Thiago Nassif
Em entrevista à FOLHA, Hortência, a 'Rainha das Quadras', cobra mudança de mentalidade e políticas públicas para a prática esportiva no Brasil
Estrela do basquete feminino, Hortência Maria de Fátima Marcari, 49 anos, subiu ao pódio em todas as ocasiões possíveis. Campeã pan-americana em Havana (1991); campeã mundial na Austrália (1994); e vice-campeã olímpica em Atlanta (1996), a jogadora, que marcou 936 pontos em 36 partidas e deixou seu nome gravado no Hall da Fama do Basquetebol, é também conhecida por não deixar de dar seu recado. Principalmente quando o que estão em jogo são as políticas públicas voltadas ao esporte no Brasil. Para ela, o fraco desempenho da seleção masculina - que sequer se classificou aos Jogos de Pequim e não sabe o que são as Olimpíadas desde 1996 -, e a queda de rendimento do selecionado feminino não chegam a ser uma tragédia: pior do que está a situação do basquete no Brasil hoje, acredita a eterna Rainha, impossível. Em entrevista à FOLHA, Hortência é mais uma vez Hortência: fala sobre sexo antes dos jogos, quais ingredientes formam um campeão e sugere mudanças urgentes na relação das crianças com as práticas esportivas, como vem acontecendo na China. ''É através da quantidade que atingiremos a qualidade'', aposta.
Do que é feito um campeão?
Um campeão olímpico e mundial necessariamente precisa ter muita raça, vontade de conquistar e alcançar seu objetivo e foco no que de fato quer.
No Brasil, acredita que é possível sonhar alto em âmbito esportivo?
Muito difícil. As políticas públicas voltadas ao esporte são muito falhas, o que infelizmente inviabiliza a lapidação de talentos e a sua manutenção. Mas é importante lembrar que nem tudo está perdido: quando nos deparamos com talentos e atletas aptos a brilharem, ainda é possível acreditar.
Você sempre afirma que não existe sorte e sim trabalho. O que fala mais alto: o amor à camisa ou o estrelato?
Eu sempre joguei por amor à camisa e sou partidária de que a vontade de conseguir tem que ser muito forte. Sinceramente, nunca liguei para as coisas que não pude fazer, do que abdiquei, porque o basquete era muito mais para mim e me fazia feliz.
O desempenho pífio do Brasil nos Jogos Olímpicos de Pequim - tanto no basquete quanto no quadro geral de medalhas - não causa vergonha a você?
Vergonha não tenho do basquete, pois devo muito a ele o que sou e os atletas dão seu melhor. Tenho vergonha, sim, dos dirigentes do esporte em geral, que não conseguem fazer uma gestão moderna e digna.
O Brasil sabe focar em resultados, como a China? Como mudar essa realidade?
Não. Acho que a saída é levar o esporte às escolas, pois todo o público que queremos atingir está lá: as crianças. É através da quantidade que tiraremos a qualidade.
Qual a hora de parar? No auge?
Esse assunto é muito particular, porque depende muito da situação emocional de cada atleta. Eu parei, na minha opinião, na hora certa.
Recentemente, você afirmou que um dos segredos para o bom desempenho em quadra era ter relações sexuais antes das partidas...
Na verdade a pergunta não foi bem essa, mas se fazia bem fazer sexo antes do jogo. O que posso dizer é que sexo nunca faz mal.
Você faz palestras motivacionais pelo Brasil. Como administrar uma derrota?
Não é fácil administrar uma derrota. No entanto, quando você faz tudo que está ao seu alcance, luta, se dedica e perde, tudo bem. Temos que saber quando o adversário é melhor e admitir.
A propósito, o basquete feminino do Brasil ficou em sétimo lugar em Barcelona e, dois anos depois, diante de Zheng Haixia e demais, conquistou o título mundial. Esperava sair campeã da Austrália? Ou a confiança surgiu à medida que vinham os resultados?
Exato! A confiança foi surgindo quando começamos a ganhar um jogo atrás do outro. Sofremos uma derrota, também, que foi fundamental para nosso triunfo no mundial.
Lá se vão 14 anos do ouro mundial e 12 da prata olímpica. Qual a projeção que faz para o basquetebol feminino, para Londres 2012?
Temos de esperar as eleições de 2010 e ver quem será o próximo presidente, para então constatarmos se vai haver um projeto para o basquete. Acho difícil que mude muito.
