terça-feira, 17 de junho de 2014

O Triste Fim do Monstrinho

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Ourinhos começou no basquete de maneira bem humilde. Se não estou enganado (é duro contar apenas com a memória), o primeiro time da cidade a disputar o Paulista foi formado em 1995, quando o ranqueamento foi imposto pela Federação Paulista e a pivô Ruth (campeã mundial) foi para lá. O time era bem fraco, bem como a estrutura. Também se não me falha a memória, chegou a perder um jogo na temporada por WO. O ônibus quebrou.

Essa semente, no entanto, foi suficiente para que em outras temporadas o time voltasse. Lembro-me de uma outra formação (1998?) que contava com Vânia Teixeira e deu um trabalho danado ao time da Uniban/São Bernardo nas quartas-de-final do Paulista daquele ano.

Em 2000, aproveitando-se de uma verba que a ESPN Brasil e a Federação ofereceram, os times se reforçaram com estrangeiras. A intenção era reanimar um torneio que ameaçava capengar com a aposentadoria de Paula, a saída de Osasco, a concorrência da WNBA e a migração das estrelas restantes para o Rio (no Vasco, de Janeth) e para o Paraná (o Paraná Basquete, da diretora Hortência).

Nesse cenário, Ourinhos soube se impor e derrotou a tradição de Santo André nas semifinais, com um Monstrinho apaixonado e super-lotado. Nas finais, derrotou Guarulhos, de Roseli e da fantástica croata Korie Hlede. O técnico era Edson Ferreto e o elenco era compostro por Patrícia Perandini, Roberta, Vanessa Gattei, Pabliana, Valdice, Simone Pontello, Rose, Êga, Lígia, Kamila, mais as americanas Jackeline Nero e Shantrice. Registrei meus rabiscos sobre essa temporada diferente no basquete paulista aqui.

A partir desse primeiro título (conquistado com poucas estrelas, muito trabalho e com estruturaainda  mambembe), o basquete virou febre na cidade e deu a sorte de contagiar um milionário local (coisa de filme, não?). Maravilhado com as meninas, Francisco Quagliato entrou com o dinheiro e Ourinhos passou a ter o combustível necessário para as vitórias em série.

Depois dessa primeira conquista, nos nove anos seguinte, Ourinhos teve outros seis títulos estaduais, sofrendo interrupções apenas por Americana (2001 e 2003) e Catanduva (2008). Nos Nacionais foram cinco títulos consecutivos (2004 a 2008).

A política de Ourinhos nesses anos foi ganhar. Com trabalho de base tímido, a rotina era contratar. Por anos, foi comum a tática de receber Janeth às vésperas da decisão do Paulista, quando a temporada da WNBA acabava.

Parece  nunca ter havido uma preocupação com o futuro da equipe, uma filosofia, uma construção, um projeto. Apenas comemorar e aproveitar as vacas gordas.

Esse ambiente de supremacia folgada, de contratações, mudanças de técnicos, somada à fragilidade dos adversários -ou sabe-se lá o quê- acabaram tirando de Ourinhos a sua razão de existir. Nos últimos anos, a febre parecia ter passado. A torcida não se empolgava mais. O Monstrinho não mais enchia. A identidade do time havia empalidecido.

Com os recursos minguando, a diretoria passou a perceber que precisava mudar. Mas não sabia o que fazer. Tentou recomeçar o ciclo com o mesmo técnico que o havia iniciado – Edson Ferreto. O resultado foi terrível.

Quando ameaçou uma arejada com Cristiano Cedra, a boa iniciativa chegou tarde. A temporada foi difícil, com problemas financeiros graves reduzindo o elenco, deixando o ambiente bastante turbulento e mascarando o bom trabalho de Cristiano e depois de Lisdeivi.

Ao final da temporada , a morte de Francisco Quagliato e a extinção das equipes de base já pareciam anunciar o melancólico fim do basquete na cidade. Mas a diretoria ainda anunciou uma nova mudança de rumos.

