segunda-feira, 19 de setembro de 2005

Cubanas batem Seleção Brasileira e conquistam Copa América, Argentina no Mundial

Numa atuação medíocre que resumiu todos os seus defeitos na Copa América Pré-Mundial da República Dominicana, a renovada Seleção Brasileira feminina de basquete perdeu a decisão do título contra a invicta Cuba por 81 a 73 (33 a 35 no intervalo) e deixou escapar a chance de conquistar o tricampeonato inédito em um terceiro quarto calamitoso. Foi apenas a segunda derrota do Brasil em 24 partidas na temporada, mas pelo nível dos adversários não há muito o que comemorar neste ano de ensaio e testes de reservas para o Mundial de 2006, em Rio de Janeiro e São Paulo. A ala cubana Yakelyn Plutín foi o destaque da final com 21 pontos e 10 rebotes, contra 22 pontos da brasileira Micaela Jacintho, maior pontuadora da competição. A pivô do vice-campeão italiano Penta Faenza Graziane foi o melhor nome da Seleção em quadra neste domingo com 16 pontos e oito rebotes, compensando a má atuação da titular Érika, campeã espanhola pelo Barcelona. Na preliminar, a Argentina garantiu a última vaga do continente no Mundial derrotando Porto Rico por 91 a 73 (39 a 33 no intervalo) com 26 pontos de Carolina Sánchez e 21 de Maria Liñeira, as hermanas ficaram na quarta colocação e o Canadá com o bronze.

A Seleção do técnico Antonio Carlos Barbosa só conseguiu ficar à frente no placar no primeiro quarto, até começou bem com todas as titulares pontuando, e abriu uma pequena vantagem com suas jogadas mais utilizadas: bola por elevação para Érika no garrafão e penetrações de Micaela na base da individualidade, assim o time chegou a abrir 18 a 11 com sete minutos jogados. Mas as cubanas equilibraram a partida, mostrando que evoluíram na fase final de treinamentos com relação à série de três derrotas para o Brasil em jogos preparatórios no Rio de Janeiro, em Macapá e em Cabo Frio (RJ). A maior diferença desses amistosos foi a presença de Adrianinha na armação, em vez da afobada e improvisada Vivian. A virada de Cuba não demorou a acontecer e veio numa série de 10 a 2 com sete pontos de Yamilet Martínez, e como bônus elas penduraram Érika com faltas, antes de fechar a etapa inicial em 21 a 20.

No segundo período, as caribenhas voltaram mais ligadas para aproveitar os espaços dados pela apática defesa brasileira e abriram 26 a 20 com uma cesta de três da ala-armadora Liset Castillo. Graziane respondeu com uma cesta pegando rebote ofensivo, Plutin deu o troco na mesma moeda, Micaela fez uma bandeja em contra-ataque sofrendo falta e convertendo o lance livre de bonificação para encostar em 28 a 25. Em um passe errado de Êga, Romero roubou a bola e fez uma bandeja fácil para Cuba, para consertar Grazi converteu mais uma bola debaixo da cesta e Micaela acertou uma da entrada do garrafão, depois de um lance livre da pivô reserva Kaé acertou um arremesso longo da zona morta e empatou o jogo por 32 a 32. Castillo não deixou o Brasil virar, livrou 35 a 32 com uma infiltração sofrendo a falta e convertendo o lance livre extra, depois Grazi só reduziu a desvantagem para dois pontos em cobrança da linha de penalidade.

O terceiro quarto foi um pesadelo para o time brasileiro. Érika não podia marcar forte para não cometer a quarta falta e deixou Plutin fazer duas cestas seguidas em cima dela, numa delas a brasileira até ficou de costas para a bola e cedeu uma penetração fácil. A Seleção insistiu em uma frágil marcação por zona e as cubanas deitaram e rolaram, abrindo 43 a 35 com mais uma cesta de Castillo. Micaela respondeu com uma cesta de três, mas a veterana pivô Yamilet Martínez converteu duas bolas seguidas com tranqüilidade, o ataque brazuca parou nos seus próprios erros, e duas cestas de três consecutivas de Castillo e Amargo ampliaram a diferença para 53 a 38 numa série de 18 a 5 que foi de amargar, diante da apatia verde-amarela e da insistência de Barbosa com Érika quando a noite era de Grazi. Depois de um pedido de tempo, as brasileiras melhoraram um pouco e reduziram a diferença para 55 a 44 com cestas de média distância de Tayara e Zaine. Depois de uma bola convertida por Amargo debaixo da cesta, Érika respondeu com seu sexto ponto no período e Kaé acertou um de dois lances livres cortando o déficit para 57 a 47, mas o time brasileiro sofreu outro apagão no final da etapa e Plutin aproveitou fazendo duas cestas seguidas, dois lances livres de Martínez fecharam o salseiro com 64 a 47 no placar, a parcial terminou em 29 a 14 para as cubanas.

