sexta-feira, 25 de julho de 2025

Rapha Monteiro jogará temporada 2025/2026 na Segunda Divisão Espanhola



Depois de uma ótima participação da Liga Portuguesa, competição da qual foi MVP da final e campeã com o Benfica, a ala Raphaella Monteiro defendeu o Corínthians na LBF. 

Em Portugal, a brasileira somou médias 13,4 pontos e 7,2 rebotes.

Na LBF, deixou impressão muito boa em apenas seis jogos pelo Corínthians (17 pontos em média), que acabou eliminado nas quartas da competição pelo Unimed/Campinas.

Apesar da trajetória de sucesso, Rapha não seguirá no Benfica para a próxima temporada. O clube que já anunciou a assinatura de contrato de uma outra brasileira: a pivô Letícia Josefino (atualmente no Sampaio Basquete).

O destino de Rapha será a LF Challenge (a Segunda Divisão Espanhola), no Melilla, quinto colocado na última temporada e clube já defendido no passado por Alana Gonçalo e Letícia Rodrigues.

Ao lado da brasileira já estão confirmadas até o momento no clube espanhol a argentina Macarena D'urso e a caçula do clã Hernangomez, Andrea, ex-companheira de Izabela Nicoletti na NCAA.


quarta-feira, 23 de julho de 2025

O Mundial Sub-19 da Tchéquia - Por Lucas Pacheco

Finalizado no último domingo, o Mundial sub 19 confirmou mais uma vez a supremacia estadunidense no basquete feminino. A potência conquistou o tetracampeonato consecutivo; nas últimas onze edições, os Estados Unidos somam dez ouros e uma prata. Apresentando mais uma geração brilhante no cenário mundial, não parece estar perto do fim o domínio na modalidade.


A seleção trucidou suas adversárias na fase de grupos e nas oitavas-de-final, tendo que esperar até as quartas para encontrar uma rival à altura. A partida mais difícil e disputada na campanha dourada não podia ter outra adversária que não a França, outra potência do basquete que forma ótimos prospectos geração após geração. Único jogo com diferença em dígitos simples, a França reproduziu na categoria sub 19 o mesmo perigo imposto às americanas no adulto. 


As duas principais escolas da atualidade anteciparam a final devido à derrota francesa na fase de grupos perante a Austrália. O revés jogou a França para o chaveamento dos Estados Unidos e tirou a chance de ambas alcançarem o pódio. No melhor jogo do torneio, os EUA precisaram de muito suor e intensidade coletivas, além do talento da MVP do Mundial (a ala-pivô Saniyah Hall saiu-se com 26 pontos e 6 rebotes) e de sua companheira no quinteto ideal (a pivô Sienna Betts). Frente a uma seleção tão atlética e fundamentada quanto a sua, os talentos individuais precisaram aparecer para sacramentar a vitória por 70 x 65.


Saniyah Hall cresceu na reta decisiva da competição e ganhou a disputa interna pelo prêmio de MVP; com 1,85 e 16 anos, ela exemplifica uma tendência desta edição do Mundial. Desfalcadas de jogadoras com idade para participar do sub 19, muitas das quais já figuram nas seleções adultas (como as espanholas Awa Fam e Iyana Martin, a chinesa Zhang Ziyu,  a japonesa Kokoro Tanaka), as seleções anteciparam o desenvolvimento da geração seguinte. Não apenas Saniyah Hall, a seleção estadunidense contou ainda com Jerzy Robinson (MVP do sub 17 do ano passado) e Sydney Douglas, todas com idade para o próximo Mundial sub 19, de 2027.


O sinal é claro: com essa idade, as protagonistas já jogam com(o) adultas. Outra jogadora do quinteto ideal, a espanhola Somto Okafor também é elegível para a próxima edição da categoria.

