Brasil joga mal e precisa da sorte para bater a Argentina na estréia
Giancarlo Giampietro
Em São Paulo
A seleção brasileira por muito pouco não protagonizou um vexame logo em sua estréia no Mundial feminino, que começou nesta terça-feira, em São Paulo. Jogando apenas para o gasto e sofrendo muito mais do que esperava, a equipe do técnico Antônio Carlos Barbosa venceu a frágil Argentina, que veio ao Mundial como coadjuvante, por 71 a 69, graças a um lance de sorte da armadora Helen.
Com o placar empatado em 69 pontos faltando menos de dez segundos para o fim do jogo, Helen partiu para o contra-ataque e tentou um arremesso precipitado. Por sorte, ela mesma pegou o rebote e conseguiu converter a cesta da vitória, mantendo uma invencibilidade do Brasil diante das rivais sul-americanas que já dura 50 anos.
"Quando a bola veio, ouvi todo mundo gritando para chutar. Eu chutei, nem vi, nem deu tempo de olhar para o tempo", disse a jogadora. "Ainda faltava um pouco para terminar, e felizmente não entrou o contra-ataque delas."
Em um ginásio do Ibirapuera vazio - dois setores de cadeiras superiores, por exemplo, não tinham um torcedor sequer -, o Brasil fez uma partida fria e apática. Depois de vencer o primeiro período por 12 pontos, a equipe do técnico Barbosa emperrou em quadra e permitiu que as "freguesas" sul-americanas equilibrassem o jogo e fossem ameaçadoras no final.
"Tivemos um desvio de nível muito alto. Foi uma aberração. Para mim, o jogo foi um desastre. Mas vamos voltar à normalidade", afirmou o Barbosa.
No ataque, Iziane e Janeth não encontraram espaço para infiltrações. Se a primeira, destaque da nova geração, ainda conseguiu pontuar em tiros de média e longa distância, a veterana se apresentou pouco inspirada e, pior, fora de ritmo. E as pivôs não foram municiadas.
A seleção também apresentou problemas defensivos, permitindo fintas e conseqüentes infiltrações argentinas, principalmente frontais à cesta, partindo da zona de lances livres. Isso, contra um adversário pesado, sem muita mobilidade.
Nesta quarta-feira, no mesmo horário, às 15h15, o Brasil enfrenta a Coréia do Sul, que apanhou da Espanha na primeira rodada.
O jogo
O Brasil não começou sua participação no Mundial de forma empolgante. Nos primeiros três minutos de jogo, converteu apenas dois pontos contra uma seleção argentina visivelmente mais baixa e pesada.
Só a partir do estabelecimento de posição de Alessandra próxima à tabela que a seleção começou a deslanchar. A pivô carregou as argentinas em faltas - com cinco minutos jogados, já estouraram o limite de cinco infrações. No final do tempo, o Brasil havia batido 18 lances livres, com aproveitamento de 66,7% - Alessandra e Cíntia Tuiu desperdiçaram dois cada.
Além dos lances livres, o Brasil contou também com lances individuais da ala Iziane, que fez nove pontos dos 27 time no período. A Argentina marcou 15. De positivo, ficou também a participação da ala-pivô Êga, com cinco pontos, nove rebotes e muita disposição, após ser uma das últimas jogadas definidas por Barbosa.
No segundo quarto, o treinador lançou quatro reservas e deixou apenas Êga quadra nos primeiros momentos, acompanhada de Adrianinha, Karen, Micaela e Kelly. O time perdeu rendimento, fez só dois pontos na primeira metade do tempo e permitiu que as adversárias reduzissem o placar. Com três contra-ataques sem resposta, o time encostou em 33 a 27, obrigando o treinador brasileiro a pedir tempo.
