O jogo contra Cuba no Torneio Pré-Olímpico Mundial de Madri definiu qual seleção iria disputar os Jogos Olímpicos de Pequim. Num momento de tensão e nervosismo, a ala Micaela Martins Jacintho teve concentração e frieza para converter os quatro lances-livres, que garantiram a vaga para o Brasil. Uma das mais experientes do grupo com 29 anos, a carioca Micaela, de Miracema, vai disputar a primeira Olimpíada e quer voltar da China com uma medalha. As australianas e russas não assustam a jogadora, que acredita no trabalho em equipe e numa defesa forte para chegar ao pódio.
Que analise você faz dos jogos do Torneio Pré-Olímpico?
O grupo cresceu bastante. Tivemos a ausência da Érika e da Karen por lesão e depois tivemos a situação da Iziane. Acho que esses acontecimentos fizeram com que o grupo amadurecesse em pouco tempo. Fizemos um bom jogo contra a Espanha e ganhamos. Não foi uma apresentação perfeita, mas fizemos uma ótima defesa, anulando as principais jogadoras espanholas. Depois perdemos para a Bielorrússia, que foi um balde de água fria sobre nós. Contra as angolanas, estávamos péssimas. Apesar da vitória, não jogamos bem. Ainda não tínhamos digerido a derrota para as bielorrussas e os problemas que aconteceram. Ainda bem que o adversário era Angola, porque se fosse o Japão, com certeza o jogo seria muito mais complicado. Na disputa da última vaga, deixamos tudo para trás. Mantivemos a cabeça no nosso desempenho. Era tudo ou nada. E graças a Deus, conseguimos a vaga.
Qual foi o maior desafio do Brasil na competição?
Nós superamos muita coisa. Nem mesmo as mais experientes tinham passado por situações como as que tivemos em Madri. Eu, por exemplo, não joguei bem o Sul-Americano. Enfrentei problemas de saúde na minha família, que me abalaram bastante. E por mais que sejamos profissionais, não somos máquinas. Tem coisas, que por mais que estejamos preparadas para enfrentar, na hora que acontecem, desabamos.
Foi importante usar o Sul-Americano como parte da preparação da equipe em busca da vaga olímpica?
Foi muito bom. O grupo precisava de partidas oficiais. Por mais que os treinos sejam fortes, é importante entrar no clima de jogo, de competição. É outra coisa entrar em quadra em busca de um título. Os adversários eram mais fracos tecnicamente, mas a energia do jogo é diferente de treino.
Como avalia o seu desempenho nos dois campeonatos?
No Sul-Americano eu reconheço que fui muito mal. A altitude da cidade de Loja não ajudou também. Não respirava direito, não conseguia correr. Recebi notícias que me abalaram emocionalmente. Foi uma soma de várias coisas e não fiz uma boa participação. No Pré-Olímpico, melhorei consideravelmente. De qualquer forma, ajudei o grupo a ser campeão e a conquistar a vaga olímpica.
Como está a expectativa para disputar a sua primeira Olimpíada?
Espero ir bem, me sair melhor do que no Pré-Olímpico. Preciso me convencer de que estou jogando bem, porque ainda acho que posso dar mais. Quero achar o equilíbrio do meu jogo. Tenho um estilo agressivo, defesa forte, contra-ataque rápido e pretendo mostrar isso. Na partida do Pré-Olímpico contra a Espanha, eu fiquei feliz com o meu desempenho e espero sair satisfeita assim em todos os confrontos da Olimpíada.
Na Olimpíada, o Brasil está na mesma chave que Austrália, Bielorrússia, Coréia, Letônia e Rússia. O que você achou do grupo?
É uma chave difícil, mas possível. Austrália e Rússia são as seleções mais fortes, segunda e terceira potências do mundo. As outras estão no mesmo nível. Temos uma equipe mesclada, em construção, mas com condições de brigar por medalha. Nós temos talento, garra, vontade, determinação para ganhar. Se jogarmos concentradas, não perdermos bolas bobas. Se nos empenharmos na defesa forte, com certeza vamos estar no pódio. A gente mata qualquer time com um grande poder defensivo. A própria Bielorrússia ficou tontinha quando apertamos a marcação. E uma roubada de bola no momento certo, tira o moral do adversário e faz a nossa equipe crescer. E é isso que vamos fazer.
Como foi a temporada na Letônia?
Esse segundo ano na Letônia foi bem melhor. Consegui até ir ao cinema. Mas a rotina não muda. É treino, jogo e viagem. Fiz boas amizades. Algumas das jogadoras que atuaram no TTT Riga comigo foram convocadas para a seleção da Letônia e sempre nos encontrávamos no hotel em Madri, durante o Pré-Olímpico. Elas até vestiram a camisa do Brasil para torcer por mim.
O TTT Riga é um time tradicional no basquete feminino. Qual a relação da cidade com o clube, as jogadoras?
O povo lá não é nem frio, é congelado. Não é como nos outros lugares, que as pessoas falam com a gente na rua, dá apoio nas horas difíceis. No Campeonato Nacional, o ginásio só começou a encher na semifinal. Já na Euroliga, ia bastante gente em todas as partidas.
E você volta para jogar mais uma temporada?
Não tenho vontade de voltar. Primeiro por causa do frio. Faz muito frio naquela terra, é de matar. Segundo, para chegar lá é uma viagem de vários dias. Tenho que passar por tantos países, aeroportos, que dá vontade de desistir antes de ir. E terceiro, quero disputar uma competição mais forte. O Campeonato Nacional é bem mais fraco do que na Espanha e na Itália, por exemplo. O que valeu a pena este ano foi que participamos da Euroliga.
Fonte: CBB
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