quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Do Oiapoque ao Chuí...





Atletas do Maranhão, Mato Grosso do Sul, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo jogam lado a lado, defendendo o verde e amarelo da seleção brasileira Sub-15 feminina de basquete, patrocinada pela Eletrobrás. Na hora do almoço, o mesmo suco pode ser de bergamota, mexirica, mandarina ou tangerina, varia de uma atleta para outra. São vários sotaques misturados, diversas expressões cotidianas, mas quando o assunto é basquete, a linguagem é a mesma. Rivais nos Campeonatos Brasileiros há menos de duas semanas, hoje são aliadas em busca de mais um título para o Brasil.

A pivô Alana Arias nasceu em Porto Alegre em outubro de 1994. Depois de tentar vôlei, tênis, patinação e futebol, o basquete foi o único que despertou a vontade de levar o esporte a sério.

— Meus primos jogavam basquete e eles sempre me chamavam porque eu era alta. Depois que eu comecei a jogar, não quis mais parar. Meus pais viram que eu tinha potencial e minha mãe fez minha inscrição na escolinha do colégio quando eu tinha nove anos. Mesmo tendo que conciliar os estudos com os treinos, o que é difícil algumas vezes, todo o esforço vale a pena.

O bom desempenho de Alana no 17º Campeonato Brasileiro Sub-15, realizado na capital gaúcha, lhe rendeu a convocação para integrar a equipe nacional. A gaúcha foi a reboteira da competição com a média de 12.8 rebotes (64 no total).

— A experiência no Brasileiro foi muito boa. A oportunidade de jogar contra equipes de outros estados foi importante para o meu crescimento como jogadora. São Paulo tem uma seleção muito forte e aprendi muito com elas. E, contra o Paraná, tínhamos que ganhar para classificar. Havia uma certa cobrança por causa disso, o que faz com que a gente aprenda a lidar com a pressão do dia-a-dia de qualquer atleta profissional.

A paranaense Carolina Flak é natural de Ponta Grossa, cidade que fica a 117km de distância da capital Curitiba. Cacau, como é chamada, nem pensava em seguir carreira como jogadora de basquete. O esporte era apenas lazer, mas a convocação fez a armadora mudar de idéia.

— Eu escolhi basquete para me distrair, era apenas um lazer. Não pretendia seguir carreira, era só diversão mesmo. Mas agora que eu fui chamada para a seleção brasileira, tudo mudou. Percebi que tenho potencial para seguir em frente.

Foram apenas três treinos com a camisa do Brasil, e Cacau já está bem adaptada e curtindo as novas amizades que fez com as jogadoras dos outros estados.

— Os treinos são fortes. No clube a gente treina uma vez por dia e aqui são dois períodos, o que exige bastante de cada jogadora. O clima é muito bom, as outras meninas são ótimas. Já fiz amizades novas, conheci melhor as meninas que foram minhas adversárias no último Brasileiro.

Campeã paulista pelo Finasa/Osasco, Sheila Nunes é a mais brincalhona do grupo. Muito falante e sempre rindo, a pivô muda quando entra na quadra. Sheila fica séria quando pega na bola e está sempre atenta às instruções do técnico.

— É gratificante estar aqui. O trabalho do técnico César é muito bom e tenho aprendido bastante. Eu estou sempre brincando, falando besteira, mas na hora de treinar e jogar, a coisa fica mais séria. Na quadra a concentração é total no que estou fazendo. É claro que não deixo passar os momentos de descontração.

Para quem não queria jogar basquete, Sheila foi um dos destaques do Brasileiro de Porto Alegre como segunda jogadora mais eficiente (média de 16.6 pontos por jogo) e quarta reboteira com 9.2 (42 no total). Números que levaram a pivô a ser convocada para a seleção brasileira.

— Na verdade eu não escolhi o basquete, fui escolhida para jogar. Eu estava na aula de educação física do colégio e minha professora viu que eu levava jeito para o esporte. Ela me indicou para uma amiga que era técnica e comecei a treinar. Gostei e vi que era isso que queria para a minha vida.

Do Rio Grande do Norte veio a ala/pivô Camille Valença e Silva. A jogadora ficou surpresa com a convocação e quer aproveitar a oportunidade para aprender o máximo que puder.

— Fiquei muito feliz em ser convocada para fazer parte da seleção brasileira. Não estava esperando por isso. É uma oportunidade maravilhosa estar aqui, com jogadoras de vários lugares. Os treinos são fortes e o técnico César nos passa bastante informação. É um aprendizado que vamos levar por toda a vida.

