domingo, 16 de maio de 2004

Maria Helena Cardoso, uma técnica de verdade

Outro destaque do novo site da Finasa Esportes é uma entrevista com a querida técnica Maria Helena Cardoso. Transcrevo-a a seguir e destaco alguns trechos.

Maria Helena e a paixão pelo basquete

26/04/04 - A treinadora participou ativamente da criação do Programa Finasa Esportes

FinasaA história de Maria Helena Cardoso se confunde com a história do basquete brasileiro e é parte integrante da história do Programa Finasa Esportes. Afinal, a treinadora e ex-jogadora dedica-se há quase 50 anos à modalidade e teve participação ativa na criação do então Projeto BCN Esportes, reconhecido como um dos mais importantes do país na formação de atletas, em 1987, em Piracicaba.

Maria Helena e sua auxiliar técnica, Maria Helena Campos, a Heleninha, foram responsáveis pela revelação e a consolidação de carreiras de atletas campeãs como Magic Paula, Vânia Teixeira, Vânia Hernandez, Nádia, Branca, Ruth, Janeth, Alessandra, entre muitas outras.

Paulista de Descalvado, Maria Helena atualmente comanda a equipe espanhola de Mendibil, da cidade de Hondarribia, no País Basco. Nesta entrevista exclusiva ao site www.finasaesportes.com.br, ela admite que não consegue se esquecer do projeto que ela ajudou a criar. Fala também de suas alegrias e conquistas como jogadora e treinadora do BCN de 1986 a 1992 e de 1995 a 1999 e da seleção brasileira.

Maria Helena, formada em Educação Física e Pedagogia, com cursos de Administração Escolar, Supervisão Escolar e Técnico em Basquete, defendeu a seleção brasileira em 153 partidas, disputou quatro Campeonatos Mundiais, participou de três Jogos Pan-Americanos e seis Campeonatos Sul-Americanos.

Finasa Esportes – Como vê o Programa Finasa Esportes, que você acompanhou de perto a implantação ainda em Piracicaba?

Maria Helena – Sinto muito orgulho de ter participado desse projeto que hoje se chama Programa Finasa Esportes, principalmente porque, mesmo mudando estruturalmente, mantém a filosofia inicial de ser um projeto social que visa sobretudo formar não apenas atletas mas educar por intermédio do esporte.

Finasa Esportes – Você sempre deu muita atenção ao trabalho de base e foi responsável pela revelação de inúmeras atletas. O Programa Finasa Esportes é a fórmula ideal?

Maria Helena – Para responder esta questão precisamos separá-la em duas partes. A primeira seria em relação a parte do projeto que cuida do vôlei. Creio que aí, o projeto atinge todos os aspectos, formativo e revelação de valores. Quanto à parte do basquete, creio que com o término da equipe principal altamente competitiva, ficou um vazio. As atletas reveladas nas categorias de base não têm o “espelho”. Apesar disso, não tenho dúvidas em afirmar que o Programa Finasa é no momento o melhor projeto de esporte formativo que existe em nosso país.

Finasa Esportes – Como você se sente vendo a Macau e a Neusinha, que foram suas atletas, agora trabalharem como técnicas?

Maria Helena – Sinto muito orgulho de ao longo de minha carreira de técnica de basquete ter contribuído na formação não apenas de jogadoras, mas de profissionais altamente capacitadas. Ver a Macau e Neusinha, minhas antigas atletas, agora técnicas é para mim uma de minhas maiores vitórias e orgulho.

Finasa Esportes – Quando o então BCN passou a patrocinar a equipe da ADC Unimep, você estava em Piracicaba. O que significou aquele momento para o time e para a modalidade?

Maria Helena – A entrada do BCN no basquete feminino foi um marco importante não apenas para Piracicaba mas para o Brasil. O Programa pode se orgulhar de ter contribuído diretamente pelo trabalho de desenvolvimento de talentos na conquista de medalhas que nosso país conseguiu no basquete feminino nas duas últimas Olimpíadas.

Finasa Esportes – Faça uma análise do período em que você trabalhou à frente da comissão técnica do BCN?

Maria Helena – Foi o período mais importante e vitorioso de minha carreira. Através do meu trabalho, juntamente com minha comissão técnica, pude conquistar muitos títulos, nacionais e internacionais, e mais ainda, ser chamada, com muito orgulho, para ser técnica da seleção nacional. O BCN foi realmente um marco em minha vida e na minha carreira de técnica, ainda mais porque minha identidade filosófica com a empresa foi, é e será eterna. O carinho de antes é o mesmo de hoje e seguirei sempre torcendo para o sucesso desse projeto.

Finasa Esportes – Como foi vencer a seleção da WNBA? O que esse resultado representou para o basquete naquele momento?

Maria Helena - Não só para aquele momento. Até hoje aquele resultado se eternizou como um dos maiores feitos do basquete feminino brasileiro a nível mundial.

Finasa Esportes – Que análise você faz do basquete feminino do Brasil atualmente?

