"Nunca me senti ofuscada por Paula e Hortência"
Janeth sonha com o bi Mundial
Em 2006, Janeth completa 20 anos na seleção brasileira feminina de basquete. Às vésperas de iniciar mais um Mundial, competição que disputou pela primeira vez em 1990, a jogadora conversou com o repórter Marcelo Russio e fez um balanço de sua carreira. Aos 37 anos, a estrela da seleção sonha com o bicampeonato, que teria um sabor bem especial por ser no Brasil.
GLOBOESPORTE.COM : Em 2006 você faz 20 anos de seleção brasileira. Como foi a sua primeira convocação?
Janeth: Foi em 1986 e eu era uma menina, tinha apenas 16 anos. A seleção estava com o grupo fechado para o Mundial da União Soviética, e desde o início a Maria Helena Cardoso, que era a técnica, me avisou que eu não faria parte da lista final, e que estaria lá apenas para treinar. Mesmo assim aceitei na hora, pois eu não tinha nada a perder, só a ganhar.
GLOBOESPORTE.COM : Como foi a sensação de chegar tão nova à seleção brasileira?
Janeth: Foi uma sensação muito gostosa, bem diferente da que sinto hoje quando sai a convocação. O grupo que peguei na minha primeira convocação era muito fechado, experiente, e para mim era tudo novidade. Eu cansei de levar bolada na cara por ficar olhando para as jogadoras mais experientes e não prestar atenção nas jogadas. Foi bom para quebrar o gelo da seleção.
GLOBOESPORTE.COM : A equipe de 1986 tinha atletas já experientes como Paula, Hortência, Norminha, Suzete e outras. Como era o clima no grupo?
Janeth: O clima era um pouco tenso, pois, mesmo sem se conquistar títulos importantes, havia muita vaidade entre as jogadoras. Lembro de ter percebido que a Paula e a Hortência já despertavam uma certa ciumeira em algumas jogadoras, especialmente as mais experientes. Havia claramente um grupo da Paula e da Hortência e outro de jogadoras que não viam as duas com muito bons olhos. Procurava ficar no meu canto, quieta, pois estava começando e não queria me envolver em confusões. Esse clima foi muito bom para eu pegar, mesmo na marra, malandragem de seleção. Aprendi muito nessa época.
GLOBOESPORTE.COM : Um ano depois da sua primeira convocação, você foi chamada para disputar o Pan de Indianápolis, em 1987. O time ficou com a prata, perdendo para os EUA, enquanto o masculino foi campeão naquela partida memorável, que teve o Oscar como protagonista. Você estava no ginásio naquele dia?
Janeth: Estava e vibrei como uma louca. Muitas jogadoras estavam e nós não acreditávamos no que estava acontecendo. Os meninos jogaram demais naquele dia e nós torcíamos cercadas por dezenas de americanos. Alguns até olhavam meio feio para nós, mas a gente não se importava. Quando o Brasil venceu, sentimos como se a vitória fosse nossa, vingando a derrota para os EUA no feminino.
GLOBOESPORTE.COM : Por falar em Jogos Pan-Americanos, os de Havana, em 1991, marcaram o início de uma época gloriosa do basquete feminino no país. O Brasil foi campeão e você começou a se firmar como um dos destaques da equipe. Como foi?
Janeth: Em 1991, o time começava a se firmar como uma seleção de nível mundial. Nós fizemos um bom Pan-Americano e havia uma sintonia muito grande, tanto que vencemos os EUA na semifinal. Mas a final contra Cuba foi tensa, não só pela rivalidade entre nós e as cubanas quanto pela presença do Fidel Castro no estádio, que inflamou a equipe delas. Cuba não queria ser derrotada diante dele, em casa. Quando vi que o Fidel veio nos entregar a medalha, fiquei emocionada, pois ele é uma figura emblemática e muito carismática. Foi um grande momento.
GLOBOESPORTE.COM : Nas Olimpíadas de Barcelona o Brasil não foi bem, terminando em sétimo lugar. Como a equipe chegou ao Mundial de 1994? Confiante no título ou conformada em ter um desempenho intermediário?
