quinta-feira, 23 de outubro de 2003

Ministro pega verba do governo, mas vibra no Pan à custa do COB

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Após dois meses, Agnelo Queiroz diz que vai devolver RÏ 5.436 dos RÏ 11.112 que recebeu do ministério
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FERNANDO MELLO
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

Agnelo Queiroz recebeu verba do Ministério do Esporte para pagar despesas que acabaram sendo bancadas pelo Comitê Olímpico Brasileiro durante os Jogos Pan-Americanos de Santo Domingo.
O ministro não só passou 65 dias sem devolver o dinheiro do governo como jamais tocou no assunto. Somente ontem, após as críticas de Paula, ex-secretária da pasta, ele anunciou que vai devolver metade da verba que recebeu e que o ministério irá ressarcir o COB, entidade presidida por Carlos Arthur Nuzman.
Ainda hoje, Queiroz irá depositar, segundo sua assessoria, R$ 5.436,00 na conta do Tesouro Nacional, o que é menos da metade do que ele recebeu do governo.
De acordo com duas ordens bancárias, emitidas em 29 de julho e em 13 de agosto, o ministro recebeu um total de R$ 11.112,00 para "pagamento de diárias" na República Dominicana. Os dados a que a Folha teve acesso estão no Siafi, o Sistema Integrado de Administração Financeira.
O problema é que a hospedagem de Queiroz, 44, no hotel Jaragua foi paga integralmente pelo Comitê Olímpico Brasileiro.
Durante os Jogos, Queiroz esteve duas vezes no país caribenho, entre 30 de julho e 7 de agosto e depois para participar da cerimônia de encerramento do Pan, no dia 17 de agosto.
Em Santo Domingo, o ministro desfilou pela Vila Olímpica com camiseta da Olympikus, a patrocinadora do COB, assistiu a mais de dez competições, boa parte das vezes ao lado de Nuzman, e ainda sambou durante o desfile final.
Já no Brasil, recebeu o presidente do COB e os atletas para homenagem no Palácio do Planalto, quando ficou ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Segundo a Folha apurou, o pagamento da hospedagem de integrantes da comitiva do governo pelo COB foi um dos motivos que levaram a ex-jogadora de basquete Paula a se demitir do cargo na Secretaria Nacional de Esporte de Alto Rendimento do ministério, que será publicada na edição de hoje do Diário Oficial da União.
Para Paula, havia um conflito ético na prática, uma vez que o COB recebe dinheiro do governo federal, por meio da Lei Piva (que capta parte da arrecadação das loterias), e tem interesses estratégicos nas decisões do ministério.
Irritada com a influência de Nuzman no ministério e com o privilégio dos recursos ao esporte de alto rendimento, em detrimento da base, Paula pediu demissão na semana passada.
Só que, segundo o ministério, a ex-secretária reclamou, mas não devolveu o dinheiro que também recebeu do governo pela viagem, mesmo os gastos de hotel tendo sido pagos pelo COB.
Ao fazer sua rescisão, terá descontada, de acordo com a assessoria de Agnelo Queiroz, 50% do que recebeu para ir ao Pan -o ministério aponta que Paula ganhou US$ 2.400 por oito dias em Santo Domingo. Procurada pela Folha, Paula não foi encontrada para comentar a situação.
Antes de Queiroz, Benedita da Silva, da Assistência Social, também teve problemas para explicar gastos do governo em uma viagem. A ministra havia ido à Argentina, onde participou de um encontro religioso, com passagem para ela e uma assessora custeadas pelo governo.
Quando um ministro de Estado viaja para o exterior, recebe diária para cobrir gastos com hospedagem e alimentação. O valor pode variar, dependendo do destino da viagem. No caso de Santo Domingo, é de US$ 300, segundo a assessoria da pasta.
Os ministros não são obrigados a prestar contas sobre suas despesas nem têm que devolver aos cofres públicos o que não gastaram nas viagens.
Além de Queiroz e Paula, viajaram para a República Dominicana o então secretário-executivo Gil Castello Branco e os assessores André Arantes e Luiz Fernando Veronez. A hospedagem de Castello Branco também foi paga pelo COB, segundo o ministério, mas as de Arantes e Veronez, não.
O escândalo do Pan surge exatamente no momento mais crítico da gestão de dez meses do ex-deputado comunista na pasta.
Dois dos principais pilares do ministério são comandados por funcionários interinos -a Secretaria de Alto Rendimento por Arantes e a Executiva por Cláudio Monteiro, também chefe de gabinete do ministro de Esporte.

Fonte: Folha

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