domingo, 5 de julho de 2015

Apesar de vitória histórica, base do basquete sofre derrotas no dia a dia

Por 
Rio de Janeiro
Não há vitória imponente, resultado histórico ou fenômeno capaz de esconder as mazelas que tomam conta do basquete brasileiro. Desde a dificuldade encontrada pela CBB para pagar uma dívida com a Fiba e garantir as vagas olímpicas como país-sede até o sofrimento constante das categorias de base, com clubes tradicionais sem condições de manter seus projetos, a modalidade pena. A busca é por recursos financeiros para se manter de pé e evitar novos fracassos nas tentativas de classificação para os Mundiais de base e até no adulto, que só participou da última edição da competição por ter recebido um convite ao custo de US$ 1 milhão (R$ 3,25 milhões).

A CBB perdeu o patrocínio de uma estatal, não conseguiu receber os valores referentes a convênios com o Ministério do Esporte por questões relacionadas à Lei Pelé. Diante disso, as preparações de todas as seleções foram prejudicadas em tempo e material humano. Mesmo assim, a seleção brasileira sub-16 conseguiu uma vitória inédita sobre os Estados Unidos na Copa América na semana passada, muito mais pelo talento de uma geração do que por um trabalho consistente.

- Temos que parar de desculpas e buscar soluções de maneira objetiva. Essa gestão do Carlos Nunes já vai completar oito anos e sempre é a mesma coisa, desde quando eu também estava lá. Independentemente da questão dos clubes, tem uma turma boa que que começa na sub-15 e vai passando até o sub-19. O que vai acontecer agora com essas meninas do sub-16? Se não fizer um trabalho bem feito, elas vão se sair mal no Mundial. Lembro que também fomos vice das Américas sub-16 em 2011, e a Izabela Sangalli foi a melhor jogadora. Onde ela está agora? (Sangalli foi convocada para os Jogos Pan-Americanos de Toronto) Não adianta juntar 20 dias. Tem que fazer amistosos na Europa. Se não tem verba, precisa fazer parcerias com cidades, instituições, Ministério do Esporte e não deixar passar essas meninas. Daqui a pouco, não vai ter mais Érika, Iziane... Vai ter quem? - afirmou Hortência, integrante do Time de Ouro.
 Temos que parar de desculpas e buscar soluções de maneira objetiva. Essa gestão do Carlos Nunes já vai completar oito anos e sempre é a mesma coisa, desde quando eu também estava lá"
Hortência
O trabalho nas categorias de base do basquete brasileiro organizado pela CBB conta apenas com o Campeonato Brasileiro de Seleções nas categorias sub-15 e sub-17. São competições que duram apenas uma semana com sede única. Serve como monitoramento de jogadores jovens, que possam se desenvolver. Disputas estaduais e regionais também são raras e com poucos clubes. A receita de todas as partes parece ser a mesma, e a culpa é direcionada para o sistema esportivo do país.
- Hoje, o esporte praticado nos clubes passa por dificuldade no Brasil. São poucos praticando, com poucos jogos. Se tivesse o esporte na escola, essas meninas que estavam na seleção brasileira sub-16 teriam 100 jogos por ano. É assim que desenvolve. O Paulista adulto feminino teve quatro equipes. Na base então nem se fala. Quando eu era juvenil, havia 60 clubes na minha categoria em São Paulo, agora não chega a 20 - afirmou Vanderlei Mazzuchini, há mais de cinco anos na CBB, sendo dois e meio como diretor técnico.
Brasil x Canada final Copa América sub-16 basquete  (Foto: Divulgação / Fiba)Meninas da seleção brasileira sub-16 com a medalha de prata na Copa América (Foto: Divulgação / Fiba)
Consciente de que a entidade máxima do basquete brasileiro também tem sua parcela na situação do esporte no país, Vanderlei lamentou o fato de não ter recebido verbas dos convênios aprovados o Ministério do Esporte no ano passado. Em nota oficial enviada ao GloboEsporte.com, a explicação foi a seguinte:
- Os projetos apresentados pela Confederação Brasileira de Basketball (CBB), conforme o Edital de Chamamento Público nº 6/2013, foram aprovados pelo Ministério do Esporte em 2014. Os convênios não foram formalizados porque a CBB não havia se ajustado às novas exigências da Lei Pelé - escreveu o Ministério na nota.
 Tentamos resgatar algumas coisas do basquete. Mostrei para elas o jogo entre Brasil e Cuba nos Jogos Pan-Americanos de 1991, em Havana, quando a seleção brasileira foi campeã. Elas não eram nascidas. Paula, Hortência e Maria Helena mandaram mensagens"
Anne Sabatini
Nos projetos aprovados, havia uma série de valores que seriam destinados para a preparação das seleções de base. A CBB acabou sem verba para dar mais tempo e elenco para o trabalho da técnica Anne Sabatini, por exemplo. Vice-campeã da Copa América sub-16, sendo derrotada por um ponto na prorrogação pelo Canadá. Pior ainda no masculino, em que o Brasil nunca conseguiu classificação para o Mundial Sub-17, em sua terceira edição.

