sábado, 4 de outubro de 2014

Basquete feminino do Rio de Janeiro: entre a paixão e a incerteza



Maria Victoria Matias Antunes tem 18 anos, cursa o ensino médio e joga basquete pelo Municipal. Há nove anos, a armadora sonha ser atleta. Mas, diante das carências do esporte no Rio, balança entre a quadra e os tribunais.

— Faltam apoio e estrutura. Somos sub-19, mas o clube nos inscreveu no adulto para ganharmos rodagem. Já tive mais vontade de ser jogadora, mas hoje não tenho tanta convicção. É mais certo cursar direito que tentar ser jogadora.

Ela não é a única entre a paixão e a incerteza. No Rio, garrafões não estão mais tão cheios. O Estadual masculino reúne Flamengo, Macaé e Liga Super Basquete; e o feminino, Abasca/Cachoeiras de Macacu, Abig/Jequiá, Germania/VemSer, Mangueira e Municipal.

Aos 17 anos, a armadora Raíssa Costa joga pela Abasca, a Associação Basquete Cachoeirense, de Cachoeiras de Macacu, a 100km do Rio. Nas quadras desde 2009, lamenta a falta de apoio da prefeitura de lá.

— Sem paixão, não dá. O técnico (Fábio) tira dinheiro do bolso, mas quero chegar ao topo. Dificuldades desanimam, mas é o meu sonho — diz.

O esporte atrai Ivana Silva, de 26 anos, da Mangueira; Dominique Gonçalves, de 24, do Germânia; e Bruna Gonçalves, de 25, do Jequiá.

— A situação piorou muito de dez anos para cá, infelizmente. No Rio, falta incentivo ao esporte, ao contrário de São Paulo, Brasília, Belo Horizonte. Há alguns anos, Vasco, Fluminense e Botafogo tinham times femininos — lamenta Bruna, que cursa educação física.

Armadora da Mangueira, Ivana foi profissional até 2013, no Presidente Venceslau (SP):

— Havia apoio da prefeitura e patrocínio. Não dá para viver de basquete no Rio.

VIVENDO DE ABNEGADOS

Estagiária de educação física, Dominique acha difícil atrair crianças para as escolinhas:
—A procura é muito baixa, talvez devido à internet.

O técnico Gabriel Dutra, do Municipal, concorda.

— O mercado exige qualificação, e pais não deixam os filhos fazer esporte, para estudar. Não há material humano na base. Vivemos de abnegados — enfatiza. — O Pan-2007 passou, e o esporte no Rio não melhorou. Vem a Rio-2016, e nada está acontecendo. As meninas da base olham para cima e não veem nada (chances).

A recente eliminação da seleção feminina do Mundial, na Turquia, na última quarta-feira (França 61 a 48), expõe esses problemas. O Estadual Feminino terá neste sábado no Municipal: Mangueira x Germânia, 14h; e Municipal x Jequiá, 15h30m. O Abasca folga. A realidade está distante dos anos 90. Mas para o presidente da Federação (Fberj), Álvaro Lionides, o feminino dá sinais de esperança:

— Pela primeira vez, o Estadual Feminino, com cinco times, supera o masculino, com três, e até o Paulista feminino, com quatro (Americana, Presidente Venceslau, Rio Claro e Santo André).

Fonte: O Globo


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