sábado, 30 de abril de 2005

Oposicionista Hélio Barbosa diz estar próximo da vitória nas eleições da CBB


Atravessando um dos momentos mais conturbados de sua história, o basquete brasileiro viverá um dia decisivo na próxima segunda-feira. Presidida desde 1997 por Gerasime “Grego” Bozikis, a CBB (Confederação Brasileira de Basquete) elegerá em assembléia geral o seu mandatário para os próximos quatro anos. Concorrem duas chapas. Uma encabeçada pelo próprio Grego, que busca seu terceiro mandato consecutivo, e outra formada pela união das forças de oposição, que tem como candidato o dirigente carioca Hélio Barbosa. Têm direito a voto os presidentes das 27 federações estaduais.

O ex-técnico da Seleção Brasileira masculina José Medalha, primeiro a se lançar candidato ainda no ano passado, uniu-se a Barbosa há duas semanas por julgar que juntos teriam mais chances de vitória.

"O basquete foi por água abaixo na administração do Grego, por isso é uma eleição que está suscitando muito interesse e muita torcida por parte de todos", disse Medalha, que levou o Brasil ao quinto lugar nas Olimpíadas de Barcelona-92.

Otimista, a chapa de oposição confia na vitória.

"Estou chegando com pelo menos 14 votos fechados. Tenho votos suficientes para ganhar a eleição. Gostaria muito de me garantir como vitorioso, mas eleição é eleição. Vai ser uma briga até a última hora", apostou Barbosa, que acusa o atual presidente de tentar comprar votos.

"Estão pressionando de todas as formas possíveis. Essa semana mesmo um homem com a 'mala preta' foi ao Rio Grande do Norte para tentar reverter o voto do presidente da federação de lá", disse o oposicionista.

Segundo revelou Barbosa ao jornal "LANCE!", essa pessoa seria Sérgio Mello, ex-delegado de jogos da CBB, que foi afastado do cargo por suspeita de desviar verbas de viagens dos mesários que atuam no Nacional. Medalha tem mais denúncias.

"Eles já mandaram passsagem para vários presidentes irem ao Rio e curtirem o fim de semana antes da eleição. O de Roraima, por exemplo, já está lá faz tempo", afirmou Medalha, que vê na falta de transparência e na centralização de decisões os principais problemas da administração atual.

"É gravíssima a total falta de transparência. O Grego não tem diretoria formada, centraliza todas as decisões, não passa credibilidade para os empresários e faz política do dando que se recebe. Ninguém tem coragem de investir no basquete porque sabe que não dá para confiar", disse o ex-técnico da Seleção.

Procurado para comentar a polêmica em torno da eleição, o presidente Grego afirmou, por meio da assessoria de imprensa da CBB, que só vai se manifestar após o pleito. O silêncio, aliás, vem sendo praxe no comportamento do presidente. Convidado por uma universidade carioca para um debate com os presidenciáveis no fim de fevereiro, Grego não compareceu. Ele também se recusou a receber uma comissão dos representantes de clubes que queriam rediscutir os critérios de distribuição das verbas arrecadadas no Nacional masculino.

A recusa levou os clubes, liderados pelo ex-cestinha Oscar Schmidt, hoje dirigente do Telemar/Rio-2007, a criar uma liga independente , batizada de NLB (Nossa Liga de Basquete). Chamado para participar das reuniões, o presidente novamente preferiu o isolamento.

"A única pessoa que fechou as portas para a liga foi o Grego. Não conheço mais ninguém que seja contra a criação da liga", atacou Barbosa, que já se comprometeu a aceitar a filiação da NLB. "Vamos sentar e trabalhar a quantas mãos foram necessárias para fazer uma liga independente, mas vinculada à CBB".

"Nosso ojetivo é mudar a situação que está aí porque, se não conseguirmos, projetamos um futuro negro para o basquete", afirma Medalha, referindo-se a uma crise técnica e institucional como há muito não se via no país.

