terça-feira, 18 de março de 2008

Cinco, quatro, três, dois, um

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"Clube é clube. Seleção é seleção." A expressão batida registra que nem sempre o sucesso do atleta dentro de um clube prediz o futuro dele numa seleção nacional. O tema sempre me impressionou.

Fulana? Fulana só joga bem com Ciclana. Beltrana? Não se dava com o treinador Fulano. Josefina? Não aguentou a pressão da seleção. Assim dizem.

Mas me peguei essa semana, pensando numa outra dificuldade de adaptação do jogador à seleção: a necessidade de jogar numa posição que originalmente não é a sua; ou que não seja a melhor para o seu basquete.

Pensei nos exemplos ao contrário. De atletas cuja versatilidade mantinha a genialidade seja qual fosse o número escolhido. Lembrei de Paula, a mágica: era uma 2 infernal no clube (jogando ao lado de Branca, Nádia, Helen ou Claudinha na 1). Na seleção, sem conflitos, jogava como 1; a melhor que eu - e muitos outros - já vimos.

Fora Paula, tive dificuldade de pensar em alguém que incorporasse assim tão bem essa metamorfose. Ainda no rol da genialidade, pensei em Janeth. Uma atleta muito versátil, mas ainda assim seus jogos como 1 no Houston, sempre me remeteram mais à transpiração que à inspiração.

Com o antigo treinador da seleção, foram muitas atletas que enfrentaram esse amargo desafio. Numa de suas atitudes mais exóticas, o cidadão foi capaz de colocar a pivô Marta (às vésperas da aposentadoria) na posição 3. Já na preparação, Marta teve uma lesão muscular, que foi atribuída na época ao esforço exigido na adaptação aos movimentos da nova posição. Ele pouco se importou com isso e durante seu reinado na comissão técnica submeteu outras fibras musculares ao mesmo torturante desafio. Com facilidade, relembro os casos de Leila, sambando entre a 3 e a 4; e das irmãs Helen e Silvinha se dividindo entre a 1 e a 2. Na despedida, a obsessão final do treinador foi bater a varinha de condão na cabeça de Karen e Palmira e convertê-las à posição 1.

Mas chega de passado negro.

A nova comissão técnica já iniciou algumas alterações em sua breve jornada no mesmo sentido, mas com mais cuidado. Comentei até aqui que essa tentativa de versatilidade tinha me chamado atenção nos treinamentos para o Pré. Dentro da competição, no entanto, as mudanças não foram tantas e não chegaram a chocar.

Uma das surpresas do novo grupo - Franciele - despertou em Bassul um desejo, que ele tornou público: converter a menina da posição 4 para a 3. Os argumentos do treinador são fortes. Apesar da belíssima impulsão, do ótimo tempo de rebote; a estrutura física de Fran não a favorece muito na sujeira que impera nos garrafões de alto nível mundo afora. Na posição 3, frisa Bassul, Fran seria uma jogadora muito importante para a seleção. Longe da rotina da seleção, as oportunidades de Fran pensar no assunto são remotas. Contratada por um clube espanhol (o Rivas), foi repassada ao lanterna do campeonato (o Zaragoza), para ganhar experiência no basquete espanhol. Alheio às opiniões de Bassul e à vontade da jogadora, o treinador do Zaragoza pensa - naturalmente - no que lhe interessa: o seu problema. E o problema dele é o time do Zaragoza, não a seleção brasileira. Com uma brasileira bem adaptada à posição 4 (Êga) e há mais tempo na equipe e um buraco na 5 deixado por outra brasileira (Kátia Regina), ele não teve dúvida. O espaço de Fran é esse: a 5. E ela que cave seu espaço (como vem cavando) até que o campeonato termine e ela seja submetida a um novo desafio. De volta ao Rivas, encontrará duas colegas muito gabaritadas ocupando as posções 4 e 5: Nicole Antibe e Rankica Sarenac, respectivamente. Mas isso é história para o próximo clube.

Distante de Zaragoza, menos badalada, mas também um dos destaques da última geração sub-21, outra garota se depara com desafios também parecidos. Mas ainda mais perversos, já que ao contrário de Franciele, essa nova personagem é comandada na seleção e clube pelo mesmo treinador (Paulo Bassul). Estou falando de Izabela. O talento da menina salta aos olhos, como sempre saltou desde as categorias de base. É fácil perceber ainda que uma série de características físicas e técnicas a tornam mais interessante na posição 3. Entretanto, pelo fato de estar no Brasil, no melhor clube do país no momento, em função da dura concorrência na mesma posição (Chuca, Karen, Iziane no último torneio) e na fragilidade dos garrafões adversários, Bassul com frequência cai em tentação e a utiliza na posição 4. Ótimo para Ourinhos. Péssimo para o Brasil. Se no Campeonato Nacional, Iza tem poucas dificuldades ao enfrentar times depauperados, sem uma pivô sequer; em nível internacional as chances da jogadora na posição são bastante escassas. O assunto já me inquietava há algum tempo. Mas fiquei temporariamente despreocupado ao ver Iza treinando na posição 3 com Bassul na seleção, ano passado. A jogadora acabou cortada. E o alerta vermelho voltou a piscar quando a revi no Nacional, e após, utilizada na seleção (B) comandada pelo auxiliar Guidetti, novamente na posição 4. Espero que tenha sido apenas em função da falta de opção (aptas ao garrafão só havia Karina e Tati, mais a estreante Splitter) e que Bassul não perca o foco de transformar Izabela na grande jogadora que ela pode ser, não só para Ourinhos, mas para o Brasil.

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