 

Com a França fora das semi-finais, quem se beneficiou foram as australianas. A tradicional seleção mostrou que segue formando novas gerações em condições de competir; venceram a França na fase de grupos e, após um susto nas quartas (quando venceram a Hungria na prorrogação), ganharam do Canadá para garantir a vaga na final e a prata. Com um basquete repleto de fundamentos e muito físico, assentado  na defesa pressionada, o coletivo se sobressaiu. A ala-armadora Bonnie Deas cavou seu lugar no quinteto ideal, mas não se engane - há muito talento no elenco (atenção para Madison Ryan, com seu QI altíssimo, e Sitaya Fagan, com sua velocidade e seu arremesso cada vez mais polido, outras elegíveis para o Mundial de 27).


A Espanha, desfalcada das estrelas dessa geração, conquistou um honroso bronze ao derrotar o Canadá, seleção apontada como grande candidata a bater de frente com os EUA. Para isso, porém, precisaria derrotar as outras potências, tarefa à qual seguidas gerações vêm falhando. Mesmo liderada por Syla Swords, presença constante na seleção adulta e egressa de participação olímpica em Paris, o Canadá caiu na hora decisiva. A despeito do resultado decepcionante, apresentou um elenco extremamente atlético e veloz, capaz de quebrar adversárias vacilantes. 


A real disputa por posições começa depois das cinco seleções de ponta do basquete feminino mundial (EUA, Austrália, Espanha, Canadá e França), as quais comprovaram que seguirão no topo por um bom tempo. Também no segundo escalão do Mundial, o padrão do adulto se mantem, com seleções européias sempre competitivas e alguns destaques individuais bem amparados por coadjuvantes cientes de suas limitações. Hungria, Portugal (em sua estreia na categoria, ficou na sétima posição graças à promessa no garrafão, a pivô Clara Silva) e Israel (décima colocação graças à pontuação e à mira da voluptuosa ala Gal Raviv) provam que o intercâmbio visto no continente colhe seus frutos.


Entre as seleções asiáticas, a China sentiu a falta de sua referência técnica no garrafão; já o Japão, praticando o mesmo basquete visto em todas as categorias (caracterizado por defesa pressionada e veloz, capaz de dobrar em qualquer canto da quadra e por um ataque de muita movimentação e alto volume de arremessos de três), terminou na sexta posição, logo atrás do quinteto de elite. Independente da falta de estatura, as japonesas provaram ao mundo a possibilidade de um basquete coletivo e inteligente.


O continente africano, já com poucas vagas (2), se viu desfalcada de sua campeã continental. Mali não obteve os vistos de viagem necessários e, por razões extra-esportistas, não participou do torneio; não foi a primeira vez que as malinesas sofreram por esse motivo. Sem que a Fiba demonstre muita preocupação em desperdiçar uma geração inteira, o basquete africano sai prejudicado, ameaçando a evolução dos últimos anos.






Por fim, o Brasil. No fim, o Brasil, que venceu tão somente sua rival continental (Argentina) para se livrar da lanterna. Nos últimos três Mundiais da categoria, nossa seleção soma míseras duas vitórias, sem ultrapassar a décima quarta posição, muito pouco para um país tão tradicional no basquete. O resultado reflete o sucateamento cada vez mais profundo da formação, do circuito de base; com pouquíssimos clubes formadores, sem apelo de público e investimento reduzido, as praticantes escasseiam e o poço se aprofunda a cada nova competição.


Se o passado recente não trazia grandes expectativas para o Mundial, o elenco possuía promessas mais fortes que os elencos pregressos. Seguindo a tendência mundial, as duas protagonistas (Ayla McDowell e Manu Alves) participaram do vice da Americup adulta; tal qual as potências, dispúnhamos de jogadoras elegíveis para 2027 (Julia Preis e Mica). Nada que fosse bem aproveitado pela comissão técnica liderada por Leo Figueiró. Ao invés de produzir um coletivo coeso e intenso, vimos um ataque centrado em pick-and-roll e pouco cuidado com a bola.