Na parte técnica, destacam-se o declínio assombroso da Seleção masculina, a fuga das poucas jovens revelações para o exterior e o sucateamento dos campeonatos nacionais, marcados nos últimos anos por baixo nível técnico, desistências de clubes no decorrer dos torneios e resultados decididos no tapetão. Na parte institucional, há o "racha" com os clubes, acusações de desvio de dinheiro por parte de membros da entidade e ações judiciais por parte de uma empresa de marketing que já renderam um prejuízo de cerca de R$ 3 milhões de reais à CBB.

Como se não bastasse, o basquete recebeu seguidos "puxões de orelha" do Comitê Olímpico Brasileiro por não aplicar bem os recursos provenientes da Lei Agnelo-Piva (cerca de R$ 6 milhões desde 2002), deixando de cumprir metas em itens como evolução técnica, aumento no número de praticantes, melhoria na infra-estrutura de treinamento, criação de centros de excelência, entre outros.

AS CRISES DA GESTÃO GREGO

Seleção masculina: Fora das duas últimas Olimpíadas e com fraco desempenho nos últimos Mundiais, a equipe pode ficar sem sua maior estrela na atualidade, o ala-pivô Nenê, que não quer jogar enquanto Grego estiver no poder.

Nossa Liga de Basquete: Insatisfeitos com critérios de distribuição da verba arrecadada com o Nacional, clubes se uniram para formar liga independente e confrontar a CBB; Grego ainda não se manifestou sobre o assunto.

Caso Sportlink: Quando assumiu o cargo, em 1997, Grego rompeu de forma unilateral o contrato com a agência de marketing, que já ganhou cerca de R$ 3 milhões na Justiça e ainda tem três processos em andamento.

Principais críticas: Opositores atacam o atual presidente pela falta de transparência nas contas, por centralizar as decisões e pela decadência dos campeonatos nacionais em sua gestão.

QUEM É HÉLIO BARBOSA

Candidato de oposição à presidência da CBB (Confederação Brasileira de Basquete), Hélio Barbosa é engenheiro eletricista aposentado pela Eletrobrás, empresa estatal que atualmente patrocina a entidade. Para ele, seu bom relacionamento com a empresa, na qual se aposentou em 1996, pode ser benéfico em caso de vitória sua na eleição da próxima segunda-feira.

"Isso até facilita porque tenho muitos contatos lá. O atual vice-presidente financeiro foi engenheiro meu quando trabalhei na Eletrobrás", diz Barbosa, que espera conseguir um aumento no valor do patrocínio da estatal, hoje em R$ 3 milhões anuais.

"Fico muito preocupado porque a cada ano temos menos retorno de mídia. E não é porque querem boicotar ou porque não gostam de basquete, é porque não temos um produto de valor", lamenta.

Sua experiência no basquete vem do trabalho como dirigente no Grajaú Country Club, do Rio de Janeiro, e da vivência como pai de atleta. Barbosa entrou no basquete em 1989, quando se assumiu o cargo de diretor da modalidade no Grajaú Country Club, do Rio de Janeiro, onde seu filho Dedé iniciou a carreira no esporte.

André Luiz Chueri da Silva Barbosa, 28 anos, mais conhecido como "Dedé", chegou à Seleção Brasileira adulta em 2003 e atualmente defende o time do Telemar/Rio-2007, líder do Nacional 2005.

Depois de quatro anos na diretoria, Hélio Barbosa foi eleito presidente da agremiação em 1993, cargo que ocupou até 2001. Desde então, é o presidente do conselho deliberativo do clube. Em 2000, ocupou o cargo de diretor executivo da Fundação Municipal de Esportes e Lazer do Rio de Janeiro.

O dirigente, porém, aponta sua formação acadêmica e profissional como principais qualidades para obter sucesso à frente da CBB.

"Tive toda uma formação de gestão, planejamento estratégico e controle de qualidade que quero trazer para a gestão do basquete brasileiro", promete.

Formado pela Universidade Católica de Petrópolis em 1972, trabalhou como engenheiro da Light (1973 a 1976) e da Eletrobrás (1977 a 1996), onde se aposentou. Foi também professor universitário e consultor na área de gestão de qualidade para a administração pública.

Atuou ainda como representante do Ministério de Minas e Energia em programas de qualidade para empresas como Petrobrás, Vale do Rio Doce e a própria Eletrobrás.


Fonte:
UOL

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