sexta-feira, 18 de fevereiro de 2005

Com dispensa de Vivian e Sílvia Gustavo e saída de Janeth, ciclo para Pequim larga sem nenhuma atleta de Atenas

Brasil olímpico se abriga todo no exterior

ADALBERTO LEISTER FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL


Vivian, que deixou o Santo André e se unirá às 11 colegas que disputaram os Jogos de Atenas e agora têm emprego fora do Brasil Luiz Carlos Murauskas/Folha ImagemQuarta força do basquete feminino na última Olimpíada, o Brasil inicia a atual temporada sem nenhuma selecionável no país. É a primeira vez que isso acontece desde a ascensão da seleção feminina como potência internacional, com o título do Mundial-94.
Como a seleção masculina não foi às duas últimas Olimpíadas, o país não terá nenhum olímpico em quadra nesta temporada.
Das 12 atletas que estiveram em ação na Grécia, quatro disputaram o Nacional-04. Porém, após o fim do torneio, houve novas perdas. A primeira a sair foi a armadora Karla, que acertou com o MTK Polfa Palianice, da Polônia.
Outra reserva da seleção, Sílvia Gustavo perdeu o emprego no Americana. Sem opção, acertou com o Santo André... De Portugal.
Janeth, maior estrela do Brasil, viaja no início de maio para disputar a WNBA pelo Houston.
A última que deve deixar o país é Vivian, dispensada anteontem do Santo André. Ela já acionou a pivô Cíntia Tuiú, sua colega de seleção, para tentar um clube fora do país. "Pensava em ir para o exterior só mais adiante", lamenta.
O basquete feminino vive em estado terminal há pelo menos quatro anos, com a saída dos principais patrocinadores. No passado, época das estrelas Paula e Hortência, a modalidade atraiu marcas fortes, como Leite Moça, Perdigão, BCN e Nossa Caixa.
"Não sei a razão para a falta de investimentos. Nós temos tido mais resultados internacionais do que o masculino. Acho que é uma questão cultural. O feminino sofre uma certa discriminação do empresariado", opina Antonio Carlos Barbosa, técnico da seleção.
Sem dinheiro em caixa, as mulheres sobreviveram do patrocínio da Unimed, que mantinha Ourinhos e Americana por meio de suas cooperativas locais. Ambas dominaram o basquete nos últimos três anos e foram protagonistas de oito finais em Paulistas, Jogos Abertos e Nacionais.
A situação de penúria se agravou com o fechamento do time adulto do Americana, no começo do mês. A empresa decidiu centrar atenção nas categorias de base e dispensou o elenco que tinha sete atletas com passagem pela seleção: Sílvia, Jacqueline, Lílian, Cristina, Cíntia Luz, Geisa e Ega.
Além de Sílvia, que se apresentou à nova equipe nesta semana, três atletas foram para o exterior.
Cristina está no Extrugaza, e Ega acertou com o Celta, de Vigo, ambos da divisão principal da Espanha. Cíntia, menos afortunada, teve que se contentar com o Adba Santos, da segunda divisão.
Geisa e Lílian ainda não assinaram com nenhuma equipe, mas podem deixar o país. "A Lílian tem proposta da Espanha", informa a agente Karine Baptista.
Por fim, Jacqueline, que se recupera de cirurgia no joelho direito, preferiu continuar em tratamento e não atuar no primeiro semestre.
Até o técnico Paulo Bassul, assistente de Barbosa durante a Olimpíada, deve seguir o mesmo caminho. Ele quer passar dois meses no exterior se reciclando.
"Quero acompanhar treinos do universitário dos EUA e de times de Espanha e Itália", diz Bassul, que ainda não fechou roteiro.
No ano passado, preocupada com um novo fiasco da seleção -a equipe ficara em sétimo lugar no Mundial-02-, a confederação brasileira fez um projeto de repatriamento, pagando salário para as atletas treinarem com a seleção.
A iniciativa foi bem-sucedida, e as principais atletas, como Helen, Janeth e Alessandra, se apresentaram à equipe antecipadamente.
Neste ano, sem nenhum torneio importante, a CBB abortou o programa. O principal evento do calendário será a Copa América, em setembro, que classifica para o Mundial-06. O Brasil já tem vaga no Mundial por ser o país-sede.

PINGUE-PONGUE


"Vou passar por essa", diz Vivian após dispensa


DA REPORTAGEM LOCAL

A conversa parecia rotineira. Não foi. Vivian ouviu da técnica Laís Elena que estava fora do Santo André. Última remanescente das olímpicas no país, Vivian, 29, jogava no time do ABC havia 14 anos. A treinadora evita polêmica. "A Vivian merecia ganhar mais. Nossa verba é limitada." (ALF)


Folha - Você ficou surpresa com a dispensa da equipe?
Vivian - Fiquei. Às vezes queria sair, mas como gosto do Santo André acabava ficando. Estou aqui desde os 15 anos. A Arilza [Coraça, assistente de Laís Elena] me trouxe quando estava machucada e sempre me apoiou. Considero ela como parte da família. Tenho muita afinidade com ela. Não com a Laís. Mas já enfrentei muitas dificuldades na carreira. Vou passar por essa.


Folha - Quais?
Vivian - Fiz seis cirurgias nos joelhos. Fiquei no total uns seis ou sete anos parada por causa disso. Se eu consegui voltar a jogar foi porque Deus sempre colocou as pessoas certas no meu caminho.


Folha - Quais são seus planos para esta temporada?
Vivian - Só deu tempo de arrumar as malas. Vou deixar o apartamento, que é alugado pelo clube. Tinha recebido proposta da Europa. Não gostaria de deixar o país por causa da família, mas agora é uma opção.

Fonte: Folha de São Paulo

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