Janeth: Nem uma coisa nem outra. Não esperávamos o título, de forma alguma. Mas também sabíamos que poderíamos ir bem, talvez chegando à semifinal. Havia grandes equipes na competição, como os EUA, a Austrália, que era a dona da casa, a Rússia e a China, com a Zheng Haixia, que era uma gigante de 2,11m que dificultava muito o jogo no garrafão. Mas é preciso que se valorize o trabalho do Miguel Ângelo da Luz, que trabalhou muito o nosso jogo com as pivôs, que na época eram a Alessandra, a Cíntia e a Ruth. A chegada destas jogadoras mudou o panorama do nosso basquete. Antes nós perdíamos praticamente todos os rebotes e não tínhamos força no ataque. Com elas, passamos a nos impôr nessa posição. Lembro que a Hortência, no Mundial de 1994, pedia que as pivôs apenas se concentrassem em pegar os rebotes. Na época em que ela começou nós éramos muito carentes de boas pivôs, e isso começou a mudar com a Marta e a Zezé, e depois com as meninas de 1994.
GLOBOESPORTE.COM : A campanha brasileira, mesmo com as derrotas para a Eslováquia e a China nas primeiras fases, foi muito boa. Qual o destaque, além, claro, da final?
Janeth: A virada sobre os EUA, na semifinal. Aquele momento era importante, já que tínhamos atingido o que achávamos que podíamos e enfrentávamos a equipe favorita ao título, com grandes jogadoras. Jogamos muito bem, acreditamos que tínhamos condições de vencer e viramos a partida, para a surpresa de quase todos, que achavam que a final seria entre EUA e Austrália.
GLOBOESPORTE.COM : E a volta ao Brasil com o título conquistado? Você esperava uma festa tão grande?
Janeth: Nunca! Assim que chegamos havia uma grande festa no aeroporto, com muita gente nos aguardando. Mesmo cansadas pela viagem, que levou mais de 24 horas, a alegria e o carinho das pessoas nos empolgou. Andamos de carro de bombeiros pelas ruas, como os jogadores de futebol quando vencem a Copa do Mundo. Foi muito emocionante, um momento que jamais esquecerei.
GLOBOESPORTE.COM : Após o Mundial da Austrália, o Brasil foi como um dos favoritos ao ouro para ao Olimpíadas de Atlanta, em 1996. Muitas jogadoras dizem que foi o torneio mais importante desta era do basquete feminino. Você concorda?
Janeth: Atlanta foi muito marcante. Tínhamos ido mal em Barcelona, e em 1996 eu estava no auge da minha carreira, sendo observada pelos americanos para ir para a WNBA. Ao mesmo tempo, estava sem patrocínio, e uma boa campanha seria muito importante para que voltasse a haver investimento no meu time na época, o Santo André. A medalha de prata acabou viabilizando um patrocínio, e acho que por isso eu chorava tanto no pódio. Muitas pessoas me perguntam até hoje se eu sou aquela chorona que elas viram na televisão. Acho que, por tudo isso, houve uma mistura de alegria e tristeza, já que poderíamos ter sido campeãs olímpicas e atuamos muito mal naquela final.
GLOBOESPORTE.COM : E você, finalmente, chegou à WNBA. Como foi esse processo?
Janeth: Era um verdadeiro sonho. Eu já havia sido convidada para disputar campeonatos universitários, mas não tinha me interessado. Quando surgiu a oportunidade de atuar em uma liga com organização e prestígio similares aos da NBA, aceitei correndo. Fui a 12ª estrangeira a ser selecionada pela WNBA, e acho que fiz o certo em me transferir para lá.
GLOBOESPORTE.COM : Você conquistou quatro títulos da WNBA, e ganhou alguns prêmios individuais, além de reconhecimento em um país que respira basquete. No que a WNBA melhorou a Janeth como profissional?
Janeth: Jogar lá foi fundamental para equilibrar o lado emocional com o profissional. As estrangeiras na WNBA são muito cobradas e pressionadas, e isso me preparou para as cobranças que recebi quando atuei pela seleção após as aposentadorias da Paula e da Hortência. Mesmo nunca tendo me sentido ofuscada por elas, já que cada ídolo tem a sua luz e a sua responsabilidade, eu fiquei mais forte após a ida para a WNBA.
GLOBOESPORTE.COM : Você acredita que haja uma renovação de qualidade no basquete feminino brasileiro?
