sábado, 22 de agosto de 2009

ENTREVISTA – Magic Paula (Jornal Diário da Região – Osasco)

220px-Maria_Paula_Gonçalves_da_Silva “O Brasil fica sempre esperando que surja um grande ídolo como uma Daiane dos Santos ou uma Jade Barbosa. Acho que eles [dirigentes esportivos] poderiam ter muito mais, mas não sabem aproveitar”

Débora Vieira
Juliana Rodrigues
Ricardo Datrino
(
ricardodatrino@webdiario.com.br)

Em entrevista exclusiva ao Diário da Região, a ex-jogadora do BCN Osasco conta sobre o basquete atual, a gestão de Hortência na CBB e seleção brasileira. Ela ainda expõe sua opinião sobre a realização das Olimpíadas em 2016, no Rio, e fala também sobre futebol destacando a figura do camisa 9 corintiano, Ronaldo Luis Nazário de Lima.

Como você avaliou a decisão do Bradesco em retirar o patrocínio do vôlei feminino?

É difícil quando você está de fora dizer porque isso aconteceu. Eu não tenho muito conhecimento, apenas o que vejo e leio pela imprensa. (...) Acho isso muito ruim para o esporte, mas, na cabeça dos dirigentes, sai um [patrocinador] amanhã entra outro. Eles não têm a mentalidade de que esses ‘caras’ poderiam dar mais.

Qual é o panorama que você traça para o basquete masculino no futuro e como você analisa o momento presente?

Acho que é um momento de mudança - o que é sempre bom na vida da gente. Vivíamos num momento em que o basquete estava numa curva descendente. Quando a coisa não está bem não é fácil, mas quando há mudança tudo vem para animar as pessoas e dar um novo alento. Confio muito no que irá acontecer. Já trabalhei com o [José Carlos] Brunoro e sei do talento e competência dele. Sei que ele está por trás desses projetos. Me sinto mais tranqüila em relação a isso, mas vejo que devemos paula-17-11 ter paciência. O cenário é trabalhar a longo prazo, ser realista de imediato, e futurista, com planos mais arrojados daqui a alguns anos. Principalmente porque o basquete não prepara técnicos, atletas e árbitros. A coisa se estagnou. Chegou o momento de começarmos um trabalho que dura no mínimo 8 anos.

E o feminino? Você diz que teme a classificação dela (seleção) para as próximas olimpíadas. Por quê? Qual o problema? Existem outros problemas além dos enumerados?

Não temo nada. Quando você está em quadra tudo pode acontecer. Acho apenas que não temos uma boa geração. A bagunça é a mesma de 30 anos atrás. O basquete nunca foi diferente do que já é.

Ou seja, não se trata de um problema técnico, mas estrutural e de planejamento.

Uma coisa puxa outra. Se você não tem um bom planejamento, não se pode exigir de ninguém. Uma seleção que treina 20 dias não será campeã olímpica. Como você exigirá dessas atletas uma preparação de alto nível? Primeiro é preciso estruturar e ter uma boa equipe trabalhando por trás. Acredito mesmo que o basquete nunca foi diferente dopaula1 que está. Ele [basquete] teve a sorte de pegar uma geração talentosa que mesmo com os problemas e sem dinheiro conseguia chegar às finais de competição. Na nossa geração e a seguinte ainda conseguimos manter o bom nível do basquete por alguns anos, mas, infelizmente, não foi feito uma preparação adequada para que as peças de reposição pudessem entrar em campo sem que o basquete sentisse falta das anteriores. Hoje é importante que, pela primeira vez, tenha um departamento feminino com a Hortência à frente assumindo essa gestão da CBB. Acho uma coisa inovadora. Isso nunca teve. Éramos jogadas no mesmo saco, mas ele sempre enchia para o lado masculino. O feminino sempre sobrava. Acho que agora terá uma gestão mais profissional das coisas. Já teremos, em breve, uma competição que é a Copa América e que classifica para o Mundial. Às vezes, não se tem talento, mas existe garra e comprometimento que superam esse fator. As meninas têm que estar felizes com o que estão fazendo. Esse momento é de diagnóstico, avaliação, para poder fazer um projeto a longo prazo.

