A pivô chinesa Zheng Haixia foi também protagonista na maior conquista do basquete brasileiro – o Mundial da Austrália (1994). A gigantesca jogadora ficou com a prata na ocasião. Na minha memória ficou marcada uma entrevista de Zheng à Folha de São Paulo em 1996, ano em que ela reencontraria Paula e Hortência na disputa olímpica em Atlanta (1996). O Renato recuperou esse texto, que eu compartilho com os leitores:
Encerrar a carreira com uma medalha de ouro na Olimpíada de Atlanta-96 é o sonho de Zheng Haixia, 28, a mais alta estrela do basquete feminino chinês.
Com seus 2,04 m de altura, ela solta o sorriso maroto e ressalva: "Mas antes disso, quero vencer, em outubro, nos Jogos Asiáticos que serão realizados no Japão".
Zheng aumentou a carga de treinamento e em vez das quatro horas diárias, saltou para seis. Num dos intervalos entre os exercícios, ela recebeu a Folha.
Quando entrou na sala de visitas do centro esportivo, precisou "fazer uma ginástica" para não bater a cabeça no batente da porta.
"Nos Jogos Asiáticos, a Coréia do Sul representa nosso principal adversário", constata a jogadora.
Mas, acrescenta, que as repúblicas que formavam a União Soviética, como o Cazaquistão, também serão adversários difíceis. Têm tradição na modalidade. Nas décadas de 60 e 70, e início de 80, a hegemonia mundial nos torneios femininos era dos times soviéticos.
Zheng faz a análise com sua voz grossa, quase masculina.
Cabelos presos por uma fivela, veste uma camiseta do time profissional norte-americano de basquete do Chicago Bulls e uma bermuda xadrez.
No pulso esquerdo, o toque feminino de duas pulseiras de pano.
A lista de títulos colecionados por Zheng em sua carreira não é tão alta. Neste ano, faturou os Jogos Universitários Mundiais.
Nas três Olimpíadas que participou, o melhor resultado foi em Barcelona 92, medalha de prata, enquanto nos quatro Mundiais jogados, chegou a um vice-campeonato neste ano na Austrália, quando a China foi derrotada pelo Brasil.
"Admiro muito a Hortência e a Paula, em especial o espírito de luta delas", diz Zheng.
Mas as memórias do Brasil não estão ligadas apenas à derrota.
A "gigante chinesa" lembra que na última vez que esteve em São Paulo, no ano passado, conseguiu encontrar várias lojas com roupas para o seu tamanho.
"Isso não é muito comum", lamenta a jogadora, que é atração em todos as partes do mundo onde a seleção chinesa costuma jogar.
A tarefa árdua de achar roupa só fica um problema menor se comparado com as dificuldades que Zheng enfrenta para entrar em um carro.
"Isso é terrível", reclama. "Ninguém pensa em pessoas da minha altura quando desenha um carro."
Para driblar esse problema, a atleta recorre, com frequência, a uma saída chinesa. Vai de bicicleta. Viagem de avião também pode criar problemas. "Só vou de primeira classe", sentencia ela.
Zheng não tem namorado e diz que suas preocupações atuais excluem casamento e a idéia de ter filhos.
Perguntada se a altura vai dificultar a busca por um "príncipe encantado", ela solta uma gargalhada e responde em estilo de provérbio chinês: "Problemas de altura e beleza não impedem um amor verdadeiro".
A carreira no basquete começou em 1979, quando Zheng tinha 12 anos e 1,74 m de altura. Em casa, a caçula sempre chamou atenção pela altura.
"Meus pais tinham um tamanho normal e entre meus quatro irmãos, o maior tem 1,80 m", conta ela, que adora jogar basquete.
Zheng Haixia gosta de música (clássica e popular chinesa) e leitura, atividades que ocupam seu tempo livre, ou melhor, os momentos que está desobrigada dos treinamentos e exercícios.
Aproveita também esses períodos para ensinar esporte, dedicando-se especialmente ao trabalho com crianças, outro prazer.
Essência de jasmin é seu perfume preferido, bem como as cores preto e vermelho.
Apesar do corpo avantajado (2,04 m de altura, aproximadamente 110 kg), suas preferências alimentares surpreendem: peixes e frutas. Mas ela detesta cozinhar.
Hoje, quando não está na seleção, Zheng joga no "Primeiro de Agosto", o time do Exército e campeão nacional.
Pensando em terminar a carreira em 96, ela desenha os planos para o futuro: "Não quero me afastar do basquete, quero contribuir para o desenvolvimento do esporte em nosso país, talvez como treinadora de crianças ou dirigente".
"Acho que nosso basquete tem um futuro brilhante pela frente", opina Zheng, com otimismo.
