quinta-feira, 7 de agosto de 2003

"- Que diferença da mulher pro homem tem?
- Espera aí que eu vou dizer, meu bem."


Embalado pelo ouro dos meninos, dormi com essa música na cabeça e tentando desvendar o enigma. Queria descobrir por qual conspiração universal há um nítido abismo entre as seleções masculina e feminina de basquete que disputam o Pan.

Os homens já se lambuzaram no ouro.

Talvez o ouro até venha pra as mulheres. Deus queira.

Mas chega a incomodar assistir no mesmo dia (como ontem) uma partida do masculino (contra a República Dominicana) e do feminino (contra Cuba).

No masculino, um cheiro de vitória insiste em vazar da televisão. Há um brilho nos olhos e no jogo. O time, mal mudou de treinador, tem uma cara. Em pouco tempo, Lula criou uma equipe. E as evidências insitem que ele está no caminho certo. Os risos são freqüentes, em quadra e no banco. O jogo é fértil em assistências. O revezamento constante. O banco corresponde às oportunidades. O diálogo é cotidiano. Nas entrevistas, nas cestas, nas comemorações, transparece a paixão (ou o tesão) pelo basquete.

Do lado de cá, o filme é menos romântico. Não fosse a miscigenação, poderíamos pensar até que a seleção norueguesa foi convidada a disputar o torneio de basquete feminino dos Jogos Pan-Americanos.

Barbosa, completando sete anos no comando da seleção, ainda não conseguiu dar uma cara ao time. Talvez tenha conseguido marcar apenas uma de suas características: a irregularidade. Sete anos? Espelho quebrado? Não sei. O que sei é que anda cada vez mais difícil engolir o basquete que nos empurram goela abaixo. Tragam o ouro ou o quarto lugar, os defeitos estão escancarados; mas a sina parece ser carregá-los infinitamente. E o fim pode estar perto.

Não gostei das atuações até agora. Nenhuma me convenceu. Engraçado mesmo que numa vitória de quase 60 pontos sobre um adversário medíocre como a República Dominicana, há um desconforto no ar, uma insatisfação permanente.

Não me lembro de uma seleção que errasse tantos lances-livres. Já repararam? O índice de bolas ao aro é altíssimo. Engraçado que nos clubes, elas não erram tanto assim; mas na seleção, algo acontece e enfiar a bola na cesta parece prova do Caldeirão do Huck. Não sei por que isso acontece. Mas enfim, isso parece não preocupar a comissão técnica.

Aliás, alguma coisa preocupa nossa comissão técnica?

Barbosa tem desculpa para todas as derrotas: a ausência de Fulana, a contusão de Ciclana, a boa partida do adversário, a inexperiência, e até a desconcentração.

É, até a desconcentração.

Já viram como o time repete em sete anos os mesmos erros?

Barbosa ainda não consegue extrair, depois de tanto tempo, o melhor da sua dupla de pivôs. E olha que como titulares, ele tem Cíntia e Alessandra, campeoníssimas, destaques na Europa, passagens com êxito pelo WNBA. Ele se embanana todo com as duas. De maneira geral, quando as duas estão em quadra, Cíntia vira uma espécie de "assistente" de Alessandra. Na maioria das vezes, joga bem distante da tabela. O jogo ofensivo de Tuiú só começa a aparecer quando Alessandra descansa.

O time ainda insiste numa jogadinha banal. Aquele célebre "chuveirinho" pra Alessandra concluir anda cansando... Outro dia achei que tava revendo uma das fitas do Mundial de 98. Era o Brasil 2003, achando que ainda pode resistir aos adversários com uma jogada tão simplória...

Seguindo. Não sei por que Barbosa continua tendo tanta dificuldade de revezar. Faça um teste. Lembre-se das últimas partidas da seleção e tente recordar quantas vezes passamos sufoco na hora do revezamento.

Problema crônico do treinador, ele continua a nos apavorar.

Barbosa é incapaz de envolver seu banco na partida, desde os velhos tempos. Ele segura (e desgasta) as titulares até o bagaço. Na hora que elas estão no bagaço, ele faz uma troca nos pivôs. De repente, ele sapeca duas mudanças (geralmente casadas) e o padrão de jogo vai às cucuias.

E ser banco de Barbosa é uma coisa difícil. Ele tenta até disfarçar, mas não confia no seu banco. Tanto não confia, que não usa.

Todo banco de Barbosa é inseguro. E ele faz de conta que não. Deixa até a jogadora do banco errar bastante. Quer ter a consciência livre de que deu a oportunidade.

Assim não há quem aguente. Acho que não é mera coincidência o pedido de aposentadoria precoce de Claudinha e Adriana neste ano.

Se fosse no vôlei, era crise, revolta. No basquete, a gente entende e fica tudo como está.

E porque o time assiste tão pouco e mal?

Dê uma olhada nas estatísticas da seleção. As assistências são minguadas.

As jogadas, em sua maioria, são individualistas.

E o clima em quadra é fúnebre.

Você se lembra a última vez que viu uma atleta na seleção comemorando uma cesta? (Não conta a Vívian!) E se abraçando? E fazendo aquela tradicional reunião na cabeça do garrafão?

Eu não me lembro.

Amanhã, o time joga as semifinais contra os Estados Unidos, de quem sofreu sua única e humilhante derrota na primeira fase. Façamos um partidão ou uma partidinha; algo já ficou claro nesse Pan: o time não está bem. E não há Helen, nem Janeth, nem Iziane, nem Érika, nem Leila Sobral que vá revolucionar isso.

Não é de fora que vai surgir a solução pra um problema tão grande.

Enfim, assim são meninos e meninas.

Guilherme & Cia vão pro Pré-Olímpico revigorados pelas últimas atuações. Confiantes, mesmo que a vaga não venha. Ainda levam a esperança de serem reforçados por seus NBA-Boys.

Já Adrianinha & Cia tem uma missão mais fácil: é só ganhar de Canadá e Cuba. Mas confiança, quem tem?

A minha única no momento é de que felizmente os Estados Unidos não vão mandar nem sua equipe principal, nem a juvenil, nem a mini, nem a mirim pra esse torneio.

E isso já é um bom começo...pra evitar o fim.

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