Ao final do quarto, a seleção brasileira terminou com apenas 13 pontos marcados, com vantagem de 39 a 30. A equipe reserva enfrentou dificuldades contra as rivais assim como no primeiro tempo da final do Sul-Americano deste ano, em agosto. Na ocasião, perderam os primeiros 20 minutos por 37 a 35 e só no segundo tempo que tomaram controle do duelo, vencido por 91 a 62.
No segundo tempo, mesmo com a volta das titulares, a seleção não conseguiu retomar qualquer ritmo que tivesse do primeiro quarto. Com uma movimentação lenta no ataque, não limpou terreno para arremessos de três e falhou em servir as pivôs.
Paciente, explorando "buracos" na defesa brasileira, a Argentina chegou a ficar apenas seis pontos atrás, com 47 a 41. Foi neste ponto que a armadora Adrianinha fez cinco pontos seguidos, com uma infiltração suada e uma bola de três. Na seqüência, a pivô Alessandra converteu lances livres para deixar sua equipe com 54 a 44 ao final do terceiro quarto.
Para o quarto período, Barbosa colocou Adrianinha ao lado de Helen na expectativa de dar mais criatividade para a seleção. Em vão. O Brasil errou arremesso atrás de arremesso. "A bola não caía", disse Janeth. O time teve aproveitamento de 38,3% em seus chutes de dois, quase inferiores aos 37,5% dos três. "Isso é um absurdo", resumiu Barbosa.
Mais disposta, empolgada, a Argentina tornou a reagir e a buscar, com sucesso, bandejas no garrafão brasileiro. Com quatro minutos rodados, a ala Natalia Ríos empatou a partida em 54 a 54 com dois lances livres após sofrer falta em bandeja. "À medida que o tempo foi passando, nossa confiança cresceu. Éramos realistas, sabíamos que seria muito difícil, mas aqui não era um Sul-Americano. Era o Mundial, então lutamos", disse Ríos.
No lance seguinte, a mesma Pavón falhou em acertar uma bandeja livre, que colocaria seu time em vantagem pela primeira vez no jogo.
Apenas neste momento que a torcida brasileira entrou no jogo e, apesar de em pequeno número, passou a fazer barulho. Somente depois de 4min30s o Brasil finalmente conseguiu pontuar no último quarto em um rebote ofensivo de Alessandra, mantendo-se na frente. Em seguida, uma bola de três pontos de Janeth acabou por incentivar ainda mais o público.
A veterana voltou a pontuar na posse de bola seguinte para ampliar para 61 a 56. Mas quando as donas da casa pareciam ter retomado o controle da partida, as falhas de marcação permitiram a reação argentina, que acertou a pontaria nos arremessos de três pontos e conseguiu o empate em 69 pontos.
O nervosismo brasileiro ficou ainda mais evidente. A armadora Helen, uma das mais experientes do grupo, partiu em disparada para o ataque e arremessou de longa distância, incentivada erradamente pelas jogadoras do banco de reservas, que temiam o fim da partida quando ainda restava tempo no cronômetro. Para a sorte do Brasil, a própria Helen pegou o rebote e, mesmo desequilibrada, converteu a cesta decisiva.
Giancarlo Giampietro
Em São Paulo
A seleção brasileira por muito pouco não protagonizou um vexame logo em sua estréia no Mundial feminino, que começou nesta terça-feira, em São Paulo. Jogando apenas para o gasto e sofrendo muito mais do que esperava, a equipe do técnico Antônio Carlos Barbosa venceu a frágil Argentina, que veio ao Mundial como coadjuvante, por 71 a 69, graças a um lance de sorte da armadora Helen.
Com o placar empatado em 69 pontos faltando menos de dez segundos para o fim do jogo, Helen partiu para o contra-ataque e tentou um arremesso precipitado. Por sorte, ela mesma pegou o rebote e conseguiu converter a cesta da vitória, mantendo uma invencibilidade do Brasil diante das rivais sul-americanas que já dura 50 anos.
