Em ano olímpico, Barbosa é apontado como "laranja" em eleição
Bruno Doro e Leopoldo Godoy
Em São Paulo
O técnico Antônio Carlos Barbosa comanda há oito anos as 12 jogadoras da seleção de basquete, mas a partir de 2005 quer liderar um grupo maior de pessoas: a população de Bauru, mais de 300 mil habitantes.
Mas seus opositores na cidade interiorana acusam o treinador de trocar o esporte da bola laranja para ser "laranja" na política local.
Barbosa se defende. "Tenho um histórico, não caí de pára-quedas em Bauru. Sou nascido na cidade e fiz minha carreira esportiva aqui", afirma o técnico, que foi secretário municipal de esportes durante sete anos, de 1985 a 1992.
A polêmica surge porque Barbosa foi secretário e é o principal apadrinhado do ex-prefeito Antônio Izzo Filho, defenestrado do cargo em 1997 e preso por quatro anos por corrupção e desvio de verbas públicas. Além disso, o técnico só assumiu a campanha após o veto judicial à candidatura de Izzo. A coligação de Barbosa une o PHS (de Francisco Rossi), o PRTB (conta em seus quadros com o ex-presidente Fernando Collor de Mello), o PTN e PT do B.
Mais uma vez uma figura do basquete está envolvida em uma eleição. Embora mais discreta que a campanha de Oscar Schmidt ao cargo de senador por São Paulo, em 1998, a candidatura de Barbosa nasce com bate-boca e acusações de oportunismo. Antes, Paulo Maluf lançou Oscar para tentar derrotar um favorito Eduardo Suplicy, do PT. Agora, Barbosa, também azarão, tenta manter a visibilidade de um político condenado por corrupção.
Mesmo o treinador admite que o plano era lançar o próprio Izzo como candidato. "Inicialmente eu seria o vice do Izzo, o que seria até mais fácil para mim e não atrapalharia a campanha. Mas a justiça ainda não decidiu sobre a elegibilidade dele, então, para não arriscar, lancei minha candidatura", afirma Barbosa. Izzo perdeu os direitos políticos por dez anos em 1997, em decisão que ainda pode ser alterada no TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Para a oposição, a candidatura de Barbosa é uma armação para devolver Izzo ao cenário político local. "Todo cidadão pode ser candidato, até os folclóricos. Mas a tradição da política brasileira costuma aceitar como candidatos sérios aqueles que têm uma história política e partidária", afirma o vereador José Carlos Batata, líder do PT na câmara de Bauru.
Para Batata, o apoio de Izzo não fará bem para a imagem de Barbosa perante a opinião pública. "Ele (Barbosa) é o candidato de um pessoal que a cidade não considera muito direito. Eles têm uma história política que envolve até mesmo atentados contra vereadores da oposição", afirma Batata. Em maio deste ano, o Tribunal de Justiça de São Paulo condenou Izzo por ataques a bomba contra quatro membros da câmara dos vereadores da cidade.
Barbosa prefere minimizar a polêmica em torno de Izzo, defendendo inclusive o político condenado pela justiça. "É claro que o ex-prefeito tem uma imagem desgastada, mas apenas em alguns setores da cidade. O que importa é que, entre os mais necessitados, a imagem dele é forte". Batata concorda com a avaliação de Barbosa, mas afirma que a imagem de Izzo é forte por suas atitutes populistas durante o mandato. "Ele distribuía cestas básicas, pagava contas de luz e de água e conseguia apoio desta forma", afirma.
Ainda que não seja inexperiente, Barbosa não terá como conduzir a campanha com todo o empenho possível. O treinador deve iniciar os trabalhos com a seleção no dia 1º de junho, e só poderá começar a tratar da política no final de agosto, depois dos Jogos, a pouco mais de um mês da eleição. "Sim, a eleição ficará em segundo plano", afirma Barbosa.
O PSDB, partido pelo qual Izzo se elegeu em seu primeiro mandato, em 1988, atualmente faz oposição ao ex-prefeito, tanto que fez parte da base que votou pela cassação do cargo em 1997. Os representantes tucanos na cidade, no entanto, preferem se calar sobre a volta de Izzo ao cenário político da cidade. "O Barbosa é meu amigo e eu prefiro não tocar no assunto", disse o presidente regional do PSDB e diretor do CDHU de Bauru, Carlos Ladeira, que foi líder da bancada de Izzo na câmara durante o primeiro mandato do ex-prefeito.
Ladeira também justificou o silêncio com a futura condição de adversário de Barbosa, já que o PSDB lançou como candidato o empresário Caio Coube, da família proprietária da empresa de cadernos Tilibra e, coincidentemente, ex-dirigente do Bauru Basquete.
Se, do ponto de vista da política, a atuação de Barbosa será complicada, o basquete não deve ser abalado. Pelo menos é o que garantem o próprio treinador e seu auxiliar técnico, Paulo Bassul. "Não existe uma divisão entre minhas atividades na seleção e na campanha política. Tenho um compromisso com a CBB e com a seleção, e eu não teria como mudar esta história", afirma Barbosa.
"O Barbosa deixou bem claro que a candidatura fica em segundo plano", afirma o auxiliar Bassul. "A prioridade é Atenas-2004. É claro que não seria nada legal se isso afetasse de alguma forma a preparação, mas como não afeta, não vejo problema nenhum na candidatura", acredita Bassul, que diz que Barbosa sempre deixou claro que tinha vontade de entrar para a política e que, um dia, iria se candidatar a algum cargo
.Bruno Doro e Leopoldo Godoy
Em São Paulo
O técnico Antônio Carlos Barbosa comanda há oito anos as 12 jogadoras da seleção de basquete, mas a partir de 2005 quer liderar um grupo maior de pessoas: a população de Bauru, mais de 300 mil habitantes.