Muito parecido ao padrão da seleção adulta, bem como ao basquete do NBB (de onde Figueiró foi fisgado), o lado defensivo deixou muito a desejar. Sem postura no 1x1, sem cobertura e movimentação, sem comunicação e baixíssima intensidade, a defesa foi o calcanhar de aquiles de um elenco promissor para nossos padrões recentes e a grande responsável por derrotas que poderiam ser evitadas. Perdemos para o Japão (quinta colocada) nas oitavas, depois de um início equilibrado, sem prevalecer nossa altura e força; perdemos para a Coréia do Sul por apenas 7 pontos; perdemos para a Tchéquia por 5 pontos.


Se a CBB não rever a preparação, repetiremos o fracasso nas edições vindouras. Uma formação com muitas lacunas mereceria um longo período  de maturação, com toda a comissão disponível - o contrário do que aconteceu. As mudanças na rotação durante a competição apenas comprovam a falta de planejamento. Sem mudança de postura (a transição defensiva foi um desastre, sem qualquer conserto), não adiantou trocar jogadoras que apenas completam o quinteto.


Durante o ciclo de formação desse time, as jogadoras passaram por um comando técnico diferente a cada torneio, condição pouco auspiciosa para compensar a formação falha. Julia Preis mostrou flashes promissores, assim como a armadora Micaela, que devem compor o próximo ciclo na categoria; ambas, porém, precisam de muito trabalho técnico e físico. Nosso último grande resultado na base, no já distante 2011, não surgiu do nada, antes fruto de longo trabalho junto ao elenco, propiciado pela CBB. O caminho é conhecido, resta trilhá-lo.


segunda-feira, 7 de julho de 2025

Prata de Pokey na AmeriCup aponta caminhos e desafios para o futuro da seleção brasileira


A seleção brasileira feminina de basquete terminou com a medalha de prata na AmeriCup 2025 ao perder a final para a seleção americana (92-84).

Foi o primeiro torneio sob o comando da treinadora americana Pokey Chatman, a nova aposta da Condeferação Brasileira de Basquete para devolver a seleção à disputa de Mundiais e Olimpíadas depois dos fracassos em 2018, 2020, 2022 e 2024.

Uma vitória ontem, 06 de julho de 2025, teria encerrado esse incômodo jejum. A derrota empurrou o Brasil para um novo qualificatório programado para março de 2026 com sede e adversários ainda indefinidos.

A campanha nessa competição e também nos passos iniciais desse processo (amistosos contra equipes da WNBA e contra a seleção canadense) aponta motivos para comemoração e também para preocupação, de forma que é difícil simplificar uma análise de uma modalidade com problemas tão complexos como o basquete feminino brasileiro. É injusto que a "solução" da seleção adulta desconsidere, por exemplo, a falência da base e os problemas da liga local. 

Mas, enfim, comecemos com as boas novas.

A chegada de Pokey Chatman e sua exigência doce e objetiva fizeram muito bem ao basquete da seleção. O time se reconciliou com o esmero na defesa e apresentou um ataque muito mais criativo e coletivo. 

Considerando os confrontos mais recentes com a Argentina, que incluem o da Americup anterior e uma vitória e uma derrota (ambas dramáticas) nas finais dos dois últimos Sul-Americanos, as duas vitórias de Santiago foram incrivelmente mais sólidas.

De forma geral, inclusive, as atuações brasileiras nessa Americup são superiores tecnica e taticamente a edição anterior, mesmo que nela o Brasil tenha conquistado o ouro.

Essa nuvem otimista se traduz em quadra pelo ótimo desempenho de Damiris Dantas, Kamilla Cardoso e Bella Nascimento.

Jogadora com quinze anos de seleção adulta, Damiris (32 anos) é nome consolidado no time, mas fez sua melhor atuação com a camisa da seleção.  Além do auge técnico, esteve bem na função de capitã e extremamente segura.

Mais jovem, Kamilla (24 anos) é uma presença colossal e espalhou sua dominância incontestável por todo o torneio. Acho que o único detalhe para a pivô seria uma busca por maior controle sobre as faltas cometidas, que comprometeram bastante a sua participação e o resultado do Brasil na final.

