sábado, 4 de outubro de 2014

Jóia, Damiris revela drama que quase a fez desistir do Mundial e da WNBA

Muitos podem ter se perguntado o que aconteceu com Damiris no Mundial da Turquia. Apontada como uma joia da nova geração, titular da seleção brasileira e do Minnesota Lynx na WNBA, a forte liga americana de basquete, a pivô de 1,90m teve um desempenho abaixo do esperado e sequer pontuou no amargo revés, por 61 a 48, para a França pelas oitavas de final, que custou a eliminação do Brasil. O que poucos sabem, no entanto, é que fora das quadras ela viveu um dos piores momentos de sua vida há poucas semanas e chegou a pensar em desistir de viajar com a delegação verde-amarela. Cogitou abandonar até a promissora carreira nos Estados Unidos. De família humilde, a paulista de Ferraz de Vasconcelos foi criada pelos tios após a morte da mãe. Dona Aparecida, que sempre incentivou os seus passos no esporte e era como uma mãe, faleceu quando a jovem, de 21 anos, estava em Minneapolis, antes do início da Copa do Mundo. 
Damiris não conseguiu voltar ao Brasil para se despedir da tia e foi direto para a Turquia. Tímida e reservada, revelou o drama apenas aos mais próximos e tentou superar o trauma dentro de quadra. Naturalmente, não apresentou o seu melhor basquete. Medalhista de bronze e eleita MVP (melhor jogadora) do Mundial sub-19 do Chile, em 2011, ela frustrou as expectativas que foram depositadas em suas costas e ainda recebeu duras críticas de quem não sabia a provação que aquela menina estava passando ali, calada no seu canto. A despedida na cidade de Ancara, capital turca, foi ainda mais dolorosa para a jogadora. 
- Quando eu soube da notícia nos Estados Unidos, não queria nem continuar a jogar, queria largar a WNBA e nem me apresentar na seleção. Queria estar perto da minha família porque não está fácil para a galera lá em casa, mas isso foi uma coisa que me ajudou, e o time me abraçou. A perda da minha tia está sendo muito difícil, assim como foi a perda da minha mãe, que nem me viu jogar. Meu psicológico ainda está abalado, mas eu me apresentei porque a minha tia foi uma pessoa que sempre me apoiou muito, em todos os momentos da minha vida, me acompanhava em todos os jogos desde as categorias de base e estava sempre comigo - contou a pivô.
Descoberta em uma peneira de 80 meninas em Santo André (SP) por Janeth Arcain, a quem chama carinhosamente de "Tia Jane", Damiris deixou para trás o futebol, o vôlei, a dança e o xadrez e vem sendo lapidada desde cedo. As quatro horas de trem diárias de Ferraz de Vasconcelos a Santo André e as dificuldades financeiras para comprar até mesmo um par de tênis nunca desanimaram a pivô. E o esforço dos tios aposentados, que criaram ela e as irmãs (uma delas com paralisia cerebral), foi recompensado. 
- Quando eu comecei, era tudo muito difícil porque eu venho uma família humilde. E ela (tia) se desdobrava para me dar um lanche, me dar um tênis e a minha condução. E eu vim também porque defender o meu país é uma coisa que vou fazer sempre da melhor forma possível. Talvez, eu não tenha ido bem nesse Mundial, mas fiz o que pude nesse momento que estou passando e vou continuar trabalhando. Fiz isso por mim, pelo Brasil e pela minha tia. Sei que aonde ela estiver, vai estar muito orgulhosa de mim - disse a joia da seleção brasileira. 
Aos 19 anos, foi escolhida na 12ª posição do Draft da WNBA, pelo Minnesota Lynx, como a mais jovem do plantel de jogadores aptas a entrar na liga americana de basquete. A franquia de Minneapolis era a atual campeã da WNBA, conquistando o título pela primeira vez em 2011. Como melhor equipe, poderia escolher os destaques da NCAA, a forte liga universitária de basquete dos Estados Unidos, mas apostou na brasileira. Damiris virou a menina dos olhos da técnica Cheryl Reeves, que se surpreendeu com o desempenho da pivô brasileira no Mundial sub-19. Com 188 pontos marcados em nove jogos, uma média de 20,8 por partida, ela liderou o país na conquista do bronze. 
As boas atuações transformaram a promessa em realidade. Apesar da pouca idade, ela mostrou maturidade ao decidir evoluir antes de ingressar na WNBA. Reeves esperou. Na época, Damiris estava no Celta de Vigo, da Espanha, e voltou ao Brasil para disputar a Liga de Basquete Feminino (LBF). No ano seguinte, levantou a taça do torneio nacional pelo Americana (SP). Só depois da conquista fez as malas para os Estados Unidos, onde entrou como titular do Minnesota Lynx, ao lado das campeãs olímpicas Siemone Augustus, Lindsay Whaleen e Maya Moore. Com o fim da temporada da liga, a jovem ainda não definiu o seu futuro. A única coisa que sabe é que deseja voltar o quanto antes ao Brasil para ficar ao lado da família no momento difícil.
- É difícil o atleta aceitar uma derrota, sabemos do nosso potencial. Eu acredito em cada uma de nós, em mim e na comissão técnica. Vamos voltar e esfriar a cabeça. Sabemos onde queremos chegar e que não será fácil. O Mundial representou um aprendizado e um amadurecimento muito grandes, a cada treino, a cada jogo, a cada dia. A derrota é muito dolorosa. Esse é um grupo que trabalhou muito. Eu cheguei depois (com o fim da temporada na WNBA) e consegui me encaixar muito fácil. Estava todo mundo muito afim. Mas sei que este não é o fim, é só o começo. É uma geração que quer marcar o seu nome na história. Não termina aqui. 
Fonte: Globoesporte.com

Um comentário:

Anônimo disse...

Se foi tem que comparecer, não usar problemas familiares para justificar o mau desempenho.

Célio