Poucos dias depois- em meio a desculpas constrangedoras - foi confirmado o encerramento do time. Apesar de ter ajudado a manter o mercado nacional por anos, Ourinhos sai de cena em silêncio, sem mobilização alguma, sem lamentos, sem que ninguém se apresente para defender ou reinventar sua história. Mais uma vez, o ônibus quebrou. E o time vai perder o jogo.

Mais melancólico impossível.

13 comentários:

Anônimo disse...

Trabalho de base é super importante e valioso para o basquete, mas de fato é mais uma contribuição que os clubes dão à modalidade do que um investimento que dá retorno. Não consigo lembrar de nenhum talento que tenha sido formado nas categorias de base de algum clube de basquete feminino e tenha se tornado ídolo na categoria principal desse mesmo clube. Talvez outra pessoa possa lembrar, mas com certeza é algo muito raro investir na base e ter esse tipo de retorno. A realidade é que os clubes vivem de vitórias e títulos. Esporte é um negócio. Se o time ou a seleção vence, a modalidade cresce, ganha torcida, patrocínio, tem espaço na mídia, crianças e jovens se interessam em praticá-lo. Se não ganha títulos e passa a acumular derrotas e mais derrotas, os ginásios se esvaziam, a imprensa não se interessa mais e os patrocinadores e o público começa a sumir e a fugir. É o que tem acontecido não só com clubes tradicionais do basquete feminino, como Catanduva, Ourinhos e Santo André, mas também com a própria seleção brasileira. É muito bonito falar em renovação e muito fácil criticar quem contrata atletas para formar time para ser campeão, criticar quem não dá espaço para atletas juvenis nos times principais, mas na realidade o esporte vive de resultados e para alcançá-los é preciso formar o melhor time, formar a melhor seleção possível para tentar o maior número de vitórias, subir ao pódio, ganhar medalha, levantar troféus. Todo time ou seleção do mundo faz isso. O vôlei feminino do Brasil faz isso. O handebol brasileiro faz isso. No basquete feminino, o Estados Unidos é um caso à parte, mas se olharmos os países mais bem sucedidos do mundo, Austrália, Rússia, Espanha, França. São países que procuram ter times e seleções vencedoras, formados pelas melhores atletas que se possui, ter uma liga forte com ótimas estrangeiras. Não medem esforços para isso, não se limitam e não deixam de tentar nada do que lhes é permitido, até mesmo naturalizar estrangeiras, mesmo nunca deixando de investir pesado na base. Estão sempre subindo no pódio das competições de categorias menores da FIBA e mesmo assim nunca colocam uma juvenil para jogar num time ou numa seleção se ela não for melhor que as veteranas. Ninguém ganha lugar, conquista-se por mérito. Essa visão romântica não se sustenta. As pessoas precisam cair na real. Esporte é um negócio que depende de um ciclo virtuoso para se sustentar. Forme o melhor time ou a melhor seleção possível e conquiste vitórias e títulos, aí você terá espaço na mídia, jovens interessadas em iniciar neste esporte, patrocinadores, público, torcida etc. Forme um time medíocre, fraco e acumule derrotas, resultados pífios em competições (nacionais ou internacionais) e veja a torcida sumir, os patrocinadores fugirem, seja ignorado pela mídia e veja a quantidade de crianças que vão deixar de iniciar em nosso esporte para preferir os outros que estão vencendo e conquistando títulos.

Anônimo disse...

Ourinhos deveria formar um time só com as atletas da cidade para não deixar o basquete morrer pelo menos. Armadora: Ana Flávia. Alas: Lais, Kananda e Jenifer. Pivôs: Tatiele e Letícia. Fechar as portas desse jeito é realmente muito triste.

Anônimo disse...

Ourinhos deveria formar um time só com as atletas da cidade para não deixar o basquete morrer pelo menos. Armadora: Ana Flávia. Alas: Lais, Kananda e Jenifer. Pivôs: Tatiele e Letícia. Fechar as portas desse jeito é realmente muito triste.

Anônimo disse...

