Aos 31 anos, a pivô Ilisaine Karen David, a Zaine, vive um dos melhores momentos de sua carreira, que começou aos 15 anos, no Clube São João, em Jundiaí (SP). O seu time, o Taranto, foi vice-campeão da Eurocup e está nas quartas-de-final do Campeonato Italiano. Nesses 16 anos de basquete, Zaine defendeu várias equipes no Brasil, mas foi na Itália que ganhou destaque e acabou se firmando na posição. Suas principais conquistas pela seleção brasileira foram a medalha de bronze na Olimpíada de Sydney (2000); os títulos dos Sul-Americanos no Brasil (1999), no Peru (2001) e na Colômbia (2005); a medalha de prata na Copa América – Pré-Mundial da República Dominicana (2005); e o vice-campeonato no Torneio Pré-Olímpico das Américas em Cuba (1999).
Conte um pouco da sua trajetória no basquete, que começou quase por acaso.
Comecei com quase 15 anos, levada por um tio, que cursava Educação Física, em uma escolinha de Jundiaí. Não me interessava muito o basquete, mas chamava atenção a minha altura. Na época eu media cerca de 1,85m de altura. Isso era muito importante.
Antes do basquete você chegou a praticar outros esportes?
Praticava vôlei e handebol, mas somente como educação física, na escola ou por diversão. Nunca tinha me interessado por nenhum esporte específico.
O apoio da sua família foi fundamental para você ser o que é hoje?
O apoio da família é sempre essencial na vida de qualquer atleta. No inicio da minha carreira, em Jundiaí, ainda na categoria juvenil, eu já cursava a universidade e, se não fosse minha mãe sempre pronta a me ajudar, eu não teria continuado com o basquete. Ela me carregava dos treinos para as aulas, não dava tempo nem para pegar um ônibus. Em minha família, a prioridade sempre foi o estudo. Se eu conseguisse conciliar com o esporte tudo bem, senão deveria abrir mão da carreira esportiva. A estrutura familiar e a educação dada são importantíssimas para ajudar nas escolhas. Até hoje conto com todo apoio da família, para que possa estar tranquila e trabalhar serenamente aqui tão longe.
Em que ano você foi jogar no basquete italiano? Como foi a adaptação ao novo país?
Vim para a Itália em 2001. Gosto bastante do modo italiano de jogar basquete, que é mais cadenciado e disciplinado taticamente. Sem contar que o campeonato é muito mais organizado e profissional. Obviamente senti um pouco os fatores distância e o idioma no período de adaptação. Mas na época estava decidida que era o melhor para a minha carreira e foi super tranquilo. Tomei essa decisão por que no Brasil os clubes estavam com muita dificuldade em conseguir patrocinadores.
A cada temporada você melhora o seu desempenho. Qual a explicação?
Sou uma atleta persistente, que trabalha duro. Nunca tive intenção de ser estrela, conheço o meu potencial e sei o que posso fazer na quadra para ajudar o meu time. Em um jogo coletivo, como é o caso do basquete, as "formiguinhas são indispensáveis” e é como eu costumo me definir. Quem conhece o basquete sabe da importância de “formiguinhas”. Trabalho para o grupo e com o grupo. E a maturidade me trouxe serenidade para desenvolver o meu estilo de jogo.
Quais os seus pontos fortes e o que ainda precisa melhorar no seu jogo?
Sou uma atleta leve e ágil para a minha posição. Defendo com agressividade, tenho um bom chute de média distância e gosto de jogar de frente para a cesta. Seria interessante ter um chute dos três pontos eficiente, para poder colocar a defesa em dificuldade, e também melhorar meu manejo de bola.
Como você analisa o nível do basquete italiano e a torcida de Taranto?
O nível do basquete italiano está entre os melhores da Europa, juntamente com Espanha, França e Rússia. Como seleção feminina, deixa muito a desejar, mas como campeonato e nível de jogadoras, estrangeiras e italianas, é bom. A torcida de Tarando é muito apaixonada e segue o time por toda Itália, e muitas vezes até fora. Nosso ginásio é sempre cheio, com mais de duas mil pessoas.