A pivô, estrela da seleção de seu país, afirma que o número de admiradores está crescendo.
"Por isso vamos nos desenvolver ainda mais", diz a jogadora, embebida por um otimismo chinês.
15 comentários:
MARAVILHA ESSA RECORDAÇÃO.ZHENG HAIXIA UMA JOGADORA SIMPATICA COM SEU JEITAO MEIO DESENGONÇADA MAS QUE DAVA MUITO TRABALHO. PARABENS POR ESSE TEXTO.
eita, eu adorava ve-la jogar, Haixia tinha uma pontaria certeira...lembro do time dela, no mundial de blubes em sao paulo contra o time da Ponte Petra de Paula, Hortencia e Karina, onde nossa pivo argentina pintou e bordou sobre Zheng, bem que esse jogo poderia colocar nesse blog entre outros jogos do mundial de clubes...
Eu me lembro de ter lido essa entrevista.
Também lembro do confronto com a Karina.
A Haixia era grande e forte, um pouco lenta, porém sabia usar muito bem o seu tamanho no posicionamento de rebote e ataque. No Mundial de 94 o aproveitamento de arremesso dela passou de 80%.
Muito bom esse resgate!
Que barato essa lembrança!
A Zeng foi uma grande jogadora e fazia a diferença pra China. Me lembro dela na final do mundial da Austrália irritada com a marcação da então meninas Leila, Tuiú e Alessandra. Aliás, o feminino me traz as últimas recordações de um basquete brasileiro vencedor.
Leonardo Rodrigues
HEHE LEMBRO DA HORTENCI DANDO UM TOCO NA ZHENG HAIXIA NO MUNDIAL 1994, LEMBRO TAMBEM NA HORA DO AQUECIMENTO A EQUIPE CHINESA SE AQUECIA DE UMA MANEIRA DIFERENTE, ATÉ PRA AQUECER ELAS ERAM TECNICAS HAHAHA. PARABENS POR RESGATAR ESSA LEMBRANÇA REALMENTE A HAIXIA FOI UMA GRANDE JOGADORA..EM TODOS SENTIDOS HEHE
Hortencia dando toco na Haixia?
Eu me recordo do toco da Tuiu pra cima da gigantona e desta pra cima da Paula.
Também me lembro dessas jogadas que o Fernando citou!
Como se fosse hoje!
Ai meu reumatismo!
Hahahaha
FAzia tempo que não citavam ela.
Sabia usar seu corpo debaixo do garrafão e tinha um ótimo arremesso a média distância.
MVP do Mundial de 94, por anos foi a principal jogadora do time chinês. Quase todas as partidas ficava os 40 min em quadra.
Legal trazer de volta essa reportagem.
A Zheng foi uma ótima pivô. Quando jogávamos contra a China de Zheng, era inevitável ficarmos matutando como iríamos anulá-la, quais estratégias utilizar.
Também lembro de todos os lances citados pelos colegas, Paulo, Leonardo e Fernando.
Lembro muito bem do toco que ela deu na Paula e comemorou como se fosse uma vitória. Mas depois, demos o troco nela.
Ótima lembrança da Zheng!
Aliás, mensão honrosa a narração do Luciano do Valle no mundial feminino. Além de conhecer o esporte, a emoção e a ênfase me fazia colocar o coração pela boca.
Não me esqueço jamais, dele literalmente berrando: Leilllllllllllaaaaaa, Leillllllllllllllaaaaaaa, Leilllllllllllla. rs
Aliás, um dos momentos tristes dessa geração foi a contusão que abreviou a carreira da Leila. Que talento.
Diga-se de passagem, como Tuiú, Alessandra e Leila eram abusadas né? rs
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Leonardo Rodrigues
Postagem acima:
Leonardo Rodrigues
bons tempos, a seleção da epoca (anos 90) tinha excelentes jogadoras em todas as posições: armadora (Magic Paula, Branca, Helen...), ala-armadora (Hortencia, Silvinha Luz...) ala (Janeth, Adriana Santos...) pivo (Leila, Marta Sobral, Cintia Tuiu, Alessandra) e tb outras q não me recordo agora, mas a decada de 90 foi demais em termos de grandes jogadoras
CONCORDO COM O ANONIMO ACIMA, ALEM DAS JOGADORAS ACIMA, AINDA TINHAMOS A NADIA QUE NAO FOI AO MUNDIAL, A ROSELI DE ALA, A RUTH QUE NAO PODEMOS ESQUECER JAMAIS
Ela é o orgulho de todas as mulheres do mundo. Seu jogo é uma beleza, tal como ela é. É um exemplo para todos os que se esforçam para cumprir suas metas.
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