quinta-feira, 23 de julho de 2015

Ourinhos perde “Seu” Mário, um dos maiores torcedores do Ourinhos Basquete







A cidade de Ourinhos e o basquete feminino brasileiro amanheceram mais tristes. Faleceu na madrugada de quarta-feira, 22, aos 89 anos, Mário Luiz, o “Seu Mário, ou “Bita como muitos chamavam, um dos torcedores mais fanáticos e ilustres do Ourinhos Basquete, que durante os quase 20 anos de existência da equipe ourinhense, acompanhou de perto os títulos históricos, assistindo a todos os jogos e treinos no Ginásio José Maria Paschoalick, o “Monstrinho”, onde fazia questão de comparecer diariamente para conversar com atletas, treinadores e dirigentes.
Em todos estes anos, seu Mário colecionou inúmeros amigos no basquete, e ficou marcado pelo seu comportamento polêmico durante as partidas no Monstrinho, em que ficava a beira da quadra, pressionando os árbitros a cada lance marcado contra a equipe ourinhense, assim como os técnicos e jogadores das equipes adversárias. Esta atitude, ao contrário de causar irritação, atraía a simpatia de todos, e após as partidas todos faziam questão de vir abraçá-lo e cumprimentá-lo pelo belo exemplo de torcedor apaixonado pelo seu time de coração.

A história de “Seu” Mário
Mário Luiz, o “Seu” Mário, nasceu em Avaré em 29 de abril de 1926 e se mudou anos mais tarde para São Paulo, onde se casou e teve seus dois primeiros filhos. Rosa (63 anos) e Mario Aparecido de Sousa Luiz (57 anos). No início dos 60 decidiu vir para Ourinhos, cidade por qual se apaixonou, se tornando mais um ourinhense de coração e onde teve sua filha caçula, Fátima, de 45 anos.
“Seu” Mário trabalhou no CSU (Central Social Urbano) como porteiro durante muitos anos até se aposentar. Após a aposentadoria, ele pôde se dedicar integralmente a grande paixão da sua vida: o Ourinhos Basquete que surgiu em 1997 e que na década de 2000 viveu seu grande auge, ganhando diversos títulos regionais, estaduais e nacionais, além de um Sul-Americano, quando se tornou a “capital nacional do basquete feminino”.
Neste período, “Seu” Mário conheceu e fez amizade com diversas personalidades do basquete feminino nacional, tais como: a ex- atleta “Magic” Paula, Janeth Arcain, Ariadna e Êga, entre outras atletas. Dentre
seus amigos do basquete, um deles era muito especial, outro grande apaixonado pelo basquete de Ourinhos e responsável direto pelos anos de glória da equipe: Chicão Quagliato, o “Tio Chico”.
Ambos assistiam às partidas da equipe na arquibancada do Monstrinho e comemoravam juntos os títulos conquistados pelo time.
No entanto, “Seu Mário perdeu seu grande amigo em fevereiro do ano passado, e alguns meses depois, em junho, sua maior paixão também disse Adeus, ou como ele preferia acreditar, um até breve. Após a morte de Chicão, e vivendo grande dificuldade financeira, a equipe do Ourinhos Basquete encerrou suas atividades e hoje, um ano depois, somente os mais apaixonados pelo time, como “Seu” Mário, ainda acreditam em seu retorno.
Aos 89 anos, já com a saúde frágil, devido a um enfisema pulmonar, “Seu” Mário teve um AVC (Acidente Vascular Cerebral) há um mês que paralisou os movimentos do lado direito do seu corpo, e embora continuasse lúcido e reconhecendo as pessoas, perdeu a voz. Ficou duas semanas na UTI da Santa Casa e chegou a melhorar e ir para o quarto há uns 15 dias, no entanto, seu estado piorou e estava há dez dias na Unidade de Terapia Semi-Intensiva, onde aguardava vaga para voltar novamente a UTI. Na noite de terça-feira, 21, o estado de “Seu” Mário se agravou e ele morreu no início da madrugada de quarta-feira, 22.

“Amizade com todos foi grande aprendizado”, diz filho
Em entrevista exclusiva ao Tribuna, um dos seus filhos, Mario Aparecido de Sousa Luiz, o “Marinho” contou como foram os anos de alegria de seu pai acompanhando a equipe de basquete e qual maior exemplo deixou aos filhos. “Meu pai se apaixonou pelo time de Ourinhos desde o início, tinha amizade com todos, vivia no Monstrinho, além de viajar junto com a equipe quando jogava fora. Um dos técnicos que mais gostava e tinha amizade era o Ferreto, que ganhou o primeiro título da equipe e ficou vários anos por aqui. Mas sua amizade mais especial, sem dúvida, era com o “Tio Chico” que todo ano, quando chegava próximo ao seu aniversário, fazia questão de mandar carne, bebidas e salgados para que ele comemorasse com seus amigos e parentes. Meu pai respirava basquete e quando o time acabou, ficou muito triste, mas acreditava que era algo passageiro e que o time iria voltar. O maior aprendizado que meu pai deixou é de cativar a amizade de todos. Embora ele tenha feito muitas amizades no basquete, tinha amigos em todos os lugares da cidade, por onde passava era muito querido. É esta característica do meu pai que mais marcou para mim e minhas irmãs e é isso que quero levar para a minha vida. Por isto, quero agradecer esta homenagem do “Tribuna” e dizer que nossa família fica muito grata por este reconhecimento”, ressaltou.
“Tipo de torcedor que é exemplo para todos”, afirma Ferreto
Em entrevista ao Tribuna, o ex-técnico do Ourinhos Basquete, Edson Ferreto se mostrou emocionado com a morte de “Seu” Mário e ressaltou sua importância como um dos “torcedores-símbolos” de Ourinhos. “Fico até sem saber o que dizer com uma notícia tão triste como a morte do “Seu” Mário. Com certeza ele é uma das melhores lembranças que guardo de Ourinhos, que sempre foi uma cidade que respirou basquete e que tinha pessoas como ele, que era um torcedor apaixonado por Ourinhos e com que estabeleci uma amizade muito além do basquete, com que conversava muito quando ia acompanhar os treinos. Considero ele como um exemplo de torcedor que infelizmente está deixando de existir, que é aquele que vive para o time, está lá sempre todos os dias, nos bons e maus momentos e não se limita a assistir aos jogos, mas vive o dia a dia da equipe. Com certeza fará muita falta e ficará marcado na história do Ourinhos Basquete como um de seus torcedores mais ilustres e queridos, não apenas pelas atletas do time, mas de todas as equipes adversárias que iam jogar no Monstrinho e tinham muito carinho e respeito por ele”, ressaltou.  

Uma das atletas que passou pelo Ourinhos Basquete e manteve uma relação de carinho com “Seu” Mário mesmo atuando como adversária, foi a jogadora Êga que também destacou sua grande importância como torcedor. “O “Seu” Mário era uma pessoa maravilhosa, querida demais, e tinha um carinho enorme por mim, assim como eu por ele, e toda vez que eu vinha jogar aqui no Monstrinho, ele fazia questão de vir falar comigo e me lembro que numa das últimas vezes, inclusive tiramos foto juntos. Com certeza fará muita falta não apenas para Ourinhos, mas para todos que gostam de basquete, pois era um tipo de torcedor para o qual valia a pena jogar e se dedicar, admirava o esporte e nos via como ser humano e não apenas como atletas, pois mesmo jogando como adversária, ele continuava a ter o mesmo carinho”, elogiou.

Luís Galletta
Tribuna Ourinhense

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