sexta-feira, 6 de junho de 2008

Sonho Olímpico coloca Becky Hamon no olho do furacão

Becky Hammon certamente será um dos grandes personagens de Pequim. O enredo da jogadora de basquete nascida nos Estados Unidos e que defenderá a Rússia nos Jogos Olímpicos exerce forte magnetismo, reforçado por se desenrolar no momento em que os Estados Unidos vêem sua hegemonia ameaçada no basquete feminino. Doze anos após a derrota para as brasileiras no Mundial de 1994, nas semifinais; as americanas caíram novamente. Mas dessa vez, as responsáveis foram as russas, nas semifinais do Mundial de São Paulo (2006).

As múltiplas faces da questão foram abordadas pelo colunista Steve Kelley, do Seattle Times, na extensa reportagem Becky Hammon leva seu sonho olímpico até a Rússia.

"Anne Donovan [técnica da seleção americana] a chama de traidora. Nos blogs, sua lealdade é questionada. Mas tudo o que Becky sempre quis foi ser uma atleta olímpica". Assim Steve apresenta a questão.

O jornalista lembra que Becky é uma das estrelas da WNBA, onde defende o San Antonio Silver Stars. "Sua camiseta só vendeu menos que a de Lisa Leslie na liga (....) Foi chamada de versão feminina de Steve Nash."

Becky cumpre a décima temporada na WNBA, de onde saiu do banco do New York Liberty para quatro All-Star Games. "Tão americana quanto os cheeseburgers, Becky será a armadora russa nos Jogos" afirma o jornalista.

"Quando era garota, não existia WNBA. Então, as Olimpíadas eram o topo do basquetebol. E, na minha opinião, continuam sendo." diz Becky à reportagem, aos 31 anos e com pouco vocabulário em russo.

"É um sonho que carreguei nesses trinta anos. Estou em paz com a minha decisão. Só quero aproveitar o momento".

Steve defende Becky dos ataques de Donovan. "Chamá-la de traidora é burrice, uma atitude reacionária. As Olimpíadas devem ser um meio de os melhores atletas do mundo se testarem contra o mais alto nível de competição. Não devem ser uma guerra. E Becky está jogando dentro das regras." afirma.

"Não espero que todos me entendam. Sei o que sinto sobre meu país. Mas é só um jogo de basquete. Não é vida ou morte. Os heróis reais estão no Iraque, Afeganistão. Eu estou apenas em uma partida de basquete." diz Becky.

A reportagem ouve Lauren Jackson sobre o assunto. "Becky e eu chegamos à Olimpíada com perspectivas completamente diferentes. Meu sonho sempre foi jogar pela Austrália. Sou muito patriótica. Usaria uma bandeira na testa, se pudesse. Mas gosto de Becky. Ela é uma grande jogadora, que não teve a oportunidade de jogar pelo seu país. Entendo o que ela sente. Deve ter sido uma decisão difícil e ela vai ser atacada por muitas pessoas."

Sobre as declarações de Donovan, Lauren sorri, mas discorda: "Isso é uma coisa que ela provavelmente diria. Mas Becky não é traidora de forma alguma.".

A reportagem comenta que muitas jogadoras americanas que jogam na Rússia utilizam passaportes europeus, para não ocupar as vagas de estrangeiras em seus clubes. Sue Bird tem um israelense. Diana Taurasi, italiano. E Becky escolheu o russo; o que segundo a reportagem abriu "oportunidades de marketing para Becky", em Moscou.

"Para Becky, isso é uma questão de negócios. E é como as pessoas vão enxergar essa decisão." alfineta Lauren Jackson.

O jornalista cita outros casos famosos, como J.R. Holden, americano, que jogará em Pequim, com a camisa russa. E ainda o nigeriano Hakeem Olajuwon, que defendeu a seleção americana, em Atlanta (1996).

"Há muitas maneiras de ver a questão. Mas se a pergunta for: 'Ela é boa o suficiente para jogar com a nossa seleção?'A resposta é: 'Certamente'" declara,com inteligência e diplomacia, Sue Bird, armadora da seleção americana.

Steve conta que Becky foi convidada para ser avaliada pela seleção americana, o que a jogadora vê como uma "cortesia", já que só surgiu quando a armadora assinou um contrato com seu clube russo, que a obrigava a permanecer em Moscou.

"Se eu tivesse sido considerada pela seleção, eu teria sido chamada em algum momento; ou estaria na lista deles de mais de vinte nomes. Não fui. Não era pra ser. Essa porta se abriu pra mim; e na minha cabeça, ela nunca se abriria nos Estados Unidos."

"Não é uma decisão de negócios. Meu negócio é jogar basquete. Mas nunca fiquei sentada esperando a vida passar. Conquistei essa oportunidade única de chegar às Olimpíadas e eu a aproveitarei." finaliza.

3 comentários:

Anônimo disse...

Anne Donovan foi, sem dúvida, uma das grandes jogadoras da história, mas, como técnica, ainda deixa muito a desejar. Quanto a sua afirmação dizendo que Becky é uma traidora, acho um equívoco. Afinal, a atleta, mesmo sendo uma das melhores jogadora do mundo nesses últimos anos, sempre foi desprezada pela própria treinadora.
Sorte da seleção russa, que chega como uma das favoritas ao ouro, em Pequim.
Quem dera nossa seleção tivesse contado com a argentina Karina, quando ela estava no auge.

Anônimo disse...

A questão da Becky Hammon jogar pela Rússia vem sendo fortemente discutida nos EUA
muitos falando q ela não é patriota
uma questão muito forte
Tanto q nesse domingo vai ter um programa da ESPN com a Hammon sobre esse assunto
vai ser bem interessante

Roberta disse...

Todos sabem que eu sou suspeita pra comentar qualquer coisa sobre isso. Anyway...
Anne Donovam perdeu TODO o meu respeito quando chamou ela de traidora. E não foi só a Becky, a partir do momento que ela falou "Se vc é americano e veste a camisa russa, então você não é patriota", ela também mexeu na feria da Kelly e da Tweety (Nollan).

Pra mim a Becky está totalmente certa. É o sonho dela, ela vai ser feliz com isso. Uma coisa que vai além de "negócios", mas chamada "basquetebol". Patriota do jeito que a Becky é, será que ela gostaria da Rússia não sendo apaixonada pelo basquete?

Anne Donovam precisa rever seus conceitos, ela não deveria ter dito o que disse sendo uma profissional do nível dela.

Agora, que tome da Russia nas Olimpíadas. 8D