segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

O dia em que Hortência passou a bola por baixo das pernas de Cheryl Miller

Meu amigo Renato localizou esse texto no Blog do André César, sobre uma conquista da Prudentina em 1985, que eu desconhecia.

Reproduzo o post abaixo na íntegra:

HÁ 25 ANOS O BASQUETE DA PRUDENTINA ERA VICE-CAMPEÃO MUNDIAL

prudentina Há exatos 25 anos a equipe de basquete feminino da Prudentina colocou Presidente Prudente no mapa do esporte. A conquista do vice-campeonato mundial em Taipei, na China, consagrou o time e protagonizou o maior título já conquistado pelo basquete brasileiro.

Antonio Martinho Fernandes, que faz questão de ser chamado de Nico, era o chefe da seleção e viajou juntamente com o time. Os 25 que se passaram não apagaram de sua lembrança os momentos de alegria e conta em detalhes e com orgulho sua participação nessa importante conquista. Pelo excelente desempenho da equipe nos campeonatos que participava, o clube foi convidado pela confederação chinesa a participar dos jogos mundiais, fato único em toda a história do basquete, um clube competindo com seleções de vários países. A confederação da China se comprometeu em pagar as passagens de Los Angeles até Taipei, mas mesmo assim a Prudentina não tinha dinheiro suficiente para arcar com as despesas até os Estados Unidos, além de manter o time em uma competição internacional.

A equipe foi para São Paulo de ônibus, mas sem a confirmação do embarque para a China. “A angústia tomou conta de todos nós, o silêncio era total no saguão do aeroporto” relembra Nico. A liberação do dinheiro só foi feita a menos de três horas do horário de embarque do voo, mas na condição do nome do patrocinador da época, o Instituto Brasileiro do Café, estar estampado na camisa durante seis jogos. Havia outro acordo em negociação aqui no Brasil, as Aveias Quaker, mas não foi confirmado até o início do mundial, mesmo sem a confirmação do patrocínio eles mandaram estampar o nome da Quaker no uniforme. Essa atitude chamou a atenção da empresa na China, onde também possuía uma filial, a repercussão entre os chineses foi imediata, garantindo uma verba de alto valor e a permissão para os funcionários da multinacional assistirem aos jogos em horário de serviço, todos vestidos com a camisa da Prudentina.

A equipe brasileira, pequena e desacreditada foi ganhando espaço na competição com suas vitórias consecutivas. “Os jogos do time lotavam os ginásios, nós fomos muito bem acolhidos pelos chineses”, diz Nico. Mas toda essa admiração tinha um nome: Hortência. “Era a cabeça do time, era o diferencial, nossa magrela”, relembra aos risos. A cada partida que terminava, uma legião de fãs cercava o ônibus que conduzia o time. Gritaria e tumulto, todos queriam tocar a estrela do mundial, aquela que passou a bola, planejadamente, por baixo das pernas de Cheryl Miller, a melhor jogadora do mundo na época, da seleção americana. “No intervalo ela me falou: ‘Nico fica olhando, vou passar a bola pelas pernas da Miller’. Ela conseguiu e o estádio foi a loucura”.

Nico lembra um fato inusitado. Precisavam de fotos 3x4 para colocar no passaporte, pois fariam uma parada de três dias nos Estados Unidos, mas não tinham moedas, necessárias para a foto ser tirada e nem sabiam como consegui-las. “Estamos Ferrados!”, disse Nico, foi quando ouviram: Brasileiros! Brasileiros! Era também um brasileiro que morava na China e acabara de perder a esposa em um acidente, deixando uma filha de sete meses. O brasileiro era Roberto, ex morador do bairro da Liberdade em São Paulo, ele virou intérprete da equipe prudentina durante todo o mundial e as jogadoras foram babás de sua filinha.A Prudentina venceu todos os jogos até a semifinal, mas na final enfrentou a temida seleção dos Estados Unidos, campeã olímpica. O jogo terminou 75x57 para os EUA e a equipe brasileira ficou com o vice-campeonato. “Muita emoção, muito mais do que esperávamos; o samba tomou conta do ginásio e fomos aplaudidos de pé”, conta Nico.

Marcos Tadeu, jornalista que na época cobria a área esportiva na rádio Comercial, diz que Prudentina fez a grande imprensa tocar a cidade, especialmente veículos de comunicação da capital. Dificilmente o ginásio da Apea ficava vazio em jogos do time. “A Hortência foi o "Pelé" do basquete feminino brasileiro”, afirma o jornalista. Era mais de 50% do time. Quando estava bem, tudo ficava bem. Enquanto ela esteve no clube, a Prudentina disputou três finais ganhando duas, 1982 e 1983 e vice em 1984. “Quando as meninas chegaram da China festejamos por uma semana”, conta Tadeu. A comemoração contou com carro do corpo de bombeiros levando a equipe, o povo parava para cumprimentá-los e teve até cerimônia de entrega de faixas. “A imprensa nacional mostrando o cotidiano das atletas e, claro, principalmente a Hortência”, diz.

