É praticamente impossível ver a ala Jennifer Sirtoli de cara fechada, séria, sem nenhum sorriso. Dona de um bom-humor inigualável, a jogadora mantém o alto-astral até durante o treino. Nada é motivo para desanimar Jennifer, que mesmo cansada após um treinamento pesado, ainda tem forças para brincar com o restante do grupo. Brincadeiras a parte, Jennifer leva o basquete a sério. Após se recuperar das lesões que sofreu ano passado, a ala voltou à quadra a todo vapor. A convocação para a seleção brasileira sub-17, patrocinada pela Eletrobrás, motivou ainda mais a atleta, que vai brigar por uma vaga entre as doze que vão disputar o 15º Campeonato Sul-Americano do Chile, de 23 a 28 de junho. Acompanhada da sua macaquinha de pelúcia, das meias coloridas e seu calçado preferido, um par de crocs, Jennifer chamou atenção do técnico Norberto “Borracha” da Silva, que a considera um dos talentos dessa geração.
Fale sobre o seu começo no basquete.
Eu praticava futsal quando minha irmã começou a basquete no Galópolis. Ela sempre falava para eu ir junto com ela para os treinos. Com sete anos, comecei a jogar também e fui gostando cada vez mais. Apesar de ter apenas três meninas treinando comigo, persisti no esporte e já faz dez anos que estou jogando basquete.
Você deixou sua família em Caxias do Sul e foi morar em Osasco. Como foi a mudança?
Vim para Osasco no ano passado e conhecia apenas uma menina do time. Foi bem complicado para mim ficar longe da minha família, porque sou muito apegada a eles. Apesar das dificuldades, agüentei firme. Sofri algumas lesões que, além de me deixaram fora de quadra por um tempo, mexeram mais ainda com o meu emocional. Acho que toda essa experiência que passei me deixou mais forte e me fez crescer como pessoa.
Como você lida com a saudade da família?
É muito difícil ficar longe dos meus pais e das minhas irmãs. Uma delas joga por São José dos Campos e quando a saudade bate muito forte, eu tento ir para lá, ficar perto dela. Isso já ajuda bastante. Também falo constantemente com meus pais e minha outra irmã, que estão em Caxias do Sul. Seja pelo telefone, e-mail, MSN, Orkut, sempre tem um jeitinho para matar as saudades.
Gosta de jogar em Osasco?
Eu gosto de estar aqui. Quase não joguei em 2008 por conta das contusões, mas este será o meu ano. Passei um tempo treinando com a técnica Macau (Maria do Carmo Ferreira), com quem aprendi muito. Hoje, o Cristiano Cedra é o técnico da minha categoria. O Cris é uma excelente pessoa e gosto muito de fazer parte da equipe comandada por ele.
Como é morar na república?
Eu moro no edifício, onde ficam os atletas do Finasa/Osasco, não só as jogadoras de basquete, como as de vôlei também. Estou no décimo andar e divido o apartamento com mais três meninas: a Issy, a Leidilânia, que é da seleção sub-19, e a Jéssica, que chegou esse ano de Jaboticabal. A Gaby, que também foi convocada para a sub-17, fica no 12º andar. Nós temos quatro governantas, que se revezam 24 horas, passando pelos apartamentos para cuidar de tudo.
A mudança de escola foi difícil?
Foi bastante. No Sul, o ensino e o tempo de aula eram bem diferentes. Lá são cinco períodos de quarenta minutos, enquanto aqui são seis de cinqüenta. Foi bem complicado me adaptar. Ainda não consegui me acostumar, mas não tem outro jeito.
Você já foi convocada anteriormente para compor a seleção brasileira. O que achou da experiência?
Fui convocada no final de 2007 para a seleção cadete. Eu estava machucada e só consegui participar de um treino. No segundo, não agüentei e o médico me cortou. Mas passei a semana com a equipe. Mesmo do lado de fora, sentada no banco, aprendi muita coisa observando os treinos do Cesinha (César Guidetti) e, principalmente, com a fisioterapeuta Flavinha (Flávia Siqueira) e o preparador físico Léo Cursino, que me ajudaram muito durante essa fase difícil da minha vida. Não é fácil ficar no banco sem poder entrar na quadra e mostrar que você é merecedora da convocação. Infelizmente, não foi possível daquela vez, mas agora eu tenho uma nova chance e vou me empenhar ao máximo para que tudo dê certo.
Como foi essa fase de treino com a seleção Osasco?
