terça-feira, 10 de agosto de 2004

Bravo, Janeth!

É maravilhoso quando alguém dá voz à indignação coletiva, como Janeth faz, na FOLHA de hoje.

ATENAS 2004

Ala afirma que time feminino é o carro-chefe do basquete no país e aponta falta de preparo entre os homens

Janeth cobra atenção e rebaixa masculino

DO ENVIADO A ATENAS

Se a seleção brasileira de basquete conseguiu algum respeito internacional nos últimos dez anos, isso se deve às mulheres. Baseada nesse fato, a ala Janeth, maior estrela do time feminino, cobrou ontem mais atenção da confederação brasileira.
"Quem carrega a CBB [Confederação Brasileira de Basquete] hoje é o feminino. Aliás, nem é só agora. Já há algum tempo. Você fala do feminino do Brasil no exterior e todo mundo respeita. Estamos entre os melhores. Quando fala do masculino, os caras nem sabem quem joga", declarou a ala.
Desde 1994, as mulheres foram campeãs mundiais e conquistaram duas medalhas olímpicas: uma prata e um bronze. Os homens ficaram fora de Sydney-2000 e de Atenas-2004. Nos Mundiais, colecionaram fracassos.
"O patrocínio da Eletrobrás foi conseguido pelo feminino. Por mais que o Grego [Gerasime Bozikis, presidente da CBB] peça ajuda ao masculino, a Eletrobras diz que gosta é do feminino, que traz títulos", afirmou Janeth.
De fato, há alguns meses, o dirigente diz negociar uma ajuda também para o masculino. "As conversas estão evoluindo, mas não dá para falar quando iremos fechar algo", disse Grego.
Alheia às negociações da CBB, Janeth aponta um defeito grave no masculino. Financiadora de escolinhas de basquete em Santo André, acredita que falta preparação nas categorias de base.
"É difícil falar, mas tenho um palpite: é preciso mais qualidade. Até mesmo os rapazes da NBA não sei se foram bem preparados para segurar a seleção brasileira", analisa a ala, referindo-se a Nenê, Leandrinho, Alex, Baby e Anderson Varejão, que jogam na liga.
Mesmo com as estrelas em quadra, a seleção masculina fracassou no último Pré-Olímpico, em Porto Rico, no ano passado. As mulheres, por sua vez, foram campeãs da competição, no México.
Na seleção, Janeth é quem lidera as reivindicações. Recentemente se reuniu com Grego e conseguiu mudar o planejamento do time. "Iríamos treinar no CT do COC [em Ribeirão Preto], mas pedimos para ficar em São Paulo, já que a maioria das jogadoras tem família na capital."
Ainda reclamando de uma contratura muscular nas costas, Janeth acredita que não terá problema para atuar na estréia da equipe, no sábado, contra o Japão. A atleta foi poupada dos últimos jogos preparatórios e vem fazendo fisioterapia -a seleção feminina levou duas profissionais a Atenas.
"Ainda sinto dores, mas uma semana de descanso vai me deixar recuperada", contou a ala. (ADALBERTO LEISTER FILHO)

Cartola da CBB diz que ala está "equivocada"

DO ENVIADO A ATENAS

O presidente da CBB, Gerasime Bozikis, o Grego, negou que dê prioridade ao masculino e disse que a entidade trata com igualdade as duas seleções.
"E, no momento, elas são a nossa maior prioridade, já que os homens não foram para a Olimpíada, e as mulheres vão disputá-la. Se ela falou isso, está equivocada", afirmou.
"Se chegarmos aos Jogos de Pequim no masculino e no feminino, trataremos as duas equipes de maneira igual."
O presidente da CBB diz que não é o responsável pelo masculino estar mais estruturado no país. "Não tenho culpa. Ele é muito mais antigo até no movimento olímpico", afirmou, referindo-se ao fato de a disputa entre os homens ter acontecido pela primeira vez em St. Louis, há cem anos. As mulheres só chegaram em Montréal-1976.
Grego lembrou que, neste ano, a confederação investiu para segurar as atletas da seleção no Brasil. "Com isso, o time teve tempo de se preparar."
O improviso de contar com as atletas só às vésperas da estréia foi uma das razões apontadas pelo técnico Antonio Carlos Barbosa para o fracasso no Mundial da China, em 2002, quando o Brasil foi sétimo.
Para rebater Janeth, Grego usou até a questão do patrocínio. "Só o feminino conta com o apoio da Eletrobrás." (ALF)

Fonte: Folha de São Paulo


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