quarta-feira, 5 de março de 2008

Da clavícula de Iziane à tíbia de Karla



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Ourinhos e Catanduva encerraram na segunda-feira a melhor série final de Campeonato Nacional dos últimos anos. O duelo teve cinco encontros, todas as reviravoltas possíveis e o último jogo foi decisivo no último segundo, em uma prorrogação. Na história de uma década da competição, foi a quarta vez que uma final foi decidida em cinco confrontos (Fluminense 3 x 2 BCN, em 1998; Vasco 3 x 2 Paraná, em 2001 e Americana 3 x 2 Ourinhos, em 2003). O público lotou os ginásios para as finais e muita gente boa se encantou pela disputa, provando que, mesmo maltratado, o basquete feminino ainda exerce seu magnetismo.

Antes das finais, acreditava que Catanduva poderia surpreender. Como talvez aconteceria, caso o time não sofresse o baque de perder Karla, sua atleta referência. O momento de Catanduva era bem melhor que o de Ourinhos. As alterações que o time sofreu após o Paulista foram menos intensas que a do adversário e se encaixaram melhor.

A cubana Ariadna se adaptou muito bem ao esquema veloz de Ferreto. Em pouco tempo, a impressão é de que ela já jogava há muito mais tempo ao lado de Natália e Karla. A dupla, por sinal, encerra o Nacional, mesmo com a derrota, em alta.

Natália fez um campeonato brilhante. A evolução da menina é simplesmente espantosa. Há pouco mais de dois anos, a vi jogar pela primeira vez. Se não me engano, recém-chegada do basquete norte-americano, Natália já era titular do mesmo time de Catanduva. Num mau dia e em começo de carreira, assinalei aqui no blog que: "armadora Natália passou em branco na minha observação". Quando confronto essa primeira Natália de 27/11/05 com a jogadora que vi nessas finais, minha felicidade é enorme. É inexplicável que em um solo tão árido como esse nosso, ainda haja espaço para o crescimento de um basquete tão vivo como o de Natália. Felizmente, Natália não tem se acomodado e tem nos surpreendido. No último Paulista, o time de Catanduva sentiu bastante a ida de Karla à seleção; e o próprio basquete de Natália perdeu qualidade. Nas finais de agora, num salto de maturidade, Natália suportou com habilidade a ausência de Karla e assumiu a responsabilidade com maestria.

Karla fez um campeonato igualmente incrível e o encerrou dando mostras da grande jogadora que é: disputando os dois últimos jogos sob sofrimento físico intenso. A torcida agora é pela recuperação de Karla, para que ela possa ajudar a seleção. Agora não como armadora, como as circunstâncias exigiram no Pré-Olimpico, mas na posição 2.

O restante do time titular também encerra o campeonato valorizado. Fabão executou com perfeição a missão de atuar na posição 4. Sua atenção na defesa, seu senso de coletividade e sua regularidade são notáveis.

A temporada ainda confirma a recuperação de Karina Jacob, também excelente.

No banco de Catanduva, o cenário não é tão animador.

Acho que a menina Laís teve uma boa temporada dentro do possível.

As demais pouco acrescentaram. Esforço à parte, o basquete de Paulinha e Wívian não me seduz. Vívian jogou o Nacional totalmente fora de forma e seu comportamento na final (entrando numa discussão com Paulinha) só reforçam seu comportamento histriônico, que sempre me desagradou em quadra. Se o basquete de Lígia não compromete, seu vigor parece decrescente. Lelê e Tati pouco jogaram e pouco mostraram.

Tetra-campeão, Ourinhos sai fortalecido da disputa, bem como seu técnico Paulo Bassul. Mas o caminho foi excessivamente turbulento. Por vontade própria (as saídas de Cíntia Luz, Lígia e as chegadas de Iziane e Tatiana) ou não (as contusões de Chuca e Tatiane), a temporada foi árdua para o técnico da seleção.