No último quarto, Suchitel Ávila respondeu a uma bandeja de Graziane com uma cesta de três abrindo humilhantes 67 a 49 no marcador, a fatura parecia definida e Cuba se acomodou. O Brasil reagiu com um belo arremesso com finta de Micaela e uma cesta de três de Lílian, que entrou na hora decisiva mesmo com uma lesão no tornozelo por ser especialista nos tiros de longa distância em Ourinhos. Ávila conseguiu uma boa infiltração, mas Kaé deu o troco em um contragolpe levando a bola com velocidade desde um rebote defensivo até a cesta e Grazi, sempre ela, converteu duas bolas seguidas dentro do garrafão reduzindo a diferença para 69 a 60. Ela e Boulet trocaram cestas debaixo do aro, mas em outra falha de posicionamento da defesa brazuca Plutín infiltrou o garrafão pelo meio abrindo 73 a 62. Com o tempo acabando, a ala juvenil de Jundiaí Jaqueline entrou com coragem e acertou uma cesta de três, Lílian converteu outro arremesso de longe da zona morta e a Seleção encostou em 73 a 68, dando uma última esperança de virada. Mas Martínez converteu uma cesta de dois com liberdade quase no estouro do cronômetro de 24 segundos de posse de bola fazendo seu 19o ponto na decisão. O Brasil cometeu mais alguns erros sob pressão e a última bola de três de Micaela foi insuficiente, reduziu para 77 a 71, mas Cuba não perdeu a calma e fechou o placar com dois lances livres de Plutín. No total, a equipe de Barbosa desperdiçou 21 posses de bola, os erros de passe foram um carma durante todo o torneio, haja vista que a principal passadora brazuca na Copa foi quem devia estar recebendo bolas no garrafão, a ala-pivô Êga, e não forçando arremessos de fora.

A Seleção Brasileira mostrou falta de variação de jogadas dependendo demais da individualidade de Micaela e Érika, foi a pior equipe da Copa nos arremessos de três, a defesa falhou bastante, Vivian foi muito desorganizada na armação e em certos momentos tinha de aprender com sua jovem companheira de São Caetano Fabianna Manfredi. Como atletas com experiência de uma Olimpíada em Atenas mesmo como reservas, Silvia Gustavo e Vivian foram muito omissas em termos de liderança dentro de quadra. Além de Érika e Micaela, que já fazem parte do grupo principal da Seleção, apenas as vice-campeãs mundiais sub-23 Grazi e Fabi agradaram a ponto de merecerem uma nova chance em 2006, Lílian fez o possível dentro de suas limitações físicas. Com a volta da base mais experiente com Janeth, Iziane, Alessandra, Cíntia Tuiú, Helen, Adrianinha e Kelly, integrantes mais experientes dessa Seleção B como Êga, Sil, Zaine e Vivian terão que melhorar muito para pensar em Mundial. As novatas Tayara, Jaqueline e Ísis ainda têm de amadurecer para pretender vaga na Seleção principal.

“Infelizmente cometemos muitos erros que acabaram sendo decisivos para o resultado final. Começamos a partida muito bem, abrimos uma boa vantagem, mas com os nossos erros Cuba passou à frente no placar. O grande mérito da equipe foi acreditar até o fim. De qualquer forma, a equipe está de parabéns pelo desempenho na temporada 2005”, disse a ala Micaela.

Neste ano a Seleção foi decacampeã sul-americana invicta na Colômbia liderada pela veterana armadora Helen eleita como melhor jogadora do torneio, campeã do Torneio de Nórcia (ITA) no saldo de cestas com uma vitória sobre Israel após sofrer uma derrota por um ponto para a Itália que nem se classificou para o Campeonato Europeu; campeã da Copa Eletrobrás no Rio de Janeiro com Cuba, Canadá e Argentina; e invicta nos jogos preparatórios contra a Grécia e a campeã asiática China em Atenas, além dos testes em solo nacional, mas faltou o título mais importante.

“Iniciamos a partida imprimindo o nosso ritmo de jogo e abrimos uma boa vantagem no marcador. Cometemos uma série de erros e com isso colocamos Cuba no jogo. A diferença de 15 pontos a favor das cubanas no terceiro período decidiu o jogo. No último quarto, conseguimos uma reação, que não foi o suficiente para reverter o placar. Sabíamos que para vencê-las era necessário jogar bem o tempo todo, mas hoje não conseguimos”, afirmou o técnico Antonio Carlos Barbosa.

Além dos Estados Unidos (campeão olímpico) e do Brasil (país sede), Cuba, Canadá e Argentina garantiram vaga para representar as Américas no 15º Campeonato Mundial do Brasil, que será realizado de 12 a 23 de setembro de 2006. As argentinas foram as últimas a se classificar contando com 12 pontos de Carolina Sánchez no primeiro tempo para abrir 39 a 33 contra Porto Rico, no segundo tempo a equipe platina foi aumentando a diferença com um bom desempenho ofensivo e forte defesa no garrafão até vencer por 18 de diferença. O destaque porto-riquenho foi Lindsay Gonzalez com 18 pontos. A delegação brasileira retorna ao país nesta segunda-feira (dia 19), desembarcando às 20h15min no aeroporto internacional de Guarulhos, em São Paulo (COPA 701).

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