Camille trocou a natação pelo basquete, um caminho natural a seguir, já que o pai e a irmã praticaram a modalidade.

— Eu gostava de nadar, mas sempre ia atrás da minha irmã quando ela saía para jogar basquete. E como eu adorava o esporte, comecei a praticar também. Estou feliz com a escolha que fiz.

Um treino de handball foi suficiente para ver que Thuanny Pinto tinha talento para o basquete. A armadora de 1,72m nasceu em Florianópolis (SC) e defende a equipe do UFC/São José.

— O meu atual técnico trabalhava na escola onde estudo, me viu jogando handball e me chamou para treinar basquete. Gostei e fui me dedicando cada vez mais ao esporte. E agora, com a convocação, fico ainda mais motivada a seguir em frente.

A catarinense foi a segunda cestinha do 17º Brasileiro com média de 17.6 pontos (88 no total) e a quinta melhor em recuperação de bola com 3.6 (18).

— Não achei que fui bem no Brasileiro. Eu poderia ter jogado mais. Não foi o meu melhor momento e, por isso, nem esperava ser chamada para a seleção. Fico feliz por fazer parte desse grupo que está treinando com o técnico César Guidetti. Está sendo uma ótima experiência não só para mim, como para todas as meninas.

Laguna Carapã é considerada um pólo de basquete no Mato Grosso do Sul e é nessa cidade que joga a ala Géssica Galli.

— Eu comecei a jogar aos nove anos. Meu irmão jogava e eu vivia numa quadra de basquete perto da minha casa com as minhas amigas. Sempre gostei do esporte e nunca tive interesse em praticar outra modalidade.

A rotina com a seleção brasileira é puxada. São dois períodos de treinos e o tempo livre é para descansar. Mas nada tira o ânimo de Géssica.

— Estou adorando essa oportunidade. O ritmo de treino é bem forte e um pouco diferente do que estou acostumada, mas aos poucos vou me adaptando. No Mato Grosso do Sul, os times são um pouco mais fracos. As jogadoras dos outros estados são mais fortes fisicamente e como joguei contra algumas meninas que estão aqui comigo no Brasileiro, já deu para sentir o que eu ia encontrar na seleção.

Paulista de nascimento, mas o sotaque vem da Paraíba. A pivô Helena Bastos cresceu em João Pessoa, defende a seleção paraibana e agora está vestindo a camisa do Brasil no jogo que aprendeu a gostar por causa da mãe.

— Minha mãe morava em São Paulo e meu pai em Recife. Os dois foram fazer faculdade no Rio de Janeiro, onde se conheceram. Para ficar mais perto do meu pai, depois que nasci, minha mãe passou num concurso e foi trabalhar em João Pessoa, que era bem mais perto de Recife do que de São Paulo. Moramos lá desde quando eu era criança.

Antes do basquete, Helena fez dança e a timidez a impediu de continuar. Para seguir os passos da mãe, que praticou o esporte, Helena mudou radicalmente.

— Eu tinha vergonha de me apresentar em público, por isso não ia dar certo seguir na dança. Minha mãe jogava basquete e resolvi tentar também. Gostei muito do esporte, principalmente do meu técnico Adriano Araújo, que além de me ensinar a jogar, me ensinou como ter uma vida melhor com o esporte.

Como terceira jogadora mais eficiente (média de 15.2 pontos) e terceira cestinha com média de 17.2 (86 no total) no Brasileiro, a ala/pivô carioca Joice Coelho despertou interesse do técnico da seleção Sub-15, César Guidetti.

— Adorei ser convocada. Fiquei surpresa porque tive altos e baixos no Brasileiro, onde enfrentamos adversários fortes. Fizemos jogos duros com as outras seleções e terminamos com a medalha de bronze. Em algumas partidas fui mal, não consegui impor meu jogo, mas no geral foi uma boa experiência.

Joice não gostava de basquete, mas se apaixonou quando entrou na quadra e arremessou a primeira bola.

— O meu professor de educação física sempre falava para jogar basquete, mas eu nunca queria porque não gostava. Um dia participei de uma aula na escolinha de Cachoeira de Macacu, onde moro, e vi que era um esporte bem legal. Comecei a gostar, fui melhorando a cada dia, participando das competições e agora fui premiada com a convocação.

A seleção brasileira está treinando em dois períodos (10/12h e 19h/21h) no Colégio Salesiano, em Itajaí, Santa Catarina. A fase de preparação vai até o dia 31 deste mês. O grupo se prepara para o 15º Campeonato Sul-Americano, que será disputado de 7 a 14 de novembro, em Assunção, no Paraguai.

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