Carlos Colinas: "Sou um ganhador e quero esta ambição das atletas"

Amanda Romanelli - O Estado de S.Paulo

Carlos Colinas, de 43 anos, é o técnico da seleção feminina mas continua desconhecido. Ficou no Brasil por seis dias, no fim de abril, e volta apenas no encerramento deste mês, para ver as finais do Campeonato Paulista. Ao Estado, falou de suas preferências e trajetória. E de sua "brasilidade".

Quem é Carlos Colinas?

É um jovem? Talvez não mais tão jovem ? Técnico há 26 anos. Fui um mau jogador de basquete (risos), mas descobri que gostava de observar, de tomar decisões. Quase sempre trabalhei com o basquete feminino.

E qual a sua trajetória?

Fui tentando passar por ciclos. Comecei com meninas jovens, em escolas, clubes pequenos. Depois, passei para clubes maiores e fui para o basquete profissional. Desde 2000 estava na Federação Espanhola, com seleções de base. Não gosto de ficar muito tempo no mesmo lugar. Já sabia que, para neste ano, precisava de uma mudança. Aí surgiu a possibilidade de estar no Brasil.

O que você conhece do Brasil?

Pouco. É a primeira vez que estou aqui. Mas conheço, sobretudo, a paixão que vocês têm pelo esporte. Eu adoro esportes, inclusive futebol. Não torço por nenhuma equipe, embora na Espanha todos sejam Barcelona atualmente... (risos)

Apesar de o brasileiro ser apaixonado por esporte, não se fala muito do basquete feminino.

O Brasil tem uma história muito importante no basquete do mundo para ser esquecido. Nos últimos anos, teve bons resultados, mas a Liga (o Campeonato Nacional) é de um nível muito baixo. Recordo que há 10, 15 anos, as melhores jogadoras estavam no Brasil, inclusive estrangeiras. É complicado recuperar isso rápido, mas as pessoas têm que estar orgulhosas da história, dos títulos. E espero que do presente e do futuro.

Você viu duas partidas do Campeonato Paulista. O que achou?

Vi o que já imaginava: este tipo de jogo, com muito ataque, muita alegria, correria (risos). Mas vi que há boa estrutura de clubes, há torcida. Só acho quetrês meses de campeonato é muito pouco.

Você falou muito do talento natural da jogadora brasileira...

Estive com a seleção sub-15 e vi garotas de 14 anos com corpos fantásticos, com talento físico, rapidez, velocidade. Isso é dado pela natureza e vocês precisam dar valor. É genética. Além disso, as brasileiras sempre foram alegres, se divertem jogando. Individualmente, são de primeiro nível, mas precisam entender que o rendimento delas passa pelo rendimento da equipe. Fora isso, não há muito o que mudar.

Criticaram muito seu contrato de seis meses e a falta de experiência com equipes adultas.

Eu respeito a opinião das pessoas. Mas, sobre o contrato de seis meses... É uma mudança de país. Pedi um período de adaptação mútuo. Sempre fiz contratos curtos nos lugares em que trabalhei. Treinei equipes adultas por oito ou nove temporadas, embora não seja a minha experiência mais recente. Com 21 anos, treinava uma equipe profissional da primeira divisão espanhola. Era mais jovem que todas as minhas jogadoras.

Em 25 de setembro, Brasil e Espanha duelam no Mundial.

Na Espanha, me perguntam muito sobre isso. Mas, agora, sou brasileiro e o Brasil tem que ganhar, não importa o adversário. Carlos Colinas é um ganhador e quero esta ambição das atletas. Digo que temos que ser canibais e ganhar de todos, inclusive da Espanha, uma das melhores seleções. Se eu puder vencer a Espanha de 20 (pontos de diferença), melhor que por 10. Apesar que, por um, já serve. (risos).

Fonte: O Estadão