Quando Kamilla se tornou uma realidade na seleção, eu sempre considerei que talvez nós (brasileiros, comunidade do basquete) não a merecêssemos, já que tão pouco o país fez pela sua formação como jogadora. Mas já que os deuses do basquete assim quiseram, como eu os agradeço!

Essa mesma sensação, em intensidade maior, acompanha a inesperada e bela aparição de Bella Nascimento (22 anos) na seleção. Que acontecimento! A nova ala titular teve uma evolução espantosa ao longo do torneio e tem um potencial imenso de crescimento a partir de uma maior evolução física após sua estreia no basquete profissional. 

A dependência desses três nomes passou menos evidente ao longo do torneio, mas ficou escancarada na final. Dos oitenta e quatro pontos do Brasil, incríveis setenta e oito (92%) foram marcados pelo trio: Damiris (35), Bella (24) e Kamilla (19). Vitória, com 5, e Aline, com 1, foram as únicas outras jogadoras a pontuar. 

Até a decisão de domingo, o trio Damirs-Bella-Kamilla respondia por 58% da produção ofensiva brasileira no torneio. 

Ao longo da competição, Vitória (29 anos), Aline (28 anos) e Manu de Oliveira (25 anos) desempenharam um papel diferente do que habitualmente se espera delas em seus clubes ou nas passagens anteriores pela seleção. Menos envolvidas com a produção ofensiva, concentraram-se mais na defesa e em criar condições para que o time jogasse bem. Embora o desempenho ofensivo das três na final tenha sido ruim, acredito que compuseram bem um núcleo mais veterano que ganhou a confiança de Pokey e permitiu que o esquema funcionasse. Imagino que continuarão a ser lembradas em futuras convocações.

Menos animador é o cenário na armação. Não se trata de uma crítica pessoal às duas jogadoras que representaram o país na competição, respaldadas por uma série de convocações anteriores, mas a constatação de um do vértice mais frágil do time e o ponto mais delicado para a sequência do trabalho. Cacá (33 anos) e Alana (30 anos), ambas entre as melhores em atuação na LBF, foram em geral imprecisas em suas funções na condução do time na competição. Há poucas opções no país, além das duas cortadas na fase de preparação: Albiero, 27 anos e Bea, 29 anos e por isso, uma expectativa pela confirmação de uma naturalização de uma estrangeira, intenção anteriormente já cogitada pela CBB. Parece improvável que isso aconteça até março, de forma que considero que Pokey deveria se envolver pessoalmente com a avaliação de outros nomes, o que imagino que deva ocorrer a partir das competições nos próximos meses: Mundial Sub19, Universíade e Global Jam, bem como, em menor escala, dos desempenhos na fase final da LBF.

O saldo também não me parece muito favorável para Thayná (29 anos), sempre cercada de muita expectativa pelas suas atuações dominantes na LBF. Quando recebeu as oportunidades em quadra, pareceu faltar à atleta a intensidade necessária para vôos em nível mais alto. Depois de receber dezoito minutos na semifinal, a atleta não teve condições físicas de jogo na final.

Aos 24 anos, Catarina Ferreira apareceu muito bem na primeira fase de preparação, mas pareceu excessivamente inibida na competição oficial. 

Manu Alves (19 anos) e Ayla (18 anos) foram apostas da comissão técnica que pareceram muito precoces para o atual estágio de desenvolvimento do basquete de ambas. Talvez tivesse sido melhor a opção por atletas que pudessem completar melhor o time: uma terceira armadora e uma quarta pivô com condições de revezamento efetivo.

Considerando que foi o passo inicial do trabalho de Pokey e a urgente necessidade de renovação, acredito que o saldo seja positivo. O trabalho precisa continuar e é a partir da postura desses três atores (treinadora, jogadoras e confederação) que esse começo promissor pode se confirmar como uma real mudança de status do Brasil no cenário internacional.