Na escolinha de basquete onde dá aulas todos os dias para crianças e adolescentes, a capitã Suzete Gobbi é a Su. É assim que os pequenos a chamam para solicitar instruções, dar recados e até pedir ajuda na hora de amarrar os cadarços dos tênis.
Suzete, a jogadora que brilhou durante 14 anos na seleção brasileira de basquete, atende todos com olhar de doçura. Está na cara que adora comandar a meninada no aprendizado dos fundamentos do basquete.
“Mas também sou disciplinada. Eles gostam, se sentem cuidados”, conta.
A atleta mantém a escolinha na Criarte há 13 anos. Ensina meninos e meninas de 7 a 14 anos. Usa o basquete para lições de socialização. Entre seus alunos há inclusive crianças portadoras de necessidades especiais, naturalmente integradas.
Quando jogava em clubes e na seleção, Suzete já pensava em trabalhar com crianças na segunda fase de sua carreira. Achava que seria uma forma de repassar seu aprendizado de menina que saiu de casa aos 12 anos para virar atleta profissional.
Ela nasceu em Penápolis e cresceu em meio a brincadeiras de rua, futebol, vôlei e basquete incluídos.
“Era uma moleca”, lembra. Tem cinco irmãs, mas era com os meninos da vizinhança que gostava de correr atrás da bola.
No início da adolescência, por causa do talento descoberto nos Jogos Regionais, recebeu em casa a visita de uma comitiva de Bauru interessada em suas jogadas.
O técnico Antônio Carlos Barbosa estava no grupo. Com autorização dos pais, veio para a cidade e virou estrela da equipe de basquete feminino do BTC (Bauru Tênis Clube).
“Foram dez anos de glória”, descreve. As meninas ganhavam tudo que disputavam e mobilizavam a cidade. Torcedores lotavam ginásios para vê-las.
Numa das viagens, 12 ônibus saíram de Bauru para acompanhar as basqueteiras.
Suzete precisou se adaptar à vida longe de casa. Passava Natais e aniversários sem a família. A vida de jogadora a distanciou das irmãs.
Entre quadras, concentrações e viagens, no entanto, criou fortes vínculos com pessoas envolvidas com o basquete e amigos que encontrou em sua trajetória, como o cantor Fagner, que sempre visita no Ceará. Os amigos do basquete também fazem parte da segunda etapa da carreira de Suzete.
Ela é jogadora master, disputa campeonatos por uma equipe do Rio de Janeiro. Os jogos a estimulam a manter a forma e a vibração, por causa dos reencontros com os antigos companheiros de quadra.
O basquete domina o cotidiano de Suzete. Além das aulas para as crianças, ela treina sozinha e comanda equipes em jogos na região.
Em casa, assiste tudo que pode sobre o esporte. Porque gosta e para aprender mais. “Sou o que sou como pessoa e profissional por causa do basquete”, ressalta.
Por causa do esporte, viajou pelo mundo e viveu períodos em Santo André, Sorocaba e Jundiaí. “Mas sempre voltei para Bauru. Aqui é minha casa”.
Madura, jogadora atua com prazer
No início da carreira, Suzete jogava vôlei e basquete ao mesmo tempo. Nos campeonatos regionais que disputava, saia de uma quadra e ia para a outra. Optou por ficar só com o basquete aos 14 anos, quando foi convocada para a seleção brasileira.
A atleta viveu os anos dourados do esporte em Bauru. Também viu o basquete feminino conquistar espaço no país, jogou com estrelas como Hortência, Paula e Marta, faz parte da geração que colheu os frutos do reconhecimento.
Nos Jogos da Amizade, em Moscou (1986), viveu um dos momentos mais emocionantes da carreira. Sabia que era a reta final na seleção, mas ainda não tinha feito o anúncio oficial. Só alguns amigos haviam sido informados. Foi uma despedida quase silenciosa.
Suzete ainda continuou no basquete profissional até 1990. Quando saiu, aos 32 anos, tinha condições físicas de continuar, mas optou por encerrar a carreira antes da decadência.
Viu amigas serem esquecidas e não queria passar pela mesma situação.
Ao parar, resolveu ir para os Estados Unidos estudar inglês. Não concretizou o projeto por uma razão especial: ficou grávida e teve seu único filho, Mateus, hoje com 17 anos.
O adolescente passa uma temporada nos Estados Unidos. Estuda e joga basquete. A mãe garante que apoiará o garoto se ele quiser ficar por lá, onde o esporte tem bastante apoio nas escolas.
Suzete evita fazer cobranças ao filho, que descobriu a paixão pelo basquete nas aulas da mãe, depois de resistir um pouco aos treinos. Ela deixou Mateus seguir a vontade e o adolescente acabou se encantando pelo esporte.
“Acho que é importante vivenciar a prática esportiva nessa fase da adolescência”, defende. Nos EUA, longe dos pais, acredita que o filho terá o próprio tempo para superar as adversidades sem sofrer as inevitáveis comparações.
Em forma aos 52 anos, Suzete desfruta nas quadras da experiência acumulada. Consegue encurtar caminhos, sabe a hora certa de correr, não tem o apavoramento típico da juventude. Joga com muito prazer.
Fonte: Rede Bom Dia
Um comentário:
Que reportagem bacana!
Adorava a Suzete...sempre admirei armadoras!
O primeiro jogo de alto rendimento que assisti foi Bauru da Suzete x Prudentina da Hortência...e até hoje lembro da emoção que, ainda menina, senti!
Precisamos sempre lembrar dessas mulheres guerreiras que construiram um grande basquete!
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