- Tentamos resgatar algumas coisas do basquete. Mostrei para elas o jogo entre Brasil e Cuba nos Jogos Pan-Americanos de 1991, em Havana, quando a seleção brasileira foi campeã. Elas não eram nascidas. Paula, Hortência e Maria Helena mandaram mensagens. Foi um feito histórico vencer os Estados Unidos, que tem uma estrutura em torno do esporte no país. Tivemos acesso a uma foto da preparação das americanas com 65 meninas treinando. Nem teríamos aqui esse material. Penso que no Brasil, muitos técnicos são valentes, pois não é fácil. Tem que ser preparador, psicólogo, às vezes pai e mãe. A falta de competitividade dentro do país é o nosso problema. A gente diz que ganha pouco mas faz o que ama e se dedica para que a base possa florescer - comentou Anne, que trabalhou com 18 jogadoras na preparação, perdeu por lesão duas antes da Copa América e outra na estreia do time na competição.

Tabela Brasil Basquete base (Foto: GloboEsporte.com)

Tabela Brasil Basquete base (Foto: GloboEsporte.com)

Mesmo nos principais polos do basquete brasileiro, a situação é dramática. Coordenadora da base de Americana, atual tricampeão da Liga de Basquete Feminino, Adriana Santos não conseguiu verba para montar seus times sub-17 e sub-19 em 2015. Destaque da seleção brasileira sub-16, Izabela Nicoletti atuava na equipe até o ano passado e foi para os Estados Unidos, onde passou a ser cobiçada por colégios e universidades.

- O projeto existe há 12 anos, sendo uma referência no país. Esse ano, tivemos o problema da retirada da Lei do Incentivo Fiscal por alguns meses, com a cassação do prefeito de Americana (Diego De Nadai) e a troca da Secretaria de Esportes. A Unimed precisou bancar tudo, causando um rombo muito grande. A decisão foi tomada devido à incerteza do que aconteceria e Americana não tinha mais condições de arcar com tudo, viagens, arbitragem, alimentação e ajuda de custo para as atletas. Foi muito triste ver o trabalho de tantos fechando sua porta. Estou trabalhando a cada dia com esse propósito (de retomar o projeto no ano que vem), a Lei do Incentivo Fiscal voltou e temos o projeto social com 600 crianças. Até o fim do ano o objetivo é alcançar 1200. Conseguimos colocá-lo dentro das escolas o que eu acho maravilhoso - afirmou Adriana.

 Hoje, como diretor técnico, sou completamente a favor de todas as seleções serem permanentes, do sub-15 ao sub-19. Mas isso mataria os clubes. Não é a solução para o desenvolvimento da modalidade"
Vanderlei Mazzuchini
Com o exemplo dessa seleção brasileira sub-16, tendo como destaque Izabela Nicoletti, a preocupação com o desenvolvimento das jogadoras é grande pela falta de competições à disposição no Brasil. Muitas delas seguem o caminho de buscar espaço nos Estados Unidos, onde precisam se adaptar a uma nova realidade, nem sempre com o tempo ideal de quadra, e ainda longe dos familiares. Com jogadores de alto nível no principal mercado do basquete (NBA e WNBA), o Brasil procura seu rumo para não perder o embalo de uma nova e promissora geração, pelo menos, no feminino.

- Hoje, como diretor técnico, sou completamente a favor de todas as seleções serem permanentes, do sub-15 ao sub-19. Mas isso mataria os clubes. Não é a solução para o desenvolvimento da modalidade, mas certamente apresentaria números melhores nas competições internacionais. Não é na seleção, onde fica dois meses por ano, que ela tem que se desenvolver. O ideal era ter 16 equipes fortes para essas meninas disputarem 15 jogos em alto e não três como acontece. A LBF está melhorando a cada ano, mas olha a dificuldade. O processo não é simples - disse Vanderlei.

Fonte: Globoesporte.com

2 comentários:

Anônimo disse...

Hortencia não sabe nem onde a Sangalli está hoje.

Anônimo disse...

Exemplo disso e a Natalia Saar. Joga nos EUA e vem sendo destaque lá, como foi jogando os jogos regionais 2015 por Valinhos. Acorda CBB.