segunda-feira, 11 de setembro de 2006

Em casa, brasileiras tentam reviver glória de 94

Por Marta Teixeira


Em junho de 1994, a seleção brasileira feminina de basquete se colocou definitivamente na história da modalidade mundial. Contando com duas jogadoras que mantêm seus nomes entre as melhores do mundo: Paula e Hortência, o Brasil surpreendeu a todos conquistando o título mundial em Adelaide, Austrália. Foi a primeira vez que um país fora Estados Unidos e União Soviética ficava com o ouro desde que a competição fora criada, em 1953.

Desde então, muita coisa aconteceu. Paula e Hortência se aposentaram e daquele grupo campeão restam apenas quatro remanescentes: as então reservas Alessandra, Cíntia Tuiú, Helen e a já titular Janeth. Ao lado de outras companheiras, o quarteto tenta, a partir desta terça-feira reviver o sucesso daquela campanha. Mas desta vez, com um ingrediente a mais já que o Mundial será disputado no Brasil com jogos na capital paulista e Barueri, na Grande São Paulo. O primeiro jogo é contra a Argentina, às 15h15, no ginásio do Ibirapuera, com transmissão pela Globo.

O desafio de lutar pelo ouro é encarado como responsabilidade natural pelo grupo. “Temos que disputar medalha”, reconhece a capitã Janeth símbolo da transição entre as duas gerações do basquete. Do Mundial de 94, ela traz a experiência de saber que não é apenas a qualidade técnica que garante a conquista. “Depende de a seleção estar lapidada para jogar bem. Quando as equipes são muito iguais é o detalhe que faz a diferença”, diz, repetindo o velho chavão.

Mas na prática, a lógica é exatamente esta. Fora os Estados Unidos, que apesar de alguns problemas de última hora mantêm-se um degrau acima dos demais participantes, a lista de iguais em relação ao Brasil é considerável. A vice-campeã olímpica Austrália aparece ao lado da terceira colocada em Atenas: Rússia, que venceu o Brasil na disputa por medalha na Grécia.

A lista de candidatas a um lugar no pódio não pára aí. A Espanha, mesmo com Amaya Valdemoro, sua principal jogadora, voltando de lesão, merece atenção. O mesmo acontece com a República Tcheca, que tem apresentado evolução nas últimas temporadas.

“O resultado tem que ser buscado jogo a jogo”, alerta o técnico Antonio Carlos Barbosa, para quem a equipe está pronta na parte de treinamento. “Mas tudo se decide mesmo no mata-mata. Temos que estar com a equipe bem física e tecnicamente”.

Em uma análise rápida da preparação, Barbosa destaca que a seleção conseguiu uma boa composição de ataque e “variação boa de jogo” graças à entrada de novos elementos que puderam ter “um bom espaço nos treinos desta temporada”.

Representante da nova geração, a pivô Érika é uma das apostas de destaque na competição, embora uma contusão ameace sua participação no Mundial. Eleita dois anos consecutivos a melhor estrangeira do Campeonato Espanhol ela está acostumada ao nível dos torneios internacionais e concorda que a expectativa deve ser controlada. “Não há mais adversário fácil. Do mesmo jeito que nós evoluímos o resto do mundo também evoluiu”, avalia, mantendo o otimismo. “O time está bem entrosado e bastante determinado. Estamos chegando para dar 110% porque apenas 100% não é suficiente. Treinamos duro e agora só depende de nós mesmas”.

Além do trabalho em quadra, a equipe ainda espera contar com a ajuda de pelo menos um fator externo: o apoio da torcida. Antes de temer a responsabilidade de agradar quem for acompanhar os jogos no ginásio, a ala Iziane assume esta presença como um fator positivo. “Jogar em casa vai ser uma vantagem porque as estrangeiras não estão acostumadas a agitação da torcida brasileira”. Com exceção das norte-americanas talvez a frase seja correta.

A veterana Alessandra não vê a hora de reencontrar a torcida verde-amarela. Jogando na Europa desde 1997, ela garante que a reestréia em território nacional será muito especial. “Vai ser uma grande emoção, principalmente porque fui lançada na seleção aqui, no Brasil, em 1993 (Copa América) jogando com Paula e Hortência. Não tem nem como expressar o que eu sinto”.

Além da ambição pelo bicampeonato e o desejo de fazer bonito frente a sua própria torcida, a seleção também tem outro estímulo para o Mundial de 2006. Sepultar de uma vez por todas o tropeço da edição da China em 2002, quando terminou em sétimo na classificação. “Nem me fale daquilo”, pede Alessandra quando o assunto é levantado. “Perder dois jogos seguidos por um ponto ainda dói”, confessa. “Chorei muito naquele dia (da derrota por 71 a 70 para a Coréia do Sul, que tirou o Brasil das semifinais)”.

A ala Micaela acompanhou a ‘tragédia’ do banco porque vivia um drama pessoal ao mesmo tempo. Na véspera da estréia brasileira, treinando já na Ásia, ela se contundiu e não pôde participar da competição. Agora é a hora da vingança. “A gente tem que tirar aquela imagem vergonhosa. Mas está todo mundo focado e tem ser positivo. A meta é ser campeão, mas não podemos esquecer que outros também querem chegar lá”.

A única coisa que não é aceita pelas meninas como ingrediente extra para buscar melhores resultados é o tropeço da seleção masculina no Mundial do Japão, mês passado. “Uma coisa não tem nada a ver com a outra”, rebate a ala/armadora Helen. “A responsabilidade ia ser igual porque a gente nunca se preocupou com isso. Gostaríamos muito que tivessem conseguido ir bem, mas a seleção feminina é outra história”.

O técnico Barbosa concorda. “É uma imbecilidade aumentar a cobrança por causa disso. Não tem nada a ver, principalmente porque ao longo dos anos a seleção feminina sempre se manteve entre as quatro melhores do mundo. É lamentável, é triste, é frustrante o que aconteceu com eles, mas não interfere”.

A seleção brasileira disputa o Mundial no grupo A, enfrentando Argentina, Coréia do Sul e Espanha na primeira fase. Se passar para as oitavas-de-final, a equipe terá pela frente as três primeiras colocadas do grupo B, composto por Austrália, Canadá, Lituânia e Senegal.

Sem Leslie, Estados Unidos mantêm favoritismo

Lisa Leslie está fora, mas nem por isso a seleção norte-americana deixou o posto de principal favorita ao ouro no Campeonato Mundial. Abalada com os problemas de saúde de um tio (decorrentes de um acidente automobilístico), a bicampeã mundial e tricampeã olímpica pediu dispensa na última quarta-feira e foi atendida pela técnica Anne Donnovan.

Mas destaques não faltam para manter a força dos Estados Unidos no torneio. As veteranas Tina Thompson e Sheryl Swoopes, companheiras de Janeth no Houston Comets, comandam o grupo que ainda conta com Sue Bird e DeLisha Milton-Jones. Todas integraram o time que foi campeão da edição 2002 do Mundial.

A equipe desembarca no Brasil trazendo na bagagem uma seqüência de 42 jogos sem derrota no circuito internacional e 100% de aproveitamento nas principais competições desde os Jogos Olímpicos de Atlanta/96 (três ouros olímpicos e dois mundiais). Competindo no grupo C, as norte-americanas estréiam nesta terça contra a China. Na mesma chave estão Nigéria e Rússia. Os três primeiros colocados vão às oitavas-de-final, enfrentando os classificados do grupo D composto por França, República Tcheca, Cuba e Taiwan.

A seleção norte-americana possui sete medalhas de ouro em mundiais, uma prata e um bronze. Sua última derrota no torneio foi sofrida para o Brasil na semifinal de 1994, quando teve de se conformar com a briga pela terceira posição.

Correndo por fora

Mas as meninas da seleção brasileira destacam que a situação privilegiada das norte-americanas deixa um grupo grande embolado logo atrás. “Tem a Rússia e a Austrália que são sempre destaque e têm uma defesa muito forte”, lembra a ala Micaela, que acrescenta à lista ainda chinesas e coreanas como equipes que investem na rapidez.

Comandadas pelo técnico australiano Tom Maher, as chinesas já venceram o Brasil nesta temporada, em jogo amistoso disputado em Barueri. Mas as brasileiras estão em vantagem, já que venceram dois confrontos contra elas.

Fonte: Gazeta Esportiva




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