Senta que lá vem comédia
Em noite gelada, uma fria seleção brasileira enfrenta Taiwan
Para certas coisas na vida que o arrependimento vem logo em seguida. Assim me senti ontem, no segundo quarto do jogo Brasil X Taiwan, no Paulista. Que diabos estava eu fazendo ali?
Se antes, aguardava o Mundial com medo, agora, estou em pânico.
Não há nenhuma novidade no basquete medonho da seleção de Barbosa. Minto, há uma: o uniforme. Aposentaram o macaquinho e retornaram a um modelo semelhante ao anterior, com a diferença de que o short é mais justo. Nas esguias, como Micaela, o efeito é até simpático. Nas gordinhas Sílvia e Kelly, a visão é trágica.
Deixando a moda de lado, vamos ao basquete. O que dizer do basquete? Apesar das evidentes diferenças raciais fiquei em dúvida: qual das seleções ali era Made in Taiwan? Concluí que era a brasileira.
O Brasil continua jogando da mesma maneira há dez anos, sem qualquer inovação tática.
A tática de Barbosa é a seguinte: amradoras (Helen e Adrianinha) carregam a bola. Lá têm três opções: passe direto para a pivô (a 4, de preferência), passe para a lateral resolver tudo sozinha ou um desequilibrado arremesso de três.
Do ínicio ao fim, no cinco contra cinco, o Brasil é isso. Uma tragédia.
O time joga aberto e a 4 (Êga/Tuiú) ficam bem longe da cesta. Não fazem nada o jogo inteiro a não ser arremessos esporádicos de média distância ou o cansado chuveirinho para a 5 concluir.
Não existe uma jogada ensaiada nesse time. Só um improviso agoniante minuto-a-minuto.
A defesa não existe. Deixava as orientais infiltarem sem nenhuma cerimônia. As mesmas orientais que não passarão da fase preliminar do Mundial.
Helen, dentro do que pode, está bem. Atenta na defesa, voluntariosa. Mas percebe-se que ela está engessada num esquema rígido que nada permite.
Adrianinha, felizmente, está bem fisicamente. Ainda se atrasa um pouco na defesa, às vezes. Mas do mesmo mal que Helen sofre, em Adrianinha é potencializado, aparentemente pelo pouco treinamento. Parece que estamos diante de uma armadora daquelas seleções All-Star que se reúnem num fim de semana e logo vão jogar. Improviso apenas, sem ensaio. Por conta disso, Adrianinha iguala erros com assistências (três, ambas). Por isso também, às vezes morre com a bola na mão. No final do jogo, o Brasil estava com a posse de bola, o banco começou a contagem. Era a hora de se preparar para uma situação de jogo. E se aquela fosse a bola do jogo? O máximo que a armadora conseguiu foi passar para uma arremesso de três de Érika(!).
Nas laterais, Janeth vai bem no estilo dama de ferro. Segurou a peteca e colabora na defesa.
Do outro lado, Iziane tem problemas. Evoluiu na defesa e na visão de jogo, como ela mesmo destacou em entrevista. A pontaria, no entanto, está abaixo da crítica: 27% nos dois pontos. É de desesperar. Não fosse o suficiente, um lance da atleta em quadra me decepcionou. No terceiro quarto, uma asiática fez uma falta na maranhense. A arbitragem não viu ou não marcou. Iziane ficou parada em quadra, imóvel, até que a jogada se concluísse. Finalizado o lance, Izzy gritou com a arbitragem para o ginásio inteiro ouvir: "Ela meteu a mão na minha boca e você não marca nada!". Não fosse o suficiente, ainda quis ir tirar satisfações com a chinesinha, mas foi contida por Kelly. Lamentável. Me lembrei daquele episódio na Grécia e não posso deixar de notar que se os nervos de Iziane a levam a comportar assim num amistoso contra um time de quinta categoria, o que esperar dela no duelo com os grandes? Só ela mesmo pode responder.
Na reserva, o panorama é amargo. Micaela é uma excelente atleta, mas sofre por jogar num time que não treina opções. Então, a lateral passa a depender tão somente do seu talento. E de talento individual apenas, se faz pouco no basquete.
Grave mesmo é a situação de Sílvia. Não sei como a ala permanece até esse momento na seleção. Está fora de forma, sem ritmo, muito mal mesmo. De deixar bola passar por baixo na perna...
Palmira entrou bem e merece estar no grupo. Mas é uma atleta que precisa de muito investimento (inclusive fortalecimento físico) para jogar em alto nível.
Nas pivôs, também há problemas.
O primeiro, Êga, que mais uma vez começou como titular. A jogadora oscila muito na partida. Precisa de mais seriedade. Precisa se comportar como uma atleta de nível internacional. Mas Êga se comporta como uma colegial exaltada. Desculpa-se insistentemente pelos erros cometidos. E "Ai, Barbosa!", "Desculpa, Barbosa!" e "Tá bom, Barbosa". Que isso! Parece uma juvenil... Não dá. No começo do terceiro quarto, elas fez umas caretas para Barbosa, pôs a mão na barriga. Não sou bom de leitura labial, mas acho que ela estava com dor de barriga... Deveria estar mesmo, pois ao voltar para o jogo, ao lado de Kelly, a dupla se comportou pessimamente. Levou baile das meninas de Taipei no um contra um. O único dado interessante que eu consegui ver em Êga foi a aposta nos arremessos de três. Para todo o resto, ela precisa de uma reconstrução.
Já que estou falando em reconstrução, Kelly precisa de dar uma secada. Continua muito pesada, lenta. Difícil esperar muita coisa quando encontrar adversários mais fortes. O mesmo movimento que Érika faz para ir à cesta, Kelly o faz no dobro ou triplo do tempo.
Por falar, em Érika, enfim algo genuinamente bom nessa seleção. Érika está estupenda. Fantástica. A melhor jogadora do momento, no país. Se posiciona bem para o rebote e no ataque. Maravilhosa. Não tomou conhecimento do jogo. Ainda assim, é reserva e joga pouco. Parece que Barbosa está cortejando ela e Alessandra, no intuito de definir uma titular. O problema é que o técnico não parece ser corajoso o suficiente para barrar Alessandra (pelo histórico) e nem Érika, pelo momento. Então, imaginem o que vem por aí...
Alessandra esteve razoável. Pontuou às custas de sua altura. Nada mais.
Cíntia Tuiú. Devo confessar que gosto muito dessa menina. Acho-a extremamente técnica, correta. Mas ela sofre para jogar em um esquema tão limitado. Gostaria de ter acesso às fitas dos jogos de Tuiú no Italiano. Com certeza, veríamos uma outra atleta.
Enfim, não era esse texto que gostaria de escrever a uma semana do Mundial, mas é esse texto que o basquete da seleção me inspira.
Quem sabe os otimistas digam: "Estão escodendo o jogo". O problema é que eu acho difícil encontrá-lo tão cedo!
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