Janeth: Ainda é cedo para falar. É preciso esperar acontecer. Estamos há 15 anos entre as melhores equipes do mundo e espero que não haja um vácuo entre esta geração e a próxima. Temos, talvez, o menor número de atletas e equipes entre os países de ponta no esporte. É desta dificuldade que a qualidade aparece.
GLOBOESPORTE.COM : Como você analisa a derrota da seleção masculina no Mundial do Japão?
Janeth: Foi um torneio difícil e o Brasil pegou uma chave complicada. Acho que os nossos jogadores, ao contrário do que dizem, não são tão experientes assim. Eles estão há apenas dois ou três anos atuando no exterior, mas jogar fora do país não significa ser experiente. Ganha-se conhecimento, mas a cobrança é imensa. Agora é preciso olhar para frente. O Pré-olímpico será a chance de aprender a equilibrar os sentimentos. Me pareceu que eles não estavam muito conscientes da pressão que receberiam, tanto que sempre falhava alguma coisa na hora decisiva.
GLOBOESPORTE.COM : Você concorda com a manutenção da comissão técnica liderada pelo Lula Pereira?
Janeth: Concordo. O time tem qualidade, tanto que teve condições de vencer quase todas as partidas. Tenho certeza de que esta equipe voltará a vencer e a dar alegrias à torcida.
GLOBOESPORTE.COM : Como você analisa a preparação da seleção para o mundial?
Janeth: Os jogos contra o Canadá foram interessantes, mas enfrentar o Chile não nos valeu de nada. Na América do Sul nós sempre fomos muito superiores que as demais equipes. Honestamente, não sei a razão de termos jogado contra o Chile. Quem marca os amistosos é a Confederação.
GLOBOESPORTE.COM : Quem foi, na sua opinião, o adversário mais difícil que o Brasil já enfrentou?
Janeth: Foram muitos, mas os EUA sempre foram um time muito duro de se vencer, pela qualidade das jogadoras. Austrália e Rússia também são times fortes e que endurecem as partidas. Um time complicado de se enfrentar, por exemplo, é a China. O movimento de arremesso delas começa de muito baixo, e dificulta a marcação, pois nunca sabemos se elas farão o passe ou se arremessarão para a cesta.
GLOBOESPORTE.COM : Qual o grande jogo da sua carreira, aquele que sempre vem à sua memória?
Janeth: Curiosamente não foi uma final, mas o jogo contra a Espanha no Mundial de 1994. Faltando um minuto, nós perdíamos por quatro pontos. Roubei uma bola e sofri uma falta antidesportiva. Acertei os dois arremessos e, na posse de bola, fiz uma cesta de três pontos. Com isso, viramos a partida e, pouco depois, a partida acabou. Era um jogo decisivo e essa atuação ficou marcada na minha cabeça.
GLOBOESPORTE.COM : Houve alguma jogadora que tenha sido a marcadora mais difícil que você tenha enfrentado?
Janeth: Não houve uma especificamente, mas as cubanas são as que mais catimbam na marcação. Elas arranham, puxam o braço quando o árbitro não está vendo. São as mais complicadas de se enfrentar nesse aspecto.
GLOBOESPORTE.COM : Quem foi o seu maior ídolo no basquete?
Janeth: Entre as brasileiras, a Hortência, que me incentivou a jogar quando eu fui convocada pela primeira vez, e me chamou muito a atenção no Mundial de 1983. Jogar com ela foi incrível. Muitas vezes, treinando com ela, eu ficava olhando para os seus movimentos, prestando atenção, e a bola vinha na minha cara. No exterior, a melhor que eu vi jogar foi a Cinthia Cooper. Além de jogar demais, foi uma grande companheira e amiga.
GLOBOESPORTE.COM : Como você analisa o grupo do Brasil no Campeonato Mundial?
Janeth: Pegar a Argentina na estréia será bom, para diminuir a tensão, mesmo com a rivalidade que sempre existe entre os países. Contra a Coréia teremos que ter atenção total, já que elas virão com tudo para se vingar da derrota nas Olimpíadas de Sydney, em 2000, e de Atenas, em 2004. E a Espanha deve ser o nosso pior adversário, já que conta com jogadoras de muita qualidade nos arremessos de média e longa distância e pivôs versáteis.