Do fim do Nacional, emerge uma questão delicada, que ultrapassa os limites de Ourinhos. Iziane é uma grande jogadora - isso todos sabemos. Um fenômeno, um talento nato. Não preciso aqui reforçar seu valor, mas só para lembrar: na atual temporada da WNBA, a brasileira foi trocada por uma Roneeka Hodges + a quarta escolha no draft. Não é pouco. Isso tudo Iziane é. E sempre será. No entanto, Iziane não está bem. A contratação da maranhense por Ourinhos foi vista com grande expectativa. "Ourinhos está fazendo um favor à seleção" - comentavam; no sentido de que uma temporada da cestinha ao lado de Paulo Bassul pudesse beneficiar na solidificação de um novo perfil para ela, difreente do apresentado no Chile. Uma Iziane menos precipitada, fominha, afoita; mais consciente do jogo e das jogadoras. Ao final da temporada, a sensação é de que o tiro saiu pela culatra. Cestas à parte, parece difícil domar a fera. O calor, a explosão, a fixação pela cesta parecem ter se acentuado na jogadora de forma exacerbada, com a aposentadoria de Janeth. E se antes, os saracuteios e dribles de Iziane pareciam menos estranhas na frouxidão tática de Barbosa (que ela admitiu preferir); chegam a causar constrangimento agora. De uma maneira tão intensa, que chega a sufocar o basquete de Chuca. Uma jogadora que aparentemente seria um bom complemento à Iziane: fria, obediente, solidária. No entanto, a química na quadra contradiz a teoria. Na presença de Iziane, Chuca naufraga sem a bola e sem a movimentação combinada. Não bastasse isso, Iziane está relapsa na defesa. Na final, o leite azedou de vez. Iziane viu sua média volumosa de pontos, cair pela metade: 13,4. O aproveitamento de 3 pontos não alcançou 30%. O de 2 pontos, ficou nos 40%. O constrangimento maior sobrou para a própria. Contratada a peso de ouro, como grande estrela, Iziane encerrou os jogos finais freqüentado mais o banco que a quadra, numa atitude corajosa e extremamente (imagino) difícil de Bassul. O desconforto da jogadora está estampado no momento da comemoração e registrado nas fotos de divulgação da CBB. Já arrolei algumas hipóteses para esse mau momento de Iziane. Desconfio ainda que a jogadora deve estar muito ansiosa por ainda não ter nenhum título de relevância em seu currículo. Esse Nacional é o primeiro em clubes. Na seleção, há uma Copa América e nada mais. Tudo isso é bastante complicado e temeroso para a seleção, que tem compromissos importantes logo mais. Mas acredito que Iziane tem condições de usar sua genialidade a seu favor, e não contra.

O restante do time titular, vai bem, obrigado.

Vanessa Gattei teve uma série final excepcional. A armadora ganhou bastante maturidade e repertório nos últimos anos, deixando seu talento ofensivo fluir naturalmente e quando necessário.

Muito criticada, Karen é, no entanto, uma jogadora que se garante (com sobras) em nível doméstico. Foi muito importante e equilibrada na conquista. Dedica-se à defesa. Se tudo isso que ela mostrou na temporada pode ser útil à seleção em nível internacional, é algo que só ela mesmo e os técnicos das seleções podem nos mostrar.

Carina é uma jogadora de estilo bastante interessante. Gosto do seu basquete, da sua disciplina, da correção de seus movimentos e arremessos.

Lisdeivi realmente segue inabalável nos garrafões brasileiros, apesar da maratona de jogos, da idade e da ausência de reservas para a sua posição. Na hora do aperto, Lisdeivi esteve lá e passou ilesa pelo teste. De tal maneira, que a CBB resolveu repetir a decisão do ano passado e deu o título de MVP a ela.

No time reserva, Bethânia tem atuado bem nas oportunidades.

Izabela (repito) é uma ótima jogadora. Não fez uma temporada de tanto destaque, em função da chegada de Iziane; e acredito que a própria jogadora tenha sentido mais que o esperdao os acontecimentos recentes em sua carreira (a campanha fraca no Mundial Sub-21 e o corte da adulta que foi ao Pré). Gostaria de vê-la jogando mais na posição 3, onde ela tem reais chances de destaque e de auxílio à seleção.

Destoando, Tatiana Conceição fez uma temporada muito ruim, com participação praticamente nula nas finais.

O campeonato se encerra, mas é apenas um começo de um ano de muitos compromissos para o basquete.

Que boas emoções como essas das finais venham em boa dose!

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