segunda-feira, 30 de junho de 2008

Magic Paula: "Armação hoje é correria" (Entrevista - Jornal da Cidade de Bauru)

Para Magic Paula, Brasil deve apostar no coletivo nas Olimpíadas de Pequim

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Wagner Teodoro

Magic Paula, ex-armadora da Seleção Brasileira Feminina de Basquete e um dos principais ídolos da modalidade no Brasil, esteve em Bauru, anteontem à noite, onde participou de uma mesa-redonda sobre basquete, que fez parte da Semana Olímpica promovida pela unidade local do Serviço Social do Comércio (Sesc).

Na ocasião, Paula integrou a mesa ao lado do técnico do GRSA/Bauru, Guerrinha, que também tem vasto currículo servindo a Seleção Brasileira, do professor doutor Hermes Ferreira Balbino, preparador da Seleção Brasileira Feminina em 1994, ano em que o País conquistou o título mundial, e do professor doutor Roberto Rodrigues Paes, da Universidade de Campinas (Unicamp).

Em clima descontraído, a mesa-redonda abordou treinamento esportivo, fatos pitorescos ao longo das Olimpíadas, doping e muitas histórias do basquete. Magic Paula chegou a se emocionar ao lembrar de personagens importantes em sua trajetória no esporte e fechou o evento contando uma piada, uma característica sua menos conhecida pelos torcedores, arrancando risos dos presentes.

Após a mesa-redonda, Magic Paula conversou com o Jornal da Cidade sobre a Seleção nos Jogos Olímpicos de Pequim, o corte da ala Iziane pelo técnico Paulo Bassul, transição de gerações e afirmou que o segredo para o Brasil na China pode ser o jogo coletivo. A seguir, os principais trechos da entrevista.


Jornal da Cidade - Tivemos durante o Pré-Olímpico feminino o corte da Iziane por se recusar a voltar à quadra, após ficar boa parte do jogo no banco de reservas, na partida diante da Bielorrússsia. Você, que se consagrou defendendo a Seleção Brasileira, como vê a atitude de Iziane e a reação do técnico Paulo Bassul, que a cortou imediatamente e não vai levá-la para as Olimpíadas de Pequim?

Paula - Pelo que a gente sabe, já é reincidente esta atitude dela. Naquele momento, ela não pensou na equipe. Ela disse não, não só ao treinador, ela disse não à equipe, a um País em um momento que o time, naquele jogo, já poderia ter carimbado seu passaporte para uma Olimpíada. Acho que a atitude do Paulinho foi a mais coerente, a mais sensata, porque as ações individuais não podem se sobrepor ao grupo. Talvez tenha sido um aprendizado para ela. Ela é uma menina jovem e quem nunca errou com 23, 24 anos? Espero que ela reflita sobre isso e possa mudar um pouco este conceito, esta maneira de enxergar o esporte.


JC – Em alguma equipe que você defendeu já passou por caso parecido?

Paula – Não, que eu me recorde, não. Sempre tive a felicidade de participar de grupos em que, apesar de, às vezes, a gente achar que a individualidade é importante, sabíamos que sem o grupo você não consegue chegar ao resultado que a equipe busca.


JC – O Brasil vai aos Jogos Olímpicos com uma nova geração, muitas atletas jovens e perde a Iziane, sua principal referência em cestas. Mesmo com a equipe jogando dentro de um sistema definido pelo treinador, é uma grande perda. Na sua opinião, quais as reais chances do Brasil em Pequim?

Paula – Acho muito imaturo da minha parte dizer qual a performance que o Brasil vai ter em uma Olimpíada. Não tenho bola de cristal para prever isso, porque tem muitas coisas que implicam para você chegar a uma Olimpíada e ir bem ou não. Dar certo de chegar bem fisicamente, de ter um grupo harmonioso e competente... Acho que a gente vive um momento de transição, com algumas jogadoras mais experientes e outras totalmente cruas em nível internacional, por falta de organização de se ter as meninas atuando para que, quando cheguem ao time adulto, não sofram esta responsabilidade e até este despreparo em jogos internacionais. Então, o Brasil pode chegar lá, jogar bem e surpreender, como pode não ter uma classificação esperada.


JC – Com a ausência da Iziane, muda o estilo do Brasil? Como o Brasil tem que jogar?

Paula – Não adianta você ter uma grande atleta e uma má companheira. É muito relativo. Às vezes, os pontos dela e até a falta que ela possa fazer em termos de pontos possam ser superados pelo grupo com harmonia. A Iziane era a pontuadora? Era, mas não era nenhuma jogadora de decidir jogos, de chamar para si. Era uma jogadora média, um pouco acima do grupo. Não vejo a Iziane chamando o jogo para ela e decidindo partidas. O grupo, agora, vai ter que ter outra característica de atuar. Se ela fazia 20, vai ter que ter três que fazem sete, oito pontos para suprir isso. Um jogo mais coletivo.


JC – Você e a Hortência eram líderes de sua geração. Quando vocês saíram da Seleção, a Janeth era a referência. Hoje, você vê alguém neste grupo do Brasil que ocupa este posto?

Paula – Acho que pela própria convocação da Claudinha (armadora), que ficou ausente alguns anos da Seleção, pela experiência, é ela que está à frente desta liderança. Ela e a Kelly (pivô) são as duas jogadoras, pelo que a gente percebe de fora, que estão liderando o grupo.


JC – Você vê alguma jogadora deste grupo da Seleção que tem estilo parecido com o seu?


Paula – Não vejo, não. As armações hoje são muita correria, não se pensa muito para jogar, é um vai e volta, vai e volta. É um outro estilo de atuar no basquete mundial, de mais velocidade, na loucura, parece que o jogo está terminando o tempo todo. Então, não vejo, não.


JC – A armadora Natália é bauruense e está pré-convocada para os Jogos de Pequim. Você conhece o jogo dela?

Paula – Não conheço, vi agora no Pré-Olímpico alguns jogos. Acredito que ela vá sofrer pela estatura (Natália tem 1,62 metro) em competições internacionais. Mas ela pode suprir isso com velocidade, inteligência, que é a função dela ali. Não é uma função tanto de fazer cestas, é mais de comandar a equipe.

Fonte: Jornal da Cidade de Bauru

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