sábado, 4 de outubro de 2014

Renovação, desequilíbrio emocional e mão descalibrada: o Brasil no Mundial

Erika seleção brasileira de Basquete (Foto: Divulgação / FIBA)



O sonho do bicampeonato chegou ao fim. Vinte anos após a maior glória do basquete feminino, o Brasil viu a França, vice-campeã olímpica e europeia, acabar com as chances do seu segundo título nas oitavas de final do Mundial da Turquia. Com o amargo revés, a equipe comandada por Luiz Augusto Zanon se despediu em Ancara com três derrotas (República Tcheca, Espanha e França) e apenas uma vitória (Japão). O triunfo no último jogo pela fase de grupos evitou o maior vexame da história em Mundiais e renovou a esperança de bons resultados com uma grande atuação de Patricia, que foi a cestinha, com 27 pontos. Até então, as sucessivas falhas de arremesso, em contraste com a pontaria afiada apresentada nos treinos, era o que mais chamava a atenção. Apesar de a defesa ter funcionado, principalmente, nos primeiros quartos, o aproveitamento deixou a desejar: 38.3% nas cestas de dois pontos e 27% nas de três. 
Com um elenco jovem e renovado, com média de idade der 25 anos, o time verde-amarelo terminou a campeonato em 12º lugar entre 16 países, igualando o seu pior desempenho, em 1975, na Colômbia - entre 13 participantes, com duas vitórias e cinco derrotas. 
- O desequilíbrio psicológico acabou desencadeando um aproveitamento ruim nos arremessos, mas a nossa defesa funcionou e conseguimos jogar de igual para igual com grandes esquipes da Europa. O ataque foi o maior problema. Estou com um gosto amargo e triste por estar indo embora, queria ter ficado mais, mas me sinto muito agradecido por tudo o que essas meninas fizeram. Elas precisam continuar evoluindo e jogando o basquete que o mundo joga, não que é jogado nos seus clubes no Brasil. Falta experiência internacional e intercâmbios para que elas possam crescer ainda mais. São necessários mais tempo com a seleção e mais jogos internacionais - analisou Zanon. 
A seleção brasileira garantiu a vaga na Copa do Mundo ao conquistar a medalha de bronze na Copa América, no ano passado, em Xalapa, no México. Este já é segundo Mundial seguido que o Brasil não consegue superar uma seleção europeia. Em 2010, na República Tcheca, perdeu para Espanha, Rússia e as anfitriãs. A última vez que venceu uma equipe do Velho Continente foi em 2006, em São Paulo. Na ocasião, Iziane anotou 27 anos na vitória sobre a República Tcheca, que ainda contou com a presença de Érika e Adrianinha, as duas maiores referências para as jovens em 2014. Além das veteranas, apenas Damiris tinha um Mundial no currículo. Das 12 que viajaram à Turquia, nove eram estreantes. As dificuldades ofensivas e de fundamento foram as principais deficiências da renovada seleção, que chegou desacreditada, mas teve belos lampejos, fazendo jogo duro em alguns momentos diante das grandes potências do basquete. A falta de experiência e o desequilíbrio emocional acabaram se tornando os vilões do time. 
Campeã mundial em 1994, na Austrália, a seleção brasileira está passando por um processo de renovação e veio com nove estreantes no grupo de 12 atletas. O ouro conquistado por Hortência, Paula e Janeth trouxe a esperança de dias melhores para o país. No entanto, a falta de um trabalho nas categorias de base, um plano de desenvolvimento e uma liga nacional fraca, com clubes sem apoio, fez com que o basquete entrasse em crise. Depois disso, foram um quarto lugar (1998), um sétimo (2002), um outro quarto (2006) e um nono (2010). 
A campanha nas Olimpíadas de Londres 2012, por sua vez, foi um fracasso. Eliminada na primeira fase, evitou a lanterna ao conquistar a sua primeira e única vitória sobre a Grã-Bretanha por 78 a 66. Apesar do fiasco, a pivô Érika, destaque do Atlanta Dream na WNBA e uma das melhores do mundo, salvou a reputação brasileira ao terminar o torneio como cestinha, com média de 16,2 pontos por partida. As Olimpíadas marcaram a despedida de Adrianinha, que desistiu da aposentadoria no ano passado a pedido de Zanon, para servir como modelo para as mais jovens. No entanto, após a eliminação para a França, ela anunciou o seu último adeus. 
Com quatro Mundiais e quatro Olimpíadas no currículo, incluindo o bronze nos Jogos de Sidney 2000, a "baixinha" de 1,68m deixa a seleção com a sensação de dever cumprido após 17 anos a serviço do país.  Vestindo a amarelinha, a armadora de 35 anos disputou 127 jogos e marcou 1.113 pontos. Adrianinha, que foi convocada pela primeira vez aos 18, inicia uma nova fase na carreira. Além de defender as cores do América Recife como jogadora na próxima temporada da Liga de Basquete Feminino (LBF), ela será treinadora em um projeto do clube pernambucano para crianças entre oito e 12 anos. 
- Foi uma honra poder participar e contribuir com o processo de renovação da seleção. Eu voltei para ajudar e dei o meu máximo, mas, agora o anúncio da despedida é para valer. Eu aprendi muito com essas meninas e é muito gratificante vê-las evoluindo com tanta dedicação. Elas são o futuro do basquete. Estou com 35 anos, tenho uma filha de oito e quero ter mais um filho. Quando voltar para o Brasil, vou começar um projeto muito legal com crianças. Fiz um curso de treinadora e vou dar aulas para as crianças. Ao mesmo que vou ensinar, vou aprender e estou muito animada. Vai ser diferente estar do outro lado. Às vezes, olho os treinador e fico até com pena (risos), mas vai ser muito bom. Quero ajudar o basquete de outra forma a partir de agora - disse Adrianinha. 
Com a vitória sobre o Brasil nas quartas de final, a França irá enfrentar um rival quase imbatível e forte candidato ao título, os Estados Unidos, atuais campeões olímpicos e mundiais - em 16 edições de Mundiais, as americanas venceram oito vezes. O Canadá se classificou ao superar a República Tcheca e agora pega a Austrália. Já a China eliminou Belarus e mede forças com a Espanha. A Turquia, por sua vez, enfrenta a Sérvia, que despachou Cuba.
Fonte: Globoesporte.com

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