sexta-feira, 8 de fevereiro de 2002

Entrevista - Alexandre Cato

Mais uma entrevista !!!

O papo rola solto com o técnico da Associação Atlética Guarulhos.

Alexandre Cato




(1) Cato, pra começar fale um pouco da sua trajetória até "aparecer" como técnico da Associação Atlética Guarulhos, em 1999?

Bom em 1972 meu pai me ensinou a arremessar pela primeira vez. A cesta era de um suporte de vaso e a redinha de saco de batatas. Foi muito legal! Daí para 1973, comecei no mini e segui até 1986 no adulto.

Você jogou antes? Em quais cidades?

Só joguei em Guarulhos.

Quais títulos?

Um título em 1981, de acesso da 1ª divisão da época para divisão especial, contra a Portuguesa, em Guarulhos. Ainda era juvenil. Fui da geração de Paulinho Vilas Boas (Palmeiras) e Maury (Sírio). Em 78, fui cestinha do campeonato infanto-juvenil ao lado do Paulinho. Foi meu melhor momento.

Quem foram seus professores?

Valdir Antônio Cato (meu pai); João de Freitas; Altevir Harinski; Marcio Bellicierri; Renzo de Brito Negrão e Carlos Domigos Massoni ( o Mosquito).

(2) Gostaria que você falasse um pouco do processo de formação daquele time de Guaru, de 1999, que contava com a Micaela, a Geisa, a Sandrinha, entre outras. O time vinha da conquista da A2?

Bem esta historia é um pouco mais longa,vem de um sonho: Comecei em 1982 , quando tive a oportunidade de acompanhar meu mestre do basquete feminino: o técnico e professor e meu amigo Ailton Pereira Bueno com suas equipes mirim , infanto-Juvenil e juvenil ( entre 1982 e 1986). Com a formação em Educação Física, em 83, passei a trabalhar nas escolinhas de basquete na prefeitura de Guarulhos, e em 1989 assumi a equipe infanto-juvenil , na época dirigida pelo professor Haroldo Dericio Evans, que deixou-a por problemas de saúde. Na oportunidade a Professora Priscila Sautchuk, minha grande amiga, já acumulava as tarefas de Preparadora Física, psicóloga, fisioterapeuta, e outras tantas. Foi outro momento muito legal!. O terceiro lugar foi um presente. A partida foi contra o Perdigão Divino, de Jundiaí. De 1990 à 1992, agora com a Priscila, o sonho foi se realizando, a Sandrinha saía das escolinhas e era campeã mirim (26 pontos na partida final, sendo mini na época). Na 1ª final de campeonato em 92 contra nada menos que a Nossa Caixa/Ponte Preta, de Campinas (com Pabliana, Manu, Erica Vicente e o técnico Paulinho Bassul); BCN, de Piracicaba (com Cristina , Katinha, Anne e o técnico Wilson Renzi) e o Leite Moça, de Sorocaba (com a Lílian , a Patricia Mara e a técnica Nilcéia Ravanelli).

Em 94, fomos vice no Mirim. Em 95, vice no Infantil. Entre 96 e 97, terceiro lugar no Infanto-Juvenil. A partir daí, alguns títulos regionais (quatro) e outros quatro títulos de campeão Brasileiro de seleções por São Paulo, como auxiliar técnico, e um, em especial, de campeão Brasileiro pelo Amazonas em 1998, como técnico.

Em 98 fomos vice campeões da Divisão A2, na final contra Santa Bárbara D'Oeste.



Como eu disse , venho de um sonho de chegar com as meninas das escolinhas até o Adulto.


Quem coordenou o retorno da cidade à divisão de elite?

Dessa vez o coletivo passa para o individual, eu fiz quase tudo, como se falassem: "o sonho é seu, que eu me virasse".

Quem apoiou?

Só Deus e olhe lá, era muita loucura.

E como essas jogadoras foram sendo contactadas?

Os contatos iniciais foram delas. Primeiro a Ana Mota e a Casé e depois a Micaela. Elas queriam jogar, ter novas oportunidades e eu dei!

(3) Já neste ano, o time surpreendeu, fazendo uma campanha de destaque e batendo (em casa) na fase de classificação o BCN-Osasco, ainda com Magic Paula. Como foi esse trabalho?

Acho que foi aí que os sonhos tornaram realidade. As meninas compraram meu sonho!

(4) No ano de 2000, a equipe cresceu bastante e um dos motivos foi a contratação da croata Korie Hlede. Como vocês conseguiram a contratação da Korie?

Com apoio da FPB e de um empresário local, fizemos um contato com o agente dela, o Nicolas Garcia, que negociou a vinda dela.