Janeth sonha com o bi Mundial
Em 2006, Janeth completa 20 anos na seleção brasileira feminina de basquete. Às vésperas de iniciar mais um Mundial, competição que disputou pela primeira vez em 1990, a jogadora conversou com o repórter Marcelo Russio e fez um balanço de sua carreira. Aos 37 anos, a estrela da seleção sonha com o bicampeonato, que teria um sabor bem especial por ser no Brasil.
GLOBOESPORTE.COM : Em 2006 você faz 20 anos de seleção brasileira. Como foi a sua primeira convocação?
Janeth: Foi em 1986 e eu era uma menina, tinha apenas 16 anos. A seleção estava com o grupo fechado para o Mundial da União Soviética, e desde o início a Maria Helena Cardoso, que era a técnica, me avisou que eu não faria parte da lista final, e que estaria lá apenas para treinar. Mesmo assim aceitei na hora, pois eu não tinha nada a perder, só a ganhar.
GLOBOESPORTE.COM : Como foi a sensação de chegar tão nova à seleção brasileira?
Janeth: Foi uma sensação muito gostosa, bem diferente da que sinto hoje quando sai a convocação. O grupo que peguei na minha primeira convocação era muito fechado, experiente, e para mim era tudo novidade. Eu cansei de levar bolada na cara por ficar olhando para as jogadoras mais experientes e não prestar atenção nas jogadas. Foi bom para quebrar o gelo da seleção.
GLOBOESPORTE.COM : A equipe de 1986 tinha atletas já experientes como Paula, Hortência, Norminha, Suzete e outras. Como era o clima no grupo?
Janeth: O clima era um pouco tenso, pois, mesmo sem se conquistar títulos importantes, havia muita vaidade entre as jogadoras. Lembro de ter percebido que a Paula e a Hortência já despertavam uma certa ciumeira em algumas jogadoras, especialmente as mais experientes. Havia claramente um grupo da Paula e da Hortência e outro de jogadoras que não viam as duas com muito bons olhos. Procurava ficar no meu canto, quieta, pois estava começando e não queria me envolver em confusões. Esse clima foi muito bom para eu pegar, mesmo na marra, malandragem de seleção. Aprendi muito nessa época.
GLOBOESPORTE.COM : Um ano depois da sua primeira convocação, você foi chamada para disputar o Pan de Indianápolis, em 1987. O time ficou com a prata, perdendo para os EUA, enquanto o masculino foi campeão naquela partida memorável, que teve o Oscar como protagonista. Você estava no ginásio naquele dia?
Janeth: Estava e vibrei como uma louca. Muitas jogadoras estavam e nós não acreditávamos no que estava acontecendo. Os meninos jogaram demais naquele dia e nós torcíamos cercadas por dezenas de americanos. Alguns até olhavam meio feio para nós, mas a gente não se importava. Quando o Brasil venceu, sentimos como se a vitória fosse nossa, vingando a derrota para os EUA no feminino.
GLOBOESPORTE.COM : Por falar em Jogos Pan-Americanos, os de Havana, em 1991, marcaram o início de uma época gloriosa do basquete feminino no país. O Brasil foi campeão e você começou a se firmar como um dos destaques da equipe. Como foi?
Janeth: Em 1991, o time começava a se firmar como uma seleção de nível mundial. Nós fizemos um bom Pan-Americano e havia uma sintonia muito grande, tanto que vencemos os EUA na semifinal. Mas a final contra Cuba foi tensa, não só pela rivalidade entre nós e as cubanas quanto pela presença do Fidel Castro no estádio, que inflamou a equipe delas. Cuba não queria ser derrotada diante dele, em casa. Quando vi que o Fidel veio nos entregar a medalha, fiquei emocionada, pois ele é uma figura emblemática e muito carismática. Foi um grande momento.
GLOBOESPORTE.COM : Nas Olimpíadas de Barcelona o Brasil não foi bem, terminando em sétimo lugar. Como a equipe chegou ao Mundial de 1994? Confiante no título ou conformada em ter um desempenho intermediário?