Maria Helena – Sinto imensamente que, por falta de patrocinadores, possibilidades de manutenção e de organização de nosso esporte, nossas melhores jogadoras tenham de sair do país para trabalhar. Temos pouca gente se preocupando com a formação, mas, ao mesmo tempo, para quê formar se depois essas jogadoras não tem onde jogar? Um Campeonato Nacional com tão poucas equipes, e pouca divulgação... No entanto, temos ainda um grupo de jogadoras altamente competentes tecnicamente e ainda mais com muita responsabilidade profissional. Isto nos dá esperanças.... Empresas sérias como o Bradesco, que continuam acreditando nesse esporte. Isto nos da alento. Pessoas que amam o basquete feminino e seguem trabalhando por ele. Tudo isso nos dá credibilidade.

Finasa Esportes – Qual a sua expectativa em relação à campanha da seleção brasileira na Olimpíada?

Maria Helena – Acredito que temos condições de seguir ganhando medalhas. Apesar das dificuldades, no final, o talento brasileiro se faz maior.

Finasa Esportes – Como você analisa tecnicamente a nova safra de atletas do Brasil?

Maria Helena – O Brasil sempre foi e sempre será um país de talentos natos. Só precisamos dar chance para que eles se desenvolvam.

Finasa Esportes – Como é tecnicamente o basquete na Espanha, em particular, e na Europa, de uma maneira geral?

Maria Helena - Existe por aqui um fator fundamental para o sucesso de seus campeonatos: o fator financeiro. Com o valor do Euro, os países podem importar jogadoras de todo mundo. Existe ainda outro fator: as possibilidades das jogadoras comunitárias jogarem (as que fazem parte da comunidade européia e que jogam como nacionais). Isto faz com que muitos patrocinadores invistam e os campeonatos se tornam mais competitivos.

Finasa Esportes – Quais as semelhanças e diferenças do basquete europeu com o do Brasil?

Maria Helena - O basquete europeu é mais profissional e o brasileiro, mais amor (de poucos, mas que valem por muitos). O europeu é mais organizado, mas, nosso país, com mais possibilidades financeiras, também poderia voltar a ser mais organizado e competitivo. Tecnicamente, nosso basquete é mais veloz, mais dinâmico e temos maior volume de jogo. Não posso dizer muito mais porque estou aqui somente há seis meses e conheço muito pouco a estrutura das outras equipes e da federação.

Finasa Esportes – Voltar a comandar a seleção brasileira faz parte de seus planos?

Maria Helena – Nunca fiz planos para meu futuro, nem mesmo quando fui chamada pela primeira vez para ser técnica da seleção. Meu futuro pertence a Deus e Ele é que vai me colocar onde mais precisar de mim.

Finasa Esportes – Você gostaria de retornar ao basquete nacional? Até quando vai seu contrato com a equipe espanhola?

Maria Helena - Meu contrato aqui termina quando terminar a participação do PC Mendibil na Liga Feminina desta temporada. Já fui convidada para voltar na próxima temporada pelo mesmo clube em que estou, mas, pelo mesmo motivo que disse na pergunta anterior, vamos deixar o futuro para o futuro... Trabalhando bem e vivendo bem o presente e, se Deus me der saúde, certamente Ele estará reservando o melhor para mim, seja dentro ou fora das quadras, dentro ou fora de meu país. Claro que para minha alegria, seria melhor dentro da quadra e de meu país.

Finasa Esportes - Qual conquista você considera a mais importante em sua carreira?

Maria Helena – São várias. Na conquista moral, o respeito e o reconhecimento que tenho dentro e fora do Brasil. No setor profissional, ser campeã pan-americana como jogadora (Cali/71) e 20 anos depois ser campeã pan-americana como técnica (Cuba/91). Ser a técnica da seleção nacional, quando o Brasil conseguiu pela primeira vez na sua história a classificação para participar de uma Olimpíada (a de Barcelona/92)

Finasa Esportes - Quais sugestões você daria para o desenvolvimento e aprimoramento do basquete feminino do Brasil?

Maria Helena – União de todos, governos, confederação, federações, clubes, empresas, para trabalhar para o desenvolvimento do basquete feminino.

Finasa Esportes - Fale um pouco sobre a equipe do Mendibil, que você está dirigindo atualmente.

Maria Helena - Minha equipe tem sede na cidade de Hondarribia, cidade do país Basco, de 15 mil habitantes, que faz parte da Baía de Txingudi. A baía de Txingudi é formada pelo rio Bidasoa e o mar Cantabrico. Ao redor da baía estão três cidades: Hondarribia e Irun, na Espanha, e Hendaye, na França. Estamos situadas então, no norte da Espanha, na divisa com a França. As cidades de Hondarribia e Irun, em conjunto, e os patrocinadores, mantêm e ajudam a equipe. Fui muito bem recebida aqui, estamos trabalhando como uma equipe recém-ascendida à primeira divisão, cuja meta primeira era manter-se na primeira divisão. O campeonato espanhol conta com 14 equipes na primeira divisão e 27 equipes na segunda. As duas equipes primeiras classificadas da segunda divisão ascendem à primeira e duas últimas equipes da primeira divisão caem para a segunda.

Finasa Esportes – Então boa sorte e muito sucesso, aliás, como sempre.

Maria Helena – Muito obrigada pela oportunidade. Foi bom conversar com vocês e lembrar de muitas coisas boas.


Fonte:
Finasa Esportes