Gostaria que você falasse um pouco da experiência de trabalhar com ela e do que isso significou em sua carreira.



Toda vez que penso nisso, tenho a certeza que não sei nada de basquete feminino. Ela antes de mais nada é uma pessoa humilde, que gosta muito de jogar basquete.

No dia de seu retorno aos Estados Unidos, ela me disse: "muito obrigada por me ajudar a jogar aqui no Brasil". E penso que agora preciso aprender muito mais e depressa também , pois hoje faço parte de muitos sonhos de outras pessoas!


(5) Ainda em 2000, o time bateu Jundiaí nas semifinais, que contava com um time de estrelas e o técnico Barbosa e encarou Ourinhos nas finais. Qual foi a sensação de disputar a final de um Paulista para um técnico tão jovem como você?

Você deve achar que vivo no mundo da lua, mas foi um sonho de verdade e de muito orgulho de um vencedor!

Como foram os duelos com Edson Ferreto?

Acho que somos muito parecidos no jeito de encorajar essas meninas mais jovens, mas as partidas na minha opinião foram muito emocionais, fora da realidade, sem razão. Muito emocionais e pouco técnicas.


(6) No Nacional de 2001 (o segundo de Guaru), a equipe acabou não alcançando às semifinais. Que avaliação você faz da participação da equipe neste último Nacional?

Vivemos crises políticas e financeiras que abalaram muito nossa estrutura. O desgaste foi visível. Perdemos partidas, no início, que nos fizeram muita falta.

(7) Após a temporada Nacional, o time mudou bastante. Saíram Aide, Roseli, Korie, entre outras. Chegaram novas atletas. Os motivos destas trocas foram financeiros ou técnicos?

Alguns financeiros e outros de falta de integração maior com o grupo.

(8) Ainda sobre as mudanças antes da temporada, a armadora Sandrinha, que era sua atletas desde o início do projeto, abandonou o basquete. Como você encarou essa despedida precoce e qual a sua participação nela?

O resumo que faço disso hoje é que eu, Cato, queria que ela jogase mais do que ela mesmo!

(9) O time mudou bastante e, acredito que esta temporada tenha sido difícil para vocês, principalmente pela necessidade de um entrosamento entre as novas peças. Como foi rearrumar a casa com a chegada de Rose, Paty, Ana Lúcia?

É, como você disse bem , foram muitas mudanças do time de 2000. Só a Ana Mota e a Maria Cristina que permaneceram. Acredito que a formação desse grupo foi o ponto forte para este terceiro lugar em 2001.

Mas o tempo não foi suficiente e algumas estratégias de trabalho tem que ser revistas.


(10) Guaru acabou sendo rifado das finais pôr Santo André (3 a 0). O que faltou a seu time para voltar à disputa do título?

O entrosamento, como você disse, e a qualidade de trabalho da Laís e suas experientes jogadoras, fizeram a diferença.

(11) Um dos problemas maiores de Guaru desde 1999 tem sido as opções limitadas para o jogo no garrafão, muitas vezes com alas cumprindo a posição 4. O que você pensa disso? Como pretende solucionar essa deficiência?

Acredito muito que superamos esta deficiência já neste ano de 2001, haja visto a grata apresentação da Gilmara.

As demais jogadoras (Kelly Cota e Maria Cristina) precisam treinar mais e aproveitar suas oportunidades.


(12) Algumas jogadoras jovens têm tido oportunidade de aparecer através de suas mãos, como a Micaela e a Geisa, bem como de algumas atletas mais experientes como a ala Patrícia (atual Santo André) tem ressurgido sob seu comando. Gostaria que você falasse um pouco do seu trabalho com esses três nomes...

Bem, agradeço sua sensibilidade de lembrar disso. Acredito muito em poder dar condições para essas meninas mais novas e até mesmo das mais experientes e às vezes esquecidas, como também Eliane, Edjane, Aide, Roseli e a Ana Mota.

Sobre as três penso que na oportunidade delas jogarem aqui em Guarulhos, elas precisavam de espaço e oportunidade para jogar e elas tiveram.

A Micaela é uma menina que precisa de mais atenção, tem um potencial enorme, mas precisa de controle.

A Geisa é muito parecida com a Micaela, mas ainda não tem sua identidade.

A Patricia é muito inteligente para jogar. Acho que ela precisa jogar mais e para isso, tem que esquecer a preguiça e buscar seu lugar que está pôr aí. É só procurar.


e da sensação de vê-las partindo para outros clubes?

A sensação é de que, na época, nós da comissão técnica cumprimos nosso dever!