Janeth: Nem uma coisa nem outra. Não esperávamos o título, de forma alguma. Mas também sabíamos que poderíamos ir bem, talvez chegando à semifinal. Havia grandes equipes na competição, como os EUA, a Austrália, que era a dona da casa, a Rússia e a China, com a Zheng Haixia, que era uma gigante de 2,11m que dificultava muito o jogo no garrafão. Mas é preciso que se valorize o trabalho do Miguel Ângelo da Luz, que trabalhou muito o nosso jogo com as pivôs, que na época eram a Alessandra, a Cíntia e a Ruth. A chegada destas jogadoras mudou o panorama do nosso basquete. Antes nós perdíamos praticamente todos os rebotes e não tínhamos força no ataque. Com elas, passamos a nos impôr nessa posição. Lembro que a Hortência, no Mundial de 1994, pedia que as pivôs apenas se concentrassem em pegar os rebotes. Na época em que ela começou nós éramos muito carentes de boas pivôs, e isso começou a mudar com a Marta e a Zezé, e depois com as meninas de 1994.
GLOBOESPORTE.COM : A campanha brasileira, mesmo com as derrotas para a Eslováquia e a China nas primeiras fases, foi muito boa. Qual o destaque, além, claro, da final?
Janeth: A virada sobre os EUA, na semifinal. Aquele momento era importante, já que tínhamos atingido o que achávamos que podíamos e enfrentávamos a equipe favorita ao título, com grandes jogadoras. Jogamos muito bem, acreditamos que tínhamos condições de vencer e viramos a partida, para a surpresa de quase todos, que achavam que a final seria entre EUA e Austrália.
GLOBOESPORTE.COM : E a volta ao Brasil com o título conquistado? Você esperava uma festa tão grande?
Janeth: Nunca! Assim que chegamos havia uma grande festa no aeroporto, com muita gente nos aguardando. Mesmo cansadas pela viagem, que levou mais de 24 horas, a alegria e o carinho das pessoas nos empolgou. Andamos de carro de bombeiros pelas ruas, como os jogadores de futebol quando vencem a Copa do Mundo. Foi muito emocionante, um momento que jamais esquecerei.
GLOBOESPORTE.COM : Após o Mundial da Austrália, o Brasil foi como um dos favoritos ao ouro para ao Olimpíadas de Atlanta, em 1996. Muitas jogadoras dizem que foi o torneio mais importante desta era do basquete feminino. Você concorda?
Janeth: Atlanta foi muito marcante. Tínhamos ido mal em Barcelona, e em 1996 eu estava no auge da minha carreira, sendo observada pelos americanos para ir para a WNBA. Ao mesmo tempo, estava sem patrocínio, e uma boa campanha seria muito importante para que voltasse a haver investimento no meu time na época, o Santo André. A medalha de prata acabou viabilizando um patrocínio, e acho que por isso eu chorava tanto no pódio. Muitas pessoas me perguntam até hoje se eu sou aquela chorona que elas viram na televisão. Acho que, por tudo isso, houve uma mistura de alegria e tristeza, já que poderíamos ter sido campeãs olímpicas e atuamos muito mal naquela final.
GLOBOESPORTE.COM : E você, finalmente, chegou à WNBA. Como foi esse processo?
Janeth: Era um verdadeiro sonho. Eu já havia sido convidada para disputar campeonatos universitários, mas não tinha me interessado. Quando surgiu a oportunidade de atuar em uma liga com organização e prestígio similares aos da NBA, aceitei correndo. Fui a 12ª estrangeira a ser selecionada pela WNBA, e acho que fiz o certo em me transferir para lá.
GLOBOESPORTE.COM : Você conquistou quatro títulos da WNBA, e ganhou alguns prêmios individuais, além de reconhecimento em um país que respira basquete. No que a WNBA melhorou a Janeth como profissional?
Janeth: Jogar lá foi fundamental para equilibrar o lado emocional com o profissional. As estrangeiras na WNBA são muito cobradas e pressionadas, e isso me preparou para as cobranças que recebi quando atuei pela seleção após as aposentadorias da Paula e da Hortência. Mesmo nunca tendo me sentido ofuscada por elas, já que cada ídolo tem a sua luz e a sua responsabilidade, eu fiquei mais forte após a ida para a WNBA.
GLOBOESPORTE.COM : Você acredita que haja uma renovação de qualidade no basquete feminino brasileiro?