Falando em Hortência, como você analisa a nomeação dela como mandatária da modalidade do basquete feminino pela CBB? Como você acredita que será a gestão dela?

É difícil. Ela terá um pouco de pressão. De uma coisa tenho certeza, a coisa será mais transparente e haverá mais diálogo. A Hortência terá que conviver no dia-a-dia para aprender. Ela não foi gestora nunca na vida dela. A CBB será sua 20090610_364327_1006_Mundial94_gde grande experiência. Ela é uma pessoa que tem experiência e pensará no atleta, coisa que eles [dirigentes] nunca fizeram. O atleta era o último a saber o que eles pensavam em fazer. Acho, agora, que a Hortência tem que se blindar e fazer uma boa equipe junto a ela. Se for boa ou ruim, será uma gestão que ela estará à frente.

O que você pensa de atletas que estão na NBA e não vestem a camisa da seleção? Você acredita que as brigas pessoais devem ficar de lado e os jogadores devem ser convocados? Qual sua avaliação? Falo, por exemplo, do masculino.

Acho que o problema é muito mais embaixo. As pessoas falam que os ‘caras’ não querem vir, mas existem muitas coisas que fizeram com que os atletas não tivessem mesmo o tesão de jogar pelo Brasil. Eles são jogadores diferenciados e merecem ter esse tratamento. Muitas coisas desagradaram esses atletas quando eles não eram nada. Hoje, que eles têm um contrato de 100 milhões de dólares por ano eles devem ter um tratamento especial. Eles devem ter, no mínimo, um seguro para atuar pela seleção brasileira. O ‘cara’ tem um super contrato, vem para cá, não tem o seguro, mas os dirigentes querem que ele jogue. Quando ele foi jogar na NBA cobraram uma nota para que ele pudesse sair, na transferência. Acho que o tratamento dado é ligar, ir ao país aonde o atleta joga e conversar com ele. Ninguém se nega a defender a seleção brasileira, mas desde que haja um bom projeto. Isso é o que falta, um bom projeto. Tem que ser tudo conversado antes. Não adianta chegar 15 dias antes de uma competição ligar e comunicar que está convocado. Nessa questão defendo os atletas. Muita coisa se esconde e se fala, mas poucos pensam no atleta. Temos que dialogar porque a seleção precisa deles. Acho que o problema é mais embaixo.

O que você acha do novo presidente da CBB?

Não acho nada. Não o conheço. Se você me perguntar do Brunoro sei quem é, mas o novo não sei quem é. Sei porque leio.

Segundo informações, em entrevistas anteriores, você teria dito que o “basquete não a atrai tanto atualmente”. Por quê? paula_04

Não é que não me chama mais a atenção, mas é que sou uma péssima espectadora. Não fico em frente à televisão, apenas quando o Brasil joga. Em 2007, quando fui convidada para comentar pela Record, tive que estudar porque eu estava totalmente por fora e não sabia quem eram as jogadoras. Quando eu jogava tinha fitas minhas e eu não as via, vou ver agora? Realmente não conheço hoje o basquete, mas vejo que a seleção masculina é muito mais talentosa que a feminina. Vou ficar chutando, mas gosto mais de ver o masculino do que o feminino. Se eu chutar meia dúzia de atletas de cada lado não vou acertar.

O que você acha da falta de ídolos do seu porte e da Hortência na seleção? E no Brasil?

Acho que é reflexo de uma má gestão. O Brasil fica sempre esperando que surja um grande ídolo como uma Daiane dos Santos ou uma Jade Barbosa. Acho que eles [dirigentes esportivos] poderiam ter muito mais, mas não sabem aproveitar. É uma má gestão, uma questão de massificação do esporte. Quando você tem um espaço grande e bastante atletas, a possibilidade de encontrar mais atletas talentosos é grande. Para ser ídolo, não basta ser um bom atleta, é preciso ter carisma e outras coisa mais. Vemos atletas bons e que tem um carisma de um Ronaldo, por exemplo. A falta de ídolos é conseqüência de uma má preparação para que surjam novos.

