não usa no time hj!
Perdeu um pouco de agilidade!

Anônimo disse...

As pessoas expressam relatos sem ao menos conhecer os atletas e suas hisórias. Adriana Santos dentro de quadra foi uma jogadora inteligente,de belas jogadas, de grandes infiltrações e de arremessos certeiros. Porem, pecou em suas marcações. Mais isso não inibe o talento que teve dentro e fora de quadra, pois, sempre procurou dar seu máximo enquanto esteve jogando.
Um grande abraço Bruno Bellini...Amo você Dri...Minha querida Tia

marcusporco-sorocaba disse...

Grande Adriana Santos, juntos com Hortencia, Janete, Marta,Ana Mota, Brenda Hill... Fez muito sucesso!
Vc deve ter orgulho de ter jogado no maior time de basquete feminino do Brasil... Ganhando todos os titulos possiveis...
Alem de ser campea mundial de basquete em 1994...
Parabens Adriana pela bela carreira!