Fonte : matéria da Folha de Londrina, reproduzida pelo Marival Jr no blog Basquete em Londrina
Em entrevista à FOLHA, Hortência, a 'Rainha das Quadras', cobra mudança de mentalidade e políticas públicas para a prática esportiva no Brasil
Estrela do basquete feminino, Hortência Maria de Fátima Marcari, 49 anos, subiu ao pódio em todas as ocasiões possíveis. Campeã pan-americana em Havana (1991); campeã mundial na Austrália (1994); e vice-campeã olímpica em Atlanta (1996), a jogadora, que marcou 936 pontos em 36 partidas e deixou seu nome gravado no Hall da Fama do Basquetebol, é também conhecida por não deixar de dar seu recado. Principalmente quando o que estão em jogo são as políticas públicas voltadas ao esporte no Brasil. Para ela, o fraco desempenho da seleção masculina - que sequer se classificou aos Jogos de Pequim e não sabe o que são as Olimpíadas desde 1996 -, e a queda de rendimento do selecionado feminino não chegam a ser uma tragédia: pior do que está a situação do basquete no Brasil hoje, acredita a eterna Rainha, impossível. Em entrevista à FOLHA, Hortência é mais uma vez Hortência: fala sobre sexo antes dos jogos, quais ingredientes formam um campeão e sugere mudanças urgentes na relação das crianças com as práticas esportivas, como vem acontecendo na China. ''É através da quantidade que atingiremos a qualidade'', aposta.
Do que é feito um campeão?
Um campeão olímpico e mundial necessariamente precisa ter muita raça, vontade de conquistar e alcançar seu objetivo e foco no que de fato quer.
No Brasil, acredita que é possível sonhar alto em âmbito esportivo?
Muito difícil. As políticas públicas voltadas ao esporte são muito falhas, o que infelizmente inviabiliza a lapidação de talentos e a sua manutenção. Mas é importante lembrar que nem tudo está perdido: quando nos deparamos com talentos e atletas aptos a brilharem, ainda é possível acreditar.
Você sempre afirma que não existe sorte e sim trabalho. O que fala mais alto: o amor à camisa ou o estrelato?
Eu sempre joguei por amor à camisa e sou partidária de que a vontade de conseguir tem que ser muito forte. Sinceramente, nunca liguei para as coisas que não pude fazer, do que abdiquei, porque o basquete era muito mais para mim e me fazia feliz.
O desempenho pífio do Brasil nos Jogos Olímpicos de Pequim - tanto no basquete quanto no quadro geral de medalhas - não causa vergonha a você?
Vergonha não tenho do basquete, pois devo muito a ele o que sou e os atletas dão seu melhor. Tenho vergonha, sim, dos dirigentes do esporte em geral, que não conseguem fazer uma gestão moderna e digna.
O Brasil sabe focar em resultados, como a China? Como mudar essa realidade?
Não. Acho que a saída é levar o esporte às escolas, pois todo o público que queremos atingir está lá: as crianças. É através da quantidade que tiraremos a qualidade.
Qual a hora de parar? No auge?
Esse assunto é muito particular, porque depende muito da situação emocional de cada atleta. Eu parei, na minha opinião, na hora certa.
Recentemente, você afirmou que um dos segredos para o bom desempenho em quadra era ter relações sexuais antes das partidas...
Na verdade a pergunta não foi bem essa, mas se fazia bem fazer sexo antes do jogo. O que posso dizer é que sexo nunca faz mal.
Você faz palestras motivacionais pelo Brasil. Como administrar uma derrota?
Não é fácil administrar uma derrota. No entanto, quando você faz tudo que está ao seu alcance, luta, se dedica e perde, tudo bem. Temos que saber quando o adversário é melhor e admitir.
A propósito, o basquete feminino do Brasil ficou em sétimo lugar em Barcelona e, dois anos depois, diante de Zheng Haixia e demais, conquistou o título mundial. Esperava sair campeã da Austrália? Ou a confiança surgiu à medida que vinham os resultados?
Exato! A confiança foi surgindo quando começamos a ganhar um jogo atrás do outro. Sofremos uma derrota, também, que foi fundamental para nosso triunfo no mundial.
Lá se vão 14 anos do ouro mundial e 12 da prata olímpica. Qual a projeção que faz para o basquetebol feminino, para Londres 2012?
Temos de esperar as eleições de 2010 e ver quem será o próximo presidente, para então constatarmos se vai haver um projeto para o basquete. Acho difícil que mude muito.
Fonte : matéria da Folha de Londrina, reproduzida pelo Marival Jr no blog Basquete em Londrina
2 comentários:
Apesar de Londrina não ter basquete feminino adulto, apenas no masculino (capengando), temos uma boa base e lutamos por boas condições de trabalho também Importante esta declaração da Hortência dada no jornal de nossa cidade.
ela como dirigente poderia fazer algo pelo basquete, nao é??
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