Adorador do esporte, Agnaldo Freitas, 72 anos, foi torcedor da Prudentina desde a criação do time. Sua primeira paixão foi o futebol do clube, mas foi o basquete que o fez chorar de emoção. Acompanhava fielmente todos os jogos e quando possível os treinos também. Sentia-se orgulhoso do carinho que toda região possuía com o time. Para ele a vibração maior do campeonato foi a vitória da semifinal. “Na final o que se via não era tristeza pela perda do título, mas um sentimento de que as expectativas foram superadas”, lembra o torcedor.

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O relato da conquista me fez lembrar de um capítulo que ficou perdido na história do basquete nacional: os torneios internacionais interclubes.

Há algum tempo, era comum a disputa de torneios como esse de 1985 por equipes brasileiras. Era tradicional a participação ainda no Crystal Palace, em Londres.

Influenciada por essas experiências, Hortência trouxe para o Brasil tais eventos, em sociedade com seu então marido José Victor Oliva.

A partir de 1991, várias equipes passaram pelo Brasil. Vindas dos mais diversos lugares disputavam os “Mundiais Interclubes”, que contavam com transmissão pela Tv e ginásios lotados.

Tais torneios tiveram uma grande importância para o basquete e os aponto como fundamentais para o bom momento que o basquete viveu na década de 90, ao possibilitar intercâmbio de qualidade e alimentar a auto-estima de nossas jogadoras, que se viam capazes de derrotar adversárias contra quais a seleção penava.

Depois que Hortência se aposentou, ela ainda geriu duas edições do toneio: uma em 1996, com o time de Paulínia e outra em 1997, com Americana.

Se não me falha a memória, a última edição foi em Londrina, com o título do BCN/Osasco, com Magic Paula e Elena Tornikidou. Estou certo?

Após isso, a FIBA (que sempre adiou a oficialização do torneio) tomou para si a organização da Liga Mundial de Clubes, que teve clubes brasileiros participando (como Americana, Guarulhos e Ourinhos), mas que encontra-se suspensa.

Acho que esse é um dos vários fatos de seu passado do qual Hortência deve orgulhar-se. Revivê-lo não seria má ideia.

8 comentários:

Anônimo disse...

Muito rica essa história.Momentos
em que o basquete feminino era
forte tinha muitas estrangeiras.
Na continuidade,logo após o Bcn
ganhar o título em Londrina,Magic
Paula e Elena foram derrotadas nos
Jogos Abertos do Interior,na cidade
de Araçatuba,pela equipe de Santo
André,que tinha no seu elenco,Helen
Janete,Vivian etc.Histórias do
basquete feminino que deixaram
saudades.

Anônimo disse...

quanta emoção!

Mauricio Guedes disse...

Bert,

Matéria maravilhosa.

Apenas duas irrisórias correções:

Os mundias a que se refere ocorreram em 1995 - Seara Paulínia em 3º lugar, pois perdeu a semi para o poderoso Commo de Mujanovic, Pollini, Gordon e Mara Fullin.

Americana disputou o mundial interclubes em 1996 com o Seara, mas, não lembro dos resultados, embora acredite que o time tenha sido campeão.

Em 1998 realmente o BCN disputou em Londrina e sagrou-se campeão. A Leila Sobral participou desse torneio pelo time grego.

Acompanhei de perto todos os mundias de clube, com exceção dos dois últimos.

Os que mais me trazem alegria e na minha opinião foram os mais emocionantes, são de 1991 e 1994, respectivamente com Constecca/Sedox e Nossa Caixa/Ponte Preta campeões.

Em 91, a rainha meteu 55 pontos no BCN!!!! Quem não se lembra?

Valeu pela lembrança!

Abraços!

Bert disse...

Oi, Maurício!

Acho que realmente me confundi nos anos dos Mundiais.

Em 96 (ou 97?), Americana era com o patrocínio da Data Control - eu acho - e lembro que foram unidas as duas equipes da Hortência de Americana + Santa Bárbara. Foi campeão batendo a seleção australiana na final.

Abs.

Mauricio Guedes disse...

Olá Bert,

Você tem razão, no início da temporada de 97 os times de Americana e Sta Barbara se uniram e disputaram esse torneio.

Mas, tambem não lembro nem onde o torneio aconteceu. Lembro que não teve cobertura de tv.

Abraços!

Anônimo disse...

Esse torneio aconteceu em Santos. Entre os times estavam a seleção australiana (vice), o time da eslováquia a seleção argentina e o BCN/Osasco, já com albena e elena.

Anônimo disse...

Cerclé Bourges
Ruzomberok
Seleção Australiana
Seleção Argentina
BCN/Osasco
Data Control/Americana

O time de Americana tinha Helen, Sílvia, Cooper, Karina e Boulett e ainda Jaqueline Godoy, Edna Oliveira, Cíntia Luz, Lígia, Patrícia Mara e Rosângela no banco

Anônimo disse...

O campeonato mundial mais competitivo e emocionante foi o de 1991, onde a Hortência acabou com o BCN da Magic Paula, da argentina Karina e da americana Adriana marcando 55 pontos. Além da Hortência o time de Sorocaba contou com a participação valiosa da Vânia Hernandez, com os seus ganchos estonteantes e da Marta, que finalizou bolas de três pontos e próxima a cesta com uma precisão incrível. Foi uma vitória de 1 ponto, mas quem esteve lá presenciou uma partida de verdadeiras campeãs.