sexta-feira, 16 de maio de 2008

Êga e Fran cruzam o Atlântico, viram amigas e agora sonham com Pequim
Pivôs da seleção, que mal se falavam antes do encontro na Espanha, ilustram a renovação do basquete feminino brasileiro embaixo da cesta


Rodrigo Alves

As pivôs Êga e Franciele são a prova de que o mundo do basquete dá voltas. As duas nasceram no mesmo estado, o Paraná, mas precisaram viajar mais de 10 mil quilômetros para ficarem amigas. Após uma temporada jogando em Zaragoza, na Espanha, elas estão de volta ao Brasil para treinar com a seleção feminina e agora sonham com uma viagem ainda mais longa: a que leva a Pequim.

- A gente chegou a jogar uma contra a outra, mas nem oi e tchau a gente dava aqui no Brasil. Na Espanha, com aquele povo falando esquisito, se não ficássemos próximas... socorro! - brinca Êga, ao lado de Fran, após um dos treinos da seleção no Rio.

Nascida na cidade de Medianeira e com um Pré-Olímpico, um Mundial, dois Pans e quatro Sul-Americanos no currículo, Êga já tinha experiência internacional de sobra quando recebeu Fran em seu time, o Mann Filter, que disputa a liga espanhola. A amizade verde-amarela foi fundamental para a adaptação da jovem pivô, que nasceu em Jacarezinho e nunca tinha jogado fora do país.

- "Quando cheguei lá, eu não entendia quase nada. Eram palavras que eu nunca tinha ouvido" - conta a promissora Franciele, de 20 anos, 10 a menos que a companheira.

Em uma semana, tudo começou a mudar. As palavras já não eram tão esquisitas, e a estreante começou a perceber coisas que Êga já sabia: o esquema de jogo era rígido e a carga de treinos era leve demais.

- Nas primeiras semanas, eu estava totalmente fora de forma, então procurei não sair muito para descansar. Acabei descansando até o fim - diverte-se Fran.

Da "vida mansa" em terras espanholas, a dupla caiu nos treinos puxados do técnico Paulo Bassul.

- No aquecimento para o primeiro treino aqui no Rio, eu me esforcei mais do que nos sete meses anteriores. O período em Zaragoza foi quase de férias remuneradas - exagera Êga, aos risos.

Na próxima temporada, ela pretende retornar à Europa, mas não para o mesmo time. Franciele deixará o Mann Filter para defender o Rivas, clube com o qual tem contrato. O acordo de quatro temporadas foi o resultado das atuações no Pré-Olímpico das Américas, quando a pivô caprichou nos rebotes e apareceu como a nova revelação do basquete brasileiro. Basta o assunto vir à tona para a jovem promessa soltar o sorriso tímido.

- Cadê uma câmera agora para filmar a cara dela? Mas falando sério, a falta de experiência dessa nova geração é compensada com uma vontade incrível de mostrar que merece estar ali - elogia Êga.

Fran sabe que foi bem na estréia pela seleção adulta, mas sabe também que o caminho é longo.

- O primeiro ano na Europa foi uma experiência que valeu para mim. Agora eu sei como me comportar. Quero mostrar que posso jogar o Sul-Americano, o Pré-Olímpico e, quem sabe, a Olimpíada.

Dez atletas, cinco apartamentos e um técnico em busca da divisão perfeita
Para criar afinidades e evitar as panelinhas, Paulo Bassul quebra a cabeça na hora de escolher quem vai ficar com quem no hotel da seleção feminina


Rodrigo Alves

Desde que chegaram ao Rio de Janeiro para os treinos com a seleção feminina de basquete, as paulistas Micaela e Natália não se chamam mais pelos nomes. É "companheira" para lá, "companheira" para cá. As duas, que mal se conheciam há duas semanas, hoje dividem um dos quartos no hotel que delegação ocupa na Zona Sul do Rio. A intimidade forçada já virou amizade, e este é justamente um dos principais objetivos do técnico Paulo Bassul na hora de escolher os pares.

- A gente só se conhecia de jogar contra, e a empatia foi imediata. Eu falo muito, mas ela fala ainda mais. É toda agitada, já acorda toda animada. Na hora em que eu levanto, a "companheira" já está pronta - entrega a ala Micaela, de 28 anos, uma das mais experientes do grupo que vai buscar a vaga para Pequim.


As duplas precisam de alguma afinidade, para não haver conflito, mas sem panelinha. Senão o grupo começa a ser quebrado dentro do hotel"
Aos 23, estreando na seleção adulta, a armadora Natália já esbanja desenvoltura nos treinos para o Sul-Americano do Equador e para o Pré-Olímpico da Espanha. Se ela vai estar no grupo final em Madri, só o tempo vai dizer. Mas a "baixinha" do elenco, com 1,63m, já aproveita para pegar um pouco da experiência da colega de quarto.

- A Micaela é toda organizada, certinha, e eu acabo ficando também. Nós não nos conhecíamos, mas já estamos dando muita risada - conta a jogadora de Catanduva.


Bassul leva em conta vários critérios na hora de distribuir o elenco pelos quartos.

- As duplas precisam de alguma afinidade, para não haver conflito, mas sem panelinha. Senão o grupo começa a ser quebrado dentro do hotel - explica o treinador, que conta com quatro jogadoras de sua equipe, Ourinhos, e optou por hospedar uma em cada apartamento.


Outro critério, que vale para Natália e Micaela, é colocar as mais novas com as mais experientes. A regra também vale para a pivô Franciele, caçula do grupo, que divide seu teto com a veterana Chuca.

- Antes eu tinha até medo dela, mas hoje a gente ri demais, ela é muito engraçada - contra Fran, que tem apenas 20 anos.


Ega, de 30, fica com Jaqueline, de 22. Tati divide o quarto com Karla, enquanto Karen e Karina completam o esquema. Exceto pelas idas ao shopping, a diversão no hotel costuma se resumir a bate-papo, internet e televisão. A própria Franciele, enquanto dava entrevista, assistia a um capítulo da novela "Duas Caras" e ficava de olho no personagem de Antônio Fagundes:

- O Juvenal Antena é igual ao meu primeiro técnico! Eu olho e lembro do jeito dele, a maneira de falar, o jeitão meio bravo - diverte-se a jovem pivô.


Fonte: GloboEsporte.Com



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