Ao criar o basquete, em 1891, o professor canadense James Naismith não poderia imaginar que não apenas inventava um esporte, mas acabaria dando a muitos a oportunidade de, ao arremessar na cesta bolas certeiras, abrir portas pela vida afora. Este é o caso de Layana Cezario de Souza, de 16 anos, nascida e criada na Rocinha. Atuando nas divisões de base do clube Germânia, na Gávea, ela se tornou recentemente a primeira participante do projeto social VemSer, do Germânia, a alcançar a seleção brasileira sub-17.
A pouco mais de um mês de completar 17 anos no dia 26 de maio, a ala/armadora espera poder ganhar de presente um lugar definitivo na seleção a ser convocada no final de maio para o Sul-Americano do Chile, em junho.
— Essa seleção seria um presentaço sem tamanho — exclama.
Layana é uma daquelas pessoas que parecem ter riscado do dicionário palavras como "obstáculo" ou "dificuldade". Ela joga basquete há pouco mais de quatro anos. Diariamente, madruga às 5h e enfrenta dois ônibus até chegar ao Méier onde, às 7h, começam as aulas do terceiro ano do ensino médio no Colégio ADN, em que tem bolsa de 100%, graças ao esporte. Às segundas e quartas-feiras, também no Méier, depois de um almoço rápido, estuda inglês, até 15h. Depois disso ainda têm fôlego para encarar outra viagem de ônibus para treinar no Germânia, das 17h às 20h. Lá pelas 21h, volta para casa.
— Ano passado, o time do ADN foi campeão do Intercolegial do GLOBO. A equipe é muito boa e tem outras meninas com chances nas seleções sub-17 e sub-19 — conta ela, que procura uma academia para melhorar sua preparação física.
É graças às cestas, que Layana pode realmente sonhar.
— Não consigo imaginar minha vida sem o basquete. Tudo o que conquistei gira em torno dele — diz ela, que quer cursar educação física.
Em março, a jovem - que teve passagens por seleções estaduais - foi convocada pela primeira vez para treinar com a seleção brasileira. Tal alegria foi compartilhada com as meninas que, como ela, integram o projeto VemSer, que atende a favelas próximas ao Germânia. As meninas do projeto representam o clube nos Estaduais de categorias de base.
— Quando chegou a notícia da convocação todo mundo me deu os parabéns na quadra. Aqui é uma segunda família para mim — diz ela.
Para Rafael Zaremba, diretor do VemSer e técnico do Germânia, Layana é um talento especial. Existente há nove anos, com apoio de padrinhos, o projeto oferece às meninas aulas de basquete e de hóquei na grama, reforço educacional e atendimento psicológico, graças a voluntários de diferentes áreas.
— Mais de 300 meninas já passaram pelo projeto, e algumas têm bolsas integrais em colégios e na PUC. Temos equipes até 19 anos.
Para ele. Layana é especial.
— Desde que ela pôs os pés aqui, mostrou um potencial atlético muito bom, para qualquer esporte. Tem muita facilidade com o movimento e muita garra. Jamais desiste.
Tendo como maiores incentivadores a mãe, Cesarina Cesário da Conceição, e o pai, José de Souza Loiola, Layana é admiradora de Steve Nash e Leandrinho, do Phoenix Suns, e Thiago Splitter, que atua no TAU Cerámica espanhol, além de Adrianinha, da seleção brasileira. É torcedora do San Antonio Spurs, de Anthony Parker, Ginobili e Tim Duncan, e do Flamengo, de Marcelinho e Duda.
Quando tem tempo livre, a atleta, como muitos jovens de sua idade, vai a shoppings ou fica teclando no computador. Atleta de basquete numa cidade em que não há no momento um grande time adulto, capaz de ganhar o Nacional, caso continue evoluindo, Layana sabe que fatalmente terá de deixar a cidade, para atuar noutro estado ou no exterior. Driblando, sem deixar de sorrir, os adversários do dia-a-dia como o cansaço ou ônibus cheios, a pequena Layana, de 1,65m, tem grandes aspirações.
— Um de meus sonhos é representar o Brasil. Seria um sentimento que não poderia descrever. Em 2016, vou ter 24 anos, e se as Olimpíadas forem aqui, será uma emoção competir dentro de casa — imagina a adolescente.
Cláudio Nogueira / O Globo (RJ)
2 comentários:
boa sorte p ela!!
boa sorte!
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