Quarta força do basquete feminino, Brasil se abriga no exterior
ADALBERTO LEISTER FILHO
da Folha de S.Paulo
Quarta força do basquete feminino na última Olimpíada, o Brasil inicia a atual temporada sem nenhuma selecionável no país. É a primeira vez que isso acontece desde a ascensão da seleção feminina como potência internacional, com o título do Mundial-94.
Como a seleção masculina não foi às duas últimas Olimpíadas, o país não terá nenhum olímpico em quadra nesta temporada.
Das 12 atletas que estiveram em ação na Grécia, quatro disputaram o Nacional-04. Porém, após o fim do torneio, houve novas perdas. A primeira a sair foi a armadora Karla, que acertou com o MTK Polfa Pabianice, da Polônia.
Outra reserva da seleção, Sílvia Gustavo perdeu o emprego no Americana. Sem opção, acertou com o Santo André... De Portugal. Janeth, maior estrela do Brasil, viaja no início de maio para disputar a WNBA pelo Houston.
A última que deve deixar o país é Vivian, dispensada anteontem do Santo André. Ela já acionou a pivô Cíntia Tuiú, sua colega de seleção, para tentar um clube fora do país. "Pensava em ir para o exterior só mais adiante", lamenta.
O basquete feminino vive em estado terminal há pelo menos quatro anos, com a saída dos principais patrocinadores. No passado, época das estrelas Paula e Hortência, a modalidade atraiu marcas fortes, como Leite Moça, Perdigão, BCN e Nossa Caixa.
"Não sei a razão para a falta de investimentos. Nós temos tido mais resultados internacionais do que o masculino. Acho que é uma questão cultural. O feminino sofre uma certa discriminação do empresariado", opina Antonio Carlos Barbosa, técnico da seleção.
Sem dinheiro em caixa, as mulheres sobreviveram do patrocínio da Unimed, que mantinha Ourinhos e Americana por meio de suas cooperativas locais. Ambas dominaram o basquete nos últimos três anos e foram protagonistas de oito finais em Paulistas, Jogos Abertos e Nacionais.
A situação de penúria se agravou com o fechamento do time adulto do Americana, no começo do mês. A empresa decidiu centrar atenção nas categorias de base e dispensou o elenco que tinha sete atletas com passagem pela seleção: Sílvia, Jacqueline, Lílian, Cristina, Cíntia Luz, Geisa e Ega.
Além de Sílvia, que se apresentou à nova equipe nesta semana, três atletas foram para o exterior.Cristina está no Extrugaza, e Ega acertou com o Celta, de Vigo, ambos da divisão principal da Espanha. Cíntia, menos afortunada, teve que se contentar com o Adba Santos, da segunda divisão.Geisa e Lílian ainda não assinaram com nenhuma equipe, mas podem deixar o país.
"A Lílian tem proposta da Espanha", informa a agente Karine Baptista. Por fim, Jacqueline, que se recupera de cirurgia no joelho direito, preferiu continuar em tratamento e não atuar no primeiro semestre.
Até o técnico Paulo Bassul, assistente de Barbosa durante a Olimpíada, deve seguir o mesmo caminho. Ele quer passar dois meses no exterior se reciclando. "Quero acompanhar treinos do universitário dos EUA e de times de Espanha e Itália", diz Bassul, que ainda não fechou roteiro.
No ano passado, preocupada com um novo fiasco da seleção (a equipe ficara em sétimo lugar no Mundial-02), a confederação brasileira fez um projeto de repatriamento, pagando salário para as atletas treinarem com a seleção. A iniciativa foi bem-sucedida, e as principais atletas, como Helen, Janeth e Alessandra, se apresentaram à equipe antecipadamente.
Neste ano, sem nenhum torneio importante, a CBB abortou o programa. O principal evento do calendário será a Copa América, em setembro, que classifica para o Mundial-06. O Brasil já tem vaga no Mundial por ser o país-sede.
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