Daniel Neves
O fracasso da seleção brasileira no último Mundial feminino, com a conquista do nono lugar, deu início à discussão sobre medidas para recolocar o time nacional entre os melhores do planeta. A principal aposta da CBB é a formação de uma seleção juvenil permanente, que seria preparada para brigar por medalhas nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro em 2016 e reparar a falta de material humano da geração atual.
“Não existem condições para fazer uma seleção permanente adulta, mas existe o projeto da criação de um time juvenil permanente. O planejamento é para dar frutos na Olimpíada de 2016 e está em estudo. Ainda estamos definindo maiores detalhes do projeto, como qual categoria etária será utilizada para isto”, disse Hortência, diretora da seleção feminina.
O projeto de uma seleção permanente de base já foi implementado em administração anterior da CBB. Em 2001, sob o comando de Paulo Bassul, o time batizado de ‘Brasil Juvenil’ participou do Campeonato Nacional Adulto. Venceu apenas três dos 14 jogos que disputou e terminou o torneio na última colocação.
O resultado dentro da competição, porém, foi o que menos importou. A experiência revelou boa parte das jogadoras que formaram a seleção brasileira que foi ao Mundial da República Tcheca neste ano. Sílvia, Karen, Fernanda Beling, além da pivô Érika, que atua na WNBA, foram reveladas pelo ‘Brasil Juvenil’.
O projeto ainda resultou no vice-campeonato mundial sub-21 em 2003. As brasileiras foram superadas na decisão pelos Estados Unidos, que haviam sido derrotados pelo time verde-amarelo na fase classificatória. No time norte-americano, nomes como Seimone Augustus, Cappie Pondexter e Alana Beard, que viriam a brilhar na seleção principal e na WNBA nos anos seguintes.
“Aquelas jogadoras amadureceram bastante com aquela experiência. Foi um projeto que revelou boas jogadoras. Sempre brigamos por uma seleção permanente jovem, mas nunca viabilizaram isso por muito tempo. Alegaram custos muito altos, falta de recursos. Mas é um caminho bom a ser seguido, ainda mais com o aumento de recursos do esporte”, afirmou Bassul.
Além da revelação de novas atletas, a CBB mira também a formação de jovens técnicos. A principal aposta da entidade é a ex-jogadora Janeth, que tem trabalhado com as categorias de base. A companheira de Hortência na conquista do Mundial de 1994 foi elogiada pela dirigente, que desconversa sobre a possibilidade da jovem treinadora assumir o comando da seleção permanente juvenil.
“Precisamos revelar não apenas jogadores, mas também técnicos. Precisamos de técnicos mais jovens. É o que estamos fazendo com a Janeth, com o [técnico que chegou a trabalhar com Colinas, Luiz Cláudio] Tarallo”, comentou Hortência. “Se tudo der certo e ela [Janeth] progredir, deve assumir uma seleção de categoria acima. Estamos preparando ela para isso, mas não posso te garantir que será a escolhida para comandar esta seleção permanente juvenil. O que está definido é que o treinador desta equipe não comandará o time principal”.
Com a esperança de recolocar o basquete brasileiro entre os melhores do Mundo depositada em um projeto longo prazo, Hortência prevê novas decepções para os próximos torneios do time nacional. Para a dirigente, até mesmo a participação na Olimpíada de Londres está ameaçada por causa de uma geração sem grandes talentos.
“Nós [diretoria da CBB] nunca falamos que brigaríamos por medalhas no Mundial. Falta material humano. Temos que entender que existe este problema e as coisas ficarão ainda piores, pois perdemos a Helen e a Alessandra [que se aposentaram]. Teremos dificuldade para o próximo Pré-Olímpico, para nos classificarmos para Londres-2012”, admitiu Hortência.
TÉCNICOS CULPAM ÊXODO POR FRACASSO
O êxodo de jovens atletas para o exterior e o enfraquecimento do Nacional feminino foram os motivos apontados pelos treinadores para o fracasso no Mundial da República Tcheca. Para os técnicos, a falta de amadurecimento das jogadoras dentro do Brasil prejudica a competitividade do time nacional.
“Elas estão saindo muito cedo. São meninas que teriam que ser carro-chefe no Brasil antes de ir para a Europa. Paula e Hortência foram com mais de 30 anos”, disse o técnico Norberto Silva, o Borracha, que já trabalhou nas seleções de base. “Estamos como ponta de estoque. Ficamos com as mais experientes ou com as juvenis. E esse intermediário fica meio perdido”.
Os treinadores atentaram para o fato do Brasil estar perdendo jogadoras para equipes de segunda divisão de Espanha e Itália. Segundo os técnicos, as atletas não tem a evolução necessária dentro destes times europeus. A saída das jovens promessas ainda atrapalharia na massificação do basquete, pois o enfraquecimento dos clubes nacionais desestimularia novos praticantes a optarem pela modalidade.
“As jogadoras vão embora por falta de perspectiva. Converso muito com as meninas e nenhuma delas manifesta vontade verdadeira de ir embora. Quando você melhorar o campeonato interno e der melhores condições, elas vão querer ficar”, comentou Paulo Bassul.
Apontada por dirigentes como solução para a retomada do basquete feminino no país, a liga independente é vista com desconfiança por Bassul. “Alguns países tentaram fazer uma liga independente feminina e não deu certo. A Espanha é um exemplo, e nem por isso deixou de ser boa. Depende da forma como a coisa é conduzida. Não existe apenas um modelo a ser seguido”.
Fonte: UOL
3 comentários:
Seleção permanente com quem?Agora
ja estão pensando em acabar com os clubes que são os únicos que formam
jogadoras.Porque não pensam em
repassar verbas para que os clubes
possam trabalhar com mais estrutura?
Enquanto a CBB pensa em fazer, fala sobre a existência de um projeto que vai acontecer, taí uma pessoa que faz: O Borracha.
Ele simplesmente já reuniu em São Caetano algumas das melhores atletas das últimas seleções juvenis que estavam abandonadas à própria sorte, esquecidas pela CBB:
Izabela Moraes e a Jaqueline e Roberta - Seleção Juvenil de 2005
Angela, Djane e Nádia - Seleção Juvenil de 2007
Patrícia Ribeiro e Amanda - Seleção Juvenil de 2009
É desse tipo de trabalho de transição que o basquete de base precisa, pois até o Mundial Juvenil a CBB acompanha as meninas, depois disso, quando elas mais precisam de apoio para iniciar na categoria adulta elas são abandonadas.
Muitas delas inclusive param de jogar, como aconteceu com a maioria das meninas vice-campeãs do mundo em 2003.
Se nós vamos abandonar as melhores jogadoras de cada geração, realmente vai demorar muito para termos material humano de qualidade na seleção principal.
Sobre essa seleção de novos, temos ouvido falar disso há muito tempo.
Só acredito, vendo!
Ricardo
Se o Brasil foi vice campeão Mundial sub-21 em 2003 fãçamos as contas teriam 20 anos em média em 2003 logo,27 anos em média agora em 2010.Deveria ser se não uma geração de ouro, pelo menos de prata. E os frutos desta geração?
A realidade é que os talentos existem mas são desperdiçados sob a inépcia da CBB.
Postar um comentário