Me senti em casa. O Borracha é um ótimo técnico, estou aprendendo bastante. Só o conhecia de vista, nunca tinha falado ou treinado com ele. O Borracha é muito divertido, nos deixa bem a vontade dentro e fora das quadras. Foi uma excelente experiência e espero voltar para a próxima fase e ir ao Sul-Americano. Vou me dedicar mais do que cem por cento para que isso aconteça.
A preparação física da equipe é bem variada, tem musculação, pilates e o trabalho em quadra. Do ponto de vista de uma atleta, o que você acha do trabalho realizado pelo Léo Cursino?
Eu até gosto de ir malhar e fazer pilates, mas não posso dizer que adoro ir a academia. Eu reclamo às vezes, mas eu sei que é um trabalho importante para um bom rendimento em quadra. Acho que todo atleta sabe que a preparação física é uma parte importante do treinamento. Já estou acostumada com o trabalho do Léo, já que ele é o preparador do meu time também. Mesmo não gostando muito, procuro fazer tudo direitinho, conforme as instruções, para melhorar cada vez mais o meu físico que, conseqüentemente, vai interferir no desempenho dentro de quadra.
Você está sempre rindo e brincando. Como você consegue manter o bom-humor todos os dias?
Estar na seleção brasileira já é motivo de extrema felicidade. Se for para chorar, só se for de alegria por tamanha oportunidade. Jogar basquete é a minha vida. Além disso, eu tenho uma família maravilhosa e amigos sensacionais. Estou sempre cercada de pessoas que gostam de mim, que me apóiam nos momentos difíceis. Só tenho motivos para rir.
E o que mais gosta de comer?
Eu adoro chocolate, mas nem sempre dá para comer. Vida de atleta não é igual a dos outros. Não tem como abusar e comer uma barra inteira. De comida mesmo, gosto de quase tudo, menos queijo. Detesto queijo. Gosto de refrigerante, que é outra coisa que nem sempre dá para beber, e sucos diversos.
Que tipo de música te faz dançar?
Gosto de tudo. Black, pagode e até funk. O que eu não gosto muito é de sertanejo, mas mesmo assim eu danço um pouco. O importante é se divertir quando dá tempo. A rotina de atleta é bem pesada. Temos treino físico, técnico, tático, e ainda precisamos estudar. Então, em qualquer minuto de folga é bom ouvir uma música e dançar para distrair um pouco a cabeça.
Sua mala veio com coisas diferentes. Fale um pouco das suas meias.
Essas meias eu ganhei da minha irmã. Primeiro, porque ela sabe que eu adoro. E, segundo, porque no final do ano passado, eu dei um presente para ela, justamente uma meia dessas, só que com umas borrachinhas embaixo antiderrapantes. E para retribuir o carinho, ela comprou essas duas para mim.
Além do tênis para jogar, que outro tipo de calçado você trouxe?
Eu adoro usar o meu croc. Eu acho muito lindo e, principalmente, confortável. Posso usá-lo em qualquer lugar, menos na quadra, é claro. Eu queria ter comprado um croc de uma cor bem chamativa. Já que é para comprar um calçado grande, por que não exagerar mais ainda? Mas, infelizmente, quando chegou na hora de dizer o meu número, o branco foi a minha única opção. Ter pé grande, tem dessas coisas. O bom é que ele combina com tudo e ainda veio com uns enfeites para ficar mais charmoso ainda. Todo mundo fala que é feio, mas eu gosto. E olha que eu tinha esquecido eles no apartamento, mas mandei uma mensagem para uma das minhas companheiras, que fez o grande favor de levar para mim no treino.
Além da Martha, com quem você dividiu o quarto na primeira fase, você trouxe uma outra companheira.
Não ando mais sem a Preta, a minha macaquinha de pelúcia. Ganhei de presente antes de vir para São Paulo no ano passado. Minha melhor amiga que me deu. Eu perguntei o que ela ia me dar de presente de despedida, que era o que todo mundo estava fazendo, e ela me respondeu que ia me dar um abraço. Na hora, achei um presentão, porque eu ia ficar bastante tempo sem um abraço dela. No dia que eu fui embora, ela foi na minha casa com esse bichinho e me perguntou se lembrava que ela ia me dar um abraço no dia que eu partisse. Quando respondi que sim, ela me falou que o bonequinho dava abraço para eu nunca esquecer dela. E vem escrito na blusinha “te levar para sempre”. Chorei muito nessa hora e dei o nome de Preta em homenagem a essa minha amiga. O nome dela é Jéssica, mas eu a chamo de Preta.
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