Mas seus opositores na cidade interiorana acusam o treinador de trocar o esporte da bola laranja para ser "laranja" na política local.
Barbosa se defende. "Tenho um histórico, não caí de pára-quedas em Bauru. Sou nascido na cidade e fiz minha carreira esportiva aqui", afirma o técnico, que foi secretário municipal de esportes durante sete anos, de 1985 a 1992.
A polêmica surge porque Barbosa foi secretário e é o principal apadrinhado do ex-prefeito Antônio Izzo Filho, defenestrado do cargo em 1997 e preso por quatro anos por corrupção e desvio de verbas públicas. Além disso, o técnico só assumiu a campanha após o veto judicial à candidatura de Izzo. A coligação de Barbosa une o PHS (de Francisco Rossi), o PRTB (conta em seus quadros com o ex-presidente Fernando Collor de Mello), o PTN e PT do B.
Mais uma vez uma figura do basquete está envolvida em uma eleição. Embora mais discreta que a campanha de Oscar Schmidt ao cargo de senador por São Paulo, em 1998, a candidatura de Barbosa nasce com bate-boca e acusações de oportunismo. Antes, Paulo Maluf lançou Oscar para tentar derrotar um favorito Eduardo Suplicy, do PT. Agora, Barbosa, também azarão, tenta manter a visibilidade de um político condenado por corrupção.
Mesmo o treinador admite que o plano era lançar o próprio Izzo como candidato. "Inicialmente eu seria o vice do Izzo, o que seria até mais fácil para mim e não atrapalharia a campanha. Mas a justiça ainda não decidiu sobre a elegibilidade dele, então, para não arriscar, lancei minha candidatura", afirma Barbosa. Izzo perdeu os direitos políticos por dez anos em 1997, em decisão que ainda pode ser alterada no TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Para a oposição, a candidatura de Barbosa é uma armação para devolver Izzo ao cenário político local. "Todo cidadão pode ser candidato, até os folclóricos. Mas a tradição da política brasileira costuma aceitar como candidatos sérios aqueles que têm uma história política e partidária", afirma o vereador José Carlos Batata, líder do PT na câmara de Bauru.
Para Batata, o apoio de Izzo não fará bem para a imagem de Barbosa perante a opinião pública. "Ele (Barbosa) é o candidato de um pessoal que a cidade não considera muito direito. Eles têm uma história política que envolve até mesmo atentados contra vereadores da oposição", afirma Batata. Em maio deste ano, o Tribunal de Justiça de São Paulo condenou Izzo por ataques a bomba contra quatro membros da câmara dos vereadores da cidade.
Barbosa prefere minimizar a polêmica em torno de Izzo, defendendo inclusive o político condenado pela justiça. "É claro que o ex-prefeito tem uma imagem desgastada, mas apenas em alguns setores da cidade. O que importa é que, entre os mais necessitados, a imagem dele é forte". Batata concorda com a avaliação de Barbosa, mas afirma que a imagem de Izzo é forte por suas atitutes populistas durante o mandato. "Ele distribuía cestas básicas, pagava contas de luz e de água e conseguia apoio desta forma", afirma.
Ainda que não seja inexperiente, Barbosa não terá como conduzir a campanha com todo o empenho possível. O treinador deve iniciar os trabalhos com a seleção no dia 1º de junho, e só poderá começar a tratar da política no final de agosto, depois dos Jogos, a pouco mais de um mês da eleição. "Sim, a eleição ficará em segundo plano", afirma Barbosa.
O PSDB, partido pelo qual Izzo se elegeu em seu primeiro mandato, em 1988, atualmente faz oposição ao ex-prefeito, tanto que fez parte da base que votou pela cassação do cargo em 1997. Os representantes tucanos na cidade, no entanto, preferem se calar sobre a volta de Izzo ao cenário político da cidade. "O Barbosa é meu amigo e eu prefiro não tocar no assunto", disse o presidente regional do PSDB e diretor do CDHU de Bauru, Carlos Ladeira, que foi líder da bancada de Izzo na câmara durante o primeiro mandato do ex-prefeito.
Ladeira também justificou o silêncio com a futura condição de adversário de Barbosa, já que o PSDB lançou como candidato o empresário Caio Coube, da família proprietária da empresa de cadernos Tilibra e, coincidentemente, ex-dirigente do Bauru Basquete.
Se, do ponto de vista da política, a atuação de Barbosa será complicada, o basquete não deve ser abalado. Pelo menos é o que garantem o próprio treinador e seu auxiliar técnico, Paulo Bassul. "Não existe uma divisão entre minhas atividades na seleção e na campanha política. Tenho um compromisso com a CBB e com a seleção, e eu não teria como mudar esta história", afirma Barbosa.
"O Barbosa deixou bem claro que a candidatura fica em segundo plano", afirma o auxiliar Bassul. "A prioridade é Atenas-2004. É claro que não seria nada legal se isso afetasse de alguma forma a preparação, mas como não afeta, não vejo problema nenhum na candidatura", acredita Bassul, que diz que Barbosa sempre deixou claro que tinha vontade de entrar para a política e que, um dia, iria se candidatar a algum cargo
Fonte: UOL Esporte
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