O Rio tem chances de receber a Olimpíada de 2016? O Brasil merece sediar os Jogos?

Sou contra olimpíadas no Brasil. Seja no Rio ou em qualquer outro lugar. Acho que poderíamos pensar em sermos sede de uma olimpíada daqui uns 12 ou 16 anos. Teríamos um projeto preparado para esses atletas que viriam defender nosso país lá na frente. Mas não vejo um bom projeto hoje. Estamos preocupados em construir e sediar as olimpíadas, mas ninguém falou para nós que existe um projeto consistente.

Parece mais uma questão de manobra política ou partidária?

paulhortfid Não sei. Política existe sempre em qualquer lugar e alguém quer sempre se beneficiar. Acho que a estrutura do país em termos olímpicos é muito frágil. Hoje vemos atletas perdendo patrocínios com a crise. O atleta no país não tem a estrutura adequada para treinar e se preparar. Acho que não podemos pensar em olimpíadas se trabalhamos assim com o esporte. Enquanto não existir um projeto Brasil Olímpico, não de construção, mas sim de preparar atletas e dar oportunidades e condições para que eles trabalhem e cheguem e bem numa olimpíada, não podemos ter muita cabeça para pensar em olimpíadas. Tivemos uma experiência recente que foi o Pan. Houve construção, mas não teve um projeto para colocar gente lá dentro depois.

O que você está achando do desempenho do Ronaldo?

Gosto de futebol e tento assistir alguns jogos. O futebol brasileiro ganhou muito mais com a vinda do Ronaldo. O paulista já ficou muito mais interessante com a presença dele. Deu um gás na competição e todo mundo comentou. O Ronaldo é o tipo de cara que gosta desses desafios e quando você acha que quando não dá mais ele aparece. O talento dele è indiscutível. Afinal de contas ele foi três vezes melhor do mundo. Não estamos falando de ninguém, mas do Ronaldo. Ele tem muito carisma. Eu, que sou palmeirense, torço por ele e mesmo ele jogando no Corinthians. Ele é diferenciado. Fui ver um jogo dele e vi que ele se posiciona no lugar certo. Às vezes não recebe a bola como deveria, mas ele tem um pouquinho a mais que os outros, um pouco não, um monte. Ele é inteligente, sabe onde está a bola e o goleiro. São atletas que vemos dificilmente. O futebol ganha muito mais com ele e até mesmo ele. Seria injusto o Ronaldo parar por conta de uma contusão.

Fonte: Jornal Diário da Região

5 comentários:

marcelo marques disse...

a paula é craque dentro e fora das quadras

CLEIDE SP disse...

A PAULA TEM A ETERNA MAGIA
DA CAPACIDADE COMPETENCIA CARISMA EM TDO QUE FAZ
PARABENS SEMPRE

Fernando Meurer disse...

Excelente!! Gosto da sinceridade da Paula, não tem medo de dizer o que pensa!!

Anônimo disse...

Magic parabéns, é lógico que uma Olimpiadas no Brasil tem todo o lado das atenções voltadas para o Brasil e etc, mas sabemos de onde saira o dinheiro né? do povo. E será que investirão nos atletas, ou eles continuaram a ter que fazer mágicas.
Abraços Paula!
Márcio

Anônimo disse...

PAULA MOSTRA MAIS UMA VEZ SUA COMPETÊNCIA,O BASQUETE PRECISA DE PESSOAS DE CARÁTER,QUE ASSUMAM UMA POSTURA SÉRIA PARA QUE POSSAMOS EVOLUIR.VALEU PAULA POR TODA MÁGICA QUE NOS PROPORCIONOU,QUEM SABE TRINADORA DA SELEÇÃO HEM?.