Qual a sua rotina diária? E o que faz quando não está treinando?
Minha rotina é treinar duas vezes ao dia. Além disso, fazemos muitas viagens e jogos. Não tenho muito tempo livre, pois jogando duas vezes por semana fica difícil ter folga. Tenho, por ano, férias que duram três meses. Quando estou disputando o campeonato, as semanas se emendam sem dias livres. No meu tempo livre gosto de ir ao cinema e jantar com os amigos.
Você acredita que ainda possa colaborar com a seleção brasileira?
Sou muito orgulhosa de já ter representado o Brasil em diversos campeonatos, como na Olimpíada, nos Jogos Pan-Americanos, no Campeonato Sul-Americano e na Copa América. Para jogar e defender a seleção dependeria muito do treinador e não sei se tenho o perfil certo para o tipo de jogo que o Paulinho Bassul treina hoje com a equipe brasileira.
Por que você se formou em advocacia? Pretende exercer a profissão quando parar com o basquete?
Tomei a decisão de me formar por que gostava bastante de estudar e me abria a mente. Mas a advocacia exige muita dedicação e atualização. No momento eu não estou pronta para exercer, mas é sempre uma porta aberta. Ainda não tenho muito claro o que farei quando parar de jogar. É sempre um momento delicado na vida de um atleta.
Quais as maiores dificuldades que você teve durante a faculdade?
A maior dificuldade era conciliar os horários. Muitas vezes perdi aulas por treinar até tarde ou devido a jogos e viagens. O esporte brasileiro não ajuda muito quem quer estudar, e o estudo não se importa com o esporte, mas com empenho se consegue tudo.
O Taranto ficou bem perto do título da Eurocup. Como você analisa a campanha do time na competição?
Chegamos muito perto do título, mas deixamos escapar essa oportunidade. O time foi crescendo durante o campeonato e fizemos realmente excelentes jogos. Merecemos chegar à final, mas não merecemos o título. Estou decepcionada e triste, mas foi justo assim devido à nossa última apresentação.
Tem alguma mensagem que você gostaria de deixar aos iniciantes do basquete?
Para se conseguir algo é necessário ser muito disciplinado, persistente e extremamente determinado. Temos que abrir mão de muitas coisas, mas a recompensa sempre chega quando se trabalha.
4 comentários:
Santa Imparcialidade
Muito boa a entrevista da Zaine,demonstrando um nível cultural sem dúvida acima da média.
Li o Sta Ignorancia,dizer em su post que ela foi queimada pelo Barbosa,porque quiz que ela jogasse de 3.Desconhecia esta situação,temos de reconhecer que o Sta.Ignorancia é bem informado(a),não analiso por este lado, as vezes é uma tentativa do técnico de arrumar uma jogadora na posição.Agora não tinha lembrança de tantas participações que ela teve na seleção,acho até que não foi por falta de oportunidade que não chegou(não estou dizendo que é má jogadora),talvez tenha amadurecido e pode muito bem o Bassul dar oportunidade agora para ela.
isso aih! muito legal a mensagem q ela passa na entrevista!!
zain, parabens pelo sucesso d sua carreira e q vc ainda tenha muita coisa boa pra colher!
Não sabia que ela era advogada, que massa!!!
Então, sta.imparcialidade, eu lembro que em 2005 mesmo, a Globo mostrou nas manhãs de sábado dois amistosos contra o canadá realizados em jundiai, e eu lembro que o Barbosa só colocava a Zaine pra jogar na posição 3 (as pivôs eram a Ega e a Erika) e obviamente ela não ia bem, pois estava acostumada a jogar de pivo no seu clube...
O Bassul tem que repensar sua maneira de treinar a seleção e colocar a Zaine no lugar da Ega...
Amiga, admiro o lugar q chegaste, teu nome é disciplina, quem te conhece sabe!
Minha sincera admiração pela sua caminhada, bjs da amiga Isabella.
Postar um comentário