O basquete feminino precisa se profissionalizar. Na verdade talvez seja o momento de sair do interior de São Paulo, indo para as capitais dos estados, como aconteceu em Recife e São Luis e agora está acontecendo com Brasília. O que seria da LBF se não fosse os projetos do Sport Recife e do Maranhão Basquete? É preciso descentralizar o basquete feminino, buscar cidades nas regiões norte, nordeste, centro-oeste, sul. Cidades com ginásios grandes e onde as pessoas não tenham tantas opções de lazer. Talvez assim para o basquete feminino deixe de ser pequeno e volte a crescer.

Anônimo disse...

Se nem a torcida se interessa não tem sentido manter um time na cidade. Outro lugar que não sei como até hoje existe basquete feminino é Santo André, nos jogos que acontecem lá dificilmente tem mais de 50 pessoas no ginásio assistindo. Praticamente só as atletas da base, família e amigos das atletas e da comissão técnica.

Anônimo disse...

faltou a era Barbosa, desse recomeço...

Anônimo disse...

Triste realidade do basquete brasileiro! Ourinhos vai deixar saudades...

Anônimo disse...

Lamentável mesmo, sou de Americana, torço pela nossa equipe, todavia esta é uma notícia que nem ourinhenses, nem americanenses, nem adreenses, nem ninguem que ama o basquete gosta de ouvir. Quantos jogos acirrados houveram entre estas equipes, disputas de títulos,... Até parece que não há empresas em Ourinhos capaz de apoiar esta modalidade esportiva que tanto levou o nome da cidade país afora. E o poder público da cidade parece não reconhecer a importância deste esporte. E olha que não são poucos os que conhecem ourinhos por seu basquete. Aliás, tirando o basquete feminino, o que é ourinhos? Esta é uma pergunta que muitos fazem porque somente conhecem o nome da cidade por seu ex basquete!!!!

Anônimo disse...

não conhecia a historia....

Adriano disse...

Além de perdemos Sr Chico, perdemos Dr.Takashi que era um dos guerreiros e incentivador do Basquete em um acidente voltando de um jogo contra Catanduva. Seu Chico também amava o basquete, passava o dia no ginásio assistindo os treinos, brincando. Bajulando as jogadoras e inclusive nos torcedores. Ele começou apoiar o basquete depois de um jogo contra o Vasco da gama numa semi-final quando fomos eliminados, nesse dia ele pensou “que a torcida fosse desamparar o time” quando de repente ouviu aquele ginásio inteiro cantar, eu sou ourinhense com muito orgulho com muito amor... Foi daí que nasceu sua paixão pelo basquete... Somos muito gratos a ele, a família quagliato e ao dr. Takashi... Nossa torcida sentira muitas saudades, espero que um dia esse esporte maravilhoso volte para nossa cidade, fica em nossas memórias grandes jogos, duelos e sem duvidas o favorito dos títulos do ano 2.000, simplesmente inesquecível! Que a inspiração surja novamente nas pessoas envolvidas, e nos torcedores estamos de luto!

Anônimo disse...

Nos anos que Santo André tinha equipes competitivas
o publico sempre apoiou e compareceu.Na primeira
edição da Liga,quando o time foi campeão em São
José, muitos torcedores foram assistir.
Então anônimo das 11:20 deixe de falar mentiras e
seja menos invejoso.

Anônimo disse...

Sentir inveja de Santo André? kkkkkkkkkkkkkkkkk As pessoas geralmente sentem inveja dos melhores times e não dos piores kkkkkkkkkk cada uma!

Anônimo disse...

É, triste fim!! Um time que já teve os principais nomes em seu elenco, hj é punido pelo capitalismo desenfreado. Como li em comentários anteriores, impossível que as empresas de Ourinhos não possam ajudar e apoiar esse esporte que já rendeu grandes alegrias aos ourinhenses. Lembro de uma final do paulista contra catanduva que os torcedores se matavam para entrar no monstrinho e acompanhar não um time de estrelas, mas um time empolgante. Impossivel que os detentores da grana não se comovam com a estória dessa modalidade e nao se unam para apoiar e retomar as atividades de Ourinhos!!! Enfim, triste fim, fica minha tristeza e esperança de ver o monstrinho lotado novamente!!!!!
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