"Quando a bola veio, ouvi todo mundo gritando para chutar. Eu chutei, nem vi, nem deu tempo de olhar para o tempo", disse a jogadora. "Ainda faltava um pouco para terminar, e felizmente não entrou o contra-ataque delas."
Em um ginásio do Ibirapuera vazio - dois setores de cadeiras superiores, por exemplo, não tinham um torcedor sequer -, o Brasil fez uma partida fria e apática. Depois de vencer o primeiro período por 12 pontos, a equipe do técnico Barbosa emperrou em quadra e permitiu que as "freguesas" sul-americanas equilibrassem o jogo e fossem ameaçadoras no final.
"Tivemos um desvio de nível muito alto. Foi uma aberração. Para mim, o jogo foi um desastre. Mas vamos voltar à normalidade", afirmou o Barbosa.
No ataque, Iziane e Janeth não encontraram espaço para infiltrações. Se a primeira, destaque da nova geração, ainda conseguiu pontuar em tiros de média e longa distância, a veterana se apresentou pouco inspirada e, pior, fora de ritmo. E as pivôs não foram municiadas.
A seleção também apresentou problemas defensivos, permitindo fintas e conseqüentes infiltrações argentinas, principalmente frontais à cesta, partindo da zona de lances livres. Isso, contra um adversário pesado, sem muita mobilidade.
Nesta quarta-feira, no mesmo horário, às 15h15, o Brasil enfrenta a Coréia do Sul, que apanhou da Espanha na primeira rodada.
O jogo
O Brasil não começou sua participação no Mundial de forma empolgante. Nos primeiros três minutos de jogo, converteu apenas dois pontos contra uma seleção argentina visivelmente mais baixa e pesada.
Só a partir do estabelecimento de posição de Alessandra próxima à tabela que a seleção começou a deslanchar. A pivô carregou as argentinas em faltas - com cinco minutos jogados, já estouraram o limite de cinco infrações. No final do tempo, o Brasil havia batido 18 lances livres, com aproveitamento de 66,7% - Alessandra e Cíntia Tuiu desperdiçaram dois cada.
Além dos lances livres, o Brasil contou também com lances individuais da ala Iziane, que fez nove pontos dos 27 time no período. A Argentina marcou 15. De positivo, ficou também a participação da ala-pivô Êga, com cinco pontos, nove rebotes e muita disposição, após ser uma das últimas jogadas definidas por Barbosa.
No segundo quarto, o treinador lançou quatro reservas e deixou apenas Êga quadra nos primeiros momentos, acompanhada de Adrianinha, Karen, Micaela e Kelly. O time perdeu rendimento, fez só dois pontos na primeira metade do tempo e permitiu que as adversárias reduzissem o placar. Com três contra-ataques sem resposta, o time encostou em 33 a 27, obrigando o treinador brasileiro a pedir tempo.
Ao final do quarto, a seleção brasileira terminou com apenas 13 pontos marcados, com vantagem de 39 a 30. A equipe reserva enfrentou dificuldades contra as rivais assim como no primeiro tempo da final do Sul-Americano deste ano, em agosto. Na ocasião, perderam os primeiros 20 minutos por 37 a 35 e só no segundo tempo que tomaram controle do duelo, vencido por 91 a 62.
No segundo tempo, mesmo com a volta das titulares, a seleção não conseguiu retomar qualquer ritmo que tivesse do primeiro quarto. Com uma movimentação lenta no ataque, não limpou terreno para arremessos de três e falhou em servir as pivôs.
Paciente, explorando "buracos" na defesa brasileira, a Argentina chegou a ficar apenas seis pontos atrás, com 47 a 41. Foi neste ponto que a armadora Adrianinha fez cinco pontos seguidos, com uma infiltração suada e uma bola de três. Na seqüência, a pivô Alessandra converteu lances livres para deixar sua equipe com 54 a 44 ao final do terceiro quarto.
