Brasileiras e talentosas, com certeza

Na temporada 2008/2009, elas acordavam, vestiam a camisola, tomavam uma média no pequeno almoço, treinavam e falavam ao telemóvel. Essas foram algumas das atividades da ala Fernanda Beling e da pivô Clarissa Santos em Portugal, onde defenderam o time do Vagos. As duas, que dividiram o mesmo apartamento na pequena cidade portuguesa, estão juntas novamente. Agora na seleção brasileira adulta feminina, patrocinada pela Eletrobrás, que treina em Barueri para a Copa América / Pré-Mundial de Cuiabá, de 23 a 27 de setembro.
As duas chegaram ao Velho Mundo em momentos distintos. Clarissa, de 21 anos, se aventurou em terras estrangeiras pela primeira vez, depois de passar quase toda a vida no Rio de Janeiro, com a família. Fora uma passagem de um mês pelo time de Santos e viagens pelas seleções brasileiras de base, a jovem pivô nunca havia ficado tão longe de casa, da mãe e dos amigos. Já a experiente Fernanda Beling, de 26 anos, fez sua segunda temporada em Portugal e já atuou no Majadahonda, da Espanha.

— Conheci Portugal de ponta a ponta e é um país muito lindo. Fizemos bons jogos nos campeonatos (Eurocup, Liga Portuguesa, Taça da Liga e Taça de Portugal). Só sinto mais falta de treino. Na Europa treinamos menos que no Brasil. Acho que consegui ajudar o time e ganhar experiência. Entre uma temporada e outra na Europa, joguei o Paulista por Americana. Quanto à Clarissa, foi muito legal morar e jogar com outra brasileira. As primeiras semanas foram difíceis para ela, que ficava o tempo todo no telefone ou na internet conversando com os amigos, mas depois se acostumou. Espero que se adapte ainda mais e cresça bastante na carreira — explicou Fernanda.

— Fiquei fora de alguns jogos na fase final por lesão, mas a temporada toda foi bem proveitosa. Acho que consegui mostrar meu jogo, principalmente nos rebotes. A presença da Fernanda também me ajudou muito, dentro e fora de quadra. Falar a mesma língua também facilitou minha adaptação. Só não dá para entender quando a gente ouve uma discussão. Nossa, eles falam tão rápido e pronunciam as palavras tão diferentes que parece outro idioma — disse Clarissa.

Na seleção brasileira, Fernanda e Clarissa experimentam situações diferentes nessas primeiras semanas de treinamento. Fernanda já foi uma das caçulas da seleção, realizou o sonho de participar de uma Olimpíada (Pequim/2008) e agora se define uma “quase tia” entre novatas e veteranas. Clarissa, que estreia na equipe adulta, convive pela primeira vez com atletas mais experientes e de gerações diferentes. As duas concordam que a mistura entre experiência e juventude é muito produtiva.

— Estou me sentindo quase uma senhora. Apenas três atletas são mais velhas do que eu. É diferente e eu procuro tanto ajudar quanto aprender ao mesmo tempo. Trabalhar com a Helen e ser treinada pela Janeth é maravilhoso. O tempo de preparação é ótimo e estamos evoluindo muito individualmente. Com certeza, temos todas as condições de conquistar o título da Copa América — analisou Fernanda, vice-campeã mundial Sub-21 (Croácia/2003), medalha de bronze na Copa América Juvenil (Argentina/2000 e campeã sul-americana juvenil (Venezuela/2000).

— Venho da base e minhas companheiras de seleção tinham sempre a mesma idade do que eu. Procuro aprender com quem tem mais experiência para jogar cada vez melhor. Esse início de preparação com trabalho técnico individual vem sendo bastante proveitoso. Aprimoro mais os fundamentos e ganho mais confiança — comentou a carioca Clarissa, que tem dois Mundiais de base no currículo: Sub-21 (Rússia/2007) e Sub-19 (Eslováquia/2007).

Quanto aos planos para a próxima temporada, as duas também querem tomar rumos diferentes. Enquanto Clarissa voltará para o Vagos, Fernanda já decidiu ficar no Brasil, mas ainda não sabe em que clube.

— Quero jogar o Nacional Feminino. Estou analisando propostas. Sinto falta do Brasil e da qualidade dos treinos que temos aqui. Também pretendo fazer faculdade. Quero cursar administração, gestão ou marketing esportivo, algo por aí — contou Fernanda, que foi campeã do Nacional por Ourinhos, em 2004.

— Volto para Portugal depois da Copa América. Espero que não tenha nenhum problema de contusão e possa ajudar ainda mais a equipe. Estou adaptada ao país e ao time e quero ganhar mais experiência internacional, amadurecendo como atleta e como pessoa — comentou Clarissa, que foi a reboteira das últimas três edições do Campeonato Nacional.

Fonte: CBB