segunda-feira, 12 de maio de 2008

Uma bola vale por três
Precisa e calculada, a cesta de longa distância faz a graça desse esporte

FABIO GRIJÓ



As mãos tentam pôr a bola dentro de um aro com 45 centímetros de diâmetro. O tempo que a bola leva é de um segundo. A distância do arremesso, de pelo menos 6,25 m da cesta.
Se a bola cai, o time do arremessador soma mais três pontos no placar. É a jogada isolada que oferece maior pontuação no basquete. Pode fazer uma equipe abrir vantagem ou enxergar a vitória mais distante. Ou ainda buscar um milagre.
"O basquete é um jogo muito rápido. Você não tem muito tempo para pensar. Você escolhe as opções rapidamente. Quem tem perfil de decisão é escolhido na hora de chutar de três pontos, por exemplo", fala a ex-jogadora Hortência.
Ela foi uma das jogadoras de decisão, ao lado de Paula, na geração dos anos 80 e 90.
Eram aquelas mãos certas de onde a bola saía e tinha como ponto de parada a cesta.
Um arremesso de três bem executado exige prática intensa. Hortência conta que costumava arremessar 150 bolas de três pontos por dia de treino.
Além do movimento na hora de soltar a bola e posicionar-se bem, é preciso também ter confiança no instante do chute.
"No jogo, o que eu treinava acontecia. Então, o segredo é treinar", fala Hortência. "Você não pensa "ai, meu Deus" na hora se a bola vai cair. Você faz, no jogo, aquilo que é capaz."
Mesmo assim, dose de sorte é bem-vinda. Afinal, trata-se de uma jogada em que, além da precisão e do bom aproveitamento dos arremessos, o atleta precisa ter perfeição no lance. Pelo menos naquela hora nada pode dar errado -ainda mais com placar apertado.
""Mas é preciso ver que mesmo o jogador com característica de chutar de três chega, no máximo, a um aproveitamento de 50% numa partida", diz o ala Marcelinho, da seleção atual.
A estatística faz do lance algo até improvável. Mas quando ele sai, pode até virar um jogo.
Foi uma bola que saiu das mãos de Hortência, de longa distância, que fez o Brasil dar o passo decisivo para disputar a primeira Olimpíada com o time feminino, em 1992.
A seleção chegou ao jogo contra a Austrália com a obrigação de vencer e torcer por tropeços adversários. A equipe nacional já tinha caído diante da Tchecoslováquia e da China.
A partida contra as australianas acabou após duas prorrogações (99 a 97). Não sem antes Hortência salvar o Brasil com uma cesta de três, com o cronômetro perto do zero, que manteve a seleção viva no jogo.

Fonte: Pequim 2208 - A graça do esporte - Basquete - Folha de São Paulo (9/5)


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