Para o quarto período, Barbosa colocou Adrianinha ao lado de Helen na expectativa de dar mais criatividade para a seleção. Em vão. O Brasil errou arremesso atrás de arremesso. "A bola não caía", disse Janeth. O time teve aproveitamento de 38,3% em seus chutes de dois, quase inferiores aos 37,5% dos três. "Isso é um absurdo", resumiu Barbosa.
Mais disposta, empolgada, a Argentina tornou a reagir e a buscar, com sucesso, bandejas no garrafão brasileiro. Com quatro minutos rodados, a ala Natalia Ríos empatou a partida em 54 a 54 com dois lances livres após sofrer falta em bandeja. "À medida que o tempo foi passando, nossa confiança cresceu. Éramos realistas, sabíamos que seria muito difícil, mas aqui não era um Sul-Americano. Era o Mundial, então lutamos", disse Ríos.
No lance seguinte, a mesma Pavón falhou em acertar uma bandeja livre, que colocaria seu time em vantagem pela primeira vez no jogo.
Apenas neste momento que a torcida brasileira entrou no jogo e, apesar de em pequeno número, passou a fazer barulho. Somente depois de 4min30s o Brasil finalmente conseguiu pontuar no último quarto em um rebote ofensivo de Alessandra, mantendo-se na frente. Em seguida, uma bola de três pontos de Janeth acabou por incentivar ainda mais o público.
A veterana voltou a pontuar na posse de bola seguinte para ampliar para 61 a 56. Mas quando as donas da casa pareciam ter retomado o controle da partida, as falhas de marcação permitiram a reação argentina, que acertou a pontaria nos arremessos de três pontos e conseguiu o empate em 69 pontos.
O nervosismo brasileiro ficou ainda mais evidente. A armadora Helen, uma das mais experientes do grupo, partiu em disparada para o ataque e arremessou de longa distância, incentivada erradamente pelas jogadoras do banco de reservas, que temiam o fim da partida quando ainda restava tempo no cronômetro. Para a sorte do Brasil, a própria Helen pegou o rebote e, mesmo desequilibrada, converteu a cesta decisiva.
Fonte: UOL
A má estréia brasileira
Juca Kfouri
A seleção brasileira venceu a Argentina (71 a 69), mas jogou muito mal.
Esperava-se uma vitória fácil, que não veio.
Resta saber, no andamento do Mundial, se foram as argentinas que, a exemplo de seus patrícios, progrediram, ou se foi o famoso efeito estréia que afetou o jogo brasileiro.
As brasileiras atacaram mal e defenderam ainda pior, ao permitir que as adversárias fizessem uma festa permanente no garrafão nacional.
O jogo ficou em aberto até o fim e significou não apenas uma luz amarela, mas, sim, vermelha mesmo às pretensões do quinteto brasileiro.
Basta dizer que, faltando apenas 10 segundos, o jogo estava empatado em 69 pontos e Helen salvou a pátria numa cesta espetacular, de tapinha, da marca de lance livre .
Amanhã o jogo será contra a Coréia do Sul.
Juca Kfouri
A seleção brasileira venceu a Argentina (71 a 69), mas jogou muito mal.
Esperava-se uma vitória fácil, que não veio.
Resta saber, no andamento do Mundial, se foram as argentinas que, a exemplo de seus patrícios, progrediram, ou se foi o famoso efeito estréia que afetou o jogo brasileiro.
As brasileiras atacaram mal e defenderam ainda pior, ao permitir que as adversárias fizessem uma festa permanente no garrafão nacional.
O jogo ficou em aberto até o fim e significou não apenas uma luz amarela, mas, sim, vermelha mesmo às pretensões do quinteto brasileiro.
Basta dizer que, faltando apenas 10 segundos, o jogo estava empatado em 69 pontos e Helen salvou a pátria numa cesta espetacular, de tapinha, da marca de lance livre .
Amanhã o jogo será contra a Coréia do Sul.
Fonte: Blog do Juca
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