segunda-feira, 7 de julho de 2025

Prata de Pokey na AmeriCup aponta caminhos e desafios para o futuro da seleção brasileira


A seleção brasileira feminina de basquete terminou com a medalha de prata na AmeriCup 2025 ao perder a final para a seleção americana (92-84).

Foi o primeiro torneio sob o comando da treinadora americana Pokey Chatman, a nova aposta da Condeferação Brasileira de Basquete para devolver a seleção à disputa de Mundiais e Olimpíadas depois dos fracassos em 2018, 2020, 2022 e 2024.

Uma vitória ontem, 06 de julho de 2025, teria encerrado esse incômodo jejum. A derrota empurrou o Brasil para um novo qualificatório programado para março de 2026 com sede e adversários ainda indefinidos.

A campanha nessa competição e também nos passos iniciais desse processo (amistosos contra equipes da WNBA e contra a seleção canadense) aponta motivos para comemoração e também para preocupação, de forma que é difícil simplificar uma análise de uma modalidade com problemas tão complexos como o basquete feminino brasileiro. É injusto que a "solução" da seleção adulta desconsidere, por exemplo, a falência da base e os problemas da liga local. 

Mas, enfim, comecemos com as boas novas.

A chegada de Pokey Chatman e sua exigência doce e objetiva fizeram muito bem ao basquete da seleção. O time se reconciliou com o esmero na defesa e apresentou um ataque muito mais criativo e coletivo. 

Considerando os confrontos mais recentes com a Argentina, que incluem o da Americup anterior e uma vitória e uma derrota (ambas dramáticas) nas finais dos dois últimos Sul-Americanos, as duas vitórias de Santiago foram incrivelmente mais sólidas.

De forma geral, inclusive, as atuações brasileiras nessa Americup são superiores tecnica e taticamente a edição anterior, mesmo que nela o Brasil tenha conquistado o ouro.

Essa nuvem otimista se traduz em quadra pelo ótimo desempenho de Damiris Dantas, Kamilla Cardoso e Bella Nascimento.

Jogadora com quinze anos de seleção adulta, Damiris (32 anos) é nome consolidado no time, mas fez sua melhor atuação com a camisa da seleção.  Além do auge técnico, esteve bem na função de capitã e extremamente segura.

Mais jovem, Kamilla (24 anos) é uma presença colossal e espalhou sua dominância incontestável por todo o torneio. Acho que o único detalhe para a pivô seria uma busca por maior controle sobre as faltas cometidas, que comprometeram bastante a sua participação e o resultado do Brasil na final.

Quando Kamilla se tornou uma realidade na seleção, eu sempre considerei que talvez nós (brasileiros, comunidade do basquete) não a merecêssemos, já que tão pouco o país fez pela sua formação como jogadora. Mas já que os deuses do basquete assim quiseram, como eu os agradeço!

Essa mesma sensação, em intensidade maior, acompanha a inesperada e bela aparição de Bella Nascimento (22 anos) na seleção. Que acontecimento! A nova ala titular teve uma evolução espantosa ao longo do torneio e tem um potencial imenso de crescimento a partir de uma maior evolução física após sua estreia no basquete profissional. 

A dependência desses três nomes passou menos evidente ao longo do torneio, mas ficou escancarada na final. Dos oitenta e quatro pontos do Brasil, incríveis setenta e oito (92%) foram marcados pelo trio: Damiris (35), Bella (24) e Kamilla (19). Vitória, com 5, e Aline, com 1, foram as únicas outras jogadoras a pontuar. 

Até a decisão de domingo, o trio Damirs-Bella-Kamilla respondia por 58% da produção ofensiva brasileira no torneio. 

Ao longo da competição, Vitória (29 anos), Aline (28 anos) e Manu de Oliveira (25 anos) desempenharam um papel diferente do que habitualmente se espera delas em seus clubes ou nas passagens anteriores pela seleção. Menos envolvidas com a produção ofensiva, concentraram-se mais na defesa e em criar condições para que o time jogasse bem. Embora o desempenho ofensivo das três na final tenha sido ruim, acredito que compuseram bem um núcleo mais veterano que ganhou a confiança de Pokey e permitiu que o esquema funcionasse. Imagino que continuarão a ser lembradas em futuras convocações.

Menos animador é o cenário na armação. Não se trata de uma crítica pessoal às duas jogadoras que representaram o país na competição, respaldadas por uma série de convocações anteriores, mas a constatação de um do vértice mais frágil do time e o ponto mais delicado para a sequência do trabalho. Cacá (33 anos) e Alana (30 anos), ambas entre as melhores em atuação na LBF, foram em geral imprecisas em suas funções na condução do time na competição. Há poucas opções no país, além das duas cortadas na fase de preparação: Albiero, 27 anos e Bea, 29 anos e por isso, uma expectativa pela confirmação de uma naturalização de uma estrangeira, intenção anteriormente já cogitada pela CBB. Parece improvável que isso aconteça até março, de forma que considero que Pokey deveria se envolver pessoalmente com a avaliação de outros nomes, o que imagino que deva ocorrer a partir das competições nos próximos meses: Mundial Sub19, Universíade e Global Jam, bem como, em menor escala, dos desempenhos na fase final da LBF.

O saldo também não me parece muito favorável para Thayná (29 anos), sempre cercada de muita expectativa pelas suas atuações dominantes na LBF. Quando recebeu as oportunidades em quadra, pareceu faltar à atleta a intensidade necessária para vôos em nível mais alto. Depois de receber dezoito minutos na semifinal, a atleta não teve condições físicas de jogo na final.

Aos 24 anos, Catarina Ferreira apareceu muito bem na primeira fase de preparação, mas pareceu excessivamente inibida na competição oficial. 

Manu Alves (19 anos) e Ayla (18 anos) foram apostas da comissão técnica que pareceram muito precoces para o atual estágio de desenvolvimento do basquete de ambas. Talvez tivesse sido melhor a opção por atletas que pudessem completar melhor o time: uma terceira armadora e uma quarta pivô com condições de revezamento efetivo.

Considerando que foi o passo inicial do trabalho de Pokey e a urgente necessidade de renovação, acredito que o saldo seja positivo. O trabalho precisa continuar e é a partir da postura desses três atores (treinadora, jogadoras e confederação) que esse começo promissor pode se confirmar como uma real mudança de status do Brasil no cenário internacional.

Nenhum comentário: