sexta-feira, 25 de agosto de 2006

triste fim

Brasil amarga seu pior resultado em Mundial


Time de basquete perde da Lituânia, cai na primeira fase e termina no 19º lugar

Seleção masculina, que teve pela 1ª vez jogadores da NBA, é derrotada em 4 de seus 5 jogos e fica atrás até dos frágeis Líbano e Angola


ADALBERTO LEISTER FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL

A seleção masculina se despediu de sua pior participação da história do Mundial de basquete como a iniciou: com derrota. A quarta em cinco jogos.
O Brasil caiu, desta vez, diante da Lituânia, por 79 a 74. Com o revés, sofreu eliminação precoce e ficou à frente apenas de nações periféricas do basquete, como Panamá, Qatar e Senegal.
Não bastasse isso, a seleção, bicampeã mundial (1959 e 1963), sofreu a humilhação de ficar atrás de coadjuvantes, como Líbano, cuja preparação foi tumultuada pela guerra, e Angola, que conquista agora o posto de melhor seleção da comunidade de língua portuguesa.
"Poderíamos ter melhor resultado, e o Brasil precisava disso", lamentou o técnico Lula Ferreira, cuja seleção contou, pela primeira vez em Mundiais, com dois atletas da NBA: Leandrinho e Anderson Varejão.
A aposta do Brasil, com um grupo jovem e experiente -oito jogadores atuam no exterior-, não vingou. O time iniciou sua caminhada em Hamamatsu com uma derrota para a Austrália (83 a 77). Em seguida, conseguiu sua única vitória, diante do frágil Qatar (97 a 66).
A partir daí, a equipe perdeu para Turquia (73 a 71), Grécia (91 a 80) e Lituânia (79 a 74).
O time não conseguiu fugir de dois de seus fantasmas: falhar nos momentos decisivos e perder para seleções européias -em Mundiais, o Brasil soma 20 vitórias e 28 derrotas contra times do velho continente.
Ontem, a seleção voltou a mostrar irregularidade e baixo aproveitamento nos arremessos. O Brasil não conseguiu apresentar alternativas contra uma defesa consistente. A equipe do técnico Lula teve aproveitamento pífio nos arremessos de quadra: 35,6% de acerto.
Com tantas falhas, o time poderia recuperar bolas preciosas embaixo da tabela para novas tentativas. Mas, apesar de ter um pivô da NBA, Anderson Varejão, e outro de destaque na Europa, Tiago Splitter, tal alternativa não apareceu. O time capturou 27 rebotes, contra 34 dos lituanos, que levaram a melhor em 26 disputas na defesa.
A Lituânia iniciou melhor o jogo. Com trocas rápidas de bola, confundia a atabalhoada defesa brasileira, fazendo os tiros de três pontos caírem facilmente -o índice de acerto foi de 36%, contra 16% do Brasil.
O primeiro quarto terminou com vantagem européia de 18 pontos (35 a 17), dando idéia do que viria. A seleção reagiu no segundo período, exercendo marcação individual. Mesmo assim, o primeiro tempo terminou 48 a 37 para o país báltico.
O Brasil só ameaçou no período derradeiro, quando a Lituânia cometeu seguidos erros. Mas o ataque da seleção continuou ineficiente. E até nos lances livres teve baixo aproveitamento (11 erros em 29 tiros).
O ala-armador Macijauskas foi o cestinha do jogo, com 21 pontos. Pelo Brasil, Splitter fez 17. "Sempre deixamos ficar tarde demais para buscar o placar", sentenciou Leandrinho.

Fracasso não retira técnico do comando

O fiasco da seleção não determinará mudanças na seleção. Ontem, Gerasime Bozikis, o Grego, presidente da confederação brasileira, que acompanhou a seleção em Hamamatsu, garantiu que manterá a comissão técnica.
"O trabalho continua. Estamos a 12 meses do Pré-Olímpico. Temos outros atletas que poderão melhorar esse grupo, como o Nenê. Eu me questiono sobre eventuais erros e concluo que faria tudo igual", disse o cartola, em entrevista ao UOL.
Desde que assumiu a seleção brasileira, após a saída de Hélio Rubens, após o Mundial-02, Lula vem colecionando resultados pífios.
No Pré-Olímpico de Porto Rico-03, a equipe brasileira terminou na sétima posição -havia três vagas em disputa para os Jogos de Atenas-04.
O técnico foi bicampeão sul-americano (2003 e 2006) e medalha de ouro no Pan-Americano de Santo Domingo-03, mas os maiores rivais da seleção jogaram com times B. Sua maior conquista foi a Copa América-05. "Se não me demitirem, vou continuar com o meu trabalho", falou Lula.

JOGO DOS 7 ERROS

1 Falta de resultados: O Brasil não vai ao pódio em Mundiais há 28 anos nem esteve presente nas duas últimas Olimpíadas. A última glória significativa, o ouro no Pan de 1987, já completou 19 anos. Os times de base têm perdido até Sul-Americano para a Argentina

2 Falhas na administração: É difícil atrair interesse diante do caos no basquete. Em 2006, houve dois Brasileiros, pouca aparição na TV, e o torneio da CBB ficou sem campeão, em meio a festival de liminares. Potências do esporte contam com ligas de clubes, fórmula combatida pela confederação

3 Fuga de patrocínios: A bagunça fez a modalidade perder três importantes equipes: Ribeirão Preto, pentacampeão paulista, Rio de Janeiro, vencedor do Nacional-2005, e Ajax-GO. Às vésperas do Mundial do Japão, Lula, Alex e Nezinho ficaram sem emprego

4 Pouco tempo de preparação: O grupo iniciou treinos a menos de um mês da estréia. Dos 24 times do Mundial, só a Argentina, campeã olímpica, começou depois

5 Falta de engajamento: Dificilmente o Brasil reúne os 12 melhores. Neste ano, perdeu Nenê (alegou estar se recuperando de cirurgia), Baby (optou jogar liga de verão da NBA) e Marquinhos (draftado na liga, nem foi chamado)

6 Amistosos inúteis: A série contra a Nova Zelândia, na qual o Brasil ganhou com placares elásticos, foi ilusória. Quando pegou times gabaritados (Argentina, EUA e Alemanha), o time caiu na real

7 Pouco revezamento: Lula dizia que precisaria de dez atletas para ir ao pódio. Usou sete. Nezinho, Murilo, André Bambu, Estevam e Caio Torres invariavelmente somente assistiam aos jogos

DO SOFÁ: ELIMINADA, SELEÇÃO AGORA TORCE POR TAÇA DE RIVAIS DA AMÉRICA

O Brasil já antevê uma difícil luta por vaga olímpica em Pequim-08. Para facilitar seu caminho, o país torce pelo título de EUA ou Argentina, ainda no Mundial. O campeão no Japão tem lugar assegurado na Olimpíada. Na América, representaria um concorrente a menos no Pré-Olímpico da Venezuela, que distribuirá duas vagas nos Jogos.

opinião

Basquete do país precisa ser refundado


OSCAR SCHMIDT
ESPECIAL PARA A FOLHA

O Brasil nem irá disputar o 17º lugar no Mundial. É um resultado virtual, assim como a Confederação Brasileira de Basquete organizou um Campeonato Nacional virtual, que não teve vencedor.
Se tomarmos por base os resultados dos últimos anos, veremos que andamos para trás. Em Atlanta-96, ficamos em sexto lugar. E nunca mais disputamos uma Olimpíada.
Em 2002, critiquei Hélio Rubens porque o time tinha ficado em oitavo no Mundial de Indianápolis. Mas hoje vejo que a culpa não era dele. Nem dos nossos jogadores.
Agora, não vamos crucificar o Leandrinho. Pelo menos ele foi jogar. Fez cem jogos na NBA e defendeu a seleção brasileira. O Leandrinho e o Anderson vão sentir em dezembro o desgaste de não terem tirado férias.
Faltou um líder na seleção brasileira. Aquele cara que fecha o grupo no quarto do hotel, discute e cobra empenho de todo mundo.
A culpa é do chefe. Temos, no basquete brasileiro, uma estrutura arcaica e incompetente. O básico para a gente seria uma liga independente de clubes, e a confederação se preocuparia em massificar o esporte. Fico revoltado. As pessoas sabem o que precisa ser feito, mas não fazem. O Lula não é o culpado pela eliminação do Brasil. Mas, se eu fosse ele, pediria para sair.
Acho que é necessário fazer um rapa geral. É preciso refundar o basquete brasileiro.



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OSCAR SCHMIDT, 48, foi bronze no Mundial-78, na última vez que o Brasil foi ao pódio, e disputou cinco Olimpíadas pela seleção

Fonte: Folha de São Paulo


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