Quando permitiu que a filha Maria Paula Gonçalves, então com 12 anos, saísse da casa da família, na pequena Osvaldo Cruz, em São Paulo, e fosse morar em outra cidade para se dedicar ao basquete, dona Ilda foi chamada de louca por muita gente. Essas mesmas pessoas, alguns anos depois, parabenizavam-na pelo indiscutível talento de Magic Paula. Mãe de quatro Marias – Cássia Maria, Maria Paula, Maria José e Maria Angélica (Branca), por ordem de nascimento – Ilda Borges Gonçalves confiava na responsabilidade da menina que, dois anos depois, já estreava na seleção brasileira adulta e mostrava ao mundo porque era considerada um verdadeiro fenômeno das quadras.
— Sempre dei muito apoio. Na família, todos gostamos de esporte. Meu pai foi jogador de futebol e chegou a ser convidado pelo clube que hoje é o São Paulo. Mas com dez filhos para criar, ele não pode aceitar o convite e se profissionalizar. Mas a paixão pelo esporte permaneceu. Crescemos admirando os esportistas. Até hoje acompanho tudo na televisão. E não só basquete, gosto de várias modalidades. Só não gosto de atleta que não tem garra. Um que dá gosto de ver é o Rafael Nadal (tenista espanhol). Ele não se entrega nunca — revela Ilda.
Todas as filhas jogaram basquete na infância. A primeira, Cássia, despertou o amor pelo esporte nas mais novas. Como trabalhava o dia todo, Ilda deixava que as meninas, após encerrarem as lições da escola, frequentassem o clube da cidade. E foi lá que elas descobriram o basquete.
— O fato de morarmos numa cidade pequena e com poucas opções de lazer influenciou muito na dedicação das meninas ao esporte. Na época, em Osvaldo Cruz, havia também um time adulto masculino muito bom, então a cidade sempre teve um carinho especial pelo basquete. Eu não sabia exatamente o que elas faziam no clube. As pessoas me encontravam e diziam: “Sua menina joga muito”.
A caçula Maria Angélica, mais conhecida como Branca, seguiu os passos da irmã e também tornou-se jogadora profissional, atuando, inclusive, na mesma posição de armadora. As duas estiveram juntas em diversos momentos importantes da seleção brasileira, como a medalha de prata nas Olimpíadas de Atlanta, em 1996; o título da Copa América Pré-Mundial de 1997, em São Paulo; e o quarto lugar no Campeonato Mundial de 1998, na Alemanha. Hoje, Branca é a técnica do time adulto de Americana, atual vice-campeão nacional. Mas para dona Ilda, sofrimento maior do que as duas juntas defendendo a camisa verde e amarela era quando elas jogavam em times adversários.
— Eu brinco que queria botar as duas no liquidificador, bater e depois dividir de novo. A Paula precisava de um pouco da braveza da Branca, e a Branca de um pouco da tranqüilidade da Paula. Quando era uma contra a outra, eu desejava boa sorte a ambas, claro. E torcia para as duas. Tinha gente que ficava na arquibancada me olhando, tentando descobrir para qual eu estava torcendo — conta.
As histórias de infância não são poucas. Um dia, chegando do supermercado, Ilda viu velas acesas no quintal de casa e se assustou. Ao se aproximar, viu que era Paula, já tarde da noite, treinando arremessos. No lugar da cesta, uma tampa de vaso sanitário foi improvisada, amarrada ao tronco da parreira.
O bate-bola até mais tarde era comum na casa da família Gonçalves. Dona Ilda e o marido fizeram uma pequena quadra para as filhas treinarem. A elas, juntavam-se as primas, também basqueteiras, e o time estava formado. Para dificultar a brincadeira, os lances livres eram feitos de costas para a tabela.
— Judiavam da Branca, que era a menor e não conseguia pegar a bola. Ela vinha para mim chorando, reclamando, mas era tudo muito divertido, muito saudável. Tenho pena dessas crianças de hoje, que vivem na frente do computador.
Dona Ilda, no entanto, também entrou para o mundo digital, mas por pura necessidade. Aos 72 anos e cheia de disposição, ela hoje dirige o projeto Passe de Mágica, criado há cinco anos por Paula e Branca, que atende a 600 crianças em seis pólos – quatro na Grande São Paulo e dois em Piracicaba – onde são oferecidas dez modalidades esportivas, incluindo o basquete, claro.
— Paula sempre quis desenvolver um projeto social assim que parasse de jogar porque ela se sente grata ao esporte por tudo que conquistou. O esporte é maravilhoso e ajuda a ter disciplina em tudo na vida. A escola e o professor também precisam ser mais valorizados no nosso país, porque é lá que tudo começa.
Com três netos em idades entre 21 e 25 anos, Ilda conta que tem pouco tempo para pensar em problemas. Formada em Direito e técnica em Contabilidade, títulos que conquistou após o nascimento das quatro filhas, a grande mãe do basquete brasileiro mora sozinha e trabalha diariamente, além de ajudar como voluntária numa creche de freiras perto de casa. Quando é perguntada sobre o orgulho por ser mãe de duas craques, ela responde que o sente ainda mais forte pelo caráter das filhas. E afirma que fez a sua parte pelo esporte brasileiro. Na verdade, ela ainda faz. E muito.
Fonte: CBB
P.s.: Belo gesto da Confederação na véspera do Dia das Mães.
3 comentários:
Dona Ilda parabéns pelo Dia das Mães e parabéns também pelas filhas maravilhosas que a senhora tem!!!!
Além de craques, elas possuem caráter exemplar!!!!
Paulista
A D. Neca é mesmo a mãe do basquete! Além da maternidade biológica de suas 4 Marias, adotou muitas de nossas atletas, fornecendo cuidados e orientações.
É uma mulher de fibra e dignidade exemplar, o que, com certeza as 4 filhas herdaram.
Mas há um erro na reportagem: são 4 seus netos, um casal da Dudé e outro da Cássia.
As Mães !!sempre mães!
FELIZ DIA DAS MÃES A TODAS DO BASQUETE E DO BRASIL!!
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