(13) Uma atleta veterana que está há algum tempo na equipe é a Ana Motta, que tem passagens pela seleção brasileira e anos de basquete. Um nome como a Ana ajuda a dar tranqüilidade a grupos novos como o seu?



Sem dúvida , ela é uma pessoa muito boa e quem aproveitou disso, ganhou muito.

(14) Não fosse a presença de Iziane, certamente a revelação do Paulista teria sido a Gilmara (Gil). Gostaria que você falasse um pouco dessa jovem jogadora e da sua participação neste Paulista.

Sou suspeito para falar. Meu voto foi para ela! A Gil teve uma iniciação muito boa com a Macau, em Piracicaba, e agora fica fácil administrar. Ela tem um domínio de corpo dos melhores das atletas nesta posição , e agora precisa treinar mais a habilidade com a bola para virar uma ala e das mais fortes. Pode acreditar!

(15) Qual é a programação de Guaru agora e os objetivos mais imediatos?

Voltaremos aos treinos em 18 de fevereiro. Em relação aos objetivos do grupo são de: intensificar os treinos de fundamentação específica, para melhorar o individual. Teremos um mês.

Buscaremos o titulo no Paulista e também nos Jogos Regionais, e vamos manter o ranking entre as quatro melhores equipes do país!




(16) Você já pode adiantar alguma modificação no time para a próxima temporada? Estão previstas contratações? Já estão definidas dispensas?

A equipe está composta pelas seguintes atletas:

 Armadora – VENEZA, EX-CARAPICUIBA E BCN (CONTRATAÇÃO)
 Armadora – KÁTIA (JUVENIL)
 ALA/ARMADORA – CLÉIA
 ALA/ARMADORA – PALMIRA ( JUVENIL)
 ALA – ROSE
 ALA – PATRICIA (Paty)
 ALA – FABIANA
 ALA – MARIA CRISTINA
 ALA/PIVÔ – GILMARA
 PIVÔ – ANA LÚCIA
 PIVÔ – KELLY COTA

Não pertencem mais à equipe: Josiane , Fernanda Perandini e a Silmara Pereira (Gorda). A Ana Mota, após a recuperação do joelho operado, poderá talvez ser absorvida no trabalho de base.


(17) Gostaria que você fizesse uma análise do último Campeonato Paulista. Como você acha que o nível técnico vem respondendo à presença de menos estrelas e a ausência de estrangeiras?

É realidade. Precisamos continuar dando oportunidade às jogadoras mais novas. O nível com certeza nivelou pôr baixo, mas é culpa nossa deixarmos de fazer o trabalho de base crescer e de cobrar de nossos dirigentes uma melhor política esportiva. Nossos dirigentes devem intensificar os campeonatos estaduais, e a promoção de eventos internacionais no pais e de recursos aos clubes fazerem intercâmbio.

Vivemos de passado, temos uma estrela grande que chama Basquetebol Feminino. As meninas estão aqui. É só trabalhar sério, que seremos as estrangeiras de lá. Mas só se quisermos também, dando condições, não precisaremos ir embora. Temos um país enorme para explorar ainda. Precisamos ser mais "BASQUETE FEMININO" e não Oscar, o EU, o individualista. Não dá certo.


(18) Gostaria que você falasse um pouco do trabalho de Guaru nas categorias de base. Qual a dimensão dele?

O ano passado infelizmente não tivemos a participação do feminino nos campeonatos da federação. Mas, nas ligas, as categorias mini, mirim e infantil se apresentaram muito bem.

Hoje participaremos na federação nas categorias mirim; infantil e juvenil. Fora estas equipes, no trabalho de massificação esportiva e de treinamento desportivo, contamos com aproximadamente 1200 crianças do município e eventuais migrações.


(19) E o Mundial deste ano? Quais as chances da seleção brasileira feminina na sua opinião?

Hoje diria que nossas chances poderiam ser melhores se tivéssemos tempo de preparação, mas tem ligas Européias, WNBA e outros interesses.

Mesmo assim acredito que ficaremos entre os seis melhores.


(20) Bate - Bola:

Um sonho: Mais um - Ser técnico da Seleção Brasileira!
Uma vitória inesquecível: Contra o BCN: 77 x 71, com a Paula e tudo mais!
Uma derrota que não sai da cabeça: A terceira partida em Guarulhos nas finais do campeonato de 2000. Foi crucial!
Um título: O primeiro no mirim, em 1992!
Um técnico: hoje, o Lula, do COC Ribeirão Preto!
Uma atleta estrangeira: A KORIE !
Uma atleta brasileira: Atleta, só a JANETH!
Uma quadra: a do Charlotte Hornets!
Uma revelação: A GILMARA (GIL)!

Nenhum comentário: