domingo, 29 de agosto de 2004

O Quarto Escuro



A Olimpíada chegou ao fim para o Basquete Brasileiro.

Nossas meninas acabaram na quarta colocação dos jogos.

Longe, muito longe, para o pouco que temos e para o pouco que jogamos.

Pouco para o talento de nossas jogadoras.

Muito para o técnico que temos: atrasado, estabanado, preguiçoso, cansado da guerra, político (no pior sentido da palavra) e incompetente.

Demais para um confederação presidida por um crápula, sem talento, sem pudores, demagogo, insensato e igualmente incompetente.

Um exagero para um país que não tem um trabalho de base, que acaba de ver sua geração juvenil na quarta colocação do continente, perdendo a vaga para o Mundial da categoria.

É lógico que queríamos que depois de um resultado desses, tudo mudasse: jogadoras repatriadas, uma comissão técnica competente, forte, um campeonato nacional reestruturado, centros de formação refeitos e uma confederação limpa, trabalhadora e honesta.

Sonho, né?

Já que não dá para arrumar tudo, que tal, pelo menos tirar a Barbosa do comando?

Parece lógico, pelos maus resultados que ele vem colecionando, pelo padrão de jogo horrível que o time apresenta. E também pela juventude e pelo bom resultado internacional (prata no Mundial sub-21) que o assistete técnico Paulo Bassul construiu.

Mas, nessa altura dos acontecimentos, tenho que escutar o Sr. Grego dizer que Barbosa quer ficar até morrer?

Ô, Barbosinha, tenha bom senso uma vez na vida.

Vá pra Bauru cuidar de seus projetos políticos.

Sua contribuição ao basquete já foi dada.

E há tempo pra tudo na vida.

Até para a morte.

E assim seguimos, ansiosos por qualquer coisa, qualquer nota, que possa dar mais dignidade a essa paixão que nos assola, chamada basquete feminino brasileiro.


Uma ansiedade talvez ainda maior por saber que em dois anos, seremos sede do Campeonato Mundial da categoria. Uma chance de coroar toda uma geração de técnicos e atletas que nos fizeram reféns da adoração por esse esporte belo, em sua essência e em seus exemplos.

Mas tão feio, tão sujo em seus bastidores. E tão abandonado à própria sorte.

Muitas coisas devem acontecer até lá.

Mas sinceramente, quem crê em verdadeiras mudanças?

Em relação às atletas, já disse muito.

Mas nunca é demais:

Janeth jogou, na minha humilde opinião, fora de suas melhores condições físicas. Chegou a ficar parada antes do ínicio da competição. E foi vítima de um esquema de jogo que a deixa em quadra numa média sempre superior a 30-35 minutos, com responsabilidade eterna de pontuar, e ainda de fazer o que sempre se espera de Janeth (marcar bem, pegar rebotes e roubar bolas; e ainda segurar a bola nos momentos de super-ego-descontrol das nossas armadoras). Tão cansada ela está, que nem quis saber do Houston na WNBA.

Iziane é a grata surpresa. É jovem, ainda tem muito feijão pra comer e muito gás pra gastar. Nas últimas duas derrotas, foi emocionante vê-la buscando jogo e tentando carregar o time. É nesses momentos, que as grandes jogadoras aparecem. Força, Menina.

Outra que merece aplausos é Alessandra. Que belo exemplo. Alessandra foi guerreira como poucas. Fez de tudo o que pode para o Brasil ir mais longe. Lutou bravamente contra as próprias deficiências. Fez um partidaço contra a Austrália. Coisa de estrela de primeira grandeza. Ainda foi a mais desconsolada com as derrotas. Obrigado, Alessandra!

Na armação, moram as minhas maiores frustrações.

Foi uma péssima Olimpíada das nossas armadoras.

Helen começou bem, principalmente nos arremessos de três. Mas depois se perdeu na competição. Fez uma partida terrível contra as australianas. Junto à Adrianinha, não deram cara alguma ao time, nem comando. Foram as campeãs em violações: passes terríveis, poucas assistências, pisadas na linha. Adrianinha às vezes corre mais que a bola.

E o que dizer das opções do banco?

Primeiro, Vívian. Bem, alguém acredita que Vívian é uma armadora? Talvez só Laís Elena. Aliás, Vívian nasceu como ala, há um bom tempo atrás, posição em que ganhou prêmio de revelação do Paulista de 1996. Mas de lá pra cá, muita coisa mudou. Vívian passou por muitas cirurgias. O time em que sempre jogou (Santo André) a cada temporada aparece com uma pobreza mais constrangedora. Nessa falta de opções, Laís improvisa Vívian como armadora. Tudo bem. Mas Laís manchou sua carreira ao aceitar participar da comissão da seleção e pular fora do barco logo em seguida. Não fosse o bastante, deixou uma herança ingrata para a seleção: a cria Vívian. Como armadora, Vívian é um constrangimento só. Não tem visão de jogo algum, é fominha. Como ala, tudo bem, Vívian tem vigor defensivo. Mas, no ataque, raramente passa de uma bandejeira. Então, realmente, a "gordinha Vívian", segundo o narrador Sílvio Luiz, só tem a agradecer por ter tido essa oportunidade dos céus de ir à Atenas. Mas, sinceramente, espero uma escolha mais sensata nas próximas convocações.

Karla respondeu muito bem aos momentos em que foi chamada por Barbosa. É uma armadora que apesar de ter fome no ataque, tem uma boa visão de jogo, sabe distribuir a bola. Mas ficou no banco, mesmo quando Helen e Adrianinha viviam seus piores momentos. Não dá pra entender.

Então para encerrar o assunto armadoras, eu gostaria que a comissão técnica se preocupasse com o assunto. Que incluisse nas próximas convocações uma das armadoras do sub-21 de prata (Ana Flávia Sackis, Fabianna Manfredi e Karen Gustavo) e investisse na formação de uma delas para o futuro. Por que eu como torcedor, estou cansado, de ver a seleção sempre com problemas nessa posição. É uma indefinição eterna se Sicrana é armadora ou uma ala-chutadora de três ou se quando Fulana está junto com Sicrana, quem vai armar o time... Pra quem já teve Magic Paula em quadra, é triste ver o panorama atual... Cadê as assistências, cadê a sinalização de uma jogada? Se Barbosa não treinou nenhuma jogada, não seria possível a armadora criar alguma coisa junto ao time? Por que pra levar a bola de uma quadra a outra e tentar um chute de três, uma jogada individual ou passar a bola, isso até vovó fazia nas peladas do fim de semana.

Bem, falemos de Leila. Gosto muito de Leila. Acho que todo torcedor do basquete feminino gosta e torce por ela. No seu retorno, uma de suas características persiste intacta: o apuro defensivo. Nisso, Leila ajudou muito. Nos momentos em que foi solicitada a marcas as principais estrelas do time adversário (Valdemoro, Jackson), seu comportamento foi exemplar. Mas em algum lugar do passado, a intimidade com a bola no ataque parou. Infelizmente, isso compremeteu o time.

Passemos à Cíntia Tuiú. Depois de belas apresentações nos amistosos de preparação, Cíntia se apagou um pouco nos Jogos. Talvez ela tenha se assustado tanto quanto nós ao perder a posição de titular subitamente para Leila, se tornando a jogadora que menos jogou na estréia contra o Japão. É uma bela jogadora. E credito seu mau rendimento à pura incompetência de Barbosa.

Kelly - Acho que Kelly precisa entender que para se tornar a estrela que ela quer ser, disciplina é fundamental. Uma jogadora de nível internacional se apresentar tão fora de forma como ela à seleção é inconcebível. Seu talento e a predileção de Barbosa por ela não podem servir de atenuante à uma falta grave como essa. Com um técnico de maior pulso, Kelly e seus quilinhos mais seriam cortados e a opção seria Zaine, ou qualquer outra pivô em boa forma física.

Sobre Érika, já disse muito. Mas é mais uma barbosice aproveitar tão mal o talento e a força da menina.

Silvinha foi uma tentativa válida da seleção. Teve poucas chances, mas foi uma boa aposta.

Enfim, assim meus olhos viram esses Jogos.

Felizmente, acabaram.

Foram dias de ansiedade, alguns de alegria, outros mais de mau-humor e de chateação.

Que dias melhores venham pra sempre.


;-)


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