Janeth: Ainda é cedo para falar. É preciso esperar acontecer. Estamos há 15 anos entre as melhores equipes do mundo e espero que não haja um vácuo entre esta geração e a próxima. Temos, talvez, o menor número de atletas e equipes entre os países de ponta no esporte. É desta dificuldade que a qualidade aparece.
GLOBOESPORTE.COM : Como você analisa a derrota da seleção masculina no Mundial do Japão?
Janeth: Foi um torneio difícil e o Brasil pegou uma chave complicada. Acho que os nossos jogadores, ao contrário do que dizem, não são tão experientes assim. Eles estão há apenas dois ou três anos atuando no exterior, mas jogar fora do país não significa ser experiente. Ganha-se conhecimento, mas a cobrança é imensa. Agora é preciso olhar para frente. O Pré-olímpico será a chance de aprender a equilibrar os sentimentos. Me pareceu que eles não estavam muito conscientes da pressão que receberiam, tanto que sempre falhava alguma coisa na hora decisiva.
GLOBOESPORTE.COM : Você concorda com a manutenção da comissão técnica liderada pelo Lula Pereira?
Janeth: Concordo. O time tem qualidade, tanto que teve condições de vencer quase todas as partidas. Tenho certeza de que esta equipe voltará a vencer e a dar alegrias à torcida.
GLOBOESPORTE.COM : Como você analisa a preparação da seleção para o mundial?
Janeth: Os jogos contra o Canadá foram interessantes, mas enfrentar o Chile não nos valeu de nada. Na América do Sul nós sempre fomos muito superiores que as demais equipes. Honestamente, não sei a razão de termos jogado contra o Chile. Quem marca os amistosos é a Confederação.
GLOBOESPORTE.COM : Quem foi, na sua opinião, o adversário mais difícil que o Brasil já enfrentou?
Janeth: Foram muitos, mas os EUA sempre foram um time muito duro de se vencer, pela qualidade das jogadoras. Austrália e Rússia também são times fortes e que endurecem as partidas. Um time complicado de se enfrentar, por exemplo, é a China. O movimento de arremesso delas começa de muito baixo, e dificulta a marcação, pois nunca sabemos se elas farão o passe ou se arremessarão para a cesta.
GLOBOESPORTE.COM : Qual o grande jogo da sua carreira, aquele que sempre vem à sua memória?
Janeth: Curiosamente não foi uma final, mas o jogo contra a Espanha no Mundial de 1994. Faltando um minuto, nós perdíamos por quatro pontos. Roubei uma bola e sofri uma falta antidesportiva. Acertei os dois arremessos e, na posse de bola, fiz uma cesta de três pontos. Com isso, viramos a partida e, pouco depois, a partida acabou. Era um jogo decisivo e essa atuação ficou marcada na minha cabeça.
GLOBOESPORTE.COM : Houve alguma jogadora que tenha sido a marcadora mais difícil que você tenha enfrentado?
Janeth: Não houve uma especificamente, mas as cubanas são as que mais catimbam na marcação. Elas arranham, puxam o braço quando o árbitro não está vendo. São as mais complicadas de se enfrentar nesse aspecto.
GLOBOESPORTE.COM : Quem foi o seu maior ídolo no basquete?
Janeth: Entre as brasileiras, a Hortência, que me incentivou a jogar quando eu fui convocada pela primeira vez, e me chamou muito a atenção no Mundial de 1983. Jogar com ela foi incrível. Muitas vezes, treinando com ela, eu ficava olhando para os seus movimentos, prestando atenção, e a bola vinha na minha cara. No exterior, a melhor que eu vi jogar foi a Cinthia Cooper. Além de jogar demais, foi uma grande companheira e amiga.
GLOBOESPORTE.COM : Como você analisa o grupo do Brasil no Campeonato Mundial?
Janeth: Pegar a Argentina na estréia será bom, para diminuir a tensão, mesmo com a rivalidade que sempre existe entre os países. Contra a Coréia teremos que ter atenção total, já que elas virão com tudo para se vingar da derrota nas Olimpíadas de Sydney, em 2000, e de Atenas, em 2004. E a Espanha deve ser o nosso pior adversário, já que conta com jogadoras de muita qualidade nos arremessos de média e longa distância e pivôs versáteis.
Fonte: GloboEsporte
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